Um bom texto (que desta vez subscrevo) do José Costa e Silva (amiúde a milhas da minha linha de pensamento), do blogue “Lóbi do chá”.
“Contra a monarquia instaurou-se uma república que vamos a ver e não passa de uma monarquia de partidos.
Realizam-se eleições, é verdade, mas apenas para dar a ideia de que o povo escolhe alguma coisa. Na verdade, em vez do príncipe herdeiro há dois ou três militantes herdeiros, porque é do zimbório dos dois maiores partidos que sai o Rei – perdão, o Presidente.
Aliás, constata-se que a República ocupa os palácios da Monarquia. Nem isso os republicanos conseguiram repudiar. O Presidente da República está comodamente instalado no Palácio de Belém a promulgar leis. Até a mais insignificante secretaria de Estado labuta nos antigos aposentos do primo do Rei.
Mas se a República fosse república, os palácios, palacetes e palacinhos seriam do povo. Do povo e não dos seus chiques representantes, que vão muito melhor com aqueles edifícios envidraçados, modernos e inovadores como as cabeças dos políticos. E energeticamente eficientes como eles, até.
Vem tudo isto a propósito dos dois pequenos partidos que apareceram contra os grandes partidos do poder, mas que são, afinal, iguais a eles, para além de serem iguais também entre si, o que é notável.
Por exemplo, dizem que estão os dois ao centro. Consideram que há boas ideias à esquerda e boas ideias à direita. Boa ideia é a deles, porque pretendem ser o empadão que resulta da centrifugação dos tais partidos do poder. Lava-se muito bem o CDS, o PSD, o PS, a CDU e o Bloco, leva-se à Bimby e já está: um delicioso MEP, acompanhado por um suculento MMS.
Lamentavelmente, porém, o empadão não está na moda e as travessas cheias de couves não sobrevivem na era do sushi. A mudança tem de começar fora do sistema, fora dos partidos (pequenos ou grandes) e fora do Parlamento.
Quem quer reformar o país e a Constituição tem de mobilizar a sociedade, apelar à revolta serena e avançar para as ruas. Quem quer mudar alguma coisa tem de encher a fonte luminosa até que da lua se veja a vontade popular ditar as regras.
Quem quer mudar alguma coisa não pode estar a lutar por um ou dois deputados, daqueles que ficam com a tensão baixa quando entram no hemiciclo e que atravessam a legislatura a sorrir para os lados.
Não. A ambição de querer fazer diferente e melhor não está ao alcance daqueles cuja prioridade é imitar os outros.”
Apache, Setembro de 2009
1 comentário:
«A mudança tem de começar fora do sistema, fora dos partidos (pequenos ou grandes) e fora do Parlamento.»
A Internet terá uma parte de leão nessa mudança.
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