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sexta-feira, 11 de março de 2011

Foi há 7 anos...

“Os serviços secretos portugueses comunicaram aos congéneres espanhóis, em Fevereiro de 2004, uma informação colhida pelo SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), segundo a qual iria dar-se um atentado da Al-Qaeda em Madrid, no dia 11 de Março - como aconteceu. Ao que o "T&Q" apurou, de fonte conhecedora do caso, a "dica" foi dada a dois inspectores do SEF por imigrantes romenos, duas a três semanas antes dos atentados que vieram a ocorrer em quatro estações de comboio em Madrid. Os inspectores, que transportaram os romenos por via aérea, na sequência de um processo de expulsão para o país de origem, ouviram, com espanto, a informação e - segundo a mesma fonte - tomaram-na a sério. A garantia de que estava em preparação um atentado em Espanha para aquele dia fora transmitida aos romenos por marroquinos que tinham estado detidos em Portugal na mesma prisão - a cumprir pena por crimes aqui praticados - e que com eles conviveram por alguns meses. Durante a viagem de avião, com escala em Amesterdão, Holanda, os romenos contaram que os marroquinos diziam que se estava a preparar um atentado em Madrid, previsto para 11 de Março de 2004. Os romenos tê-lo-ão transmitido em jeito de satisfação e de vingança por terem sido expulsos do nosso país, e em tom de quem sabia do que falava, como quem diz: "Primeiro vai ser Espanha, mas qualquer dia chega a vossa hora!". Ao que o "T&Q" apurou, a informação terá sido comunicada, dias depois, à "secreta" espanhola - o Centro Nacional de Inteligência (CNI) - pelos serviços de "inteligência" portugueses, coordenados pelo Gabinete Coordenador de Segurança (GCS). Os serviços de informação portugueses, continua a mesma fonte, desconhecem qual o crédito que os espanhóis deram à informação, a qual, embora não indicasse o local exacto das explosões, se revelou "estranhamente precisa" quanto à data e à cidade, a capital espanhola.”
Texto assinado por Filipe Branco, publicado no jornal “Tal e Qual” de 10 de Março de 2006

domingo, 31 de outubro de 2010

Light side

Há sorrisos, olhares, cumplicidades que, mesmo sendo breves, dão mais sentido à noção de eternidade.
Apache, Outubro de 2010

sábado, 31 de outubro de 2009

Nunca vais saber

"Nunca vais saber a sombra que fere o olhar o sorriso breve sem luz no caminho longo a fechar... Nunca vais saber o longo vácuo infinito a saudade já a sangue gravada na mudez nua de um grito... Nunca vais saber a lágrima quente na cama os olhos de seda rasgada o gelo firme na chama... Nunca vais saber a mão crispada e vazia o desejo insano mordido na intensidade do dia... Nunca vais saber o luar que me corre nas veias das noites, de prata vestidos e loucuras tecidas a meias... Nunca vais saber que és tu quem eu trago comigo que és tu quem me assalta ao acordar com um susto quente no peito... Nem nunca vais saber que sonho sempre contigo e que à noite... em ti me aconchego, e que é em ti que eu me deito... Não! Tu nunca vais saber..."
MCB 2008
De uma amiga (grande na escrita) que hoje é pequenina, a quem aproveito para dar os parabéns e desejar muitas felicidades

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"A Gaivota" - Amália Rodrigues

"Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa, no desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho, fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse, se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se ao dizer adeus à vida as aves todas do céu, me dessem na despedida o teu olhar derradeiro, esse olhar que era só teu, amor que foste o primeiro. Que perfeito coração morreria no meu peito, meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito bateu o meu coração." Poema de Alexandre O'Neill com música de Alain Oulman, em jeito de homenagem à voz inconfundível de Amália Rodrigues (1 de Julho de 1920 – 6 de Outubro de 1999)

Apache, Outubro de 2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

3º Aniversário

[O Último dos Moicanos completa hoje o terceiro aniversário. Vai daí, relembrando datas em que o tempo e a (des)inspiração o permitiam, retomo uma espécie de “escrita à deriva”.]
Por oposição (ou talvez não) às “cartas de amor”, aqui fica um…
Bilhetinho de “desamor”
Com um sorriso estendes-me o céu como tapete mas as tuas palavras são estrelas ninja com que me rasgas o peito… Acaricias-me a carne dilacerada, com o vento morno do teu olhar, mas cuidas-me as feridas com unguento de sal e cicuta… O amor que desesperadamente assassinas é o mesmo monstro que em mar de sôfregas lágrimas, adoras… O fosso de saudade que herculeamente cavas com a tua ausência é o campo de forças indómito que nos une… Lanças-me, anjo negro, o beijo mais apetecido, mas a paixão que semeámos é Fénix nas chamas do desejo renascida… Morra ela de nós, feda pútrida no mais fundo dos abismos, extinga-se no limiar da eternidade, se a cada sístole, o teu sangue não gritar o meu nome.
Apache, algures num passado não muito distante

