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segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Agosto (também) terá sido um mês atípico?

Já aqui tinha mostrado números pouco simpáticos relativamente à propagada eficácia das vacinas contra a CoViD-19, referentes ao mês de Julho de 2021, comparando-o com o sétimo mês do ano anterior. Deixo idêntica comparação relativamente ao mês de Agosto.

 

Agosto 2020

Agosto de 2021

Percentagem de (totalmente) vacinados

0 %

73%

Número de testes PCR positivos

6 940

69 226

Número de mortos com PCR positivo

87

382

Dados da DGS

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

“A Síndrome de Lisboa”

“Passei as férias a cinco minutos da fronteira espanhola, no cantinho superior direito da nossa ilustre nação. Acabadas as férias, tenciono continuar por cá. Não se está mal. Sobretudo está-se longe da monstruosidade em que se transformou Portugal, o Portugal urbano, litoral e que conta. Os custos da interioridade também trazem benefícios. Aqui, as pessoas são escassas e, por lucidez, cansaço, esquecimento ou confiança nas vacinas que as “autoridades” garantem não mudar nada, a maioria deixou de usar máscara. Já tenho entrado em estabelecimentos sem parecer um ladrão. O único bar nas proximidades fecha de madrugada, sem “distanciamento” nem lugares vagos. Isto parece normal, não parece Portugal.

De brinde, vive-se com um pé fora da pocilga, pronto para uma fuga definitiva e, por enquanto, para escapadelas provisórias. Combustível, compro em Espanha. Víveres nos supermercados, idem. Roupa, ibidem. Esplanadas para jantar fora nas noites mornas de Verão, há as de Zamora e Salamanca. Irrita-me um bocadinho que demasiados espanhóis ainda cumpram a recomendação do farrapo no nariz, mas não existem imposições e, ao contrário do que sucede em Lisboa ou no Porto, as vantagens sobrepõem-se largamente aos enxovalhos. Claro que ambos os países têm governos marxistas. Porém, o lado de lá possui tribunais e as regiões possuem a proverbial autonomia, pelo que Castela não prevê decretar “passes sanitários” ao bom velho estilo soviético.

Portugal ficou irrespirável. Quer dizer, irrespirável é o Nordeste, cujas temperaturas resolveram roçar os 40 graus nos últimos dias. Falo daquela respiração metafórica, própria dos lugares decentes. Hoje, Portugal não é decente. Nunca fui patriota, talvez por ser compatriota de muita gente que acho abominável. O que antes eu desconhecia é a desmesurada quantidade de gente abominável que partilha comigo a nacionalidade. A Covid ajudou à descoberta. A Covid não tem culpa, coitada: apenas serviu de pretexto para que um partido e um regime subordinado a um partido estendessem o controlo económico, social e mental a níveis que não pude, ou soube, prever.

De resto, o pior nem são os apetites totalitários de socialistas – perdoem a redundância – primários e corruptos. O pior é a docilidade com que o povo acolhe os apetites. Acolhe, aplaude e, não raramente, incentiva. Nos intervalos, denuncia os prevaricadores. Antes que me venham com equivalências ao “estrangeiro”, lembro por exemplo que o discurso de há um mês, em que Macron, o Pirolito, prometia o “apartheid” formal das pessoas não vacinadas ou que não ostentassem o “certificado” (não são sinónimos: sou vacinado e não quero certificado algum, que aliás jamais mostraria a estranhos) levou centenas de milhares a protestarem nas ruas. Os protestos têm sido recorrentes ao longo deste ano e meio na generalidade do Ocidente civilizado, mesmo que poucos Estados aplicassem tantas restrições, cometessem tantas ilegalidades e provocassem tantas misérias quanto o português. Perante isto, o português, o cidadão não o Estado, não deu um pio.

Deve ser uma insuficiência anatómica: o português não pia. Nos tempos que correm, nem sequer resmunga inconsequentemente como era tradição. Lembram-se? Confrontado com o buraco à porta de casa, por remendar há seis meses, o português ensaiava uns insultos para dirigir ao presidente da Junta. Seis minutos depois, cruzava-se com o dito autarca e agravava a hérnia com salamaleques. O buraco não surgia na conversa. Agora nem isso: o português salta directamente para o elogio do buraco. Em casos limites de subserviência, salta directamente para o buraco, a fim de provar a respectiva utilidade e os insuperáveis méritos do autarca.

Repito: o problema não é a Covid. É a reacção dos portugueses à avalanche ditatorial que a Covid suscitou. Desde o início desta história que o Governo ordenou as mais absurdas, contraditórias e humilhantes coisas para, dizem, “combater” a Covid. O português acatou todas. E só protesta quando as julga insuficientes. O desagrado dos nativos não é com a trela curta: é com a trela não ser curta o bastante. Poderíamos explicar este comportamento com o medo do vírus, que inclina os homens (e as senhoras) para a irracionalidade. A explicação seria fraquinha. A obediência cega não se nota exclusivamente nas matérias da saúde. O drama nacional não é a hipocondria. É a aversão à liberdade.

Numa curiosa adaptação colectiva da Síndrome de Estocolmo, o pavor de serem livres é o que justifica a patológica simpatia dos portugueses pelas quadrilhas que os oprimem. Não admira que livres sejam as quadrilhas. Livres de encarcerar os portugueses, livres de os arruinar, livres de os gozar, livres de os roubar, livres de os atropelar em sentido figurado e literal. Salvo excepções, o pessoal gosta. Salvo excepções, eu não gosto do pessoal. Não gosto e não percebo. Da vacinação de crianças contra uma doença de que não padecem à crença de que a vacina não permite eliminar nenhuma das “medidas” alucinadas em vigor, actualmente quase tudo o que é português me é estranho.

Em suma, eis a razão porque permanecerei sem data de retorno neste pedaço de território remoto e esquecido: porque é a maneira logisticamente menos complicada de não me sentir parte do desfile de patologias a que Portugal desceu. É possível que a minha decisão não adiante muito e que, conforme afirmava uma personagem do folclore lisboeta, somente transmita uma falsa sensação de segurança. Ainda assim, sou capaz de preferir a segurança ilusória à repressão certa, a distância voluntária à proximidade de malucos, a vida ao medo.”

Alberto Gonçalves, no “Observador”

sábado, 21 de agosto de 2021

 O Princípio da Precaução

 

«A lengalenga do “É preciso ganhar o Natal / a Páscoa / o Verão / a Ovibeja de 2034” e o refrão “As próximas duas ou três semanas serão decisivas” deveriam bastar para que um adulto sem perturbações mentais percebesse o prodigioso ridículo disto. Infelizmente, não bastam. O medo, a obediência e a exibição de virtude mantêm-se, à revelia das evidências e em prol da precaução. Ai, a precaução. A precaução teria evitado centenas de milhares de mortos em acidentes rodoviários: bastava nunca ter permitido a circulação de carros nas estradas nacionais. E evitado largos milhões de mortos em fatalidades diversas: bastava ter abolido a procriação. Hoje, inúmeros portugueses que não podem abdicar de ter nascido resolveram abdicar de viver.»

