Poema escrito em 1968 por José Carlos Ary dos Santos, com o título “desfolhada portuguesa”, foi em 1969 renomeado para “desfolhada”. Nesse ano, com música de Nuno Nazareth Fernandes e orquestração de Joaquim Luís Gomes vence o Festival da Canção, interpretado pela voz colossal da Simone de Oliveira.
“Corpo de linho
lábios de mosto
meu corpo lindo
meu fogo posto.
Eira de milho
luar de Agosto,
quem faz um filho
fá-lo por gosto.
É milho-rei
milho vermelho,
cravo de carne
bago de amor.
Filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal, de madrugada
amor, amor, amor, amor, amor presente
em cada espiga desfolhada.
Minha raiz de pinho verde
meu céu azul tocando a serra.
Oh minha água e minha sede,
oh mar ao sul da minha terra.
É trigo loiro
é além Tejo,
o meu país
neste momento.
O sol o queima
o vento o beija,
seara louca em movimento.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal, de madrugada
amor, amor, amor, amor, amor presente
em cada espiga desfolhada.
Olhos de amêndoa
cisterna escura
onde se alpendra
a desventura.
Moira escondida
moira encantada
lenda perdida
lenda encontrada.
Oh minha terra,
minha aventura.
Casca de noz
desamparada.
Oh minha terra,
minha lonjura,
por mim perdida,
por mim achada.”
Apache, Fevereiro de 2010