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O fenómeno da Tunguska fez 100 anos (3)

(continuação...)
A equipa da Universidade de Bolonha que aposta na teoria da queda de um meteorito, prometeu regressar à Tunguska brevemente. Curiosamente, a principal crítica a esta teoria veio de David Morrison da NASA que afirmou ser estranho que tratando-se de um meteorito, este tenha deixado apenas uma cratera de impacto, ainda por cima tão pequena (cerca de 700 metros de comprimento, 360 de largura e 50 de profundidade). Considerando a área de floresta destruída e o abalo sísmico provocado, seria espectável um meteorito com dimensões muito maiores, que deixaria no solo, uma cratera muito maior que o lago Cheko. Ou então poderia, ainda no ar ou ao embater no solo, fragmentar-se em vários pedaços menores, deixando múltiplas crateras. A hipótese do cometa (pedaço de gelo e poeira que ardeu completamente em contacto com a atmosfera) encaixa perfeitamente no relato referente à bola de fogo que as testemunhas oculares viram no céu (o segundo sol) e na ausência de cratera mas não justificava a enorme onda de calor e a destruição verificada. Mas em 1976 os cientistas soviéticos, Vladimir Stulov e Georgi Petrov, afirmaram que as temperaturas atingidas pelo cometa (que viajaria a mais de 40 mil quilómetros por hora) deveriam ser tão altas que este não se evaporou, antes, os núcleos dos átomos de hidrogénio e de oxigénio que constituem a molécula da água desintegraram-se, tal como acontece numa reacção de fissão nuclear e foi a radiação daí resultante que destruiu a floresta. Muitos cientistas não estão, no entanto, convencidos que as dezenas de milhares de quilómetros por hora que o alegado cometa possa ter atingido tenham, devido à colisão com as moléculas do ar, gerado energia suficiente para desencadear uma reacção nuclear. Como referi no “post” anterior, várias outras teorias foram apresentadas, algumas por cidadãos comuns, outras por conceituados cientistas. Por exemplo, Chandra Atluri e Clyde Cowan da Universidade Católica Americana, acreditam que o fenómeno foi causado pela queda de um pedaço de antimatéria, daí a inexistência de cratera ou de fragmentos. O “único” problema desta teoria é a falta de prova científica da existência de antimatéria. Oura das teorias que se tornaram populares nos últimos anos, foi a proposta por A. A. Jackson e Michael Ryan Jr. da Universidade do Texas, que estão convencidos que naquela manhã a Sibéria foi atingida por um minúsculo buraco negro. Esta teoria tem o mesmo problema da anterior, carece de prova científica convincente, da existência de buracos negros. Talvez o mais surpreendente nos relatos (que Kulik recolheu) de algumas das mais de 900 testemunhas oculares registadas, seja a afirmação de que o objecto de grande luminosidade, semelhante a uma esfera de fogo, mudou de direcção durante o voo, primeiro sobre a localidade de Keshma, depois ao sobrevoar Preobrashenska, antes de desaparecer numa violenta explosão, no céu de Vanavaara, que ficou completamente coberto de fumo. A serem verídicos estes relatos, todas as hipóteses relacionadas com a queda “livre” de objectos celestes ficariam afastadas. Estranha coincidência (ou não, depende da vontade especulativa de cada um), a essa hora (ainda noite do dia 29 de Junho) em Nova Iorque, Nikola Tesla testava a sua nova invenção, o “Raio da Morte”. Passaram cem anos e a ciência não conseguiu ou não quis apresentar uma explicação coerente para um dos acontecimentos mais insólitos (e felizmente não o mais trágico porque por sorte ocorreu num local quase desabitado) da história recente da humanidade. O único dado que (a mim me) parece adquirido é que naquela solarenga manhã de 30 de Junho de 1908, radiação electromagnética de elevadíssima energia estigmatizou o coração da floresta siberiana.
Apache, Julho de 2008

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O fenómeno da Tunguska fez 100 anos (2)

