sexta-feira, 4 de maio de 2007

Estamos todos condenados ao Doutoramento...

No "Diário de Notícias" de ontem lia-se:
«Há dois anos, poucos poderiam supor, a começar por ela própria, que Nazaré da Cunha, 58 anos, administrativa da Câmara Municipal de Lisboa, com habilitação equivalente ao antigo ciclo preparatório, estaria hoje a frequentar o ensino superior. Mas é verdade. Por um conjunto de coincidências, e também pelo destino que - apesar de difícil - sempre a conduziu pelos caminhos da aprendizagem e do gosto pelo saber. Uma das coincidências no percurso de Nazaré tem um nome e chama-se "Novas Oportunidades", a iniciativa do Ministério do Trabalho que permite reconhecer, validar e certificar as competências adquiridas pela experiência e complementá-las com formação adicional até à obtenção do 9.º e do 12.º ano de escolaridade. Nascida numa aldeia beirã e no seio de uma família humilde, Nazaré interrompeu os estudos na 4.º classe, para ir trabalhar e ajudar a criar as irmãs. Muitos anos volvidos, 24 dos quais na CML, Nazaré viu cair-lhe no colo a oportunidade por que sempre esperou. "Foi uma feliz coincidência, porque se isto tivesse calhado noutra altura, com quatro filhos por criar, não sei." Em Maio de 2005 Nazaré fez a prova de selecção para o reconhecimento e validação de competências e em Novembro já tinha a equivalência ao 9.º ano. Mas esta funcionária, que escreve poesia, não ficou por aqui: inscreveu-se num curso de aprofundamento da língua portuguesa e em 2006, via exame ad hoc, ingressou na Universidade Lusófona, no curso de História. "Sinto uma paixão por aprender e, quando me licenciar, espero pedir uma reclassificação de funções e ir para uma biblioteca ou museu."»
Ou seja, em Maio de 2005 (há 2 anos, portanto), a Dona Nazaré tinha como habilitações literárias, o equivalente ao 6º ano. Seis meses depois (em Novembro de 2005) já tinha completado o 9º ano. No início do Verão de 2006 (de novo, passados 6 meses) completou o 12º ano. E em Setembro começou a frequentar a Universidade (Lusófona, obviamente). Isto sim, é "Simplex". Por esta altura já deve estar a dar entrada na Câmara Municipal de Lisboa, o Certificado de Habilitações que comprova a Licenciatura em História (e que história...) da Dona Nazaré da Cunha. Licenciatura?! Perdão, Mestrado, que a notícia já é de ontem!
Apache, Maio de 2007

6 comentários:

Anónimo disse...

Mesmo assim, ela farta-se de estudar/trabalhar a comparar com um outro que tal que passou por uma universidade só para tirar um papel a um domingo...


Bjs

Obrigada lá pelos parabêns ;-)

Rui Rebelo disse...

Em vez de se darem canudos sem conhecimento deveriam dar conhecimento sem canudos.

cris disse...

Deviam era dar com um canudo, tipo tronco de árvore em alguém que arma em esperto e quer passar por cima de quem estuda de verdade. Fazer-se valer de cartões de apresentação e faxes públicos na tá com nada.

Apache disse...

Pois é, Rui, também em termos académicos, a ostentação parece querer suplantar outros valores.

Infelizmente neste país a esperteza é uma competência muito privilegiada, contrariamente à inteligência e à educação.

"Mesmo assim, ela farta-se de estudar/trabalhar"
Não conheço a pessoa, admito que sim, Sulista, mas o esforço académico é nestes casos muito inferior ao de quem estudo pelo "percurso tradicional".
Beijinho.

redonda disse...

Gostei do comentário do Rui Rebelo em cima quanto a dever dar-se conhecimento sem canudos (embora até goste dos canudos :)e até tenha conseguido alguns nos meus últimos mini-cursos)

Apache disse...

"Gostei do comentário do Rui Rebelo". Eu também!
"E até tenha conseguido alguns"
Espero que sejam menos dúbios que os da moda.
;)