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terça-feira, 3 de maio de 2011

Bin Laden morreu outra vez

A 10 de Setembro de 2001 Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda é (segundo Barry Petersen, correspondente da CBS) internado no Serviço de Urologia do Hospital Militar de Rawalpindi, no Paquistão, para fazer hemodiálise. No dia seguinte (11 de Setembro de 2001) ocorre uma alegada sucessão de ataques terroristas que, entre outros estragos, derruba os três principais edifícios do complexo conhecido como World Trade Center (As torres gémeas e o edifício 7), em Nova Iorque e abre um buraco nas paredes reforçadas de três dos cinco edifícios do Pentágono, em Washington. Desapareceram cerca de três mil pessoas. A autoria dos atentados é atribuída, pela administração norte-americana, à Al-Qaeda (que não reivindica o alegado ataque). A 18 de Outubro de 2007, a líder do Partido do Povo Paquistanês, Benazir Bhutto, regressa ao país após oito anos de auto-exílio, depois de um acordo com presidente Pervez Musharraf ter resultado na anulação das acusações de corrupção que sobre ela pendiam. Enquanto desfilava na capital paquistanesa, envolvida por cerca de cem mil apoiantes, duas bombas explodem no meio da multidão, matando 139 pessoas e ferindo cerca de trezentas. Benazir escapa ilesa. A 2 de Novembro de 2007, Benazir fala da tentativa de assassinato de que tinha sido vítima, numa entrevista ao jornalista David Frost, no seu programa “Frost Over de World” da televisão Al Jazeera, onde instada a pronunciar-se sobre quem pensava que estaria envolvido no atentado de que tinha sido alvo refere, sem que o jornalista se mostre minimamente surpreendido ou esboce qualquer interrogação que, entre outros, desconfia de “Omar Sheikh, the man who murdered Osama Bin Laden.” [Omar Sheikh, o homem que assassinou Osama Bin Laden.] A BBC passou uma versão manipulada do vídeo da entrevista, no qual cortou a frase em que Benazir se refere a Ahmed Omar Saeed Sheikh (alegado agente duplo, do MI6 e da Al-Qaeda), reconhecendo mais tarde a manipulação, depois de uma colossal onda de protestos e colocação do vídeo original no YouTube. A 27 de Dezembro do mesmo ano (2007), Benazir Buhtto desfila em Rawalpidi, após um comício. Um bombista suicida faz-se explodir junto ao carro que transportava Benazir, que morre em circunstâncias ainda não muito claras. No alegado atentado, que a Al-Qaeda reivindica, perdem a vida mais 22 pessoas. A um de Maio de 2011, o Presidente norte-americano, Barack Hussein Obama II anuncia que forças especiais da Marinha dos Estados Unidos localizaram e abateram Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda, numa mansão próxima da Academia Militar paquistanesa, na pequena cidade de Abbotabad, a cerca de 50 km (em linha recta) a norte de Rawalpindi, quarta maior cidade do Paquistão, cuja área metropolitana inclui Islamabad, a capital do país. Nos próximos tempos se perceberá se esta segunda morte de Bin Laden servirá para os EUA substituírem a Al-Qaeda por uma nova organização terrorista ou se esta manterá a designação e os serviços secretos americanos apresentarão um novo Lex Luthor.
Apache, Maio de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

Foi há 7 anos...

“Os serviços secretos portugueses comunicaram aos congéneres espanhóis, em Fevereiro de 2004, uma informação colhida pelo SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), segundo a qual iria dar-se um atentado da Al-Qaeda em Madrid, no dia 11 de Março - como aconteceu. Ao que o "T&Q" apurou, de fonte conhecedora do caso, a "dica" foi dada a dois inspectores do SEF por imigrantes romenos, duas a três semanas antes dos atentados que vieram a ocorrer em quatro estações de comboio em Madrid. Os inspectores, que transportaram os romenos por via aérea, na sequência de um processo de expulsão para o país de origem, ouviram, com espanto, a informação e - segundo a mesma fonte - tomaram-na a sério. A garantia de que estava em preparação um atentado em Espanha para aquele dia fora transmitida aos romenos por marroquinos que tinham estado detidos em Portugal na mesma prisão - a cumprir pena por crimes aqui praticados - e que com eles conviveram por alguns meses. Durante a viagem de avião, com escala em Amesterdão, Holanda, os romenos contaram que os marroquinos diziam que se estava a preparar um atentado em Madrid, previsto para 11 de Março de 2004. Os romenos tê-lo-ão transmitido em jeito de satisfação e de vingança por terem sido expulsos do nosso país, e em tom de quem sabia do que falava, como quem diz: "Primeiro vai ser Espanha, mas qualquer dia chega a vossa hora!". Ao que o "T&Q" apurou, a informação terá sido comunicada, dias depois, à "secreta" espanhola - o Centro Nacional de Inteligência (CNI) - pelos serviços de "inteligência" portugueses, coordenados pelo Gabinete Coordenador de Segurança (GCS). Os serviços de informação portugueses, continua a mesma fonte, desconhecem qual o crédito que os espanhóis deram à informação, a qual, embora não indicasse o local exacto das explosões, se revelou "estranhamente precisa" quanto à data e à cidade, a capital espanhola.”
Texto assinado por Filipe Branco, publicado no jornal “Tal e Qual” de 10 de Março de 2006