(continuação...)
Apesar da violenta explosão que às 7 horas, 17 minutos e 11 segundos (hora local, sete horas menos no Tempo Universal) daquela manhã de 30 de Junho de 1908, junto ao Rio Tunguska, cuja potência foi posteriormente estimada em mil (a duas mil) vezes a da bomba atómica lançada (quase 4 décadas depois) em Hiroxima (equivalente a 15 a 40 megatonelada de TNT) e, da enorme onda electromagnética que deixou um rasto de destruição pelas infindáveis terras montanhosas do coração da Sibéria, à época, apesar das notícias continuadas dos jornais das metrópoles, na Rússia em particular, mas também em toda a Europa, o fenómeno passou quase despercebido à larga maioria da população. Talvez devido ao isolamento da região, ou à era feudal que a Rússia ainda vivia, ou ainda aos anos conturbados que se seguiram, com a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Bolchevique, o certo é que a primeira expedição científica, liderada pelo mineralogista Leonid Kulik (são da sua equipa as fotos deste e do “post” abaixo) só foi enviada ao local em 1921. Quando Kulik chegou ao local deparou-se com um cenário insólito, nunca antes visto. Num raio de 50 km a partir de um ponto central, todas as árvores estavam derrubadas e apontavam para fora do alegado circulo. Digo alegado, porque imagens aéreas da expedição seguinte mostraram que não se tratava de um círculo, as árvores derrubadas desenhavam no solo a forma de uma borboleta, apontando todas elas, do centro para o exterior. Em redor desta zona (central) estendendo-se por 215 mil hectares, tudo havia sido incinerado, não se vislumbrando o menor sinal de vida. A zona onde viviam Semenov e Luchektan ficava a mais de 60 km do centro da ocorrência. Kulik foi o primeiro a propor uma explicação para o fenómeno, a queda de um meteoro. Curiosamente, apesar de nunca ter sido encontrado qualquer vestígio do (suposto) meteoro e, de oficialmente nenhuma cratera de impacto ter sido encontrada, esta é, ainda hoje, a hipótese com mais adeptos na comunidade científica internacional. Kulik apontou a hipótese de o meteoro ter explodido a 5 ou 6 km de altitude, antes de atingir o solo, mas cientista italianos da Universidade de Bolonha, que se deslocaram ao local no ano passado, dizem-se convencidos de que a cratera de impacto é o Lago Cheko que não existia antes do evento e deverá ter no seu fundo pedaços de ferro ou rocha do meteoro. Apesar da demora de 13 anos na chegada da primeira expedição, inúmeras outras se seguiram até aos nossos dias (excepção apenas para o período da Segunda Guerra Mundial), tendo chegado às mais variadas teorias para a explicação do fenómeno. A versão oficial Russa (da Academia de Ciências), repetida uma vez mais, este ano, aquando das comemorações do centésimo aniversário do acontecimento, é a de que se tratou de um pequeno cometa (objecto celeste constituído essencialmente por gelo e poeira) que ao contactar com a atmosfera terrestre se incendiou (devido ao atrito com o ar) tendo derretido por completo antes de atingir o solo. De acordo a versão oficial, o lago Cheko com 50 m de profundidade, fica 8 km a noroeste do epicentro. (continua…)
Apache, Julho de 2008

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O fenómeno da Tunguska fez 100 anos

O agricultor Semenov tinha o hábito de se levantar de madrugada adiantando as primeiras tarefas na quinta, antes de observar diariamente o nascer do Sol. Naquela manhã de 30 de Junho de 1908, dezassete minutos depois das sete horas, Semenov olhava estupefacto para o céu. Não havia um mas sim dois sóis no horizonte. Um deles, de tom azulado, rasgava o céu a uma velocidade astronómica em direcção a Semenov que não conseguia esboçar reacção. Antes que a fantasmagórica bola de fogo o atingisse, um fortíssimo vento quente elevou-o do solo e fê-lo voar uma centena de metros. Ao estatelar-se no solo desmaiou. Quando voltou a si, atordoado, olhou em volta o cenário dantesco que o rodeava. A sua roupa rasgada e chamuscada queimava-lhe a pele, a casa onde morava pura e simplesmente desaparecera, todas as árvores que o seu olhar alcançava estavam derrubadas ou tinham perdido os seus ramos. Centenas de cabeças de gado do vaqueiro Luchektan a cerca de 2 km de si tinham sido assadas e jaziam pela estepe, algumas trespassadas pelos ramos da vegetação. Alguns riachos e pequenos lagos da região secaram instantaneamente. Dois mil quilómetros quadrados de floresta (mais de 80 milhões de árvores) foram arrasados. A 750 km dali passava o comboio transiberiano. O maquinista relatou que sentiu um vento forte e muito quente, enquanto os vidros das janelas estilhaçavam e as cortinas eram arrancadas. Assustados, muitos dos passageiros gritavam, mas os seus gritos foram rapidamente abafados por um trovão como nunca se tinha ouvido. Quando olhou para os carris, reparou que estes ondulavam à sua frente, enquanto o comboio se sacudia. Aterrorizado, puxou o travão de emergência debruçou-se sobre os joelhos e rezou. A 4 mil quilómetros do local, a estação meteorológica de São Petersburgo registou um abalo sísmico de média intensidade e uma enorme perturbação do campo magnético terrestre. Um dos funcionários da estação afirma que as agulhas das bússolas rodavam como moinhos ao vento. A oito mil quilómetros dali, em Londres, os sismógrafos registavam um abalo sísmico de fraca intensidade. Mas durante semanas, a qualquer hora da noite e sem luz artificial, era possível ler o jornal. (continua…)
Apache, Julho de 2008