Alberto Gonçalves, no Observador

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

 Façam-se Homens!

 

O Dr. Pedro Girão, médico anestesiologista, escreve artigos de opinião para o jornal Público. Ontem escreveu mais um artigo que o jornal publicou às 21:58, tendo-o retirando algumas horas depois de publicado por a opinião expressa não coincidir com a doutrina expressa na cassete oficial.

Atente-se, na vergonhosa justificação apresentada pelo jornal para fundamentar a censura a um seu colaborador habitual:

“Um erro de controlo editorial corrigido nesta quinta-feira às 17h42 permitiu que um artigo de opinião (“Uma vacina longe de mais” (sic.)) assinado pelo médico anestesiologista Pedro Girão estivesse disponível na nossa edição digital durante horas.

A sua despublicação justifica-se não apenas pelo tom desprimoroso e supérfluo usado pelo autor em relação a várias personalidades da nossa vida pública, como pelo seu teor que, de forma ora mais velada, ora mais explícita, tende a instigar a ideia de que a vacina contra a covid-19 é “uma experiência terapêutica” sem validade científica (…)”

Ficámos a saber que à censura prévia, a Direcção do Público chama “controlo editorial” e à censura pós publicação, provavelmente na sequência de algum telefonema de um Primata de São Bento ou de Belém, se chama “despublicação”. Ficámos também a saber que não se deve “intigar a ideia” de que um tratamento genético preventivo, nunca antes testado em humanos e actualmente ainda na fase 2 dos seus ensaios clínicos não pode ser chamado de “experiência terapêutica”. Já a ausência de vergonha manifestada pelos elementos da Direcção do Público poderá levar o nome que cada um de nós entender, pelo menos, enquanto o simulacro de Democracia em que vivemos ainda o permitir.

Segue o texto do Dr. Pedro Girão, que os directores do Público (e/ou algum dos seus donos) censuraram.


“Uma vacina longe demais”


“Cada ciência tem a suas leis, as suas regras, o seu modo de fazer as coisas. As decisões decorrentes delas devem seguir as regras da ciência, impondo decisões lógicas e transparentes. Quando se trata de construir uma ponte, por exemplo, os detalhes técnicos não se debatem nos jornais, na televisão ou nas redes sociais. Não ouvimos “especialistas” de economia, ou de matemática, ou de sociologia, a defenderem que o betão do primeiro arco pode ou deve secar uma semana em vez das duas habituais. Não importa a urgência, a necessidade ou a bondade da obra: há normas de procedimento, há regras de segurança, há ciência. Fossem quais fossem as pressões, nenhum engenheiro aceitaria diminuir os prazos correndo o risco de que a ponte caia — eventualmente com carros e pessoas a atravessá-la.

Certamente, poderíamos dizer que a Engenharia é uma ciência bastante exacta — e a Medicina não o é. A Medicina é uma ciência aplicada, com graus de risco e de falibilidade que não são em geral bem compreendidos por quem raciocina sob o prisma das ciências exactas. A Medicina não é uma dessas ciências, mas tem igualmente as suas normas de procedimento, as suas regras de segurança. E não é a aparente urgência de tratamentos, exigidos diariamente pela loucura mediática e pelo pânico geral, que deve permitir ultrapassar as regras. No caso das vacinas em geral, antecipadas mais do que a segurança que sempre foi seguida impunha, e muito particularmente no caso da sua aplicação a crianças e jovens, não é isso que está a acontecer: a ciência médica está a ser ignorada, as regras estão a ser quebradas. Os argumentos que foram e continuam a ser utilizados publicamente acerca das vacinas em geral, e agora muito concretamente acerca da vacinação de jovens e crianças, são argumentos irracionais, emotivos e políticos. Isso é o pior que se poderia desejar para uma ciência que se pretende devotada a curar mas também, e antes de tudo, a não causar danos.

Os apelos recentes do Presidente da República e do responsável da vacinação (ambos excedendo de forma escandalosa e irresponsável as suas competências) são emotivos e políticos — dando de barato que possam ser “bem intencionados”. O vice-almirante, melhor do que ninguém, deveria saber o que pode acontecer quando se ignora a ciência militar e quando, pressionado por razões ou interesses de ordem política, se ordena uma ponte longe demais. A História lembra-nos como isso pode ser meio caminho andado para a tragédia; e, quer essa tragédia aconteça quer não, esse tipo de decisão não deixa de ser uma irresponsabilidade. Colocar em risco a vida dos soldados, ou mesmo achar normal a existência de eventuais baixas e de vítimas colaterais, pode ser uma ideia com que as chefias militares convivam tranquilamente. Mas não são aceitáveis. E, convém lembrar, nós não somos soldados; e convém também frisar que recorrer a crianças como soldados não é tolerável.

Pelos mesmos motivos, a posição do Presidente da República nessa matéria é absolutamente escandalosa, parecendo baseada em conhecimentos débeis do assunto, em hipóteses duvidosas, em desvario emocional, ou em possíveis interesses. É pena constatar que ele não é actualmente o defensor dos portugueses, tendo-se progressivamente transformado num risco para os portugueses. E a posição de António Costa, congratulando-se com uma decisão final que ele próprio e as autoridades que ele tutela manobraram de forma palaciana, seria lamentável se não fosse apenas o seu registo habitual, cínico e falso.

Repito, os argumentos usados pelos (ir)responsáveis e pelos especialistas (alguns deles médicos) são emotivos e não-científicos. Deixemos a ciência ser ciência, sem pânicos, emoções ou estados de alma. Ou seja, paremos de fazer o que andamos a fazer há um ano e meio. Vacinar jovens e crianças com a motivação emotiva de que temos de salvar o resto da sociedade é um argumento revoltante. Insistir nessa ideia quando já percebemos que a eficácia das vacinas é muito relativa é uma atitude puramente disparatada. Não podemos usar os nossos filhos como escudo para a pretensa defesa da saúde dos adultos; e justificar a administração de uma vacina insuficientemente testada para o bem da saúde mental dos adolescentes é, em si mesma, uma ideia que remete para o questionar da saúde mental de quem a defende.

