domingo, 24 de junho de 2007

A “história” do Aquecimento Global

Em meados dos anos 80, começa a falar-se frequentemente de poluição. Associada a ela surgem os fumos, nomeadamente: do tabaco, dos escapes dos automóveis e das grandes chaminés industriais. A poderosa indústria tabaqueira vê os seus lucros astronómicos ameaçados pelas evidências dos malefícios do tabaco e decide avançar com uma campanha de autodefesa. Associam-se a esta campanha algumas das empresas mais poluidoras dos Estados Unidos, tentando negar o óbvio, que alguns dos gases produzidos pela indústria, não podem ser atirados (de ânimo leve) para a atmosfera, pois contribuem para o aumento de doenças respiratórias e pulmonares. Como consequência desta propaganda, ridicularizam-se os ambientalistas e os críticos ao lançamento irresponsável de poluentes no meio ambiente. Quanto mais estudos clínicos demonstravam os malefícios de alguns gases (nomeadamente o tabaco) mais as industrias poluentes denegriam as instituições responsáveis pelos estudos, deixando na retaguarda da campanha terreno favorável ao avanço (em sentido contrário) da Teoria do Aquecimento Global Antropogénico e do ambientalismo fanático.
Dez anos depois, na sequência da assinatura do Protocolo de Quioto, no auge do movimento antiglobalização, aprofunda-se o debate das questões ambientais. O assunto começa a ter presença assídua nas agendas políticas e empresariais. Aos poucos, intensifica-se uma nova campanha, enfatizando previsões climáticas catastróficas, a longo prazo, fundadas em modelos computacionais que a observação foi demonstrando estarem profundamente errados. A adesão de políticos, empresários e ambientalistas a esta ideia, dá-lhe uma crescente “credibilidade”, passando o “assunto” a ser gerido de acordo com as modernas leis do mercado, impondo-se em simultâneo, regulamentações políticas rígidas, dirigidas essencialmente ao mais conhecido (e mais abundante) de todos os gases que o Homem lança para a atmosfera como consequência da sua actividade industrial, o dióxido de carbono. As pequeníssimas (e habituais) alterações ao estado do tempo, observadas, tornam-se uma “obsessão global”.
A primeira campanha, vai perdendo apoio junto da comunidade científica, encontrando-se moribunda no início da era Bush, mantendo no entanto influência no interior da Casa Branca. A segunda, actualmente em curso, gerou e difundiu o movimento radical responsável pela histeria vigente. O êxito obtido nos meios de comunicação despertou o eleitorado e obrigou mesmo alguns cientistas mais inflexíveis a cultivar hipocritamente uma imagem mais “verde”, em desespero pelos subsídios de que dependem para sobreviver. Entretanto, o que é mais grave para o cidadão, é que as duas campanhas opostas, conseguiram em conjunto, eliminar o espaço necessário ao surgir de uma campanha séria, baseada em factos científicos comprovados, onde fosse possível rejeitar as duas e desmascarar a corja de políticos e empresários corruptos que as sustentam em busca de lucros fáceis, a qualquer preço.
Pormenorizemos um pouco mais...
Há vinte anos, as empresas mais poderosas do mundo desencadearam a sua revolução “globalizante”, invocando os benefícios do comércio livre e, pondo de lado as questões ambientais, reduzindo o movimento ambientalista a acções de retaguarda. Estes porém, com apoios sólidos nos órgãos de comunicação social, conseguiram transformar fenómenos naturais habituais em acontecimentos apocalípticos, conseguindo manter na opinião pública o interesse pelas alegadas alterações climáticas. Em 1988, alguns cientistas e políticos instituíram um organismo da ONU, denominado Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), com o objectivo de tentarem provar a existência de alterações climáticas globais, antropogénicas, através da publicação de relatórios periódicos. Numa reunião em Toronto, trezentos cientistas e políticos de quarenta e oito países publicaram um pedido aos governos