quinta-feira, 4 de março de 2010

‘Lellos’

“Enquanto se confirma que uma empresa pública pagou a Luís Figo para vir a Portugal apoiar o eng. Sócrates por um dia, um pedacinho do País debate o caso de Inês Medeiros, que o público em geral paga para vir a Portugal apoiar o eng. Sócrates todas as semanas. Embora eleita deputada pelo círculo de Lisboa, a sra. Medeiros não está para habitar pocilgas e por isso vive em Paris, cidade a que regressa às sextas-feiras. Como nem em trânsito a sra. Medeiros tolera convívio excessivo com a ralé, as viagens decorrem em classe executiva. Infelizmente, na Assembleia da República alguns não compreendem essas necessidades básicas e, numa demonstração de ressentimento muito portuguesa, há quem proponha que a senhora financie as deslocações do próprio bolso. O PS, naturalmente, discorda, e José Lello sugeriu que retirar os privilégios à sra. Medeiros seria "pôr em causa a livre circulação dos cidadãos europeus". Eu, confesso, ignorava que a ausência de bilhetes em "executiva" à custa do contribuinte desrespeitasse um dos princípios basilares da União. Porém, já que falam nisso, é verdade que até aqui sentia a minha capacidade circulatória um tanto condicionada e não sabia a razão. Agora sei, pelo que aproveito para apelar aos valores de Maastricht e exigir, não na qualidade de cidadão europeu, voos regulares e com tratamento VIP rumo a Florença, Praga, Londres e Edimburgo. A sra. Medeiros apenas deseja a rota Lisboa-Paris. E é da maior importância que os portugueses a ajudem a realizar a sua pretensão por via de manifestações, petições e, se preciso for, donativos directos. Em primeiro lugar, porque não nos devemos arriscar a que a sra. Medeiros nos prive do seu extraordinário desempenho parlamentar, de resto evidente no sorriso irónico com que ela encara cada reunião da Comissão de Ética. Em segundo lugar, porque se o eng. Sócrates for impedido de angariar apoiantes no estrangeiro depressa começará a ter dificuldades em consegui-los cá dentro. Bem sei que, além do sr. Figo e da sra. Medeiros, os comentários da Internet estão repletos de louvores apaixonados do primeiro-ministro. Mas, justamente a julgar pelo grau da paixão, os seus autores também não vivem em Portugal: vivem na Lua ou no aparelho do PS, o que hoje em dia é quase o mesmo.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada sexta-feira

2 comentários:

Diogo disse...

Preciso do NIB da Medeiros para enviar a minha contribuição.

Apache disse...

Eu estava a pensar oferecer-lhe uma bicicleta. Paris não é assim tão longe e ela tem ar de quem se preocupa com a linha e com o ambiente.