Pessoalmente, na covid como em qualquer outra doença, tomarei todas as precauções possíveis e farei todos os tratamentos adequados. Mas há limites, e a segurança dos meus filhos é um deles. Se eu tiver que morrer por causa desse princípio, morrerei tranquilo; mas não submeterei os meus filhos a experiências terapêuticas e a riscos para me salvar. Sobretudo quando tudo indica que essa “solução” seja mais um fracasso e mais uma mentira a somar às anteriores. Sobretudo quando essas experiências se aproveitam do pânico de uma população desinformada e manipulada. Sobretudo quando essas experiências são exigidas e decididas por especialistas cobardes, por médicos cobardes, por políticos cobardes, por militares cobardes. Sim, porque só pode ser cobardia tentar usar crianças como um escudo humano. Deixem-nas crescer. E cresçam.”

terça-feira, 17 de agosto de 2021

 "O Miguelito da JS: a revelação de um idiota"

 

"Não é novidade que a nossa vida pública está repleta de idiotas, e quem achar isto polémico é provavelmente um deles. O idiota distingue-se sobretudo pela coerência em expelir idiotices, que possui em quantidades abundantes e em princípio inesgotáveis. Mas não só: além do que diz, que é idiota, o modo como o diz também é idiota. Em casos frequentes, Deus os perdoe, até a cara com que o diz é idiota – quando diz e quando está calada. Será injusto pensar que o idiota prospera principalmente nos ramos da política e do desporto (e no comentário político e desportivo): sucede que as actividades em questão beneficiam de mais notoriedade que outras, as quais certamente terão inúmeros espécimes de apreciáveis, embora obscuros, idiotas. A história da Covid, por exemplo, trouxe à ribalta resmas de “especialistas” cuja idiotia passava antes despercebida em gabinetes sombrios.

É evidente que o idiota não nasceu ontem. Ou anteontem. Embora possa haver um aperfeiçoamento gradual das suas capacidades, não restam dúvidas de que o rematado idiota de hoje já mostraria sinais promissores na infância e na juventude. Um Marques Mendes ou um Fernando Medina não atingiram aquele grau de perfeição do dia para a noite. Uma Catarina Martins e um, ou dois, Eduardo Cabrita não caem do céu. Os “politólogos” que dissertam nas televisões têm decerto décadas de empenho em cima. E aqueles “especialistas” em virologia que há ano e meio alertam para o carácter decisivo “das próximas duas ou três semanas” treinaram as “valências” (e as sevilhas) durante toda a carreira, por sorte sem que alguém os ouvisse. A verdade é que nem sempre é possível apanhar o idiota nas fascinantes fases em que se forma e desabrocha. Porque em geral as televisões não exibem o processo, o cidadão comum não testemunha a transição da larva toscamente idiota para a borboleta orgulhosa e radiante de idiotia. É por isso que Miguel Costa Matos, deputado do PS e chefe da Juventude Socialista, é uma excepção que se saúda, e apetece regar com melaço quente.

Miguel Costa Matos é um meteoro a rasgar o vasto firmamento de idiotas caseiros. Aos 26 aninhos, está para a idiotia como Pelé aos 17 e T.S. Eliot aos 23 estavam para as respectivas profissões. À semelhança do que acontecia com estes, Miguel Costa Matos leva-nos a questionar se existem limites à evolução, para cúmulo numa carreira política, com margem de progressão bem superior ao futebol e à poesia. Se, no que toca a idiotas, o PS é uma formidável escola de formação, um prodígio imediata e fatalmente destaca-se.

Conheci – salvo seja – Miguel Costa Matos há uns meses. Um jornal perguntou-lhe se preferia Trump ou Xi Jinping, o prodígio preferia o déspota chinês ao presidente americano. Percebi logo: tínhamos idiota. E dos bons, abençoado pelo talento inato, por um percurso profissional alheio ao trabalho,  por uma fácies aparentada com a de Jorge Lacão e pelo ar de acólito que distingue alguns dos maiores idiotas nacionais. Notava-se que o rapaz ia longe.

E tem ido. Desde então, Miguel Costa Matos vem realizando o tipo de exibições de luxo que caracterizam os idiotas eleitos (e nomeados). Nunca falha: ele é contra a “desinformação” (leia-se é a favor da censura), ele é contra os “difusores do ódio” (e odeia gente assim), ele é contra o “racismo” (se as cores em causa forem as “correctas”), ele é contra o “machismo” (o que, corajosamente, o levou a pintar os lábios de vermelho para uma fotografia: nos idiotas refinados, às vezes os 26 anos equivalem a uma cabecinha de 5), ele é contra a carência de regras para as prostitutas (que escreve “prostitutx”, provando que as regras do português não o interessam tanto). E estes são os momentos banais de Miguel Costa Matos. Os momentos restantes são puro deslumbre.

Os aficionados da idiotia não se esquecem da recusa do idiota em aprovar o voto de pesar pela morte de Marcelino da Mata, optando por experimentar arrepios eróticos  com a barbicha do “Che”. Nem da crítica à Hungria por proibir cartilhas LGBT, enquanto o idiota exalta os palestinianos que enfiam homossexuais na cadeia. Nem da aflição do idiota com ameaças gravíssimas aos “direitos humanos” (a venda desregulada de haxixe, juro) e, em simultâneo, a devoção beata à quadrilha que enterrou a Constituição e aboliu as liberdades básicas. Nem da acusação ao governo de Pedro Passos Coelho, que o idiota acha responsável pelo empobrecimento de um país que o PS arruinara antes e volta a arruinar agora. Nem das declarações canalhas do idiota a propósito dos 4 anos dos incêndios de Pedrógão Grande: “Não esqueceremos. Que não deixemos que se repita” (até a gramática é idiota). Nem da reunião por “Zoom” em que o idiota participou com máscara., decerto por recear os vírus informáticos. Aqui há lata. Aqui há atraso de vida. Aqui há cegueira. Aqui há obediência. Aqui há ignorância. Aqui há pulhice. Aqui há boçalidade. Aqui há, enfim, os ingredientes essenciais ao idiota. Miguel Costa Matos não se limita a prometer: faz questão de cumprir. A obsessão do idiota com a cannabis não é inconsequente.

Esta semana, disseram-me que Miguel Costa Matos realizou na TVI uma das prestações mais ridículas desde qualquer declaração pública de Meryl Streep. Mandaram-me um vídeo com o resumo. Fiquei fascinado. Mesmo numa terra de muitos idiotas, e num partido com muitíssimos idiotas, o moço é um caso à parte. Em poucos minutos, sem um lampejo do que antigamente se chamava raciocínio, espirrou dezenas de patranhas tão delirantes, evangélicas e subservientes que envergonhariam um servente de Maduro. Não liguem às más-línguas que desvalorizam Miguel Costa Matos por apenas parecer idiota: ele é idiota, um idiota perfeito e um perfeito idiota, uma esponja de reverência e clichés com um futuro radioso num país que, por estas e por outras, não tem futuro nenhum."

