quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Alberto João Jardim igual a si próprio

No passado Sábado, no tradicional comício de Verão do PSD-Madeira, em Porto Santo, Alberto João Jardim (AJJ), sem papas na língua, foi uma vez mais, polémico quanto baste, ao denunciar a podridão moral do Governo liderado pelo pseudo-engenheiro José Sócrates.
Referindo-se (provavelmente) à recente lei sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), disse:
"Quando se fazem leis contra a vida humana é um precedente que não podemos consentir para, depois, fazerem outros direitos ou se ofenderem outros direitos das pessoas em nome do Estado Absoluto.”
Não me identifico com o populismo de AJJ, em muito, semelhante ao do PM, mas tenho de elogiar (uma vez mais) a coragem de ser politicamente incorrecto chamando os bois pelos nomes.
São conhecidos os “entraves” que AJJ tem colocado à implementação da nova lei da IVG no arquipélago. Reconheço que do ponto de vista legal, não vejo como fugir à implementação da dita, no entanto, não deixo de simpatizar com a oposição que AJJ lhe tem movido. De facto, os seus críticos, acusam-no de ao não ter ainda implementado a Lei, violar a Constituição da Republica Portuguesa (CRP), mas quantas vezes o Governo da República o fez, pelos mais variados motivos. Aliás, recordo uma vez mais que a própria Lei, generalizando a prática da IVG nas primeiras 10 semanas viola claramente a CRP. Mais, não deveria a Madeira, enquanto Região Autónoma beneficiar de uma Lei própria neste tipo de assuntos, de consciência ética e moral do povo? Recordo que o “Sim” obteve na região, 34,56% dos votos validamente expressos, a que corresponde 13% da população madeirense maior de idade. Recordo ainda que, por exemplo, sendo proibidos os toiros de morte em Portugal, foi criada uma excepção legal em Barrancos, que (que eu saiba) não tem autonomia de governo.
Mas Jardim foi ainda mais longe e antecipando-se às mais que prováveis futuras propostas do PS, disparou…
"Querer o casamento de homossexuais e tudo isso que o Governo socialista prepara, essas não são causas, são deboche, são degradação, é pôr termo aos valores que nós portugueses, a nossa alma nacional, tem desde o berço e que os nossos pais nos ensinaram."
Uma vez mais, aparte o populismo do discurso, bem patente na singela linguagem, subscrevo o conteúdo da mensagem.
Enquanto seres humanos, os homossexuais têm os mesmos direitos e deveres que quaisquer outros cidadãos, não fazendo no entanto sentido, que beneficiem de direitos reservados a grupos específicos de cidadãos. O casamento pressupõe, na cultura cristã, com a qual se identifica mais de 90% da população portuguesa, a constituição de família, tal como a adopção de crianças tem por base uma família adoptiva.
Apesar de o Estado evocar uma laicidade aberrante face à cultura da esmagadora maioria da população, não pode nem deve ignorar os valores culturais e tradicionais seculares, bases da nação lusa, “igualando” juridicamente práticas moralmente repulsivas.
Tolerância não é sinónimo de, não discriminação. Se educacionalmente inculco valores de tolerância perante a diferença, em termos legais tenho que defender a descriminação positiva do casamento e da adopção como exclusividade dos heterossexuais.
Apache, Agosto de 2007

7 comentários:

gata disse...

A adopção deveria ter por base a capacidade de dar afecto, além de muitas outras, nas quais não incluo uma "familia" legalmente formada.
Muitos homens e mulheres sozinhos seriam excelentes pais, para crianças que, pelo simples facto de estes não serem "uma familia" passam anos aos cuidados do Estado...em vez de sentirem amadas por alguém.
...

redonda disse...

Aqui não concordo contigo. Quer para o casamento, quer para a adopção, só deviam contar as pessoas e a sua capacidade de amar.
Está em causa o casamento civil, e os deveres e direitos que do mesmo decorrem, e não a religião ou a cultura de cada um. Quanto à adopção, há demasiadas crianças em instituições e o critério para a sua confiança a um casal hetero, homo, ou a uma única pessoa, deve ser apenas a capacidade de amar e cuidar desse casal ou pessoa.