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Foi há 64 anos

“De súbito, um deslumbrante clarão cor-de-rosa-pálido surgiu no céu, acompanhado de um tremor extraordinário, seguido, quase imediatamente, por uma vaga de calor sufocante e um vento que varria tudo o que encontrava no seu caminho. Em poucos segundos, milhares de pessoas que se encontravam nas ruas e nos jardins do centro ficaram queimadas. Muitas morreram imediatamente devido ao calor sufocante. Outras torciam-se no chão, gritando de dor, queimadas de morte. Tudo o que estava de pé na zona da deflagração - muros, casas, fábricas e outros edifícios - ficou arrasado; os seus destroços, em turbilhão, foram projectados a grande altura. Os comboios foram arrancados dos carris como se fossem brinquedos. Os cavalos, os cães e o gado sofreram a mesma sorte que os humanos. Nem sequer a vegetação foi poupada. Milhares de árvores desapareceram nas chamas, os campos de arroz perderam a verdura, a erva ardeu no solo como palha seca. Para lá da zona de morte total, em que nada ficou vivo, as casas desmoronaram-se num turbilhão de vigamentos, de tijolos e barrotes. Até cinco quilómetros do centro da explosão, as casas construídas de materiais leves ficaram arrasadas como castelos de cartas. Os que se encontravam dentro delas morreram ou ficaram gravemente feridos. Os que, por milagre, conseguiram fugir ficaram cercados por uma cortina de chamas. E as raras pessoas que conseguiram abrigar-se morreram, de uma maneira geral, vinte a trinta dias mais tarde, devido à acção retardada dos impiedosos raios gama... À noite, o fogo começou a diminuir, e de madrugada extinguiu-se. Nada mais havia para arder. Hiroxima deixara de existir.”
Relato de um sobrevivente anónimo
A 6 de Agosto de 1945 um B-29 Superfortress, da força aérea norte-americana (Enola Gay), largou sobre a cidade japonesa de Hiroxima, uma bomba contendo 60 kg de urânio-235. Três dias depois, avião idêntico (Bockscar) largou sobre Nagasáqui outra bomba, desta vez, 6,4 kg de plutónio-239. Cerca de 120 mil pessoas morreram instantaneamente e muitos milhares nos dias seguintes. Mais de 90% eram civis. Um dos maiores crimes de guerra da história recente da humanidade, continua por julgar.
Apache, Agosto de 2009

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Kosovo - A independência dos tráfico-dependentes

