Contada em Setembro de 2005 [aquando da (última) candidatura
de Mário Soares a Belém] na revista “Grande Reportagem”, pelo jornalista Joaquim
Vieira, a história é velha tal qual os seus protagonistas, mas permanece teimosamente
actual.
“Além da brigada do reumático que é agora a sua comissão,
outra faceta distingue esta candidatura de Mário Soares a Belém das anteriores:
após a edição de Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido, do seu ex-companheiro
de partido Rui Mateus, o livro, que noutra democracia europeia daria escândalo
e inquérito judicial, veio a público nos últimos meses do segundo mandato
presidencial de Soares e foi ignorado pelos poderes da República.
Em síntese, que diz Mateus?
Que, após ganhar as primeiras presidenciais, em 1986, Soares
fundou com alguns amigos políticos um grupo empresarial destinado a usar os
fundos financeiros remanescentes da campanha.
Que a esse grupo competia canalizar apoios monetários antes
dirigidos ao PS, tanto mais que Soares detestava quem lhe sucedeu no partido,
Vítor Constâncio (um anti-soarista), e procurava uma dócil alternativa a essa
liderança.
Que um dos objectivos da recolha de dinheiros era financiar
a reeleição de Soares.
Que, não podendo presidir ao grupo por razões óbvias, Soares
colocou os amigos como testas-de-ferro, embora reunisse amiúde com eles para
orientar a estratégia das empresas, tanto em Belém como nas suas residências
particulares.
Que, no exercício do seu «magistério de influência»
(palavras suas, noutro contexto), convocou alguns magnatas internacionais –
Rupert Murdoch, Silvio Berlusconi, Robert Maxwell e Stanley Ho – para o
visitarem na Presidência da República e se associarem ao grupo, a troco de
avultadas quantias que pagariam para facilitação dos seus investimentos em
Portugal.
Note-se que o «Presidente de todos os portugueses» não
convidou os empresários a investir na economia nacional, mas apenas no seu
grupo, apesar de os contribuintes suportarem despesas de estada.
Que moral tem um país para criticar Avelino Ferreira Torres,
Isaltino Morais, Valentim Loureiro ou Fátima Felgueiras, se acha normal uma
candidatura presidencial manchada por estas revelações?
E que foi feito dos negócios do Presidente Soares?"
(continua…)
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