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

“Notas absolutamente íntimas” - Dom Manuel II, Rei de Portugal

1 de Fevereiro de 1908 – O Regicídio
Faz hoje 100 anos que o Rei D. Carlos e o Príncipe Real Luís Filipe foram assassinados no Terreiro do Paço.
A evocação da data fica marcada pelo protagonismo infantil e mimado que o Sr. Ministro da defesa quis chamar a si, ao proibir a participação do Exército nas homenagens. De acordo com o “Sol”,parece que um grupo de alienados que diz que é uma espécie de Partido Político, indignou-se e o Sr. Ministro, que diz que é uma espécie de pau-mandado, disponibilizou-lhe alívio. Os restantes partidos, desta que se diz que é uma espécie de democracia, aplaudiram. Espero que em 2010 quando se comemorarem os 100 anos da implantação da que diz que é uma espécie de República, quem quer que esteja no cargo, a brincar aos ministros, se lembre de proibir o Exercito de participar nas “festividades”, por uma questão de igualdade de direitos.
E porque nestas datas o mais importante é reavivar a nossa memória colectiva, aqui fica um relato dos acontecimentos do século passado, na versão daquele que os viveu mais de perto.
“Notas absolutamente íntimas”
“Há já uns poucos de dias que tinha a ideia de escrever para mim estas notas íntimas, desde o dia 1 de Fevereiro de 1908, dia do horroroso atentado no qual perdi, barbaramente assassinados, o meu querido Pai e o meu querido Irmão. Isto que aqui escrevo é ao correr da pena mas vou dizer franca e claramente e sem estilo tudo o que se passou. Como isto é uma história íntima do meu reinado vou inicia-la pelo horroroso e cruel atentado.
No dia 1 de Fevereiro regressavam Suas Majestades, El-Rei D. Carlos I, a Rainha, senhora D. Amélia e Sua Alteza o Príncipe Real, de Vila Viçosa onde ainda tinham ficado. Eu tinha vindo mais cedo (uns dias antes) por causa dos meus estudos de preparação para a Escola Naval. Tinha ido passar dois dias a Vila Viçosa e tinha regressado novamente a Lisboa.
Na capital estava tudo num estado de excitação extraordinária: bem se viu no dia 28 de Janeiro em que houve uma tentativa de revolução, a qual não venceu. Nessa tentativa estava implicada muita gente: foi depois dessa noite de 28, que o Ministro da Justiça Teixeira de Abreu levou a Vila Viçosa o famoso decreto que foi publicado em 31 de Janeiro. Foi uma triste coincidência, ter sido rubricado nesse dia de aniversário da revolta do Porto. Meu Pai não tinha nenhuma vontade de voltar para Lisboa. Bem me lembro que se estava para voltar para Lisboa 15 dias antes e que meu Pai quis ficar em Vila Viçosa: Minha Mãe pelo contrário queria forçosamente vir. Recordo-me perfeitamente desta frase que me disse na véspera ou no próprio dia que regressei a Lisboa depois de eu ter estado dois dias em Vila Viçosa. "Só se eu quebrar uma perna é que não volto para Lisboa no dia 1 de Fevereiro. Melhor teria sido que não tivessem voltado porque não tinha eu perdido dois entes tão queridos e não me achava hoje Rei! Enfim, seja feita a Vossa vontade Meu Deus!
Mas voltando ao tal decreto de 31 de Janeiro. Já estavam presas diferentes pessoas políticas importantes. António José de Almeida, republicano e antigo deputado, João Chagas, republicano, João Pinto dos Santos, dissidente e antigo deputado, o Visconde de Ribeira Brava e outros. Este António José de Almeida é um dos mais sérios republicanos e é um convicto, segundo dizem. João Pinto dos Santos é também um dos mais sérios do seu partido. O Visconde de Ribeira Brava não presta para muito e tinha sido preso com as armas na mão no dia 28 de Janeiro. Mas o António José de Almeida e o João Pinto dos Santos não podiam ser julgados senão pela Câmara, como deputados da última Câmara. Ora creio que a intenção do Governo era mandar alguns para Timor tirando assim por um decreto ditatorial, um dos mais importantes direitos dos deputados. O Conselheiro José Maria de Alpoim par do Reino e chefe do partido dissidente tinha tido a sua casa cercada pela polícia mas depois tinha fugido para Espanha. Um outro dissidente também tinha fugido para Espanha e lá andou disfarçado. Outro que tinha sido preso foi o Afonso Costa: este é do pior que existe não só em Portugal mas em todo mundo; é medroso e covarde mas inteligente e, para chegar aos seus fins, qualquer pouca vergonha lhe é indiferente. Mas isto tudo é apenas para entrar depois mais detalhadamente na história íntima do meu reinado.
