[Beirute, Capital do Líbano, início da manhã, 5 de Agosto de 2006... ]
"Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça,
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tantos sonhos à flor das águas
e os rios não me sossegam,
levam sonhos, deixam mágoas.
Levam sonhos, deixam mágoas,
ai rios do meu país...
minha pátria à flor das águas,
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas,
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas,
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa,
porque vai de olhos no chão?
Silêncio... é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos,
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos,
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada,
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz, do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar,
como quem ama a viagem,
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas),
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada,
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada,
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo,
se notícias vou pedindo.
Nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo,
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles para quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça,
há sempre alguém que semeia,
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste,
em tempo de servidão,
há sempre alguém que resiste,
há sempre alguém que diz não!"
Trova do vento que passa - Manuel Alegre
3 comentários:
Pergunto à gente que passa,
porque vai de olhos no chão?
Silêncio... é tudo o que tem
quem vive na servidão.
olá
espero que esteja tudo bem :o)
andamos a destruir o nosso mundo todos sabem mas mesmo assim ninguem liga.
beijinho
Seja bem regressada, "munina" Carlinha.
Faça-me o favor de ter umas boas férias!
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