quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Desta vez, a ciência perdeu

A vida é mesmo assim, feita de vitórias e derrotas e a História da Humanidade está pejada de avanços e de retrocessos, de períodos de luz e de épocas de trevas, não valendo a pena dramatizar excessivamente. De facto, à pouco mais de um mês atrás, tinha destacado em três publicações consecutivas e complementares, a decisão de um tribunal londrino considerar provada a existência de nove erros no DVD de Al Gore “Uma verdade inconveniente” e, uma vez que em Inglaterra é obrigatória a exibição do “documentário” a todos os adolescentes, entendeu o juiz que os professores, imediatamente antes ou logo após a exibição do dito, deverão alertar os alunos para o facto de este conter opiniões políticas contrárias ao conhecimento científico actual.
Esta é, do ponto de vista da ciência, apenas uma meia vitória, pois o documentário, poderia ser visualizado em qualquer lado, menos nas aulas de ciências, onde é suposto aprender-se ciências. E o único ensinamento que resulta da visualização do DVD é que tanto no passado como no presente, pessoas de elevada responsabilidade, muito têm contribuído para a criação de mitos que em nada contribuem para a evolução do conhecimento científico e para o progresso da humanidade.
Soube hoje, através de uma colega, que à poucos dias, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, decidiu por cinco votos contra quatro, considerar o dióxido de carbono, um gás poluente.
Sim, eu sei que é vulgar aparecer na comunicação social idêntica classificação, até já se chegou ao cúmulo de o considerar tóxico, mas obviamente, ninguém espera que a maioria dos jornalistas, seja, em matéria de ciência, pouco mais que analfabeta, de facto, ninguém é mestre em todas as artes e a sua formação académica é, na generalidade dos casos, na área das letras.
Sim, eu sei, e neste caso é gravíssimo que assim seja, que muitos autores de manuais escolares (alguns deles, professores universitários) escrevem semelhante aberração nos mesmos. Conheço alguns manuais de 10º ano, da disciplina de Física e Química A e (pelo menos) um da disciplina de Química do 12º ano, onde o dióxido de carbono é considerado poluente. Neste último manual, chega-se mesmo ao ridículo de escrever que o vapor de água não tem efeito de estufa, ele que é o responsável por mais de 90% desse efeito, na atmosfera terrestre.
Sim, eu sei que não podemos criticar os tribunais sempre que as decisões são contrárias à nossa opinião e considerar que não têm competência para tal decisão, mas mostrarmo-nos agradados quando as decisões vão mais de encontro ao que pessoalmente defendemos.
Mas, acontece que, apesar de ambas as decisões (do tribunal inglês e do norte-americano) versarem assuntos científicos, o primeiro caso, parece-me de facto, susceptível de decisão judicial, enquanto o segundo, não.
No primeiro caso (tribunal inglês), discutia-se se era ou não legítimo o governo britânico obrigar os professores a exibir, em contexto de sala de aula de ciências, um filme que difunde uma ideia nada consensual na sociedade e totalmente rejeitada por inúmeros cientistas, ainda que aceite por alguns outros (sabe Deus com que contrapartidas) .
Entendeu o juiz, que tal obrigatoriedade de exibição é legítima, em nome da liberdade de expressão e da competência do governo na definição das políticas educativas (decisão com a qual não concordo, por causa da obrigatoriedade imposta). Entendeu também que devem, no entanto, ser destacados pelos professores, vários erros, facilmente perceptíveis (mesmo para o juiz) que atropelam a “verdade” científica, em nome do rigor que a esta se associa.
No segundo caso (tribunal norte-americano), entendeu o Supremo ser competente para decidir uma matéria estritamente científica, de incluir ou não, o dióxido de carbono na lista das substâncias poluentes. Tal decisão (certa ou errada) só podia, a meu ver, ser tomada por um organismo composto apenas por pessoas com elevada formação académica na área científica. Apetece-me perguntar, porque não se pronuncia o Supremo americano, pela decisão tomada em Agosto de 2006, pela União Astronómica Internacional, de "despromover" Plutão da categoria de planeta, logo o único que havia sido descoberto por um astrónomo americano?
Ao tomar conhecimento da cómica decisão judicial, lembrei-me do (este, tristemente) célebre episódio "medieval", de 1616, em que Galileu enfrenta a decisão do Tribunal do Santo Ofício, de considerar herético o Modelo Heliocêntrico do Sistema Solar, do padre Copérnico, que Galileu tanto se esforçou por demonstrar, e que, ao que parece, tê-lo-ia levado ao churrasco, não fora a sua amizade pessoal com um destacado cardeal romano, pouco depois eleito papa, Urbano VIII.
Em pleno século XXI, alguns políticos parecem continuar a querer guardar para uma elite dirigente restrita (e acéfala), o conhecimento científico e tecnológico que muito poderia contribuir para o progresso e para a redução das tremendas desigualdades sociais que o mundo, cada vez mais enfrenta. Pelo contrário, empenham-se pessoalmente e esbanjam fortunas na criação de mitos idiotas, para que alguns continuem a recolher fortunas colossais à custa da miséria de milhões.
Apache, Novembro de 2007

5 comentários:

Anónimo disse...

Impressionante...como de costume...

Qt ao teu ultimo paragrafo, isso é mesmo assim. No dia em que os politicos deixem de fazer isso, dá-se a revolução cultural...social....económica...etc, etc...e isso é o que eles não querem. Topas? ;-)

Bjs
A Sulista

GREVE DIA 30NOV!!!!!!!!!

Diogo disse...

O «aquecimento global antropogénico pretende ser a grande negociata de século XXI. Fala-se que, para «combatê-lo», é necessário investimentos que representam percentagens consideráveis dos PIBs dos países mais ricos.

redonda disse...

Não sabia da 2ª decisão. Estou totalmente de acordo com o que escreveste.

gata disse...

ou seja....nada de novo....mais do mesmo revisto e revisitado. E o teu interesse e indignação...que nos fazem parar para te ler, pensar e talvez, talvez apenas quem sabe...reagir.

Um beijo.
Bom fim-de-semana Índio.

Apache disse...

Tens razão Sulista.
Houve greve, sim.

Olá Diogo. O “Aquecimento Global” perfilha-se de facto, como candidata a grande negociata, mas também a um dos maiores embustes científicos de sempre, talvez o maior dos últimos 40 anos.

Duas vozes, ouvem-se melhor que uma, Redonda.
Beijinho.

Gostei deste, “talvez apenas quem sabe...reagir”, Gata.
Beijo.