“A rede de negócios que Soares dirigiu enquanto
Presidente, foi sedeada na empresa Emaudio, agrupando um núcleo de próximos
seus, dos quais António Almeida Santos, eterna ponte entre política e vida
económica, Carlos Melancia, seu ex-ministro, e o próprio filho, João Soares.
A figura central era Rui Mateus, que detinha 60 mil
acções da Fundação de Relações Internacionais (subtraída por Soares à
influência do PS após abandonar a sua liderança), as quais eram do Presidente
mas que fizera do outro depositário na sua permanência em Belém – relata Mateus
em Contos Proibidos.
Soares controlaria assim a Emaudio pelo seu
principal testa-de-ferro no grupo empresarial. Diz Mateus que o Presidente
queria investir nos ‘media’: daí o convite inicial para Silvio Berlusconi (o
grande senhor da TV italiana, mas ainda longe de conquistar o Governo) visitar
Belém. Acordou-se a sua entrada com 40% numa empresa em que o grupo de Soares
reteria o resto, mas tudo se gorou por divergências no investimento.
Soares tentou então a sorte com Rupert Murdoch, que
chegou a Lisboa munido de um memorando interno sobre a sua associação a «amigos
íntimos e apoiantes do Presidente Soares», com vista a «garantir o controlo de
interesses nos media favoráveis ao Presidente Soares e, assumimos, apoiar a sua
reeleição».
Interpôs-se porém, outro magnata, Robert Maxwell,
arqui-rival de Murdoch, que invocou em Belém credenciais socialistas. Soares
daria ordem para se fazer o negócio com este. O empresário inglês passou a
enviar à Emaudio 30 mil euros mensais.
Apesar de os projectos tardarem, a equipa de Soares
garantira o seu «mensalão».
Só há quatro anos foi criminalizado o tráfico de
influências em Portugal, com a adesão à Convenção Penal Europeia contra a
Corrupção.
Mas a ética política é um valor permanente e as suas
violações não prescrevem. Daí a actualidade destes factos, com a recandidatura
de Soares.
O então Presidente ficaria aliás nervoso com a
entrada em cena das autoridades judiciais.”
(continua…)
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