30 de Dezembro de 2006 um dia igual a tantos outros no Iraque…
Nasceu a 28 de Abril de 1937 uma aldeia próxima de Tikrit, 170 quilómetros a Norte de Bagdad. O pai era um camponês pobre que morreu antes dele nascer. A infância foi marcada pelos maus tratos do padrasto, facto que motivou a que aos 10 anos tenha partido para Bagdad para viver com um tio. Aos 18 anos filiou-se no Partido Baas, aderindo aos seus ideais laicos e nacionalistas. Nesse ano tentou entrar para a Academia Militar mas por falta de habilitações foi-lhe recusada a candidatura.
Torna-se conhecido, quando lidera, a mando do Baas, um comando de 10 homens, encarregado de assassinar o primeiro-ministro Abdel Karim Qassem (o general que em 1958 derrubara a monarquia). O atentado falhou, Saddam foi ferido a tiro numa perna mas conseguiu fugir para Damasco (na Síria), onde regressa à escola. Muda-se depois para o Cairo (no Egipto), concluindo uma licenciatura em Direito, na universidade local. Quando regressa a Bagdad já o Baas está instalado no poder. Saddam é um homem duro, por vezes cruel que não hesita na eliminação física dois inimigos. Terá sido essa característica que lhe valeu uma ascensão meteórica no seio do partido.
Aos 42 anos chega finalmente à chefia do estado. Aos poucos vai-se afastando da ideologia do Baas, criando o culto da personalidade, espalhando cartazes com a sua imagem por todo o país. A sua crueldade (ficou célebre o episódio em que, em pleno Conselho de Ministros assassinou o Ministro da Saúde com um tiro na cabeça), alternada com momentos de súbita compaixão (como aquele em que fazia a ronda a uma prisão e ao encontrar um homem com um ar miserável, deu ordens para que lhe dessem roupas decentes, algum dinheiro e o libertassem), era o seu “cartão-de-visita”. Com as sistemáticas tentativas de assassinato de que foi alvo, tanto por parte da oposição interna como por parte da CIA tornou-se desconfiado e obsessivo, quase paranóico, ao ponto de não dormir duas noites seguidas no mesmo sítio. Rodeou-se então, de membros da sua tribo e da família em detrimento dos dirigentes partidários.
Em 1980, numa altura em que o Iraque era uma economia em ascensão e o país apresentava os mais altos índices de desenvolvimento da região, Saddam, com a bênção dos E.U.A. e o apoio Soviético, envolveu o país numa guerra com o vizinho Irão. Em 1988, sem que se tenha encontrado um vencedor claro, Khomeini (o presidente iraniano) vê-se obrigado a aceitar um cessar-fogo. No terreno, terão ficado mais de 200 mil mortos do lado iraquiano e 700 mil do lado iraniano. No mesmo ano, uma revolta dos curdos no norte do país é esmagada em poucas horas através de um bombardeamento com armas químicas compradas aos Estados Unidos e já antes utilizadas por sugestão americana na guerra com o Irão. O Iraque era agora um país com uma economia devastada e uma dívida externa de 25 mil milhões de dólares.
Mas a ambição de Saddam em fazer renascer no Iraque a Grande Babilónia, leva-o a invadir o Kuwait em 1990 que é anexado quase sem resistência.
Com o final da guerra com o Irão, a posição americana face a Saddam muda radicalmente e após esta anexação do Kuwait o Iraque passa a ser visto como inimigo pela administração de Bush (pai). Em 1991 uma coligação internacional liderada pelos americanos expulsa os iraquianos do Kuwait e limita, através de uma resolução da ONU, a movimentação das suas tropas, a uma pequena faixa no centro do país, além de lhe impor um embargo económico desumano. O Iraque de Saddam caía em desgraça e de potência regional, transforma-se em colónia servil da ONU.
A 20 de Março de 2003, sob o falso pretexto de que Saddam possuía armas de destruição maciça americanos e britânicos, com a colaboração de vários países vizinhos, bombardeiam e mais tarde invadem e ocupam o Iraque.
O que se passou a partir daqui é sobejamente (des)conhecido de todos. As “verdades” cinematográficas que os “media” ocidentais tem construído deixam cada vez mais perguntas…
Questões como:
Porque é que durante a guerra a larga maioria do exército iraquiano, nomeadamente as principais divisões da Guarda Republicana, não combateu;
Onde estão os milhares de tanques e as dezenas de aviões que Saddam possuía à data da invasão (comprovadas pelas paradas militares) e que não foram usados (nem destruídos);
Porque é que nunca mais se ouviu falar das centenas de quilómetros de túneis à prova de bomba, que os jugoslavos haviam construído e, porque não foram eles usados para protecção dos principais dirigentes, durante o conflito;
Onde estão os vários sósias de Saddam;
Que é feito dos 5 mil homens da sua guarda pessoal que desapareceram misteriosamente;
Porque é que o número "oficial" de baixas sofrido pelas forças invasoras é muito menor que o apresentado nos relatórios dos Serviços secretos russos;
Que droga tinha sido administrada ao alegado Saddam quando foi capturado e que diligências foram feitas para punir o autor.
Continuam sem resposta, tal como muitas outras…
Alegadamente, dos familiares mais próximos de Saddam, restam apenas as três filhas e as duas mulheres, todas a viver no estrangeiro.
A 30 de Dezembro de 2006, com a bênção de George W. Bush foram assassinados: Saddam Hussein, Presidente da República; Awad Ahmed al Bandar Presidente do Tribunal Revolucionário, Burzan Ibrahim (meio-irmão de Saddam), Chefe dos Serviços Secretos e outras 77 pessoas anónimas (estas, despachadas pela Al-Qaeda, a empresa de limpezas contratada pela família Bush), outras 230 ficaram gravemente feridas. Um dia como muitos outros…
No terreno, após mais de dois anos e meio de ocupação, nem melhoria das condições de vida, nem liberdade, nem democracia, apenas um enorme circo montado e mais de cem mil mortos civis. Em terra de ditadores nunca ninguém tinha descido tão baixo…
Apache, Janeiro de 2006