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domingo, 5 de janeiro de 2014

“Aqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando” (2)


Dia triste, este em que partiram dois dos mais destacados exemplos de mérito profissional, do século XX: Eusébio da Silva Ferreira (Lourenço Marques, 25 de Janeiro de 1942 – Lisboa, 5 de Janeiro de 2014) o “Pantera Negra” e Nelson Ned d´Avila Pinto (Ubá, 2 de Março de 1947 – Cotia, 5 de Janeiro de 2014) o “Pequeno Gigante da Canção”.
Apache, Janeiro de 2014

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Wind of Change" - Scorpions

Ao vivo, com a Orquestra Filarmónica de Berlim.

Apache, Novembro de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

“I love you música portuguesa”

«Temo não saber inglês suficiente para compreender a música portuguesa. Não quero parecer velho, mas ainda sou do tempo em que a música portuguesa era cantada em português. Lembro-me bem dessa altura em que um aspirante a cantor conseguia pegar numa guitarra sem começar a verter as suas canções para uma língua que os turistas entendessem. Era estranho, claro. Gente portuguesa a exprimir-se em português sempre me fez confusão. Trata-se de um idioma bastante limitado, que restringe as possibilidades de expressão dos seus falantes, e portanto não admira que haja quem se veja forçado a recorrer à língua inglesa quando se trata de transmitir pensamentos realmente sofisticados, tais como "I love you, baby", "Please forgive me, baby", "Don't break my heart, baby" ou "Yeah, baby, you are my baby". Não posso, no entanto, deixar de notar que ainda há um longo caminho para percorrer. Neste momento, os artistas portugueses que cantam em inglês ainda estão condenados a dar entrevistas em português. Como é evidente, fazem falta jornais portugueses escritos em língua inglesa - ou, pelo menos, jornais portugueses que, embora fazendo perguntas em português (se querem mesmo insistir nesse capricho), permitam que as respostas possam ser dadas em inglês. Caso contrário, prosseguirá esta violência desumana que consiste em forçar cidadãos a exprimirem-se na sua própria língua. Creio que há um ou dois artigos na Declaração Universal dos Direitos Humanos que censuram essa prática. Felizmente, nem tudo joga contra os músicos portugueses que cantam em inglês. Por coincidência, a língua na qual eles se sentem mais à vontade é falada internacionalmente. Isso pode evitar-lhes embaraços parecidos com os que sempre afligiram os músicos portugueses com mais projecção lá fora. Todos nos lembramos dos concertos da Amália, sistematicamente interrompidos por espectadores que diziam: "Amália, what are you doing? Please sing in english! We don't understand you!" Para não falar do caso dos Madredeus, obrigados a tornar as suas letras mais acessíveis ao público estrangeiro ("À porta, I love you baby, daquela igreja, I miss you baby, vai um grande corrupio"). O meu único receio é que este desamor à língua portuguesa, e a ideia de que ela pode prejudicar o nosso ofício, tenham deflagrado no mundo da música e se propaguem a outras profissões. Que, por exemplo, um número considerável de canalizadores decida passar a consertar torneiras em inglês, para facilitar uma eventual carreira internacional, ou apenas porque tem mais estilo. "Let me unclog your toilet baby!" Enfim, não é o tipo de conversa que gostaria de ter com um canalizador. Embora reconheça que a frase talvez desse uma excelente música portuguesa.»
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” da passada quinta-feira

sábado, 13 de março de 2010

“Send me an Angel” - Scorpions

Ao nonagésimo oitavo disco editado, anunciaram (no passado mês de Janeiro) o fim da carreira. A tournée que se inicia na próxima segunda-feira em Praga (e que ao que parece terminará apenas no próximo ano) será, de acordo com o ‘site’ oficial, a última da banda que há 45 anos nasceu em Hanôver. O vídeo que se segue apresenta uma das músicas de um dos mais memoráveis espectáculos que proporcionaram. Estávamos a 6 de Setembro de 2003 e durante toda a noite, os Scorpions tocaram para mais de meio milhão de fãs, na Praça Vermelha em Moscovo, ao lado da Orquestra Filarmónica da Federação Russa.

Apache, Março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"Desfolhada" – Simone de Oliveira

Poema escrito em 1968 por José Carlos Ary dos Santos, com o título “desfolhada portuguesa”, foi em 1969 renomeado para “desfolhada”. Nesse ano, com música de Nuno Nazareth Fernandes e orquestração de Joaquim Luís Gomes vence o Festival da Canção, interpretado pela voz colossal da Simone de Oliveira.

