terça-feira, 23 de outubro de 2007

Dimmock, versus Al Gore…

Ainda sobre o diferendo que opôs num tribunal inglês, o Encarregado de Educação, Stuart Dimmock, à antiga Secretaria de Estado da Educação (actual, Secretaria de Estado para as Crianças, Escolas e Famílias), a propósito da exibição, obrigatória nas escolas, do documentário de Al Gore, “Uma Verdade Inconveniente”, achei que seria interessante apresentar aqui a opinião do Juiz, não porque este apresente algo de cientificamente novo, no debate sobre a alegada antropogenia do “Aquecimento Global”, mas antes, porque tratando-se de um leigo no assunto, acabou por ouvir especialistas na matéria e formar a sua opinião pessoal, desapaixonada e descomprometida com quaisquer dos lados em conflito.
Recordo que Dimmmock, pai de dois adolescentes, pedia que o filme fosse banido das escolas por ser inadequado à faixa etária e conter várias incorrecções científicas, concluindo que o DVD promove uma autêntica “lavagem cerebral” (palavras do próprio) aos jovens alunos.
Apesar de se decidir pela não proibição da exibição do documentário, o Juiz, Justice Burton, do “High Court of Justice” de Londres, considerou provada a existência, no filme, de nove erros (mais dois que incluiu nestes nove), dos 18 que eram apontados pela acusação.
Erro nº 11: O nível do mar vai subir 7 metros devido à fusão do gelo da Gronelândia, ou da Antárctida Ocidental.
Na cena 21 (das 32 em que se divide o filme), Al Gore afirma: “Se o gelo da Gronelândia fundir, ou se metade do gelo da Antárctida Ocidental fundir, é isto que pode acontecer ao nível do mar na Florida. Isto é o que pode acontecer na Baía de São Francisco… Muita gente vive nestas áreas. Na Holanda, países baixos, devastação absoluta. A área à volta de Pequim é o lar de dezenas de milhões de pessoas. Pior ainda, em redor de Xangai há 40 milhões de pessoas. Ainda pior, Calcutá e o leste do Bangladeche, é uma área que alberga 50 milhões de pessoas. Pensem no impacto que causam centenas ou milhares de refugiados e agora imaginem o impacto de 100 milhões, ou mais. Aqui é Manhattan. Este é o local do memorial ao World Trade Centre. Depois dos terríveis acontecimentos do 11 de Setembro, nós dissemos – nunca mais. É isto que pode acontecer a Manhattan…”
A opinião do juiz…
“A chamada de atenção do Sr. Gore é particularmente alarmista. É do senso comum, que certamente, se o gelo da Gronelândia derretesse, libertaria esta quantidade de água. Mas para isto acontecer, são precisos mil anos, portanto, este cenário apocalíptico que ele prevê, sugerindo uma subida do nível do mar em 7 metros, num futuro próximo, não está em linha com o consenso científico.”
A minha opinião…
Esta cena é profundamente ridícula. Pode-se calcular o volume de água contido em todo o gelo da Gronelândia, como em qualquer outra calote, mas para que todo esse gelo derreta, tem de haver um aquecimento de vários graus na temperatura média daquela zona, e tal nunca aconteceria devido às nossas reduzidas (em comparação com as naturais) emissões de gases com efeito de estufa. Ainda que todo o gelo da Gronelândia derretesse, parte dessa água evaporaria para a atmosfera e cairia um pouco por todo o planeta, irrigando zonas actualmente muito secas, até as saturar, só uma parte iria para o mar. Devido à maior temperatura ambiente, mais água do mar se evaporava. Portanto, é especulativo estimar a subida do nível do mar com o derretimento do gelo terrestre, e o gelo marítimo não faz variar o nível dos oceanos. Além disso, este cenário apocalíptico pressupunha que o Homem assistia impávido e sereno a alterações climáticas que durariam centenas ou milhares de anos, sem erguer diques de protecção das zonas baixas. Acresce o facto de tanto a Gronelândia, como a Antárctida estarem (na generalidade) a arrefecer, e isto constitui facto científico, não teoria. Aliás, este era outro dos erros apontados pelo Sr. Dimmock e que o juiz considerou estar relacionado com o erro nº 11.
Erro nº 12: Os atóis do pacífico, situados quase ao nível do mar estão a ser inundados, devido ao aquecimento global antropogénico.
Na cena 20, o Sr. Gore afirma: “Esta é a razão pela qual os cidadãos destas nações do Pacífico tiveram de ser todos evacuados para a Nova Zelândia.”
A opinião do juiz… “Não há nenhuma prova que uma evacuação deste tipo tenha alguma vez acontecido.”
A minha opinião…
Uma mentira pura e dura fica sempre “bem” em qualquer campanha política. Al Gore, no seu melhor.
Erro nº 18: O desligar do “convector oceânico”.
Na cena 17, ele diz: “O principal problema, aquele que mais preocupa, e ao qual mais tempo se têm dedicado os estudos, é o do Atlântico Norte, onde a Corrente do Golfo sobe e encontra os ventos frios do Árctico, junto da Gronelândia, evaporando o calor que a corrente transporta, sendo este vapor espalhado pela Europa Ocidental, pelos ventos e pela rotação da Terra… Chamamos-lhe o convector oceânico… No final da idade do gelo, esta bomba de calor foi cortada e a Europa mergulhou numa nova idade do gelo, por mais 900 ou mil anos. Claro que isto não vai voltar a acontecer, porque os glaciares da América do Norte não estão lá. Será que ainda há um grande pedaço de gelo, lá perto? Hum… Sim… [apontando para a Gronelândia]”
A opinião do juiz…
“De acordo com o IPCC é muito improvável que o “conversor oceânico” ou a circulação termohalina meridional sejam interrompidas, embora se possa admitir uma maior lentidão desta última.”
A minha opinião…
O cenário é tão catastrófico que até deu para fazer piadinhas.
De facto, se a Corrente do Golfo fosse interrompida, o Norte da Europa arrefeceria significativamente e correríamos o risco de entrar numa era glaciar. Mas porque motivo seria interrompida a Corrente do Golfo? Só aconteceria se as águas do Norte da Europa fossem tão quentes como as do equador. Ou as do equador, tão frias como as do Norte da Europa, mas esta segunda hipótese está afastada pela admissão da ideia de aquecimento global. E a primeira hipótese causaria ainda mais aquecimento, porque transferiria ainda mais calor das águas para o ar, mesmo sem corrente. Como Al Gore disse, e neste caso, bem, a interrupção da Corrente do Golfo ocorreu no fim de uma era glaciar, prolongando-a ainda mais. Nem os artistas do IPCC, organismo criado para propagandear os estudos e teorias que conduzam à ideia de antropogenia do “aquecimento global”, ignorando os estudos e factos contrários, conseguiu incluir esta ideia “peregrina” no seu cardápio. (continua…)
Apache, Outubro de 2007