Alberto Gonçalves, no Observador

sábado, 14 de agosto de 2021

 Julho terá sido um mês atípico? Esperemos que sim.

 

No passado dia dez, numa das habituais conferências de imprensa, a Directora Geral da Saúde, Graças Freitas (replicada em vários órgãos de comunicação) afirmou que, em Portugal, a maioria das vítimas de CoViD-19 tem mais de 80 anos, várias comorbidades e a vacinação completa. Se compararmos com idêntico período do ano passado constatamos que à data, a maioria das vítimas de CoViD-19 tinha mais de 80 anos,  várias comorbidades e (ainda) não havia vacinas. Pareceria então, aos mais distraídos, que quase nada teria mudado nestes 365 dias, até porque Graça Freitas decidiu tranquiliza-nos -  “a situação era expectável em função da efetividade da vacina”. É então que constatamos que a avozinha simpática se enganou. A situação não era nada expectável, ou estaríamos perante um crime premeditado. Há uma ‘pequenina’ diferença entre Julho de 2021 (com 60% da população portuguesa com a vacinação completa) e Julho de 2020 (com 0% de portugueses vacinados), atente-se:


Clique para ampliar.


domingo, 1 de agosto de 2021

Com a verdade me enganas

É raro citar o camarada Costa mas um conselho tão douto, ainda que manifestamente serôdio, merece ser replicado.





segunda-feira, 28 de junho de 2021

 Conspiracionistas são eles (2)

 

Em resposta à intimação do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, a que me referi no texto anterior, a DGS informou que não possui:


a)     Cópia de publicação científica revista por pares que mostre que os testes RT-PCR são fiáveis na identificação do vírus SARS-CoV-2;

b)     Informação documentada sobre o número de ciclos usados nos testes RT-PCR, em Portugal, nem é capaz de indicar a entidade que definiu esse número;

c)     Informação sobre que tipo de vírus e respectivas estirpes são detectadas nos testes RT-PCR;

d)     Prova científica que fundamente as medidas de quarentena e de confinamento;

e)     Prova científica da eficácia do distanciamento social;

f)      Prova científica de que as “vacinas” de mRNA não constituem perigo a médio e longo prazo para a saúde dos “vacinados”.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

 Conspiracionistas são eles (1)

 

No passado dia 19 de Abril, após intimação do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, na sequência de requerimento apresentado por cidadãos anónimos, a Direcção-Geral de Saúde (DGS) admitiu que, desde o seu início até ao dia anterior (18 de Abril de 2021) a pandemia CoViD-19 fez em Portugal 152 vítimas mortais e não as 16 946 que constavam no relatório diário disponibilizado à comunicação social e que pode ser consultado na sua página.

De facto, até ao dia 19 de Abril de 2021 foram passadas 152 certidões de óbito que apresentam como causa de morte a infecção por SARS-CoV-2 (doença conhecida por CoViD-19). Sendo que, vinte destas vítimas não realizaram teste PCR mas apresentavam, à data da morte, sintomas compatíveis com uma infecção respiratória. Apenas 4 destes 152 casos foram confirmados por autópsia e ainda assim, não se percebe como foi obtida essa confirmação uma vez que a DGS reconhece não possuir nenhuma prova científica do isolamento do vírus, nem qualquer documento científico que ateste o seu código genético.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

 "Terraplanistas são eles"

"Antes da Covid, o “argumento” mais revelador da falta de argumentos e de neurónios de quem o utilizava era o da Rennie. Quando alguém confrontava um palerma com alguma coisa que lhe desagradasse, o palerma respondia imediatamente: “Toma Rennie que isso passa”, e a seguir retirava-se triunfante e seguro de que ganhara o debate. Num país cujo serviço de saúde não colapsasse à primeira oportunidade, o palerma ganharia a avaliação de uma junta de psiquiatras, mas esse é outro ponto. Aqui, o ponto é o recuso ao refluxo gástrico, vulgo azia, para encerrar uma discussão. Às vezes, o Kompensan substituía a Rennie, embora não houvesse massa encefálica que substituísse o ar morno na caixa craniana dessa gente. Bons tempos.

Em tempos de Covid, e contra todas as expectativas, o nível da “argumentação” conseguiu baixar. Hoje, a turba indistinta do “fique em casa”, do “confinamento” eterno e das máscaras permanentes é tão desprovida de razão que faz o pessoal da Rennie parecer sofisticado por comparação. O caso é particularmente irónico na medida em que, no lugar dos antiácidos, a nova estirpe de magos da retórica invoca a ciência. Ou melhor, aquilo que julga ser ciência, na verdade umas curvas estatísticas apresentadas em reuniões no Infarmed por matemáticos e veterinários desejosos de agradar ao governo. Não importa que as curvas sejam inúteis a descrever o presente e desastrosas a prever o futuro. Não importa que ninguém perceba a sensatez de trucidar uma economia débil a partir de curvas mal amanhadas. E não importa que as curvas se limitem a confirmar as conclusões previamente tomadas pelo dr. Costa e pelo prof. Marcelo: manter os cidadãos em clausura parcial, rebentar com a iniciativa privada e produzir mais dependência face ao Estado e às quadrilhas que o controlam.  Importa que, na cabeça dos tontos, as curvas e as desumanas restrições que delas “decorrem” são “ciência”. E importa sobretudo que, armados com solenidade “científica”, os tontos se sentem habilitados a insultar e perseguir quem deles discorda.

Quem sugerir que o estado de emergência não é adequado para lidar com uma doença que quase só afecta gravemente velhos é “negacionista”. Quem lembrar que teria sido decente proteger os velhos, em alternativa a prender a população em peso, é “terraplanista”. Quem notar que a evolução da Covid  não depende exclusivamente de “confinamentos” e regras abstrusas é “medieval”. Quem inventariar os países e as regiões em que a falta de “confinamento” e de regras abstrusas coabita com o decréscimo nos infectados e nos mortos é “conspiracionista”. Quem insiste em conviver com familiares e amigos é “bolsonarista”. Quem repara que o Brasil tem menos mortos “com” ou “de” Covid do que Portugal é “primitivo”. Quem não respeita as normas decretadas por governantes que não se dão ao respeito – nem respeitam as próprias normas – é “fascista”. Quem questiona a prepotência é “nazi”. Quem não sai de casa sem se disfarçar de iraniana ou assaltante de bancos é “anti-social”. Quem não reduz a vastidão do universo a um vírus é “inconsciente”. Quem recorda que a existência implica sempre riscos é “criminoso”. Quem previne que esta demência colectiva terá consequências muito feias para todos, excepto para os irresponsáveis que a provocaram, é “assassino” e indigno de merecer o proverbial ventilador no dia em que precisar de um.