Como disse mais atrás eu estava em Lisboa quando foi o 28 de Janeiro; houve uma pessoa minha amiga (que se não me engano foi o meu professor Abel Fontoura da Costa) que disse a um dos Ministros que eu gostava de saber um pouco sobre o que se passava, o porquê de isto estar num tal estado de excitação. O João Franco escreveu-me então uma carta que eu tenho a maior pena de ter rasgado, porque nessa carta dizia-me que tudo estava sossegado e que não havia nada a recear! Que cegueira!
Mas passemos agora ao fatal dia 1 de Fevereiro de 1908 sábado. De manhã tinha eu recebido o Marquês Leitão e o King. Almocei tranquilamente com o Visconde de Asseca e o Kerausch. Depois do almoço estive a tocar piano, muito contente porque naquele dia dava-se pela primeira vez "Tristão e Ysolda" de Wagner em S. Carlos. Na véspera tinha estado tocando a 4 mãos com o meu querido mestre Alexandre Rey Colaço o Séptuor de Beethoven, que era, e é uma das obras que mais aprecio deste génio musical. Depois do almoço, à hora habitual, quer dizer às 13:15 comecei a minha lição com o Fontoura da Costa, porque ele tinha trocado as horas da lição com o Padre Fiadeiro. A hora do Fontoura era às 17:30. Acabei com o Fontoura às 15 horas e pouco depois recebi um telegrama da minha adorada Mãe dizendo-me que tinha havido um descarrilamento na Casa Branca, que não tinha acontecido nada, mas que vinham com três quartos de hora de atraso. Vendo que nada tinha acontecido, dei graças a Deus, mas nem me passou pela mente, como se pode calcular o que havia de acontecer. Agora pergunto-me eu, aquele descarrilamento foi um simples acaso? Ou foi premeditado para que houvesse um atraso e se chegasse mais tarde? Não sei. Hoje fiquei em dúvida.
Depois do horror que se passou fica-se a duvidar de muita coisa. Um pouco depois das 4 horas saí do Paço das Necessidades num landau, com o Visconde de Asseca, em direcção ao Terreiro do Paço, para esperarmos Suas Majestades e Alteza. Fomos pela Pampulha, Janelas Verdes, Aterro e Rua do Arsenal. Chegámos ao Terreiro do Paço. Na estação estava muita gente da corte e outros sem ser. Conversei primeiro com o Ministro da Guerra, Vasconcelos Porto, talvez o Ministro de quem eu mais gostava no Ministério do João Franco. Disse-me que tudo estava bem. Esperámos muito tempo; finalmente chegou o barco em que vinham os meus Pais e o meu Irmão. Abracei-os e viemos seguindo até a porta onde entramos para a carruagem, os quatro. No fundo a minha adorada Mãe dando a esquerda ao meu pobre Pai. O meu chorado Irmão diante do meu Pai e eu diante da minha mãe. Sobretudo o que agora vou escrever é que me custa mais: ao pensar no momento horroroso que passei confundem-se-me as ideias. Que tarde e que noite mais atroz! Ninguém neste mundo pode calcular, não, sonhar sequer o que foi. Creio que só a minha pobre e adorada Mãe e Eu podemos saber bem o que isto é! Vou agora contar o que se passou naquela histórica Praça.
Saímos da estação bastante devagar. Minha Mãe vinha-me a contar como se tinha passado o descarrilamento na Casa Branca quando se ouviu o primeiro tiro no Terreiro do Paço: era sem dúvida um sinal: sinal para começar aquela monstruosidade infame, porque pode-se dizer e digo que foi o sinal para começar a batida. Foi a mesma coisa que se faz numa batida às feras: sabe-se que têm de passar por caminho certo: quando entram nesse caminho dá-se o sinal e começa o fogo! Infames! Eu estava a olhar para o lado da estátua de D. José e vi um homem de barba preta, com um grande "gabão". Vi esse homem abrir a capa e tirar uma carabina. Eu estava tão longe de pensar num horror destes que disse para mim mesmo, sabendo o estado exaltação em que isto tudo estava "que má brincadeira". O homem saiu do passeio e veio pôr-se atrás da carruagem e começou a fazer fogo.
Faço aqui um pequeno desenho para me ajudar.1)Estátua de D. José;
2) Sítio onde estava o Buíça o homem das barbas;
3) Lugar onde ele começou a fazer fogo; 4) Sítio aproximadamente onde devia estar a carruagem Real quando o homem começou a fazer fogo;
5) Portão do Arsenal;
6) Praça do Pelourinho;
7) Sítio aproximadamente donde saiu o tal Costa que matou o meu Pai.
Quando vi o tal homem das barbas que tinha uma cara de meter medo, apontar sobre a carruagem, percebi bem, infelizmente o que era. Meu Deus que horror. O que então se passou só Deus, a minha Mãe e eu sabemos; porque mesmo o meu querido e chorado Irmão presenciou poucos segundos porque instantes depois também era varado pelas balas. Que saudades meu Deus! Dai-me a força Senhor para levar esta Cruz, bem pesada, ao Calvário! Só vós, Meu Deus sabeis o que tenho sofrido!