“Corpo de linho lábios de mosto meu corpo lindo meu fogo posto. Eira de milho luar de Agosto, quem faz um filho fá-lo por gosto. É milho-rei milho vermelho, cravo de carne bago de amor. Filho de um rei que sendo velho volta a nascer quando há calor. Minha palavra dita à luz do sol nascente meu madrigal, de madrugada amor, amor, amor, amor, amor presente em cada espiga desfolhada. Minha raiz de pinho verde meu céu azul tocando a serra. Oh minha água e minha sede, oh mar ao sul da minha terra. É trigo loiro é além Tejo, o meu país neste momento. O sol o queima o vento o beija, seara louca em movimento. Minha palavra dita à luz do sol nascente meu madrigal, de madrugada amor, amor, amor, amor, amor presente em cada espiga desfolhada. Olhos de amêndoa cisterna escura onde se alpendra a desventura. Moira escondida moira encantada lenda perdida lenda encontrada. Oh minha terra, minha aventura. Casca de noz desamparada. Oh minha terra, minha lonjura, por mim perdida, por mim achada.”
Apache, Fevereiro de 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"No teu poema" - Mafalda Arnauth

De novo a voz de Mafalda Arnauth, desta vez num poema de José Luís Tinoco.

"No teu poema Existe um verso em branco e sem medida Um corpo que respira, um céu aberto Janela debruçada para a vida. No teu poema Existe a dor calada lá no fundo O passo da coragem em casa escura E aberta, uma varanda para o Mundo. Existe a noite O riso e a voz refeita à luz do dia A festa da Senhora da Agonia E o cansaço do corpo que adormece em cama fria. Existe um rio A sina de quem nasce fraco ou forte O risco, a raiva, a luta de quem cai ou que resiste Que vence ou adormece antes da morte. No teu poema Existe o grito e o eco da metralha A dor que sei de cor mas não recito E os sonos inquietos de quem falha. No teu poema Existe um cantochão alentejano A rua e o pregão de uma varina E um barco assoprado a todo o pano. Existe a noite O canto em vozes juntas, vozes certas Canção de uma só letra e um só destino a embarcar No cais da nova nau das descobertas. Existe um rio A sina de quem nasce fraco, ou forte O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste Que vence ou adormece antes da morte." No teu poema Existe a esperança acesa atrás do muro Existe tudo mais que ainda me escapa E um verso em branco à espera... do futuro…

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

"Cavalo à solta" - Mafalda Arnauth

Um poema de Fernando Tordo, na voz de Mafalda Arnauth

"Minha laranja amarga e doce, meu poema Feito de gomos de saudade, minha pena Pesada e leve, secreta e pura Minha passagem para o breve, breve Instante da loucura. Minha ousadia, meu galope, minha rédea Meu potro doido, minha chama, minha réstia De luz intensa, de voz aberta Minha denuncia do que pensa Do que sente a gente certa. Em ti respiro, em ti, eu provo Por ti consigo esta força que de novo Em ti persigo, em ti percorro Cavalo à solta pela margem do teu corpo. Minha alegria, minha amargura Minha coragem de correr contra a ternura. Minha laranja amarga e doce, minha espada Poema feito de dois gumes, tudo ou nada Por ti renego, por ti aceito Este corcel que não sossega À desfilada no meu peito. Por isso digo canção, castigo Amêndoa, travo, corpo, alma, amante, amigo Por isso canto, por isso digo Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo. Minha alegria, minha amargura Minha coragem de correr contra a ternura Minha ousadia, minha aventura Minha coragem de correr contra a ternura Minha alegria, minha aventura Minha coragem de correr contra a ternura."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"Vira dos Malmequeres" – Katia Guerreiro

Em jeito de promoção à música portuguesa deixo o velhinho “Vira dos Malmequeres”, popularizado (entre outros) pela Tonicha, agora na voz da Katia Guerreiro. Esta música fará parte do CD “Os fados do fado” que estará à venda já no próximo dia 10 de Dezembro.

