Amiúde, baseadas em determinado facto, outras vezes sustentadas em meras previsões (muitas destas, derivadas de modelos matemáticos sem qualquer ligação ao mundo real), há cada vez mais estatísticas para todos os gostos, principalmente, quando do “universo” em análise se selecciona cuidadosamente a “amostra” que dá jeito às conclusões previamente encomendadas.
Atente-se nesta notícia do “Exame Expresso” publicada online ontem:
“No total, segundo os números avançados pelo Ministério das Finanças e Administração Pública, foram avaliados mais de 300 mil funcionários dos cerca de 345 mil que trabalham na administração central” [referem-se ao ano de 2008].
O que será que se entende por “administração central”?
De acordo com a Base de Dados da Administração Pública (BDAP), do dito ministério, divulgada em Setembro de 2006, o número de funcionários públicos, em Portugal, é o seguinte:
Administração Directa do Estado: 363 287;
Administração Indirecta do Estado: 199 287;
Administração Autárquica: 130 650;
Região Autónoma da Madeira: 19 956;
Região Autónoma dos Açores: 18 784;
Órgãos de Soberania: 13 436.
Ora, a notícia refere que desta estatística foram excluídas [por os respectivos funcionários não terem sido avaliados nesse ano] “as autarquias e os governos regionais”, e mais não diz. Excluindo, portanto, estes, os restantes funcionários são mais de 576 mil (e esta base de dados não está completa porque os valores são de Setembro de 2006 mas o prazo para a introdução de dados, na mesma, só terminou a 15 de Janeiro de 2007). Insisto na pergunta, a quais destes mais de 576 mil funcionários é que o Senhor Secretário de Estado da Administração Pública, Gonçalo Castilho dos Santos, estará a chamar “administração central"?
Mais adiante lê-se:
“Justiça, Finanças e Ambiente foram alguns dos ministérios mais bem comportados com taxas de avaliação acima dos 90%. Pelo contrário, Saúde ou Educação estiveram entre os piores desempenhos, ainda que acima dos 80%.”
O Ministério da Educação (ME) avaliou, em 2008, 80% dos funcionários?
Recorro de novo à BDAP para constatar que o ME tem 175 119 funcionários (valor apurado por defeito, pela razão supra mencionada) e que destes (de acordo com a mesma fonte) 138 548 são docentes. Segundo dados (provavelmente inflacionados) divulgados pelo ME, a 30 de Setembro de 2008, nesse ano, foram avaliados cerca de 12 mil professores. Admitindo que foram avaliados todos os funcionários não docentes, isto corresponde a 48 571 avaliações, ou seja, 27,74% dos funcionários.
Note-se que não estou a chamar mentiroso, ao Senhor Secretário de Estado, uma vez que pode haver outra justificação para a gritante incorrecção dos dados que apresentou, pode, o Excelentíssimo Senhor, não fazer a mínima ideia de como se calcula uma percentagem.
Apache, Julho de 2009
1 comentário:
Mentiroso? Com certeza!
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