terça-feira, 27 de abril de 2010

“Fundo perdido”

“Até 2013, velhinhos, reformados em geral, jovens com menos de 25 anos e criaturas com "dificuldades sociais, financeiras ou pessoais" dos países membros da UE verão as suas férias subsidiadas em 30%. A ideia nasceu no cerebelo do comissário europeu da Indústria e Empreendedorismo, Antonio Tajani, sob o argumento de que "viajar é um direito". Inês de Medeiros não diria melhor. Enquanto a mesquinhez de alguns burocratas recomenda restrição e poupança, a Europa ainda dispõe de visionários empenhados em inventar novos direitos. E o direito a passear pelo continente, que o nosso Governo se apressou a aplaudir, é um mero exemplo. Em breve talvez cada cidadão da UE venha a usufruir, mesmo que a 30%, do direito às trufas, ao Lexus, às cirurgias plásticas e às top-models de 18 anos, produtos que carecem de democratização e não deviam. Perante o génio do sr. Tajani, que quer levar "os europeus do Norte a conhecer as ofertas culturais do Sul e vice-versa" (na época baixa), os mesquinhos preocupam-se com quem paga as viagens. Eu prefiro alegrar-me com quem as recebe. É preciso um coração de pedra para não nos comovermos face à concretização iminente do velho sonho de cada português: visitar a Escandinávia. Temos milhares de cidadãos necessitados que passaram as vidas a amealhar setenta por cento das despesas inerentes a oito dias em Helsínquia. E milhares de idosos ansiosos pelos benefícios à moral e à artrite que só uma estadia na Dinamarca em pleno Novembro permite. Uma única dúvida. Imagino o que a Comissão Europeia entende por gente com dificuldades financeiras. Não imagino o que entende por gente com dificuldades "sociais" ou "pessoais". Psicopatas? Inadaptados? Meros malucos? Provavelmente não, já que esses trabalham quase todos em Bruxelas e Estrasburgo e estarão fartos de viagens.”
Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias do passado dia 19 de Abril

1 comentário:

Diogo disse...

Posto isto, e as novas medidas que se preparam para o PEC, julgo que as pessoas deviam acordar e insurgir-se violentamente.

Mas não é com manifestações com palavras de ordem, faixas e bandeiras e a atirar pedras à polícia. É ir procurá-los, a casa deles, os financeiros e os políticos e os jornalistas a soldo e dar-lhes o devido tratamento.

Estou convencido que as agências de rating iriam apreciar.