O parlamento do Kosovo aprovou, no passado domingo, por unanimidade a independência da Sérvia. A declaração de independência foi lida pelo actual Primeiro-Ministro, Hashim Thaci, à revelia das Nações Unidas e do direito internacional. Thaci, ocupa o cargo desde a sua alegada vitória eleitoral, ocorrida em finais de Novembro passado, quando foi declarado vencedor, após ter sido (oficialmente) mandada parar a contagem dos votos. O seu partido, o PDK (Partido Democrático do Kosovo) terá obtido 34% dos (cerca de 90% de) votos efectivamente contados. Em matéria de política anedótica o Kosovo consegue superar tanto Portugal, como (pasme-se) Timor Leste. Repare-se no que sobre ele escreveu, em Novembro passado, o jornalista Daniel Estulin… «Primeiro, o PDK não é um partido democrático. Nasceu de uma franja radical da política albano-kosovar, formada inicialmente por marxistas-leninistas da velha escola, financiados pela Albânia. O seu líder espiritual, Adem Demaci era um fervoroso discípulo de Mao. Durante a Segunda Guerra Mundial, os kosovares seguidores de Demaci formaram grande parte da divisão de voluntários Skanderberg das SS, recrutados pelos nazis como homens de mão na deportação dos judeus kosovares para os campos de concentração. Os lutadores pela liberdade do PDK (antigo Exército de Libertação do Kosovo) foram financiados armados e treinados durante a guerra dos Balcãs pela CIA, pelo MI6, pela DIA (agência americana de espionagem e defesa), pelos mercenários da MPRI (empresa de segurança americana, composta por antigos marines, pilotos de helicóptero e forças especiais) e pelo BND (o serviço de espionagem alemão). O que os meios de comunicação se esquecem de nos contar é que o PDK, na realidade, é constituído por sujos traficantes de drogas que se prostituem em benefício do poder instituído no ocidente. Daí serem tão queridos pela maioria dos países ocidentais, sobretudo pelos americanos. Michael Levine, antigo membro da DEA (a agência americana de combate ao tráfico de droga) disse a 24 de Maio de 1999 à revista New American: “estamos a armar os piores traficantes de droga, terroristas e contrabandistas, gente que está relacionada com todos os cartéis de droga conhecidos do Médio ao Extremo Oriente. A Interpol, a Europol e praticamente todos os serviços de espionagem europeus e agências de luta contra o tráfico de drogas têm arquivos abertos sobre traficantes que nos levam ao PDK e à máfia albanesa.” O Ocidente, principalmente os homens por trás da cortina necessitavam que o PDK encabeçasse a guerra contra os sérvios. Assim, os assassinos e os traficantes, paramilitares liderados por Hashim Thaci, da noite para o dia converteram-se em lutadores pela liberdade, apoiados directamente pelas grandes potências ocidentais, pela NATO e pela ONU. A BBC, numa notícia de Novembro de 2000 (que milagrosamente desapareceu da sua página na Internet) afirmava que “Hashim Thaci havia ordenado o assassinato político dos seus opositores da Liga Nacionalista Democrática de Ibraim Rugova.” Aliás, o democrata Thaci ordenou o assassinato (físico) de Fermi Agani, um dos mais estreitos colaboradores de Rugova, segundo noticiou a agência jugoslava Tanjug, a 14 de Maio de 1999. Os dois principais defensores do traficante Thaci eram o general Wesley Clark e a Ex-secretária de Estado de Clinton Madeleine Albright, responsável moral pela limpeza ética no Ruanda, tal como expliquei no livro Os Senhores das Sombras. O Washington Times escreveu também: “Eram traficantes de droga em 1998, agora, por causa da política são lutadores pela liberdade.” Ralf Mutschke, destacado comandante da Interpol, testemunhou perante o Comité Judicial do Congresso (americano), a 13 de Dezembro de 2000, dizendo que: “O Departamento de Estado incluiu o PDK na sua lista de organizações terroristas, indicando que financiava as suas operações com dinheiro procedente do comércio internacional de heroína e apoios de Osama Bin Laden.” Aliás, durante o conflito no Kosovo, um egípcio, comandante militar de Bin Laden, dirigia uma unidade de elite do PDK. Frank Ciluffo, que liderava o Programa Contra o Crime Organizado Global, disse perante o Comité Judicial do Congresso dos Estados Unidos, em Dezembro de 2000, que: “a Albânia e o Kosovo estão no coração da Rota Balcânica que une o Afeganistão e o Paquistão aos mercados de droga europeus. Esta rota vale aproximadamente 400 mil milhões de dólares por ano e vende 80% da heroína consumida na Europa.”» Poucas horas depois de ter sido declarada a independência, o jornalista Timothy Bancroft Hinchey, escrevia: «A bandeira dos Estados Unidos da América voa alta entre os terroristas albaneses no Kosovo, depois de Pristina desprezar a lei internacional e anunciar a sua “independência”, em declaração lida hoje pelo líder ex-terrorista e agora "Primeiro-Ministro" do Kosovo, Hashim Thaci. Hashim Thaci está habituado a quebrar a lei, tendo dirigido um dos monstros mais sanguinários jamais visto em terras dos Balcãs, o Exército de Liberação de Kosovo, que, como ele próprio tem admitido, executou actos de terrorismo para provocar os sérvios, obrigando-os a tomar medidas. O ex-assassino, agora político auto-nomeado, teve a audácia não só de desprezar as leis da República da Jugoslávia, como depois as leis da Sérvia, e agora a Lei Internacional, numa reivindicação ridícula de “independência” num território que é, e sempre foi, uma Província da Sérvia, transformando-o num estado pária dirigido pela máfia albanesa. Qualquer acto de reconhecimento do Kosovo acaba por dar consentimento aos crimes horrendos perpetrados pelo bando de criminosos internacionais que se escondem atrás do PDK, que assassinam, destroem propriedade, escravizam sexualmente, e traficam armas e drogas; fazendo de tais países cúmplices dos mesmos crimes. A declaração e o seu reconhecimento violam de forma flagrante a Resolução 1244 da ONU, que reconhece o Kosovo como parte integral da Sérvia.» Entretanto, hoje no Parlamento Sérvio, o Primeiro-Ministro, Vojislav Kostunic, anunciou a retirada do seu embaixador em Washington, deixando um recado ao governo de Bush, dizendo que: “esta decisão dos Estados Unidos, não vai converter um falso estado num verdadeiro” e que “este reconhecimento mostra a verdadeira face da América”, acrescentando que os Estados Unidos “violaram a Lei Internacional em benefício dos seus próprios interesses.” Tomislav Nikolic, o líder do partido radical, que havia perdido por escassa margem a corrida presidencial, afirmou: “a América e a União Europeia estão a roubar-nos o Kososvo”, terminando o seu discurso com uma frase que empolgou a multidão que o ouvia em Belgrado, “a partir deste momento, vamos contar os dias até libertarmos o Kosovo.” Pois é, lá como cá, nada de novo.
Apache, Fevereiro de 2008

