quarta-feira, 25 de junho de 2008

"Eduquês", "Sociologuês" ou incapacidade cognitiva? (3)

Chegámos a um ponto de situação tal, em relação à qualidade dos exames nacionais, que penso ser necessário exigirmos que os enunciados contenham os nomes dos autores. É que ao colocarmos os nossos filhos na escola, temos expectativas de que lhes seja ensinado algo que os possa preparar minimamente para o futuro. Está assim implícito um contrato entre a escola e os encarregados de educação de prestação de serviço educativo por parte desta. Sendo notório que o Ministério da Educação, através do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) (e não só) se demite cada vez mais dessa função, é importante sabermos a quem vamos acusar de burla. Ilustrando esta afirmação, atente-se no enunciado da já famosa questão 3 do Exame Nacional do 9º ano, da disciplina de Matemática… “Numa sala de cinema, a primeira fila tem 23 cadeiras. A segunda fila tem menos 3 cadeiras do que a primeira fila. A terceira fila tem menos 3 cadeiras do que a segunda e assim, sucessivamente, até à última fila, que tem 8 cadeiras. Quantas filas de cadeiras tem a sala de cinema? Explica como chegaste à resposta.” Há 30 anos atrás um aluno da primeira classe resolveria facilmente uma questão destas.
Mas o que ridiculariza ainda mais esta questão é que, mesmo que o aluno não apresente a resposta correcta (6 filas, contendo, respectivamente 23, 20, 17, 14, 11 e 8 cadeiras) poderá, ainda assim, obter 60% da cotação da pergunta (de acordo com os critérios de correcção) se escrever “alguns números possíveis de cadeiras para as filas”; por sua vez, se responder 5 filas (em vez das 6) tem direito a 80% da cotação.
Comentando os exames deste ano, a dona Lurdes disse que “o nível de complexidade de uma prova tem técnicas, não é uma questão de opinião, é uma questão de validação técnica, com recurso a técnicas estatísticas…” Portanto se acham que a senhora pensa que somos todos estúpidos, lembrem-se que podem não haver técnicas estatísticas que o demonstrem. Se, pelo contrário, estão a pensar chamar nomes feios à senhora, saibam que a utilização do termo “senhora” é, neste contexto, uma questão meramente técnica.
Apache, Junho de 2008

4 comentários:

Diogo disse...

«Comentando os exames deste ano, a dona Lurdes disse que “o nível de complexidade de uma prova tem técnicas, não é uma questão de opinião, é uma questão de validação técnica, com recurso a técnicas estatísticas...”.»


Já percebi onde é que eles foram buscar a taxa de rendibilidade dos TGVs, e das pontes, e dos aeroportos, e das auto-estradas.

Eles recorrem a técnicas estatísticas...


Agora a sério, quanta malta é que viu o filme?

cris disse...

Que grandessíssima senhora, esta, não? Os exames devem vir assinados sim, Apache. Concordo plenamente.
Se bem que deve ir para além de quem assina o exame, creio eu. Uma ministra que defende acerrimamente uma coisa mal feita deve retirar-se a bem do futuro do país. Mas aqui, qualquer porcaria pode ter nas mãos o destino deste povo. Isto enerva um santo.

Apache disse...

Qual deles, Diogo?

"Uma ministra que defende acerrimamente uma coisa mal feita deve retirar-se a bem do futuro do país."
Receio que seja esta a razão porque ela permanece, Cris.

cris disse...

Estamos mal...