Logo depois do Buíça ter feito fogo (que eu não sei se acertou) começou uma perfeita fuzilada, como numa batida às feras! Aquele Terreiro do Paço estava deserto, sem nenhuma providência! Isso é que me custa mais a perdoar ao João Franco. Se durante o seu ministério cometeu erros, isso para mim é menos. Tenho a certeza que a sua intenção era muito boa; os meios é que foram maus, péssimos, pois acabou da maneira mais atroz que jamais se poderia imaginar. Quando se lhe dizia que isto ia mal, que havia anarquistas no nosso País, ele não acreditou. O primeiro sintoma que eu me lembro foi a explosão daquelas bombas na Rua de Santo António à Estrela. Recordo-me perfeitamente a impressão que me fez quando soube! Foi no Verão, estávamos então na Pena. Quem diria o que havia de acontecer 6 ou 8 meses depois! Mas voltando novamente ao pavoroso atentado.
Sei de um dos comandantes da polícia, o Coronel Correia, que estava muito inquieto e o João Franco não acreditava que pudesse ter lugar qualquer coisa desagradável, quanto menos um horror destes, e infelizmente não estavam tomadas providências nenhumas.
Imediatamente depois do Buíça começar a fazer fogo saiu de debaixo da Arcada do Ministério um outro homem que disparou uns poucos de tiros à queima-roupa sobre o meu Pai; uma das balas entrou pelas costas e outra pela nuca, que O matou instantaneamente. Que infames! para completarem a sua atroz malvadez e sua medonha covardia fizeram fogo pelas costas. Depois disto não me lembro quase do resto: foi tão rápido! Lembro-me perfeitamente de ver a minha adorada e heróica Mãe de pé na carruagem com um ramo de flores na mão, gritando àqueles malvados animais, porque aqueles não são gente «infames, infames».
A confusão era enorme. Lembro-me também e isso nunca poderei esquecer, quando na esquina do Terreiro do Paço para a Rua do Arsenal, vi o meu Irmão em pé dentro da carruagem com uma pistola na mão. Só digo d'Ele o que o Cónego Aires Pacheco disse nas exéquias nos Jerónimos: «Morreu como um herói ao lado do seu Rei»! Não há para mim frase mais bela e que exprima melhor todo o sentimento que possa ter.
Meu Deus que horror! Quando penso nesta tremenda desgraça, ainda me parece um pesadelo! Quando de repente já na Rua do Arsenal olhei para o meu queridíssimo Irmão vi-o caído para o lado direito com uma ferida enorme na face esquerda de onde o sangue jorrava como de uma fonte! Tirei um lenço da algibeira para ver se lhe estancava o sangue: mas que podia eu fazer? O lenço ficou logo como uma esponja.
No meio daquela enorme confusão estava-se em dúvida para onde devia ir a carruagem: pensou-se no hospital da Estrela, mas achou-se melhor o Arsenal. Eu também, já na Rua do Arsenal fui ferido num braço por uma bala. Faz o efeito de uma pancada e um pouco uma chicotada: foi na parte superior do braço direito.
Agora que penso ainda neste pavoroso dia e no medonho atentado, parece-me e tenho quase a certeza (não quero afirmar porque nestes momentos angustiosos perde-se a noção das coisas) que eu escapei por ter feito um movimento instintivo para o lado esquerdo.
Na segunda carruagem vinham os Condes de Figueiró e o Marquês de Alvito e na terceira o Visconde de Asseca, o Vice-Almirante Guilherme A. de Brito Capelo e o Major António Waddington. Quando vínhamos a entrar o portão do Arsenal a Condessa de Figueiró entrou também na nossa carruagem e lembra-me que o Visconde de Asseca e o Conde de Figueiró vinham ao lado da carruagem. Dentro do Arsenal saí da carruagem primeiro e depois saiu a minha adorada Mãe. Foi verdadeiramente um milagre termos escapado: Deus quis poupar-nos! Dou Graças a Deus de me ter deixado a minha Mãe que eu tanto adoro. Sempre foi a pessoa que eu mais gostei neste mundo e no meio destes horrores todos dou e darei sempre graças a Deus de A ter conservado!
Quando a Minha adorada Mãe saiu da carruagem foi direita ao João Franco que ali estava e disse-lhe, ou antes, gritou-lhe com uma voz que fazia medo «Mataram El-Rei: Mataram o meu Filho». A minha pobre Mãe parecia doida. E na verdade não era para menos: Eu também não sei como não endoideci. O que então se passou naquelas horas no Arsenal ninguém pode sonhar! A primeira coisa foi que perdi completamente a noção do tempo. Agarrei a minha pobre e tão querida Mãe por um braço e não larguei e disse à Condessa de Figueiró para não a deixar.
Contudo ia entrando muita gente da Casa, diplomatas, ministros e mesmo ministros de Estado honorários.