de redução das emissões de dióxido de carbono. No ano seguinte, cinquenta empresas ligadas às indústrias, petrolífera e automobilística formaram a (GCC), Coligação para a Mudança Global, com o apoio do gigante das relações públicas Burson-Marsteller. O seu objectivo era patrocinar estudos que desmentissem as afirmações dos "cientistas" do IPCC e evitar esforços políticos para reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa. O GCC doou milhões de dólares a uma campanha de alerta para o facto de diminuições significativas na queima de combustíveis fósseis provocar a médio prazo a ruína económica das nações.
Entretanto, na sequência de um levantamento indígena em Chiapas em Janeiro de 1994, marcado para o primeiro dia da implementação do Acordo de Comércio Livre Americano, o movimento antiglobalização irrompeu num protesto mundial contra o capitalismo de mercado e a destruição do ambiente. Cinco anos depois o movimento ganhara força e visibilidade, especialmente através de acções nas cimeiras do G8 e nas reuniões do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e da Organização Mundial do Comércio, atingindo o seu auge ao boicotar as reuniões desta em Seattle em Novembro de 1999.
No verão de 1997, decorriam as negociações de Quioto, quando o Senado americano aprovou unanimemente uma resolução exigindo que um tratado como esse inclua os países em vias de desenvolvimento, em especial a China, a Índia e o Brasil.
Mas o movimento anti-Quioto não granjeava adeptos suficientes para se tornar economicamente viável e a elite empresarial começou a repensar estratégias. As deserções do GCC começaram em 1997 e três anos depois incluíam a Dupont, a BP, a Shell, a Ford, a Daimler-Chrisley e a Texaco. Era o fim do GCC.
Os desertores reorganizaram-se rapidamente. Surgiu então o Centro Pew sobre Mudança Climática Global, fundado pela antiga Sun Oil, actual Sunoco. A administração do novo Centro coube a Theodore Roosevelt IV. Ícone dos conservadores americanos, porém tolerado pelos democratas, Roosevelt é director-geral do Banco de Investimentos Lehman Brothers. Com ele na administração estava o director da firma de investimentos Castle-Harlan e também o advogado empresarial Frank Loy, que fora um dos negociadores da administração Clinton em Quioto.
O Centro Pew conseguiu reunir logo no início, além da Sunoco, a Dupont, a Duke Energy, a BP, a Shell, a Ontario Power Generation, a Detroit Edison e a Alcan. Num rápida mudança de 180º, face ao anteriormente defendido por estas empresas, o conselho de administração do Centro Pew declarou: "Aceitamos as opiniões da maior parte dos cientistas de que se sabe o suficiente para atribuir ao Homem a responsabilidade nas alterações climáticas verificadas e vamos tomar medidas para enfrentar as suas consequências (...) o mundo dos negócios pode e deve dar passos concretos para avaliar e implementar oportunidades de negócio relativas à redução de emissões e investir em produtos e práticas mais eficazes no combate a estas alterações."
Ainda no início de 2000, os líderes económicos, reunidos no Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, fazem esta declaração ridícula: "A maior ameaça que o mundo enfrenta é a da alteração climática." Nesse Outono, as empresas do Centro Pew juntam-se à fabricante de alumínios, Pechiney, à Environmental Defense, ao Carlyle Group, à Berkshire Partners, à Morgan Stanley e à Carbon Investments para formarem a (PAC), Parceria para a Acção Climática, que tem como objectivo, "Defender, com base nas leis do mercado, mecanismos capazes de efectuar acções atempadas e credíveis na redução das emissões de gases com efeito de estufa eficazes e rentáveis".
