"Em 2000, a preocupação com a estagnação económica do continente levou a UE a elaborar um amplo sortido de políticas destinadas a transformar a Europa na "mais competitiva e dinâmica economia avançada do mundo". Ao conjunto de políticas chamou-se Estratégia de Lisboa e 2010 foi o ano previsto para a consagração plena dos seus objectivos.
Ora bem, eis 2010 e dificilmente se pode dizer que o plano tenha sido um sucesso, pelo que seria de esperar dos senhores da UE um pedido de desculpas, uma retractação, um comunicado a reconhecer que, de facto, não sabem a quantas andam e vão procurar um ofício menos desadequado às suas capacidades do que a imitação suave de Estaline e a reforma dos povos por decreto.
Em vez disso, porém, a título comemorativo a UE oferece-nos, adivinhem (rufar de tambores)... Acertaram em cheio: um novo plano ambicioso que irá "assegurar a saída da crise e preparar a economia da UE para a próxima década"! Ou seja, mais decretos, mais reformas, mais estalinismo doce, tudo embrulhado sob o delicado nome Estratégia Europa 2020.
E como se processará essa maravilha? Nas palavras do presidente da Comissão, combatendo "de forma decisiva os nossos pontos fracos" e apostando "nos nossos pontos fortes". Até agora, pelos vistos, fez-se ao contrário. Mas o dr. Durão Barroso vai ao pormenor: "Temos de construir um novo modelo económico baseado no conhecimento, numa economia hipocarbónica [lindíssima expressão] e numa elevada taxa de emprego." Dito de diferente e igualmente bela maneira, a Estratégia Europa 2020 terá "três áreas prioritárias interdependentes": o crescimento "inteligente", o crescimento "sustentável" e o crescimento "inclusivo", por oposição aos crescimentos imbecil, intolerável e restrito que falharam rotundamente.
Será possível suplantar tamanho caldo de dirigismo e conversa fiada? Acredito que sim. Daqui a dez anos, a constatação do fracasso da Estratégia 2020 produzirá sem dúvida outro infalível plano decenal, a não ser que entretanto a distância da realidade aos delírios de Bruxelas se alargue a ponto de, em 2020, não existir Europa de todo. Só estratégia, que é o que normalmente sobra sempre que as pessoas são desprezadas em favor do gozo de mandar nelas."
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada sexta-feira
1 comentário:
A lindíssima expressão de Durão Barroso: economia hipocarbónica, fez-me pensar se não seria possível desagregar o distinto político nas suas moléculas constituintes.
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