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

“Notas absolutamente íntimas” - Dom Manuel II, Rei de Portugal

1 de Fevereiro de 1908 – O Regicídio
Faz hoje 100 anos que o Rei D. Carlos e o Príncipe Real Luís Filipe foram assassinados no Terreiro do Paço.
A evocação da data fica marcada pelo protagonismo infantil e mimado que o Sr. Ministro da defesa quis chamar a si, ao proibir a participação do Exército nas homenagens. De acordo com o “Sol”,parece que um grupo de alienados que diz que é uma espécie de Partido Político, indignou-se e o Sr. Ministro, que diz que é uma espécie de pau-mandado, disponibilizou-lhe alívio. Os restantes partidos, desta que se diz que é uma espécie de democracia, aplaudiram. Espero que em 2010 quando se comemorarem os 100 anos da implantação da que diz que é uma espécie de República, quem quer que esteja no cargo, a brincar aos ministros, se lembre de proibir o Exercito de participar nas “festividades”, por uma questão de igualdade de direitos.
E porque nestas datas o mais importante é reavivar a nossa memória colectiva, aqui fica um relato dos acontecimentos do século passado, na versão daquele que os viveu mais de perto.
“Notas absolutamente íntimas”
“Há já uns poucos de dias que tinha a ideia de escrever para mim estas notas íntimas, desde o dia 1 de Fevereiro de 1908, dia do horroroso atentado no qual perdi, barbaramente assassinados, o meu querido Pai e o meu querido Irmão. Isto que aqui escrevo é ao correr da pena mas vou dizer franca e claramente e sem estilo tudo o que se passou. Como isto é uma história íntima do meu reinado vou inicia-la pelo horroroso e cruel atentado.
No dia 1 de Fevereiro regressavam Suas Majestades, El-Rei D. Carlos I, a Rainha, senhora D. Amélia e Sua Alteza o Príncipe Real, de Vila Viçosa onde ainda tinham ficado. Eu tinha vindo mais cedo (uns dias antes) por causa dos meus estudos de preparação para a Escola Naval. Tinha ido passar dois dias a Vila Viçosa e tinha regressado novamente a Lisboa.
Na capital estava tudo num estado de excitação extraordinária: bem se viu no dia 28 de Janeiro em que houve uma tentativa de revolução, a qual não venceu. Nessa tentativa estava implicada muita gente: foi depois dessa noite de 28, que o Ministro da Justiça Teixeira de Abreu levou a Vila Viçosa o famoso decreto que foi publicado em 31 de Janeiro. Foi uma triste coincidência, ter sido rubricado nesse dia de aniversário da revolta do Porto. Meu Pai não tinha nenhuma vontade de voltar para Lisboa. Bem me lembro que se estava para voltar para Lisboa 15 dias antes e que meu Pai quis ficar em Vila Viçosa: Minha Mãe pelo contrário queria forçosamente vir. Recordo-me perfeitamente desta frase que me disse na véspera ou no próprio dia que regressei a Lisboa depois de eu ter estado dois dias em Vila Viçosa. "Só se eu quebrar uma perna é que não volto para Lisboa no dia 1 de Fevereiro. Melhor teria sido que não tivessem voltado porque não tinha eu perdido dois entes tão queridos e não me achava hoje Rei! Enfim, seja feita a Vossa vontade Meu Deus!
Mas voltando ao tal decreto de 31 de Janeiro. Já estavam presas diferentes pessoas políticas importantes. António José de Almeida, republicano e antigo deputado, João Chagas, republicano, João Pinto dos Santos, dissidente e antigo deputado, o Visconde de Ribeira Brava e outros. Este António José de Almeida é um dos mais sérios republicanos e é um convicto, segundo dizem. João Pinto dos Santos é também um dos mais sérios do seu partido. O Visconde de Ribeira Brava não presta para muito e tinha sido preso com as armas na mão no dia 28 de Janeiro. Mas o António José de Almeida e o João Pinto dos Santos não podiam ser julgados senão pela Câmara, como deputados da última Câmara. Ora creio que a intenção do Governo era mandar alguns para Timor tirando assim por um decreto ditatorial, um dos mais importantes direitos dos deputados. O Conselheiro José Maria de Alpoim par do Reino e chefe do partido dissidente tinha tido a sua casa cercada pela polícia mas depois tinha fugido para Espanha. Um outro dissidente também tinha fugido para Espanha e lá andou disfarçado. Outro que tinha sido preso foi o Afonso Costa: este é do pior que existe não só em Portugal mas em todo mundo; é medroso e covarde mas inteligente e, para chegar aos seus fins, qualquer pouca vergonha lhe é indiferente. Mas isto tudo é apenas para entrar depois mais detalhadamente na história íntima do meu reinado.
Como disse mais atrás eu estava em Lisboa quando foi o 28 de Janeiro; houve uma pessoa minha amiga (que se não me engano foi o meu professor Abel Fontoura da Costa) que disse a um dos Ministros que eu gostava de saber um pouco sobre o que se passava, o porquê de isto estar num tal estado de excitação. O João Franco escreveu-me então uma carta que eu tenho a maior pena de ter rasgado, porque nessa carta dizia-me que tudo estava sossegado e que não havia nada a recear! Que cegueira!
Mas passemos agora ao fatal dia 1 de Fevereiro de 1908 sábado. De manhã tinha eu recebido o Marquês Leitão e o King. Almocei tranquilamente com o Visconde de Asseca e o Kerausch. Depois do almoço estive a tocar piano, muito contente porque naquele dia dava-se pela primeira vez "Tristão e Ysolda" de Wagner em S. Carlos. Na véspera tinha estado tocando a 4 mãos com o meu querido mestre Alexandre Rey Colaço o Séptuor de Beethoven, que era, e é uma das obras que mais aprecio deste génio musical. Depois do almoço, à hora habitual, quer dizer às 13:15 comecei a minha lição com o Fontoura da Costa, porque ele tinha trocado as horas da lição com o Padre Fiadeiro. A hora do Fontoura era às 17:30. Acabei com o Fontoura às 15 horas e pouco depois recebi um telegrama da minha adorada Mãe dizendo-me que tinha havido um descarrilamento na Casa Branca, que não tinha acontecido nada, mas que vinham com três quartos de hora de atraso. Vendo que nada tinha acontecido, dei graças a Deus, mas nem me passou pela mente, como se pode calcular o que havia de acontecer. Agora pergunto-me eu, aquele descarrilamento foi um simples acaso? Ou foi premeditado para que houvesse um atraso e se chegasse mais tarde? Não sei. Hoje fiquei em dúvida.