Estamos nisto. É, literalmente, o mundo ao contrário.  De repente, a “ciência” viu-se apropriada por devotos da virologia de veterinários, da fancaria dos telejornais e da hipocondria do inquilino de Belém. Ou seja, por místicos que não fazem a mínima ideia do que é a ciência. Boa parte destes “cientistas” instantâneos até se diz de esquerda, o que os coloca logo no mesmo campeonato da credibilidade de astrólogos, cartomantes, homeopatas e cultores do Feng Shui. Muitos não sabem ler uma tabela estatística. Muitos são incapazes de alinhavar uma frase sem dois erros ortográficos e três de sintaxe. Muitos julgam que Steinmetz é um defesa do Dortmund. Mas nenhum abdica de uma ideia infantil acerca do que é ciência para fundamentar o seu dogmatismo.

Em circunstâncias normais, não custaria deixar os fanáticos a berrar sozinhos e assistir de bancada ao espectáculo. Afinal, há certa graça em ver em acção as principais características do método científico: a intolerância, a fúria e a vontade de enfiar blasfemos na cadeia ou na fogueira. A chatice é que as circunstâncias não são normais, e estes adeptos do pensamento mágico (sem a parte do pensamento) não contam apenas com a força da cegueira, que já é bastante. Para azar dos que prezam a civilização,  os fanáticos contam com a força literal, a dos senhores que legislam alucinações e a da polícia que as executa. A boçalidade, enfim, tomou por completo o poder, através dos que o ocupam e através dos que os apoiam. Salvo milagre, os factos estão condenados a subjugar-se a indivíduos que enchem a boca com ciência como antes a enchiam com liberdade, embora desconheçam a primeira e detestem a segunda. Terraplanistas, negacionistas e primitivos são eles."

                                                                                                                       Alberto Gonçalves, no "Observador" de 27 de Março

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Foi há 41 anos… (3)

Muitos pensam que a Revolução de 25 de Abril de 1974 foi concretizada pela vontade da maioria das forças armadas, de facto, a ala vencedora representava um pequena facção sem qualquer possibilidade de vitória caso algum dirigente do regime tivesse dado ordem para resistir aos revoltosos.
Atente-se nos números que apresenta um dos mais destacados (activos e ferrenhos) membros do Movimento das Forças Armadas, Diniz de Almeida (que na época do PREC chegou a segundo-comandante do RALIS):

1. A componente vencedora (integrando cerca de 5 % das Forças Armadas)
   A - Ala spínolista - constituída por uma minoria de oficiais, geralmente de valor, aos quais cedo acresceram oportunisticamente numerosos outros oficiais, anteriores émulos ou não, do carismático general.
  B - Ala Autónoma do Movimento ou MFA propriamente dito - constituída por uma minoria de oficiais numericamente superior à primeira (cerca de duas vezes) geralmente de valor aproximado aos primeiros, mas com uma média de patentes acentuadamente inferior em relação a estes. Este último facto determinaria novos focos de tensão...
2. A componente vencida (integrando cerca de 95% das Forças Armadas)
   A - Amorfos - constituindo cerca de 50% dos efectivos totais das Forças Armadas. Neste grupo incluem-se ainda, e aliás em elevada percentagem, oficiais que, dispensando uma maior ou menor hostilidade do Movimento, por razões diversas o não fizeram, contudo, directamente.
   B - Activos (ou potencialmente activos) - cerca de 45 %, abrangendo uma vasta gama de elementos num leque que incluía desde os oficiais ideologicamente afectos ao regime, aos que por diferentes razões se viriam a sentir lesados económica, social, profissional ou psicologicamente, pelo Golpe de Estado”
[Diniz de Almeida, em “Ascensão, Apogeu e Queda do MFA”]
 

Apache, Julho de 2015

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Foi há 41 anos... (2)

Reforçando a ideia de que o Golpe Militar de 25 de Abril de 1974 foi previamente combinado entre Marcello Caetano, chefe do governo e o General Spínola (que presidiria à Junta Militar que tomaria o poder) atente-se nas principais unidades militares “controladas” pelo Movimento das Forças Armadas (MFA):

- Regimento de Artilharia Ligeira N.º 1 (Mais tarde designado por Ralis) de Lisboa – Unidade Operacional à qual pertenciam os principais dirigentes do MFA;
- Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea de Cascais (CIAAC) – Unidade Mista, de (Instrução e Operacional) na qual o MFA controlava, apenas, parte do sector de Instrução. Forneceu os rádios “roubados” na noite anterior e um número insignificante de homens;
- Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) de Lamego – Unidade Mista da qual o MFA controlava apenas parte do sector de Instrução. Forneceu cerca de 3 dezenas de homens utilizados em operações no Norte;
- Escola Prática de Cavalaria (EPC) de Santarém – Unidade de Instrução controlada pelo MFA de onde saiu a principal força golpista, à qual se rendeu, na tarde do dia 25, Marcello Caetano. Comandada pelo Capitão de Cavalaria, Fernando José Salgueiro Maia, a força (que marchou sobre Lisboa) contava com cerca de duas dezenas de sargentos e oficiais de baixa patente, 160 instruendos (recrutas do curso de milicianos) 12 camiões de transporte de pessoal e 10 veículos blindados (4 Chaimites V 200, para transporte de tropas, 3 Panhard EBR (veículos de reconhecimento) e 3 Panhard AML (auto-metralhadoras) uma das quais não funcionava;
- Escola Prática de Artilharia (EPA) de Vendas Novas – Unidade de Instrução. Forneceu duas dezenas de homens e 4 obuses de montanha de 88 milímetros, instalados na manhã do dia 25 no morro do Cristo-Rei, em Almada;
- Escola Prática de Infantaria (EPI) de Mafra – Unidade de Instrução. Forneceu cerca de quatro dezenas de homens, a larga maioria dos quais instruendos, utilizados em operações no Centro do País;
- Escola Prática de Administração Militar (EPAM) de Lisboa – Unidade de Instrução. Forneceu cerca de três dezenas de homens e alguma logística.
 
Aderiram ao MFA, e participaram no golpe, homens de outras unidades militares em número irrelevante para o desenrolar das operações.

