"Um conhecido aforismo de George Orwell resume a ambição subjacente à política das alterações climáticas: quem controla o passado, controla o futuro e quem controla o presente, controla o passado.
Os defensores da tese da actividade humana como a causa do aquecimento global controlam o presente da discussão política e pretendem controlar o futuro político da humanidade. O que não se sabia era até onde estavam dispostos a ir na tentativa de controlar o passado. Na última semana ficámos a saber, depois de ‘hackers' terem retirado cerca de 1000 e-mails e 3000 documentos das bases da Climate Research Unit (CRU) da universidade de East Anglia. O director do CRU coordena o HadCrut, uma unidade conjunta com o Hadley Centre for Climate Prediction and Research, que é uma das quarto fontes de dados do IPCC.
Os documentos extraídos do CRU mostram de forma transparente a existência de manipulações dos dados de temperatura, de forma a ocultar variações "inconvenientes" à tese do aquecimento global. Mostram também que há uma campanha deliberada de limitação do livre inquérito científico nesta matéria, através de ataques à reputação de cientistas com posições contrárias, do boicote à publicação de artigos e da viciação do processo de peer review. Em suma, o que transparece destes documentos é o desprezo de cientistas com um papel crucial no IPCC por princípios éticos básicos e pela honestidade intelectual, subordinando a investigação à obtenção de resultados que promovam uma causa política.
Só surpreende a ingenuidade, ou impunidade, com que estas manobras são discutidas por alguns dos intervenientes: o resto não. Nos últimos anos, pelo menos dois pedidos de cedência de dados ao abrigo da lei de liberdade de informação foram recusados pelo HadCrut, o último dos quais com a inusitada justificação que a divulgação dos dados podia "causar danos às relações internacionais". Pela primeira vez, registos de temperatura ascenderam à categoria de segredo de Estado. O CRU fez tudo para evitar a divulgação dos dados e chegou mesmo a declarar que parte das séries tinha sido "perdida". Agora compreendem-se melhor os motivos do pânico.
Num editorial invulgarmente desonesto, o Financial Times tenta limitar os estragos e atribui aos que exigem mais transparência na investigação delírios de uma "vasta conspiração". Não é -vasta. A peça central da política do aquecimento global é o relatório do IPCC de 2007, em particular o capítulo 9, apresentado como o "consenso de 2500 cientistas". Sucede que o capítulo crucial tem apenas 53 autores. Desses, 38% são ingleses e um quinto do total são cientistas do CRU. Dos artigos científicos aí citados, 70% têm como co-autores os 53 cientistas envolvidos: vasta conspiração ou uma rede social com grandes afinidades intelectuais e ideológicas?
O potencial de descrédito para a investigação científica é o resultado da tentativa de utilização do ambientalismo para concretizar uma velha obsessão progressista: a instauração de um governo mundial, assessorado por "peritos" capazes de controlar o futuro e prevenir todos os males. Na cabeça dos crentes, a grandeza do propósito justifica os meios. Orwell sabia do que falava."
Fernando Gabriel, Investigador Universitário, no "Diário Económico" de ontem
2 comentários:
Será a primeira vez nos Media portugueses que é referido o embuste?
Não, li (julgo que) no “Fiel Inimigo” que tanto o “Público” como o “Jornal de Negócios”, falaram vagamente sobre o escândalo mas não lhe deram importância. Acho que a posição dos patrões da comunicação social portuguesa é mais ou menos esta – Ok, provavelmente a temperatura do planeta não está a subir e se estiver o aumento cifrar-se-á numas irrelevantes décimas de grau, mas o que é importante é que todos continuemos a dizer que está e que a culpa é do nosso dióxido de carbono, e que estejamos dispostos a pagar por isso, para bem do planeta (que é como quem diz, para enriquecer ainda mais os gajos que me pagam) temos que fingir que somos todos muito estúpidos.
Ou seja, para esta gente, o importante não é se há ou não aquecimento global, se houver o que o causa e se isso é bom ou mau para o planeta. O importante é que se façam leis a decretar o dito aquecimento e a definir quanto é que temos de pagar por isso. É nesta tecla que vão continuar a bater.
Enviar um comentário