Este potencial de lucro chamou a atenção dos banqueiros, alguns dos quais "actores" da PAC através das suas ligações ao conselho de administração do Centro Pew. A Goldman Sachs tornou-se líder do grupo, pois possuía centrais de energia através da sua associada Cogentrix e das ligações à BP e à Shell. No ano seguinte, o Banco de Investimentos adquiriu a Horizon Wind Energy, investiu em painéis fotovoltaicos em parceria com a Sun Edison, financiou a Northeast Biofuels, e comprou grande quantidade de acções da Iogen Corporation, empresa pioneira (a nível industrial) na obtenção de etanol através da palha do milho. Dizia a Goldman Sachs, "Estamos convencidos que a oportunidade que nasce das alterações climáticas e da sua regulamentação virá a ser muito significativa e irá conquistar uma atenção cada vez maior dos participantes no mercado de capitais."
Entre estes participantes encontrava-se o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, ambientalista "convicto" e representante americano (ao mais alto nível) em Quioto. Gore tem negócios antigos com a indústria da energia através de Armand Hammer, o dono da Occidental Petroleum. Em 2004, a Goldman Sachs avança a todo o vapor na criação do mercado "verde" e Gore junta-se aos executivos da empresa, David Blood, Peter Harris e Mark Ferguson, fundando uma empresa sedeada em Londres, a Generation Investment Management.
Na Primavera de 2005, Gore estava já a trabalhar no seu livro e começava os preparativos para o documentário com o mesmo nome, "Uma Verdade Inconveniente", tendo ambos chegado ao mercado no ano seguinte (debaixo de uma gigantesca campanha promocional), com êxito garantido, fruto dos dois Óscares atribuídos ao documentário pelos amigos convenientes de Hollywood.
No final do ano de 2006, diversas organizações são criadas pelo mundo fora e, para não perder protagonismo, o Centro Pew e a PAC criam a USCAP, à qual aderiram, além das empresas já pertencentes a estes grupos, a General Electric, a Alcoa, a Caterpillar, a Pacific Gas and Electricity, a Florida Power and Light e a Companhia Central de Serviços do Novo México e Texas (PNM), que pouco tempo antes se tinha juntado à Cascade Investments de Bill Gates. Já em 2007, aderem à USCAP, o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais e o Instituto de Recursos Mundiais a que pertence o Observatório Mundial das Florestas, todos com forte ligação a "lobbies" ecologistas e a ONG’s de financiamento duvidoso.
Recentemente, Al Gore funda nova empresa, a Aliança para a Protecção do Clima, em parceria com Theodore Roosevelt IV do Banco de Investimentos e do Centro Pew, o ex-conselheiro de segurança nacional Brent Scowcroft, Owen Kramer da Boston Provident, representantes da Environmental Defense, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, da Federação Nacional pelos Animais Selvagens e da Organização de Protecção Ambiental. Diz Gore, "a Aliança para Protecção do Clima está a efectuar um exercício de persuasão de massas sem precedentes" e eu acrescento, e a lucrar como nenhum charlatão anterior, havia conseguido.
Este texto é uma tradução e adaptação minha, de textos do historiador David Noble, professor da Universidade de York, no Canadá. Noble é um conceituado e polémico autor de livros de "Sociologia Organizacional" nos quais se destacam críticas vorazes ao capitalismo selvagem de exploração do homem pelo homem.
Apache, Junho de 2007

6 comentários:

Cleopatra disse...

Tenho de voltar a ler novamente.
PUXA!

cris disse...

O dinheiro e a avidezestragam sempre tudo. Por que raio é que o Homem se deixa corromper tão facilmente??? É irritante.

Boa segunda.


Gostei do que li. Clarificou ideias e alargou horizintes.

Apache disse...

A Cléo assustou-se com o tamanho do texto... Lol

Dizem que o poder corrompe, Cris, e o dinheiro e o poder andam sempre associados.

Cleopatra disse...

Não foi o tamanho do texto, foi a quantidade de conteúdo que tenho de analisar para concordar ou rebater.
Por aquela hora ainda estou impraticável.

cris disse...

Pois andam Apache, por isso somos tãooooooo honestos. ehehehehehe Prefiro assim. Boa quarta ou férias ou sei lá ahahahaha

Apache disse...

Eu também, Cris! É uma questão de educação.