Atente-se, igualmente, nas forças que o MFA considerava hostis, curiosamente, as únicas forças vistas nas ruas no dia 25:
 
- Direcção Geral de Segurança (DGS, ex-PIDE) – Sendo uma Unidade de Polícia, dispunha, no entanto, de meios suficientes para, querendo, dificultar e muito (pelo menos em Lisboa) a vida às forças golpistas. Vários agentes passearam pelas ruas de Lisboa durante o dia 25, alguns deles almoçaram tranquilamente em conhecidos cafés e restaurantes da Capital;
- Polícia de Segurança Pública (PSP) – Unidade de Polícia que, em Lisboa, dispunha de homens e equipamento superiores aos revoltosos;
- Guarda Nacional República – Força Militarizada que colocou nas ruas, no dia 25, várias centenas de homens. Um batalhão estava sediado no Quartel do Carmo onde se refugiou Marcello;
- Regimento de Infantaria 1 (RI 1) de Lisboa – Unidade Operacional, que deslocou para as ruas de Lisboa algumas dezenas de homens;
- Regimento de Cavalaria 7 (RC 7) de Lisboa – Unidade Operacional equipada com Carros de Combate M47 de 90 milímetros. Cinco deles saíram para a rua, a 25 de Abril e constituíam um poder de fogo muito superior a toda a artilharia das forças golpistas;
- Regimento de Lanceiros 2 (RL 2) de Lisboa – Unidade Operacional, de elite, da Polícia Militar. Deslocou para as ruas de Lisboa, na manhã do dia 25, pelo menos, três pelotões de homens fortemente armados.
 
A Legião Portuguesa, a Marinha, a Força Aérea e as restantes Unidades do Exército que, no seu conjunto, constituíam mais de 80% das Forças Armadas, eram consideradas pelo MFA como hostis mas o Movimento tinha esperança de que não saíssem para as ruas.
A Legião ainda reforçou homens e meios no Castelo de São Jorge, mas acabou por passar ao lado dos acontecimentos, tendo o seu Quartel, na Pontinha, praticamente vazio, sido tomado, sem qualquer hostilidade, à hora do almoço, por uma dezena de homens do Décimo Grupo de Comandos.
Da Marinha, apenas uma Fragata (Almirante Gago Coutinho) que participava em exercícios militares da Nato, comandada pelo pai de Francisco Louçã, entrou no Tejo, na manhã do dia 25 e passeou o seu enorme poder de fogo, em frente ao Terreiro do Paço, intimidando a frágil mas principal força golpista (da EPC) que ocupava a porta do Ministério do Exército, na Praça do Comércio.
Da Força Aérea, apenas foi avistado um (Heli-canhão) Alouette, equipado com um canhão de 20 milímetros que, durante a tarde, sobrevou ameaçadoramente o Largo do Carmo onde a força de Salgueiro Maia havia sido enviada para obter a rendição do chefe do Governo.
(continua…)
Apache, Maio de 2015

sábado, 25 de abril de 2015

Foi há 41 anos…

A nossa história colectiva está cheia de episódios patéticos mas, neste particular, dificilmente algum supera o 25 de Abril de 1974, o golpe militar que Marcello Caetano, chefe do governo, terá combinado previamente com o general Spínola.
Atente-se em algumas declarações de intervenientes…
“Já sabíamos que, naquela noite, ia dar-se qualquer coisa. É por isso que à meia-noite eu ainda estava na António Maria Cardoso. Repare: na noite anterior, os militares foram buscar os aparelhos de rádio ao Quartel de Cascais. Se existiam dúvidas sobre a possibilidade de eclodir uma nova revolta, elas ficaram logo dissipadas!” [Declarações de Abílio Pires, Inspector da DGS] 
“Disse-lhe que o conduziria [refere-se a Marcello Caetano] à 1ª Região Aérea, em Monsanto, para onde ele fora no 16 de Março [data do Golpe das Caldas] e como de resto estava previsto para situações de emergência. Marcello disse-me que não queria ir para Monsanto e impôs o Carmo como destino.
(...) Fomos recebidos pelo comandante da GNR, general Adriano Pires, que estava à nossa espera. Percebi depois que Marcello Caetano lhe telefonara de casa, antes de eu lá chegar, informando-o que iria para ali. (...) Telefonaram-lhe também os generais Kaúlza de Arriaga e Santos Costa, dizendo-lhe que tinham unidades da Força Aérea e do Exército prontas a acabar com a sublevação, mas a todas essas indicações Marcello respondia ou que não queria um banho de sangue, ou que ficassem a aguardar ordens suas. As horas foram passando e... nada! Marcello nunca deu ordens a ninguém para resistir ou contra-atacar.” [Declarações de Diogo Albuquerque, Chefe da Brigada da DGS, que leva Marcello, de casa, para o Quartel do Carmo]
“É claro que sabiam [antecipadamente do golpe militar]. Principalmente depois do golpe das Caldas, a 16 de Março, controlávamos todos os movimentos dos militares subversivos. (…)Tenho praticamente a certeza [que o Marcello Caetano sabia do golpe]. Na manhã do dia 25 o director da PIDE, major Silva Pais, estabeleceu um contacto telefónico com Marcello Caetano, que já estava no Quartel do Carmo, e acordaram que uma brigada da polícia iria buscar o presidente do Conselho. O Sílvio Mortágua, o Abílio Pires e o Agostinho Tienza e eu. O Pires foi no seu próprio carro, atrás de nós. Seguimos em dois carros para que, em caso de necessidade, um deles pudesse executar uma qualquer manobra de diversão. Íamos esperar o presidente do Conselho à Rua do Carmo. Existe uma ligação- eu não quero ser romanesco e dizer que há uma passagem secreta- entre o Quartel do Carmo e a Rua do Carmo. E essa ligação ainda deve existir hoje, concerteza. O major Silva Pais combinou o nosso encontro com Marcello Caetano para esse local. Seguindo as suas instruções, parámos o carro mais ou menos a meio da Rua do Carmo, uns metros acima dos pilares do elevador de Santa Justa. Como o Marcello nunca mais aparecia, eu disse aos outros para permanecerem ali, subi a Rua do Carmo, virei na Rua Garrett, subi a Calçada do Sacramento e apresentei-me no Quartel do Carmo. Fui recebido pelo comandante-geral da GNR, que me conduziu até ao Marcello. Disse-lhe que estávamos à sua espera na Rua do Carmo, de acordo com o que havia sido combinado com o major Silva Pais e o Marcello respondeu-me que não era preciso porque já tinha tudo tratado com o general Spínola!... (…) Repare que a GNR aquartelada no Carmo era, só por si, uma força, um esquadrão de Cavalaria que tinha certamente auto-metralhadoras e que, sem necessitar de mais ninguém, podia acabar com aquilo [refere-se à força da Escola Prática de Cavalaria que cercava o Quartel]. O Marcello Caetano é que nunca permitiu que a PSP ou a GNR actuassem. Se tivesse dado ordens concretas à PSP e à GNR nesse sentido, aquilo acabava tudo em cinco minutos.” [Declarações de Óscar Cardoso, Inspector da DGS; declarações, tal como as anteriores, em “Histórias Secretas da PIDE/DGS”]
(continua…)
Apache, Abril de 2015