Apache, Dezembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"Por Ella" - Roberto Carlos

Em castelhano

Apache, Novembro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"A Gaivota" - Amália Rodrigues

"Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa, no desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho, fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse, se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se ao dizer adeus à vida as aves todas do céu, me dessem na despedida o teu olhar derradeiro, esse olhar que era só teu, amor que foste o primeiro. Que perfeito coração morreria no meu peito, meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito bateu o meu coração." Poema de Alexandre O'Neill com música de Alain Oulman, em jeito de homenagem à voz inconfundível de Amália Rodrigues (1 de Julho de 1920 – 6 de Outubro de 1999)

Apache, Outubro de 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"Summer of 69" - Bryan Adams

Agora que o Verão de 2009 está a chegar ao fim, que tal viajar no tempo, até ao “Verão de 69”? Bryan Adams, ao vivo, no velhinho Estádio José Alvalade, em “Summer of ‘69”.

Apache, Setembro de 2009

domingo, 26 de julho de 2009

"Tonight" - Reamonn

"She never took the train alone she hated being on her own She always took me by the hands and say she needs me She never wanted love to fail she always hoped that it was real She’d look me in the eyes and say believe me And then the night becomes the day and there’s nothing left to say If there’s nothing left to say then something’s wrong Oh tonight you killed me with your smile so beautiful and wild so beautiful Oh tonight you killed me with your smile so beautiful and wild so beautiful and wild And as the hands would turn with time she’d always say that she was my mine She’d turn and lend a smile to say that she’s gone But in a whisper she’d arrive and dance into my life Like a music melody like a lover's song Oh tonight you killed me with your smile so beautiful and wild so beautiful and wild Oh tonight you killed me with your smile so beautiful and wild so beautiful and wild Through the darkest night comes the brightest light And the light that shines is deep inside It’s who you are Oh tonight you killed me with your smile so beautiful and wild so beautiful Oh tonight you killed me with your smile so beautiful and wild so beautiful, beautiful Oh tonight you killed me with your smile so beautiful and wild so beautiful and wild So beautiful and wild"
Tonight - Reamonn

domingo, 19 de julho de 2009

"This is the life" - Amy MacDonald

Uma letra fraquinha, mas uma música que fica no ouvido.

Apache, Julho de 2009

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A última música que Michael Jackson cantou

Nunca fui fã da música de Michael Jackson, reconheço no entanto que conjuntamente com Madonna (13 dias mais velha) constitui um dos maiores ídolos musicais das últimas décadas. Excêntrico, polémico, amiúde envolto em rocambolescos “acontecimentos”, mas acima de tudo um artista com qualidades excepcionais, Michael Jackson, o cantor que detém vários recordes de discos vendidos, deixou-nos de forma inesperada em circunstâncias ainda por apurar. É em jeito de singela homenagem que deixo minuto e meio da música “They don´t care about us” (a música cujo videoclipe foi gravado na Favela de Santa Marta, no Rio de Janeiro), a última do seu último ensaio a 23 de Junho de 2009, cerca de 40 horas antes de partir.

Apache, Julho de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009

“Sem eira nem beira” – Xutos & Pontapés e Dona Rosete

Do disco lançado faz hoje precisamente um mês, comemorativo dos 30 anos de carreira dos “Xutos & Pontapés”, esta é a música de que mais se fala.

“Anda tudo do avesso

Nesta rua que atravesso

Dão milhões a quem os tem

Aos outros um passou-bem.

Não consigo perceber

Quem é que nos quer tramar

Enganar

Despedir

E ainda se ficam a rir.

Eu quero acreditar

Que esta merda vai mudar

E espero vir a ter

Uma vida bem melhor.

Mas se eu nada fizer

Isto nunca vai mudar

Conseguir

Encontrar

Mais força para lutar...

Senhor engenheiro

Dê-me um pouco de atenção

Há dez anos que estou preso

Há trinta que sou ladrão

Não tenho eira nem beira

Mas ainda consigo ver

Quem anda na roubalheira

E quem me anda a comer.

É difícil ser honesto

É difícil de engolir

Quem não tem nada vai preso

Quem tem muito fica a rir.

Ainda espero ver alguém

Assumir que já andou

A roubar

A enganar

o povo que acreditou.

Conseguir encontrar mais força para lutar

Mais força para lutar

Conseguir encontrar mais força para lutar

Mais força para lutar...

Senhor engenheiro

Dê-me um pouco de atenção

Há dez anos que estou preso

Há trinta que sou ladrão

Não tenho eira nem beira

Mas ainda consigo ver

Quem anda na roubalheira

E quem me anda a foder

Há dez anos que estou preso

Há trinta que sou ladrão

Mas eu sou um homem honesto

Só errei na profissão.”

