domingo, 14 de novembro de 2010

“O novo mantra ecologista”

“Foi apenas há um ano, mas as imagens das tribos ecologistas ansiando pelo acordo de Copenhaga que (ele e só ele) salvaria o mundo (deles e só deles) parecem agora polaróides de um mundo extinto. Algumas estatísticas ilustram a atenuação do fascínio exercido pelo milenarismo ecologista sobre a opinião pública ocidental, uma consequência do escândalo Climategate, que expôs o enviesamento ideológico imposto aos estudos climáticos: nos EUA, um estudo do German Marshall Fund sugere que apenas 6% consideram as alterações climáticas uma prioridade política; no Reino Unido um inquérito da BBC efectuado em Fevereiro revelou que apenas 26% acreditam na tese antropogénica, contra 41% três meses antes. Se o ‘slogan' climático perde eficácia, mude-se de ‘slogan': eis que rebenta a berraria das ameaças à "biodiversidade", mesmo a tempo da conferência de Nagoya, um interlúdio entre Copenhaga e a próxima cimeira de Cancún. Quem pretender levar a sério a sugestão de um "apocalipse da biodiversidade" necessitará de duas informações elementares: qual o número total das espécies existentes e qual o ritmo de extinção? A Wikipédia propõe as seguintes respostas: desconhece-se o total de espécies existentes, mas sabe-se que estão a desaparecer a um ritmo "sem precedentes". Ora a validade da segunda asserção, cuja fonte indicada é um artigo do The Guardian, depende crucialmente do total das espécies existentes, mas a incerteza sobre este valor é tão grande que é impossível aferir a validade das estimativas dos estudos amostrais. Considerando as estimativas mais baixas para o total de espécies -as mais favoráveis ao cenário apocalíptico- o prof. Philip Stott calculou uma taxa de extinção de 0,006% a cada 50 anos desde 1600, o que está muito longe dos valores alarmistas publicados por jornais panfletários como o The Guardian. Este é apenas um exemplo da perversão da Wikipédia por activistas, utilizando a edição "aberta" para convertê-la num poderoso instrumento de propaganda global. Recentemente os mediadores da enciclopédia impediram William Connolley de aceder aos conteúdos: Connolley, um missionário do milenarismo ecologista, usava os privilégios de administrador para eliminar os contributos contrários à ortodoxia ideológica que pretendia passar por ciência. Este autoritarismo ecologista é, no essencial, semelhante ao autoritarismo fascista: se no fascismo a autoridade prescritiva da conduta política advém do carisma do líder, no ecologismo ela resulta da fé messiânica na revelação da salvação ambiental. Em ambos os casos, a autoridade funciona como uma injunção ético-política à qual todos se devem submeter. Tal como no fascismo, os ecologistas não admitem contestação racional às suas posições. A discussão, assente nos pressupostos da racionalidade científica ou no carácter prático do confronto ideológico, não é só desnecessária - é contraproducente, porque retarda a acção política "urgente". Daí a irrelevância política das "alterações climáticas" ou da "biodiversidade": são apenas pretextos para a concentração de poder em organizações inimputáveis e para a legitimação de um vasto programa extorsionário posto em marcha por uma coligação de ideólogos, académicos e burocratas. Aliás, sem menosprezar o batráquio multicolor que ilustrou diversas "notícias" recentes sobre as ameaças à biodiversidade, a espécie que esta coligação ameaça de extinção é o homem livre ocidental, para quem a governação era a arte da contingência e não a imposição de um plano político que nega a autonomia moral e reduz todos à condição de bichos.”
Fernando Gabriel, investigador universitário, no “Diário Económico” do passado dia 3

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