Depois do horror que se passou fica-se a duvidar de muita coisa. Um pouco depois das 4 horas saí do Paço das Necessidades num landau, com o Visconde de Asseca, em direcção ao Terreiro do Paço, para esperarmos Suas Majestades e Alteza. Fomos pela Pampulha, Janelas Verdes, Aterro e Rua do Arsenal. Chegámos ao Terreiro do Paço. Na estação estava muita gente da corte e outros sem ser. Conversei primeiro com o Ministro da Guerra, Vasconcelos Porto, talvez o Ministro de quem eu mais gostava no Ministério do João Franco. Disse-me que tudo estava bem. Esperámos muito tempo; finalmente chegou o barco em que vinham os meus Pais e o meu Irmão. Abracei-os e viemos seguindo até a porta onde entramos para a carruagem, os quatro. No fundo a minha adorada Mãe dando a esquerda ao meu pobre Pai. O meu chorado Irmão diante do meu Pai e eu diante da minha mãe. Sobretudo o que agora vou escrever é que me custa mais: ao pensar no momento horroroso que passei confundem-se-me as ideias. Que tarde e que noite mais atroz! Ninguém neste mundo pode calcular, não, sonhar sequer o que foi. Creio que só a minha pobre e adorada Mãe e Eu podemos saber bem o que isto é! Vou agora contar o que se passou naquela histórica Praça.
Saímos da estação bastante devagar. Minha Mãe vinha-me a contar como se tinha passado o descarrilamento na Casa Branca quando se ouviu o primeiro tiro no Terreiro do Paço: era sem dúvida um sinal: sinal para começar aquela monstruosidade infame, porque pode-se dizer e digo que foi o sinal para começar a batida. Foi a mesma coisa que se faz numa batida às feras: sabe-se que têm de passar por caminho certo: quando entram nesse caminho dá-se o sinal e começa o fogo! Infames! Eu estava a olhar para o lado da estátua de D. José e vi um homem de barba preta, com um grande "gabão". Vi esse homem abrir a capa e tirar uma carabina. Eu estava tão longe de pensar num horror destes que disse para mim mesmo, sabendo o estado exaltação em que isto tudo estava "que má brincadeira". O homem saiu do passeio e veio pôr-se atrás da carruagem e começou a fazer fogo.
Faço aqui um pequeno desenho para me ajudar.1)Estátua de D. José;
2) Sítio onde estava o Buíça o homem das barbas;
3) Lugar onde ele começou a fazer fogo; 4) Sítio aproximadamente onde devia estar a carruagem Real quando o homem começou a fazer fogo;
5) Portão do Arsenal;
6) Praça do Pelourinho;
7) Sítio aproximadamente donde saiu o tal Costa que matou o meu Pai.
Quando vi o tal homem das barbas que tinha uma cara de meter medo, apontar sobre a carruagem, percebi bem, infelizmente o que era. Meu Deus que horror. O que então se passou só Deus, a minha Mãe e eu sabemos; porque mesmo o meu querido e chorado Irmão presenciou poucos segundos porque instantes depois também era varado pelas balas. Que saudades meu Deus! Dai-me a força Senhor para levar esta Cruz, bem pesada, ao Calvário! Só vós, Meu Deus sabeis o que tenho sofrido!
Logo depois do Buíça ter feito fogo (que eu não sei se acertou) começou uma perfeita fuzilada, como numa batida às feras! Aquele Terreiro do Paço estava deserto, sem nenhuma providência! Isso é que me custa mais a perdoar ao João Franco. Se durante o seu ministério cometeu erros, isso para mim é menos. Tenho a certeza que a sua intenção era muito boa; os meios é que foram maus, péssimos, pois acabou da maneira mais atroz que jamais se poderia imaginar. Quando se lhe dizia que isto ia mal, que havia anarquistas no nosso País, ele não acreditou. O primeiro sintoma que eu me lembro foi a explosão daquelas bombas na Rua de Santo António à Estrela. Recordo-me perfeitamente a impressão que me fez quando soube! Foi no Verão, estávamos então na Pena. Quem diria o que havia de acontecer 6 ou 8 meses depois! Mas voltando novamente ao pavoroso atentado.
Sei de um dos comandantes da polícia, o Coronel Correia, que estava muito inquieto e o João Franco não acreditava que pudesse ter lugar qualquer coisa desagradável, quanto menos um horror destes, e infelizmente não estavam tomadas providências nenhumas.
Imediatamente depois do Buíça começar a fazer fogo saiu de debaixo da Arcada do Ministério um outro homem que disparou uns poucos de tiros à queima-roupa sobre o meu Pai; uma das balas entrou pelas costas e outra pela nuca, que O matou instantaneamente. Que infames! para completarem a sua atroz malvadez e sua medonha covardia fizeram fogo pelas costas. Depois disto não me lembro quase do resto: foi tão rápido! Lembro-me perfeitamente de ver a minha adorada e heróica Mãe de pé na carruagem com um ramo de flores na mão, gritando àqueles malvados animais, porque aqueles não são gente «infames, infames».
A confusão era enorme. Lembro-me também e isso nunca poderei esquecer, quando na esquina do Terreiro do Paço para a Rua do Arsenal, vi o meu Irmão em pé dentro da carruagem com uma pistola na mão. Só digo d'Ele o que o Cónego Aires Pacheco disse nas exéquias nos Jerónimos: «Morreu como um herói ao lado do seu Rei»! Não há para mim frase mais bela e que exprima melhor todo o sentimento que possa ter.
Meu Deus que horror! Quando penso nesta tremenda desgraça, ainda me parece um pesadelo! Quando de repente já na Rua do Arsenal olhei para o meu queridíssimo Irmão vi-o caído para o lado direito com uma ferida enorme na face esquerda de onde o sangue jorrava como de uma fonte! Tirei um lenço da algibeira para ver se lhe estancava o sangue: mas que podia eu fazer? O lenço ficou logo como uma esponja.
No meio daquela enorme confusão estava-se em dúvida para onde devia ir a carruagem: pensou-se no hospital da Estrela, mas achou-se melhor o Arsenal. Eu também, já na Rua do Arsenal fui ferido num braço por uma bala. Faz o efeito de uma pancada e um pouco uma chicotada: foi na parte superior do braço direito.
Agora que penso ainda neste pavoroso dia e no medonho atentado, parece-me e tenho quase a certeza (não quero afirmar porque nestes momentos angustiosos perde-se a noção das coisas) que eu escapei por ter feito um movimento instintivo para o lado esquerdo.