Estava-se ainda na dúvida (infelizmente de pouca duração se ainda viviam os dois entes tão queridos! Estavam lá muitos médicos entre outros o Dr. Bossa (que me parece foi o primeiro a chegar) o Dr. Moreira Júnior e o Dr. D. António Lencastre. Contou-me depois (já alguns dias depois) o Dr. Bossa que logo que chegou acendeu um fósforo e ainda as pupilas se retraíram. Quando porém repetiu a experiência nem mesmo esse pequeno sinal de vida lhe restava. Descansa em paz no sono Eterno e que Deus tenha a Tua Alma na sua Santa Guarda!
De meu Pai e mesmo de meu Irmão não tinha grandes esperanças que pudessem escapar. As feridas eram tão horrorosas que me parecia impossível que se salvassem. Como disse, já lá estava o Ministério todo menos o Ministro da Fazenda Martins de Carvalho.
Isso é que nunca poderei esquecer; é que fazendo parte do Ministério do meu querido Pai, quando foi assassinado não foi ao Arsenal! Diz-se (não o quero afirmar) que fugiu para as águas-furtadas do Ministério da Fazenda e ali fechou a porta à chave! Seja como for, faz agora seis meses que Meu Pai e Meu Irmão, de chorada memória, foram assassinados e nunca mais aqui pôs os pés! Acho isso absolutamente extraordinário!... Para não dizer mais.
Preveniu-se para o Paço da Ajuda a minha pobre Avó para vir para o Arsenal. Eu não estava quando Ela chegou. Estavam-me a tratar o braço na sala do Inspector do Arsenal.
Quando a Avó chegou foi direita à minha Mãe e disse-lhe «On a tué mon fils!» e a minha Mãe respondeu-lhe: «Et le mien aussi!» Meu Deus dai-me força. Mas antes disto houve diferentes coisas que quero contar.
A minha pobre e adorada Mãe andava comigo pelo Arsenal de um lado para o outro com diferentes pessoas: Conde de Sabugosa, Condes de Figueiró, Condes de Galveias e outros, falando sempre num estado de excitação indescritível mas fácil de compreender. De repente caiu no chão! Só Deus e eu sabemos o susto que eu tive! Depois do que tinha acontecido veio aquela reacção e eu nem quero dizer o que primeiro me passou pela cabeça.
Depois vi bem o que era: o choque pavoroso fazia o seu efeito! Minha Mãe levantou-se quase envergonhada de ter caído. É um verdadeiro herói. Quem dera a muitos homens terem a décima parte da coragem que a minha Mãe tem.
Tem sido uma verdadeira mártir! O que eu rogo a Deus, sempre e a cada instante, é para A conservar!
Pouco tempo depois de termos chegado ao Arsenal veio ainda o major Waddington dizendo que os Queridos Entes ainda estavam vivos; mas infelizmente pouco tempo depois voltou chorando muito. Perguntei-lhe «Então?» Não me respondeu. Disse-lhe que tinha força para ouvir tudo. Respondeu-me então que já ambos tinham falecido! Dai-lhes Senhor o Eterno descanso e brilhe sobre Eles a Vossa Luz Eterna. Ámen!
Pouco depois vi passar João Franco com o Aires de Ornelas (Ministro da Marinha) e talvez (disso não me lembro ao certo) com o Vasconcelos Porto, Ministro da Guerra, dirigindo-se para a Sala da Balança para telefonarem a pedir que se tomassem todas as previdências necessárias. Isto são cenas, que viva eu cem anos, ficarão gravadas no meu coração. Agora já era noite o que ainda tornava tudo mais horroroso e sinistro: estava já, então, muita gente no Arsenal, e começou-se a pensar no regresso para o Paço das Necessidades. No presente momento em que estou a escrever estas linhas estou a repassar com horror, tudo no meu pensamento! Entrámos então para o landau fechado, a minha Avó, a minha Mãe, o Conde de Sabugosa e eu. Saímos do Arsenal pelo portão que deita para o Cais do Sodré onde estava um esquadrão da Guarda Municipal comandado pelo Tenente Paul: Na almofada ia o Coronel Alfredo de Albuquerque: à saída entregaram ao Conde de Sabugosa um revólver; a minha Avó também queria um.
Viemos então a toda brida para o Paço das Necessidades. À entrada esperavam-nos a Duquesa de Palmela, a Marquesa do Faial, a Condessa de Sabugosa, o Dr. Th. de Mello Breyner, o Conde de Tattenbach, o Ministro da Alemanha e a Condessa, e muitos criados da casa. Foi uma cena horrorosa! Todos choravam aflitivamente. Subimos muito vagarosamente a escada no meio dos prantos e choros de todos os presentes.
Acompanhei a minha adorada Mãe até ao seu quarto e deixei a minha Avó na sala.”
Dom Manuel II, Rei de Portugal, Lisboa, 1908
Dois dos autores materiais do crime foram abatidos no local. Os restantes cúmplices (cerca de dezoito) e os organizadores do hediondo acto ficaram impunes. O caso nunca chegou a tribunal. Assim se vai escrevendo a história da "democracia" à portuguesa.
Apache, Fevereiro de 2008

