A 14 de Abril de 2010, o professor de Economia, Álvaro Santos Pereira, escrevia assim, no seu blogue “Desmitos”:
“Nos últimos dias, a "campanha" eleitoral tem sido constituída por um rol de "factos" que só servem para distrair os(as) portugueses(as) daquilo que realmente é essencial. E o que é essencial são os factos. E os factos são indesmentíveis. Não há argumentos que resistam aos arrasadores factos que este governo nos lega. E para quem não sabe, e como demonstro no meu novo livro, os factos que realmente interessam são os seguintes:
1) Na última década, Portugal teve o pior crescimento económico dos últimos 90 anos;
2) Temos a pior dívida pública (em % do PIB) dos últimos 160 anos. A dívida pública este ano vai rondar os 100% do PIB;
3) Esta dívida pública histórica não inclui as dívidas das empresas públicas (mais 25% do PIB nacional);
4) Esta dívida pública sem precedentes não inclui os 60 mil milhões de euros das PPPs (35% do PIB adicionais), que foram utilizadas pelos nossos governantes para fazer obra (auto-estradas, hospitais, etc.) enquanto se adiava o seu pagamento para os próximos governos e as gerações futuras. As escolas também foram construídas a crédito;
5) Temos a pior taxa de desemprego dos últimos 90 anos (desde que há registos). Em 2005, a taxa de desemprego era de 6,6%. Em 2011, a taxa de desemprego chegou aos 11,1% e continua a aumentar;
6) Temos 620 mil desempregados, dos quais mais de 300 mil estão desempregados há mais de 12 meses;
7) Temos a maior dívida externa dos últimos 120 anos;
8) A nossa dívida externa bruta é quase 8 vezes maior do que as nossas exportações;
9) Estamos no top 10 dos países mais endividados do mundo em praticamente todos os indicadores possíveis;
10) A nossa dívida externa bruta em 1995 era inferior a 40% do PIB. Hoje é de 230% do PIB;
11) A nossa dívida externa líquida em 1995 era de 10% do PIB. Hoje é de quase 110% do PIB;
12) As dívidas das famílias são cerca de 100% do PIB e 135% do rendimento disponível;
13) As dívidas das empresas são equivalentes a 150% do PIB;
14) Cerca de 50% de todo endividamento nacional deve-se, directa ou indirectamente, ao nosso Estado;
15) Temos a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos;
16) Temos a segunda maior fuga de cérebros de toda a OCDE;
17) Temos a pior taxa de poupança dos últimos 50 anos;
18) Nos últimos 10 anos, tivemos défices da balança corrente que rondaram entre os 8% e os 10% do PIB;
19) Há 1,6 milhões de casos pendentes nos tribunais civis. Em 1995, havia 630 mil. Portugal é ainda um dos países que mais gasta com os tribunais por habitante na Europa;
20) Temos a terceira pior taxa de abandono escolar de toda a OCDE (só melhor do que o México e a Turquia);
21) Temos um Estado desproporcionado para o nosso país, um Estado cujo peso já ultrapassa os 50% do PIB;
22) As entidades e organismos públicos contam-se aos milhares. Há 349 Institutos Públicos, 87 Direcções Regionais, 68 Direcções-Gerais, 25 Estruturas de Missões, 100 Estruturas Atípicas, 10 Entidades Administrativas Independentes, 2 Forças de Segurança, 8 entidades e sub-entidades das Forças Armadas, 3 Entidades Empresariais regionais, 6 Gabinetes, 1 Gabinete do Primeiro Ministro, 16 Gabinetes de Ministros, 38 Gabinetes de Secretários de Estado, 15 Gabinetes dos Secretários Regionais, 2 Gabinetes do Presidente Regional, 2 Gabinetes da Vice-Presidência dos Governos Regionais, 18 Governos Civis, 2 Áreas Metropolitanas, 9 Inspecções Regionais, 16 Inspecções-Gerais, 31 Órgãos Consultivos, 350 Órgãos Independentes (tribunais e afins), 17 Secretarias-Gerais, 17 Serviços de Apoio, 2 Gabinetes dos Representantes da República nas regiões autónomas, e ainda 308 Câmaras Municipais, 4260 Juntas de Freguesias. Há ainda as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, e as Comunidades Inter-Municipais.
Nos últimos anos, nada foi feito para cortar neste Estado omnipresente e despesista, mas já se cortaram salários, já se subiram impostos, já se reduziram pensões e já se impuseram vários pacotes de austeridade aos portugueses. O Estado tem ficado imune à austeridade.
Isto não é política. São factos. Factos que andámos a negar durante anos até chegarmos a esta lamentável situação. (…)”
Hoje, Álvaro Santos Pereira é Ministro da Economia e do Emprego, do XIX Governo Constitucional e, dele os portugueses esperam pacientemente (ainda que a paciência não seja um recurso ilimitado) que comece a “enterrar o estrume” que os anteriores governantes deixaram por aí. Sob pena de (ao não o fazer) correr o risco de ver a “E. coli” desvalorizar-lhe os apregoados “tomates”.
Apache, Junho de 2011