Na segunda carruagem vinham os Condes de Figueiró e o Marquês de Alvito e na terceira o Visconde de Asseca, o Vice-Almirante Guilherme A. de Brito Capelo e o Major António Waddington. Quando vínhamos a entrar o portão do Arsenal a Condessa de Figueiró entrou também na nossa carruagem e lembra-me que o Visconde de Asseca e o Conde de Figueiró vinham ao lado da carruagem. Dentro do Arsenal saí da carruagem primeiro e depois saiu a minha adorada Mãe. Foi verdadeiramente um milagre termos escapado: Deus quis poupar-nos! Dou Graças a Deus de me ter deixado a minha Mãe que eu tanto adoro. Sempre foi a pessoa que eu mais gostei neste mundo e no meio destes horrores todos dou e darei sempre graças a Deus de A ter conservado!
Quando a Minha adorada Mãe saiu da carruagem foi direita ao João Franco que ali estava e disse-lhe, ou antes, gritou-lhe com uma voz que fazia medo «Mataram El-Rei: Mataram o meu Filho». A minha pobre Mãe parecia doida. E na verdade não era para menos: Eu também não sei como não endoideci. O que então se passou naquelas horas no Arsenal ninguém pode sonhar! A primeira coisa foi que perdi completamente a noção do tempo. Agarrei a minha pobre e tão querida Mãe por um braço e não larguei e disse à Condessa de Figueiró para não a deixar.
Contudo ia entrando muita gente da Casa, diplomatas, ministros e mesmo ministros de Estado honorários.
Estava-se ainda na dúvida (infelizmente de pouca duração se ainda viviam os dois entes tão queridos! Estavam lá muitos médicos entre outros o Dr. Bossa (que me parece foi o primeiro a chegar) o Dr. Moreira Júnior e o Dr. D. António Lencastre. Contou-me depois (já alguns dias depois) o Dr. Bossa que logo que chegou acendeu um fósforo e ainda as pupilas se retraíram. Quando porém repetiu a experiência nem mesmo esse pequeno sinal de vida lhe restava. Descansa em paz no sono Eterno e que Deus tenha a Tua Alma na sua Santa Guarda!
De meu Pai e mesmo de meu Irmão não tinha grandes esperanças que pudessem escapar. As feridas eram tão horrorosas que me parecia impossível que se salvassem. Como disse, já lá estava o Ministério todo menos o Ministro da Fazenda Martins de Carvalho.
Isso é que nunca poderei esquecer; é que fazendo parte do Ministério do meu querido Pai, quando foi assassinado não foi ao Arsenal! Diz-se (não o quero afirmar) que fugiu para as águas-furtadas do Ministério da Fazenda e ali fechou a porta à chave! Seja como for, faz agora seis meses que Meu Pai e Meu Irmão, de chorada memória, foram assassinados e nunca mais aqui pôs os pés! Acho isso absolutamente extraordinário!... Para não dizer mais.
Preveniu-se para o Paço da Ajuda a minha pobre Avó para vir para o Arsenal. Eu não estava quando Ela chegou. Estavam-me a tratar o braço na sala do Inspector do Arsenal.
Quando a Avó chegou foi direita à minha Mãe e disse-lhe «On a tué mon fils!» e a minha Mãe respondeu-lhe: «Et le mien aussi!» Meu Deus dai-me força. Mas antes disto houve diferentes coisas que quero contar.
A minha pobre e adorada Mãe andava comigo pelo Arsenal de um lado para o outro com diferentes pessoas: Conde de Sabugosa, Condes de Figueiró, Condes de Galveias e outros, falando sempre num estado de excitação indescritível mas fácil de compreender. De repente caiu no chão! Só Deus e eu sabemos o susto que eu tive! Depois do que tinha acontecido veio aquela reacção e eu nem quero dizer o que primeiro me passou pela cabeça.
Depois vi bem o que era: o choque pavoroso fazia o seu efeito! Minha Mãe levantou-se quase envergonhada de ter caído. É um verdadeiro herói. Quem dera a muitos homens terem a décima parte da coragem que a minha Mãe tem.
Tem sido uma verdadeira mártir! O que eu rogo a Deus, sempre e a cada instante, é para A conservar!
Pouco tempo depois de termos chegado ao Arsenal veio ainda o major Waddington dizendo que os Queridos Entes ainda estavam vivos; mas infelizmente pouco tempo depois voltou chorando muito. Perguntei-lhe «Então?» Não me respondeu. Disse-lhe que tinha força para ouvir tudo. Respondeu-me então que já ambos tinham falecido! Dai-lhes Senhor o Eterno descanso e brilhe sobre Eles a Vossa Luz Eterna. Ámen!
Pouco depois vi passar João Franco com o Aires de Ornelas (Ministro da Marinha) e talvez (disso não me lembro ao certo) com o Vasconcelos Porto, Ministro da Guerra, dirigindo-se para a Sala da Balança para telefonarem a pedir que se tomassem todas as previdências necessárias. Isto são cenas, que viva eu cem anos, ficarão gravadas no meu coração. Agora já era noite o que ainda tornava tudo mais horroroso e sinistro: estava já, então, muita gente no Arsenal, e começou-se a pensar no regresso para o Paço das Necessidades. No presente momento em que estou a escrever estas linhas estou a repassar com horror, tudo no meu pensamento! Entrámos então para o landau fechado, a minha Avó, a minha Mãe, o Conde de Sabugosa e eu. Saímos do Arsenal pelo portão que deita para o Cais do Sodré onde estava um esquadrão da Guarda Municipal comandado pelo Tenente Paul: Na almofada ia o Coronel Alfredo de Albuquerque: à saída entregaram ao Conde de Sabugosa um revólver; a minha Avó também queria um.
Viemos então a toda brida para o Paço das Necessidades. À entrada esperavam-nos a Duquesa de Palmela, a Marquesa do Faial, a Condessa de Sabugosa, o Dr. Th. de Mello Breyner, o Conde de Tattenbach, o Ministro da Alemanha e a Condessa, e muitos criados da casa. Foi uma cena horrorosa! Todos choravam aflitivamente. Subimos muito vagarosamente a escada no meio dos prantos e choros de todos os presentes.
Acompanhei a minha adorada Mãe até ao seu quarto e deixei a minha Avó na sala.”
Dom Manuel II, Rei de Portugal, Lisboa, 1908
Dois dos autores materiais do crime foram abatidos no local. Os restantes cúmplices (cerca de dezoito) e os organizadores do hediondo acto ficaram impunes. O caso nunca chegou a tribunal. Assim se vai escrevendo a história da "democracia" à portuguesa.
Apache, Fevereiro de 2008