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

"O Ministro Chupa-Chupa"

"Foto da minha rua, conforme se encontra há nove dias bem contados

Pagar IMI em Palmela é isto. Todos os anos há festa, febras, vinho e barraquinhas, mas certas imperfeições permanecem imunes ao bem-querer da dinastia que gere o burgo.
Já sei, para alterar o comportamento dos cidadãos, que não aproveitam estes restos nutritivos, devia ser taxado cada quilograma de desperdício que onera o desempenho laboral-constitucional dos expeditos funcionários da Câmara Municipal de Palmela, tornando impossível a recolha atempada dos detritos.
Esta merda está assim há uma semana. Uma semana. E há outro case study: só este ano já cá veio duas vezes o rapaz montado no rolo compressor, passar gravilha e poeira sobre os buracos da rua. Que eu veja, fá-lo há cinco anos. Entretanto chove, como é normal que chova, e volta tudo ao mesmo. Pelo mesmo custo, já a teriam alcatroado.
Talvez também aqui fizesse falta uma taxa, por direitos de passagem: os pés dos moradores alargam os buracos e elevam no ar bactérias e fungos possivelmente ameaçados de extinção, pondo em causa o moderno ecossistema que é Portugal.
Aliás, tratando-se para mais de um país onde, como reiteradamente afirmou ontem no Prós & Contras o menino Jorge Moreira da Silva, estamos finalmente a par - só nos faltam autocarros eléctricos, camiões a gás e punições maiores para quem trabalha - das outras salas deste manicómio que é a Europa.
Para o que eu havia de estar guardado com esta idade. O ministro do Ambiente parece um daqueles putos a quem nos dava vontade de cobrir de lambadas quando andávamos na escola. A par de Eurico Dias, que está provavelmente na calha para o substituir quando o Marajá do Roxy ascender ao trono, Jorge Moreira da Silva é dos copinhos-de-leite mais enervantes que tenho visto pagar com os nossos impostos.
E é um sovietizado exemplar, senão vejamos o tom de grande educador pesporrento, emitido por um imberbe daqueles ainda a ecoar à mastigação de Cerélac por todos os poros, coisa que num país civilizado daria direito, no mínimo, ao suplício da estrapada.
Aqui? Balidos...
Frases que cativam e despertam a vontade de desintegrar o partido inteiro que pensou, germinou e deixou eclodir Jorge Moreira da Silva: "se queremos mudar o comportamento dos cidadãos, este é um bom começo". Como se fosse o comportamento dos cidadãos, e não a cristalizada, quando não demolida, rede de transportes públicos - mas cujos funcionários auferem subsídios do primeiro mundo - o problema, e sim o demoníaco automóvel onde diariamente as pessoas, por falta de opção, levam miúdos à escola, compram mercearias, vão trabalhar e pagam multas e taxas e coimas e arruínam, nos fossos a céu aberto que são as estradas municipais, esse mesmo súcubo motorizado.
Senhor Ministro, vá mudar uma coisa que eu cá sei. Estou fartinho de si e dos seus congéneres até ao vértex."
Fernando Melro dos Santos, no blogue Estado Sentido

terça-feira, 28 de outubro de 2014

“Portugal e o futuro”

“(…) Excluindo os próprios envolvidos, os compadres, os amigos de ocasião e os fanáticos, ninguém confia no governo. De trapalhada em trapalhada, a pedir desculpas ou paciência, o bando liderado pelo Dr. Passos Coelho arrasta-se como o Benfica na "Europa", rumo ao desastre final. Dizer que em três anos o bando refreou o défice à custa da receita é a única coisa parecida com um elogio que estes senhores suscitam. O resto, a austeridade sem retorno ou uma desmesurada carga fiscal acompanhada por zero reformas dignas do nome, provou que nem o machado da troika corta a raiz do pensamento pátrio.
Excluindo os próprios envolvidos, os compadres, os amigos de ocasião e os fanáticos, ninguém confia na oposição. Especialista em intercalar o silêncio com as mais descaradas asneiras produzidas para cá de Caracas, o Dr. Costa, rodeado por puros malucos e oportunistas de carreira, já fareja o poder e ameaça usá-lo com a voracidade dos famintos. Em 2014, continua a haver malária, esclavagismo e, no que nos toca de perto, quem defenda o "investimento" público e o crescimento por decreto sem corar de embaraço.
Mesmo estafados, certos clichés do Parque Mayer, incluindo o do "tacho", merecem recuperação: partidos à parte, toda esta gente luta por um objectivo comum, o de alimentar o Estado de modo a dispor dele. A novela da PT em curso é exemplar, principalmente se atendermos à procissão de vultos que agora reclama a respectiva nacionalização e à procissão de familiares dos vultos que antes conseguiu lá emprego.
Existem diferenças? Algumas, que só importarão aos picuinhas: o PSD disfarça, o PS assume. O PSD explora a absurda aura "liberal" que lhe colaram, o PS jura-se de esquerda. O PSD nega o evidente assalto ao contribuinte, o PS promete-o com orgulho. O PSD mata com álibi, o PS esfola por missão. O PSD finge salvar o país da ruína, o PS não distingue a ruína da salvação. E o povo, pá?, perguntava uma cantilena. O povo, quando não conta os cêntimos, saltita entre a crendice e o desnorte, a resignação e o berreiro, a esperança e a realidade. Mas, quando conta os cêntimos, o povo pressente que o pior ainda não chegou.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias”

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Os Primários do PS


Helena Roseta para António Costa: “tens que fazer no país o que estás a fazer em Lisboa”.
O meu vizinho do 2.º Esq. para António Costa: "se vejo algum monhé a entupir as sarjetas aqui da rua, corro-o a pontapé".