Apache disse...

Olá Gata, já não te “via” por cá à algum tempo, bem-vinda de novo.
“A adopção deveria ter por base a capacidade de dar afecto”. Pois devia, mas isto não é mensurável, não é sequer facilmente detectável, mesmo que avalies os candidatos a pais por um psicólogo, a psicologia está muito longe de ser uma ciência exacta, é mesmo discutível, se de uma ciência se trata. Por isso, o estado, além de avaliar psicologicamente, tem outros parâmetros de exigência, bem mais “materiais” e mais facilmente detectáveis e mensuráveis, como por exemplo, os rendimentos e os sinais exteriores de riqueza dos candidatos, com os quais, aliás, discordo, porque muitas famílias de parcos recursos dariam certamente melhores pais que outras de maior capacidade económica.
“Muitos homens e mulheres sozinhos seriam excelentes pais, para crianças que, pelo simples facto de estes não serem "uma família" passam anos aos cuidados do Estado”. Uma criança deve preferencialmente ter um pai e uma mãe, sobretudo nos primeiros anos de vida. Claro que muitas vezes isso não acontece, mesmo a casais tradicionais por divórcio dos pais, ainda assim, ambos visitam a criança, que continua a ter os dois como referencia. Claro que temos aqueles casos (felizmente cada vez mais raros) de mães que não sabem quem são os pais dos filhos e optam por criá-los sozinhos. Estes casos desaparecerão nos próximos anos, porque os testes de paternidade garantem uma fidelidade muito grande e os pais biológicos são legalmente obrigados a assumir essa paternidade.
Quanto ao número de anos que demora a adopção, também lamento que o processo seja tão lento e burocratizado, há certamente forma de agilizar o processo, tal como acontece noutros países. O “Simplex” chegou mais depressa onde (nalguns casos) não devia.

Olá Redonda, até que enfim uma discordância, isto estava a ficar monótono.
“Quer para o casamento, quer para a adopção, só deviam contar as pessoas e a sua capacidade de amar.” Olha que amamos muita pessoas com quem nunca casaremos…
No meu ponto de vista, o casamento pressupõe amor, paixão, e projecto de vida a dois, no qual se inclui, salvo raras excepções, a paternidade/maternidade.
“Está em causa o casamento civil, e os deveres e direitos que do mesmo decorrem, e não a religião ou a cultura de cada um.” Claro que está em causa o casamento civil, se estivesse em causa o religioso, estaria em causa a própria religião. Quanto aos deveres e direitos, no nosso país, o casamento quase só traz deveres, por exemplo, um casal sem filhos paga mais IRS que dois solteiros. Não está em causa a religião ou a cultura de cada um, aí, tal como eu referi no “post” há que ser tolerante, o que está em causa se o Estado legalizasse estas práticas era a religião e a cultura de uma das mais velhas nações do mundo. Essas são património da nossa História colectiva e cabe ao Estado promover e preservar. Noutras culturas isto é possível, mas também há outras culturas onde as mulheres usam burca. Uma coisa é tolerar, outra é banalizar pela legalização.
“Quanto à adopção, há demasiadas crianças em instituições”. E muitos mais casais heterossexuais em lista de espera para adopção. É uma questão burocrática.

cris disse...

Bem, isto dava mesmo 'pano para mangas'... Eu discordo de muito do que afirmas... é saudável... portanto... mas o que gostava de deixar aqui era só isto: o ser humano, na sua mediocridade de eternamente relativizar tudo ( leia-se estado e legisladores e juristas), esquece-se de algo muito valioso: a criança. Criar um filho pressupõe uma entrega total. Pressupõe noites mal dormidas ou em branco, medos e dissabores por causa de doenças e de todas as tropelias que o acto de crescer traz. O amor, de facto, não é mensurável, e no que diz respeito ao casal, cada vez me deparo mais com a constatação de que nada é permanente, na visão da maioria das pessoas. Aflige ver muitas vezes a forma leviana como se trata uma relação, os sentimentos de todos os que nela embarcam...