domingo, 30 de dezembro de 2007

Benazir Bhutto sabia (ou falava) demais?

No dia em que apareceu na Net (e consequentemente na comunicação social) um novo vídeo com uma comunicação de Osama Bin Laden, e pouco mais de 48 horas depois do assassinato da líder do PPP (o principal partido da oposição paquistanesa), Benazir Bhutto, faz todo o sentido lembrar a polémica entrevista que ela deu no passado dia 2 de Novembro (poucos dias depois do primeiro atentado que sofreu), ao jornalista David Frost, no seu programa “Frost over the world” da Al Jazeera em língua inglesa (vídeo abaixo).
Destaco a frase de Benazir (aos 6:14), “Omar Sheikh the man who murdered Osama Bin Laden...”.
Penso que se refere a Omar Saeed Sheikh, que ela já havia acusado de estar por trás do rapto e assassinato do repórter do Wall Street Journal, Daniel Pearl. Terá sido um descuido, uma vingança, ou uma mudança de rumo louvável (face ao seu passado de corrupção)? Saberia ela, que a sua morte era uma questão de dias?

Apache, Dezembro de 2007

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Os canibais são uma espécie em vias de extinção… Os Americanos comeram mais um.

30 de Dezembro de 2006 um dia igual a tantos outros no Iraque…
Nasceu a 28 de Abril de 1937 uma aldeia próxima de Tikrit, 170 quilómetros a Norte de Bagdad. O pai era um camponês pobre que morreu antes dele nascer. A infância foi marcada pelos maus tratos do padrasto, facto que motivou a que aos 10 anos tenha partido para Bagdad para viver com um tio. Aos 18 anos filiou-se no Partido Baas, aderindo aos seus ideais laicos e nacionalistas. Nesse ano tentou entrar para a Academia Militar mas por falta de habilitações foi-lhe recusada a candidatura. Torna-se conhecido, quando lidera, a mando do Baas, um comando de 10 homens, encarregado de assassinar o primeiro-ministro Abdel Karim Qassem (o general que em 1958 derrubara a monarquia). O atentado falhou, Saddam foi ferido a tiro numa perna mas conseguiu fugir para Damasco (na Síria), onde regressa à escola. Muda-se depois para o Cairo (no Egipto), concluindo uma licenciatura em Direito, na universidade local. Quando regressa a Bagdad já o Baas está instalado no poder. Saddam é um homem duro, por vezes cruel que não hesita na eliminação física dois inimigos. Terá sido essa característica que lhe valeu uma ascensão meteórica no seio do partido. Aos 42 anos chega finalmente à chefia do estado. Aos poucos vai-se afastando da ideologia do Baas, criando o culto da personalidade, espalhando cartazes com a sua imagem por todo o país. A sua crueldade (ficou célebre o episódio em que, em pleno Conselho de Ministros assassinou o Ministro da Saúde com um tiro na cabeça), alternada com momentos de súbita compaixão (como aquele em que fazia a ronda a uma prisão e ao encontrar um homem com um ar miserável, deu ordens para que lhe dessem roupas decentes, algum dinheiro e o libertassem), era o seu “cartão-de-visita”. Com as sistemáticas tentativas de assassinato de que foi alvo, tanto por parte da oposição interna como por parte da CIA tornou-se desconfiado e obsessivo, quase paranóico, ao ponto de não dormir duas noites seguidas no mesmo sítio. Rodeou-se então, de membros da sua tribo e da família em detrimento dos dirigentes partidários. Em 1980, numa altura em que o Iraque era uma economia em ascensão e o país apresentava os mais altos índices de desenvolvimento da região, Saddam, com a bênção dos E.U.A. e o apoio Soviético, envolveu o país numa guerra com o vizinho Irão. Em 1988, sem que se tenha encontrado um vencedor claro, Khomeini (o presidente iraniano) vê-se obrigado a aceitar um cessar-fogo. No terreno, terão ficado mais de 200 mil mortos do lado iraquiano e 700 mil do lado iraniano. No mesmo ano, uma revolta dos curdos no norte do país é esmagada em poucas horas através de um bombardeamento com armas químicas compradas aos Estados Unidos e já antes utilizadas por sugestão americana na guerra com o Irão. O Iraque era agora um país com uma economia devastada e uma dívida externa de 25 mil milhões de dólares. Mas a ambição de Saddam em fazer renascer no Iraque a Grande Babilónia, leva-o a invadir o Kuwait em 1990 que é anexado quase sem resistência. Com o final da guerra com o Irão, a posição americana face a Saddam muda radicalmente e após esta anexação do Kuwait o Iraque passa a ser visto como inimigo pela administração de Bush (pai). Em 1991 uma coligação internacional liderada pelos americanos expulsa os iraquianos do Kuwait e limita, através de uma resolução da ONU, a movimentação das suas tropas, a uma pequena faixa no centro do país, além de lhe impor um embargo económico desumano. O Iraque de Saddam caía em desgraça e de potência regional, transforma-se em colónia servil da ONU. A 20 de Março de 2003, sob o falso pretexto de que Saddam possuía armas de destruição maciça americanos e britânicos, com a colaboração de vários países vizinhos, bombardeiam e mais tarde invadem e ocupam o Iraque. O que se passou a partir daqui é sobejamente (des)conhecido de todos. As “verdades” cinematográficas que os “media” ocidentais tem construído deixam cada vez mais perguntas… Questões como: Porque é que durante a guerra a larga maioria do exército iraquiano, nomeadamente as principais divisões da Guarda Republicana, não combateu;