sábado, 20 de setembro de 2014

Portugal tem 50% mais deputados que a média da União Europeia

A propósito da recente proposta (finalmente, uma com lógica) de Tó Zero (in)Seguro de redução do número de deputados, na Assembleia da República, para 181 (na linha dos 180 há uns anos propostos pelo PSD) e da oposição (esperada) de Toninho Chamuça e dos partidos à esquerda do PS, que vêm nesta redução enormes dificuldades em empregar os boys dos respectivos aparelhos partidários, lembrei-me de comparar o número de habitantes por cada deputado eleito nos vários países da União Europeia.
Portugal apresenta 47 017 residentes por cada deputado (número resultante da divisão dos 10 813 834 habitantes pelos 230 deputados com assento parlamentar) colocando-se na 11.ª posição face aos 28 membros da UE, com 50% mais deputados que a média da União (que apresenta 70 310 habitantes por deputado).
A lista de países com mais habitantes por cada deputado eleito (ou se preferirem, com menos deputados considerando a população residente) é liderada pela vizinha Espanha, com 136 394 habitantes por cada um dos seus 350 deputados (comparativamente, quase três vezes menos deputados que nós). Em segundo lugar está a Alemanha, com 130 220 habitantes por cada deputado eleito. No terceiro lugar aparece a França com 114 834 habitantes por deputado.
Os últimos lugares desta lista são ocupados pelos países mais pequenos da União (os três últimos são: a Estónia, o Luxemburgo e Malta) que são os que apresentam maior número de deputados em comparação com o número de habitantes.
Alguns países apresentam duas Câmaras e, por isso, comparei também os deputados do nosso parlamento com a soma dos deputados e senadores nos países que possuem duas “assembleias”, sendo que, neste caso, Portugal sobe para o 8.º lugar, duma lista encabeçada pela Alemanha, que apresenta 117 217 habitantes por cada representante com assento nas suas duas câmaras. No segundo lugar aparece a Espanha, com 77 876 residentes por cada represente “parlamentar”. O terceiro lugar passa agora a ser ocupado pela Holanda, com 75 010 habitantes por cada um dos 225 eleitos para as suas duas câmaras.
Segue a lista completa.
[Cliquem na imagem para ampliar]
Apache, Setembro de 2014

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Indesejada premonição


Marcello Caetano pressagiou, desta forma, as consequências político-económicas da revolução (de 25 de Abril de 1974) que teve como principais desfechos: a perda das províncias ultramarinas e a instauração do socialismo.
“Sem o Ultramar estamos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade das nações ricas, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava em vésperas de se transformar numa pequena Suíça, a revolução foi o princípio do fim. Restam-nos o Sol, o turismo, a pobreza crónica e as divisas da emigração, mas só enquanto durarem.
As matérias-primas vamos agora adquiri-las às potências que delas se apossaram, ao preço que os lautos vendedores houverem por bem fixar.
Tal é o preço por que os Portugueses terão de pagar as suas ilusões de liberdade!”
"Marcello Caetano, Confidências no Exílio”, de Joaquim Veríssimo Serrão.

terça-feira, 22 de julho de 2014

O Costa, da Parvónia


“A cada semana, António Costa revoluciona a ciência económica. Primeiro foi a tese de que a riqueza é preferível à austeridade, inovadora aplicação na macroeconomia do princípio de Maria Antonieta. Depois, descobriu que o problema não é o excesso de licenciados, mas a falta de empregos para licenciados (criam-se os empregos e a chatice fica resolvida). Agora, explicou a uma embevecida plateia de sindicalistas que "não há crescimento sustentável com endividamento, mas também não há crescimento sustentável com empobrecimento", sentença que se comenta sozinha.
Se não se aproximassem as férias, o Dr. Costa ainda estaria a tempo de dizer que: 1) o investimento público é melhor do que o privado excepto nos casos em que o investimento privado é melhor do que o público; 2) o Estado social é sustentável desde que saia baratinho aos cidadãos; 3) Portugal não deve sair do euro enquanto os euros entrarem em Portugal; 4) pelo menos na perspectiva dos destinatários, os salários altos são preferíveis aos salários baixos; 5) o Pato Donald é um boneco.
Brincadeiras à parte, o que é isto? Não é de agora que Portugal não se pode queixar em matéria de produção de políticos absurdos. Mas entre as nulidades sem uma ideia na cabeça e o Dr. Costa, em cuja cabeça fervilham centenas de ideias desconchavadas, vai uma diferença considerável. Já nem falo da tentativa de vender o homem a título de salvador da pátria: falo do homem propriamente dito e da deprimente comparação com aqueles a quem sonha suceder. Ao pé do Dr. Costa, Passos Coelho passa por um modelo de estadista, Sócrates por um sujeito quase ponderado, Santana por um governante responsável, Barroso por um gigante do pensamento, Guterres por um paradigma da racionalidade financeira e Cavaco, ele sim, pelo salvador da pátria que nunca foi. Perante o Dr. Costa, até o jovem António José Seguro parece habitar o mesmo planeta que os restantes mortais.
Em suma, o Dr. Costa é um embaraço ambulante. Logo, provavelmente será depois do Verão o líder do PS e, se os amigos o mantiverem calado entretanto, hipotético primeiro-ministro no ano que vem. Um pessimista vê à distância e, na lógica do "depois de mim virá", tende a imaginar que espécie de calamidade pode aparecer ao País após o Dr. Costa. Um optimista desconfia que, após o Dr. Costa, é improvável haver País.”
Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Nuno Crato: devagar, devagarinho, ao ritmo jacobino (2)

Depois de completar dois anos e meio à frente do Ministério da Educação e Ciência (MEC), para mais com o Estado a necessitar, cada vez mais, de profunda dieta de emagrecimento não se percebe tanta timidez, tantos recuos, tanta cedência aos caprichos de meia dúzia de alucinados líderes de organizações habituadas a colocarem interesses partidários à frente dos interesses da Escola Pública e do país.
Deixo algumas perguntas que, espero, motivem alguma reflexão.
Porque é que um dos países mais pobres da União Europeia insiste em ter uma das escolaridades obrigatórias mais longas?
Porque é que um dos países da União Europeia com maiores taxas de insucesso avança tão timidamente com o Ensino Vocacional e tarda uma profunda reforma dos currículos e ofertas do Ensino Profissional?
Porque é que um dos países com mais licenciados e mestres em Ensino, no desemprego, permite que instituições de ensino superior de qualidade medíocre continuem a abrir, anualmente, inúmeras vagas? Quanto tempo mais demorará o MEC a perceber que tem de impor uma nota mínima (decente) de acesso a estes cursos e uma limitação significativa da oferta, restringindo-a, preferencialmente, a instituições credíveis?
Quando se perceberá, em Portugal, que só os melhores alunos do Ensino Secundário podem ser professores e não os que entram para esses cursos superiores por não terem média académica para outros ou porque as instituições para onde entram lhes oferecem notas de conclusão que noutras instituições só seriam possíveis atribuir a candidatos capazes de usar simultaneamente dois ou mais neurónios?
Quanto tempo mais esperará o MEC para deixar claro que quaisquer provas de âmbito nacional, independentemente da sua designação e dos seus destinatários, corresponde a uma necessidade social impreterível, pelo que, não poderá ser boicotada (como se está a tornar frequente) pelo (legítimo) exercício do direito à greve, nem mesmo daqueles que por limitações cognitivas ainda não perceberam que já não estamos no PREC?
Apache, Janeiro de 2014