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

2º Aniversário do Último dos Moicanos

Em jeito de comemoração dos dois anos do blogue, que hoje se completam, repito uma publicação de 2006 na sequência de um comentário ao poema “Respiro o teu corpo” de Eugénio de Andrade.

Sabe à água da fonte, sabe à luz do luar... Sabe às flores do monte, sabe às ondas do mar!

Sabe ao sol de Inverno, sabe à terra quente... Sabe ao toque terno, sabe ao desejo ardente!

Sabe a tudo e sabe a nada, sabe a sim e sabe a não... Sabe a paixão alada, a pecado e a perdão!
Sabe a cais e a porto-de-abrigo, sabe a ter e a mais querer... Sabe ao que penso e ao que digo, mais ao que eu não sei dizer!
Respiro o teu corpo, bebo o teu olhar... Acendo o teu fogo, conjugo o verbo amar!...
Apache, Abril de 2006

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

1º Aniversário

O Último dos Moicanos completa hoje o seu primeiro ano, por isso, em jeito de comemoração, aqui fica (de novo) o primeiro "post". Estranha coisa esta em forma de assim que não se explica mas que se sente. Estranha coisa esta em forma de assim que não se confessa, mas que ao negar se mente. Estranha coisa esta em forma de assim que de tanto calar a alma, em silêncio a proclama. Estranha coisa esta em forma de assim que do fogo faz suor e do frio fez chama. Estranha coisa esta em forma de assim que de tanto se querer partilhar, se esconde e se intimida ao teu olhar, para se mostrar tão ousada em mim. Estranha coisa esta em forma de assim que me estremece o corpo e embarga a voz. Estranha coisa esta em forma de assim que emudece o meu eu, de tanto pensar, nós. Estranha coisa esta em forma de assim, sem espaço, sem tempo, sem princípio ou fim, que no silêncio do teu não teima em ouvir sim. Apache, Janeiro de 2006