Onde estão os milhares de tanques e as dezenas de aviões que Saddam possuía à data da invasão (comprovadas pelas paradas militares) e que não foram usados (nem destruídos);
Porque é que nunca mais se ouviu falar das centenas de quilómetros de túneis à prova de bomba, que os jugoslavos haviam construído e, porque não foram eles usados para protecção dos principais dirigentes, durante o conflito;
Onde estão os vários sósias de Saddam;
Que é feito dos 5 mil homens da sua guarda pessoal que desapareceram misteriosamente;
Porque é que o número "oficial" de baixas sofrido pelas forças invasoras é muito menor que o apresentado nos relatórios dos Serviços secretos russos;
Que droga tinha sido administrada ao alegado Saddam quando foi capturado e que diligências foram feitas para punir o autor. Continuam sem resposta, tal como muitas outras… Alegadamente, dos familiares mais próximos de Saddam, restam apenas as três filhas e as duas mulheres, todas a viver no estrangeiro. A 30 de Dezembro de 2006, com a bênção de George W. Bush foram assassinados: Saddam Hussein, Presidente da República; Awad Ahmed al Bandar Presidente do Tribunal Revolucionário, Burzan Ibrahim (meio-irmão de Saddam), Chefe dos Serviços Secretos e outras 77 pessoas anónimas (estas, despachadas pela Al-Qaeda, a empresa de limpezas contratada pela família Bush), outras 230 ficaram gravemente feridas. Um dia como muitos outros… No terreno, após mais de dois anos e meio de ocupação, nem melhoria das condições de vida, nem liberdade, nem democracia, apenas um enorme circo montado e mais de cem mil mortos civis. Em terra de ditadores nunca ninguém tinha descido tão baixo…
Apache, Janeiro de 2006

domingo, 12 de março de 2006

Filhos, da puta da política

[Belgrado bombardeada pela Nato]
Morreu Slobodan Milosevic Finalmente venceram-te! Sabes… nunca simpatizei contigo, chamavam-te ditador, tirano, sanguinário, etc. Até sou capaz de concordar que a tua frieza e pragmatismo de discurso empolgava de tal forma as massas, que por vezes me pareciam os discursos de Hitler. Duvido que a manutenção de uma Jugoslávia unida justificasse 200 mil mortos.
Mas numa guerra há sempre dois lados, o diabo que escolha de qual está, que Deus, certamente, não está de nenhum! Nunca simpatizei contigo… até ao fatídico dia 24 de Março de 1999, em que, como escreveu Gabriel Garcia Marquez, Solana, “o homem que parecia incapaz de matar uma mosca deu a ordem mais vergonhosa do século." Xavier Solana, comandante da Nato, dá ordem (a mando dos E.U.A.) para bombardear um país soberano, não alinhado, com um governo legítimo à luz da lei internacional. Afinal, outros imitavam Hitler!
A partir deste dia, quase chegaste a bestial, não por teres deixado de ser uma besta, apenas porque bestas maiores se "levantavam". As mentiras que nos contaram para justificar o injustificável são o mesmo disco riscado de sempre. Ao longo da guerra e no período que lhe sucedeu, as sucessivas traições que foste sofrendo quase te transformaram num herói. Hoje, eras para muitos um símbolo da resistência.
Repito… Finalmente venceram-te!... Não é importante, se morreste por colapso cardíaco (e todos sabiam que a tua saúde era débil), se cedeste à tentação do suicídio (como esteve para acontecer quando Kostunica te vendeu por 100 milhões de dólares), ou se te envenenaram (como suspeitavas que poderia acontecer). A sombra do teu assassinato pairará para sempre sobre a cabeça daqueles que no mês passado recusaram que fosses a Moscovo para seres tratado. Sabias bem que a tua morte lhes dava muito jeito, estavam desesperados… cinco anos de julgamento e…
No dia em que deixaste de estar entre nós, não podia deixar de te prestar esta “pequena” homenagem… Foste um tirano?... Talvez!... Mas foste também o pai desta esperança… da mesma forma que a Jugoslávia não caiu em 78 dias de bombardeamentos, também muitos dirão... NÃO NOS VENCERÃO!!!
Apache, Março de 2006