3 comentários:

xavier ieri disse...

Olá Apache,
Obrigado pelo comentário lá na minha baiuca.
Quanto à posta:
Independentemente das teorias, a verdade é que prefiro um certo alarmismo que induza uma certa mudança do que continuar num paradigma económico assente no petróleo como fonte energética.
Verdade ou menos verdade, a verdade é que são estas manifestações, empoladas por vezes, que induzem a mudança para paradigmas energéticos "limpos".
O que sempre é melhor do que respirar o ar que se respira em qualquer capital do mundo e não só...

redonda disse...

Gosto de como desmontas os seus argumentos e de através do que escreves ver as coisas de outra forma.

Apache disse...

Há quanto tempo não o lia, por cá, Xavier… E para variar, vou ter de concordar (apenas) parcialmente consigo. Sim, é importante lançar a discussão do paradigma energético, não faz sentido, que com tanto desenvolvimento científico continuemos reféns dos combustíveis fósseis. Será que estamos mesmo reféns?
Mas, será que os fins (aparentemente nobres) justificam tantas mentiras?
Energias mais limpas… Sabe que a utilização de “bio-combustíveis” polui mais que a utilização dos derivados do petróleo? Se os nossos governantes querem menos poluição, porque não reduzem os impostos, por exemplo, sobre os automóveis eléctricos? Estou convencido que esta questão da poluição é como a da distribuição da riqueza, os ventos sopram sempre numa só direcção. Sabe que a poluição do ar, nos Estados Unidos, diminuiu 54% desde 1970?
Poluir menos é uma excelente ideia, o que é mau é matar à fome mais alguns milhões de pessoas, para “os do costume” arrecadarem mais alguns milhões de notas verdes.

Olá Redonda… simpática como sempre :)
Beijinho