Uma outra versão, em jeito de resposta de um tal senhor “inginheiro”, na voz da Dona Rosete [Maria Ruef na TSF a 20 de Abril de 2009]

“Senhores Pontapés

Dêem-me um pouco de atenção

Que quem se mete comigo

Anda na conspiração

Eu processo a malta dos blogues

E directores de jornais

Têm toda a liberdade

Mas de mim não falam mais!

Senhores Pontapés

Dêem-me um pouco de amor

Processei o Zé Manel Fernandes

O Tavares e um professor

Processo sem eira nem beira

Eu conheço a lei de cor

Dizem que há lá saldos bons

Mas não volto ao Fripóre!”

Apache, Maio de 2009

domingo, 25 de janeiro de 2009

"Não me mintas" – Rui Veloso

"Eu queria unir as pedras desavindas, escoras do meu mundo movediço. Aquelas duas pedras perfeitas e lindas das quais eu nasci forte e inteiriço. Eu queria ter amarra nesse cais para quando o mar ameaça a minha proa e queria vencer todos os vendavais que se erguem quando o diabo se assoa. Tu querias perceber os pássaros, voar como o Jardel sobre os centrais. Saber por que dão seda, os casulos… Mas isso já eram sonhos a mais. Conta-me os teus truques e fintas… Será que os Nike fazem voar? Diz-me o que sabes não me mintas, ao menos em ti posso confiar. Agora diz-me o que aprendeste de tanto saltar muros e fronteiras… Olha para mim e vê como cresceste com a força bruta das trepadeiras. Põe aqui a mão e sente o deserto tão cheio de culpas que não são minhas. E ainda que nada à volta bata certo, eu juro ganhar o jogo sem espinhas. Tu querias perceber os pássaros, voar como o Jardel sobre os centrais. Saber por que dão seda, os casulos… Mas isso já eram sonhos a mais."

[Blues Made in Portugal] Rui Veloso

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

"Happy Christmas" - John Lennon

"So this is Christmas And what have you done Another year over And a new one just begun And so this is Christmas I hope you have fun The near and the dear ones The old and the young A very merry Christmas And a happy New Year Let's hope it's a good one Without any fear And so this is Christmas For weak and for strong For rich and the poor ones The war is so long And so happy Christmas For black and for white For yellow and red ones Let's stop all the fight A very merry Christmas And a happy New Year Let's hope it's a good one Without any fear And so this is Christmas And what have we done Another year over And a new one just begun And so happy Christmas I hope you have fun The near and the dear ones The old and the young A very merry Christmas And a happy New Year Let's hope it's a good one Without any fear And so this is Christmas And what have we done Another year over And a new one just begun"

[Uma das mais conhecidas músicas de Natal] John Lennon
Feliz Natal
Apache, Dezembro de 2008

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

"The Story" - Brandi Carlile

"All of these lines across my face Tell you the story of who I am So many stories of where I've been And how I got to where I am But these stories don't mean anything When you've got no one to tell them to It's true... I was made for you I climbed across the mountain tops Swam all across the ocean blue I crossed all the lines and I broke all the rules But baby I broke them all for you Because even when I was flat broke You made me feel like a million bucks Yeah you do and I was made for you You see the smile that's on my mouth Is hiding the words that don't come out And all of my friends who think that I'm blessed They don't know my head is a mess No, they don't know who I really am And they don't know what I've been through but you do And I was made for you... All of these lines across my face Tell you the story of who I am So many stories of where I've been And how I got to where I am But these stories don't mean anything When you've got no one to tell them to It's true... I was made for you"

[Uma das grandes músicas do momento] Brandi Carlile

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Será?" - Pedro Abrunhosa

"Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo o que podia fazer,
ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer.
Será que lá longe ainda o céu é azul,
ou já o negro cinzento confunde o Norte com o Sul.
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia.
Será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.
Será que é de febre este fogo,
este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti,
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda.
Será que a cidade ainda está como dantes,
ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam?, e as pedras do chão?,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.
Será que sabes que hoje é domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo.
Será que me consegues ouvir,
ou é tempo que pedes, quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz,
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.
Será que te lembras da cor do olhar,
quando juntos, a noite, não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra,
que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer,
que te amo, tanto quanto, noutro dia qualquer.
Eu sei que tu estarás sempre por mim,
não há noite sem dia, nem dia sem fim.
Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas então, não me deixes sozinho…
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será?…"
[Talvez o melhor poema de] Pedro Abrunhosa