Quanto ao Estado... é desastrado em tudo o que diga respeito a direitos, principalmente de crianças... quantas vezes se esquecem que dentro de um ser pequenino há sentimentos e sensibilidades muito mais profundos e que estes ainda não aprenderam que este mundo é selvático?

Não sei porque é que duas pessoas do mesmo sexo não poderão amar uma mesma criança e promover junto dela a formação equilibrada para que entenda que há relacionamentos hetero e homossexuais. Eu oscilo por vezes na opinião porque temo o fundamentalismo e qualquer sujeito pode, facilmente formar deformando... isto no que diz respeito à educação paterna, percebes?... Bom, dava mesmo pano para mangas, para um vestido inteiro e um casaco comprido também... desculpa ter-me alongado, mas eu sou tagarela...

Marianela Rebelo disse...

Olá apache :)

Quanto ao teu post (bem interessante por ser polémico) não posso deixar de referir algumas "coisitas":

AJJ - não me parece q na maioria das vezes o tipo chame "nomes aos bois"; acho que ilustra bem o partidarismo popular na sua forma mais medrioce (grosseiro e ofensivo);

IVG - deve também ser vista como uma questão de saúde pública e a este nível a sua regulamentação pareceu-me uma medida adequada;

minorias - sejam elas quais forem devem ter os seus direitos assegurados, porém devem estar devidamente "aculturadas";

A questão de barrancos é verdadeiramente ilegal, mas como ninguem quer ficar mal visto, evoca-se a tradição...

Fica bem

Maria

gata disse...

temos também os casos em que as crianças ficam entregues à mãe, e sem querer sequer tocar nas razões que levam a isso, raramente vêem o pai...

Sabes, este teu post é realmente fantástico. Bem mais merecedor duma longa conversa que destes comentários que aqui vamos deixando, apesar de todos serem excelentes (que gata modesta!)e de teres o cuidado de lhes dares resposta.

Quanto á minha presença, é constante, se bem que nem sempre deixe rasto.

E agora, um beijo de gata e votos de um fim-de-semana fantástico.

Apache disse...

Olá Cris…
“Aflige ver muitas vezes a forma leviana como se trata uma relação, os sentimentos de todos os que nela embarcam...” Subscrevo!
“Não sei porque é que duas pessoas do mesmo sexo não poderão amar uma mesma criança e promover junto dela a formação equilibrada para que entenda que há relacionamentos hetero e homossexuais.” Não disse que um casal homossexual ama mais ou menos que um heterossexual. Pergunto, que referências masculinas encontra uma criança que em casa tem duas mães adoptivas, ou que referências femininas balizam a personalidade de uma criança adoptada por dois pais? Perceberá ela que a homossexualidade é, na natureza, uma rara excepção, apesar de ser “moda” nos humanos apregoarem a banalidade da mesma, até por quem tem responsabilidades educativas ao mais alto nível, como por exemplo os autores dos manuais de Biologia?

Olá Maria (Prosa e Poesia)…
A grosseria de AJJ é uma das formas de populismo que usa, o carácter ofensivo, favorece-o, o homem tem tomates e não faz questão de ser politicamente correcto, chega de lobos com pele de cordeiro. O político de hoje é demasiado envernizado mas lixa-te pelas costas. Não te aumenta o salário nem te promove na carreira e ainda te corta benefícios sociais, para poupar uns trocos ao défice, mas esbanja fortunas em assessores e o défice dispara ainda mais, depois falsifica os dados estatísticos para fingir que fez algo de jeito. AJJ tem a vantagem de ser aquilo que parece.
A IVG é uma questão de saúde pública? Como assim? Antes da nova Lei, era um crime, estes devem ser praticados em boas condições de higiene? Não havia dinheiro para comprar preservativos ou para ir ao médico de família pedir a pílula, mas havia dinheiro para pagar o aborto? E agora com a nova Lei, o Estado tem dinheiro para a IVG mas não para manter abertas as maternidades e os Serviços de Atendimento Permanente?
“A questão de barrancos é verdadeiramente ilegal, mas como ninguém quer ficar mal visto, evoca-se a tradição...” Já não é ilegal, foi legislada uma excepção à Lei “geral”.

Olá gata…
Gosto da tua modéstia… :)
Bom Domingo!