“É fascinante o zelo com que criaturas tão distantes do catolicismo quanto eu dissecam as afirmações do Papa. Fascina igualmente o modo como não as percebem. Há dias, Ratzinger repetiu, talvez com ligeiríssimas variações, a posição (sem trocadilhos) católica acerca do preservativo: não deve ser usado excepto em casos de risco de vida. Por mim, que não sou fanático do pechisbeque nem recebo comissão da Durex, está bem: as normas eclesiásticas não me dizem respeito.
Estranhamente, dizem respeito a inúmeros ateus exaltados, que de repente desataram a opinar sobre o que tomaram por uma revolução no pensamento da Igreja. Ainda mais estranho é que a "revolução", mesmo ilusória, não os satisfez. Para uns, Ratzinger falou tarde e devia ser condenado (a quê?) por cada católico contaminado pelo VIH para aí desde 1982. Para outros, a "revolução" não basta. O que bastaria aos exaltados? É complicado discernir.
Aparentemente, só ficarão consolados, se ficarem, quando o Papa defender o preservativo nas viagens de autocarro e metro (com mais de duas paragens), a sodomia (com segurança), a rotatividade de parceiros (idem), a adopção de crianças por casais homossexuais e a adopção de casais homossexuais por crianças, o suicídio assistido, o suicídio sem público e quando o Vaticano, em suma, não se distinguir daquelas dúzias de alminhas que, graças a um quotidiano ocioso, foram à Assembleia da República aplaudir o casamento gay.
Convinha então apurar se essa associação folclórica ainda seria a Igreja e para que serviria uma Igreja assim. Provavelmente, para nada que a simpática e totalitária esquerda das "causas" já não faça, inchada com uma auto-importância que a concorrência católica apenas viria perturbar.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada segunda-feira
2 comentários:
Não entendo bem a opinião de Alberto Gonçalves. A «boa» Igreja é, portanto, a que vive 50 anos atrasada em relação à realidade?
A minha leitura do texto de Alberto Gonçalves é esta:
Há quem ponha na boca do Papa algo que ele não disse, a Igreja não aceita o uso banalizado do preservativo, aceita a utilização do mesmo com carácter excepcional, quando há risco de morte ou doença grave [cito: “não deve ser usado excepto em casos de risco de vida”]. Neste contexto, não houve uma alteração (pelo menos significativa) da posição da Igreja (como alguns ingenuamente pensam), quando muito, uma clarificação [volto a citar: “Ratzinger repetiu, talvez com ligeiríssimas variações, a posição (sem trocadilhos) católica”];
Por outro lado, muitos dos que criticam a posição da Igreja, não são católicos, portanto, não fazem parte dessa mesma Igreja, então tem pouco sentido que venham criticar normas internas da dita [outra citação: “por mim, que não sou fanático do pechisbeque (…) está bem: as normas eclesiásticas não me dizem respeito”]. É como se eu que sou do Sporting me mostrasse indignado com algum artigo dos estatutos do Benfica;
Finalmente, o cronista acha que não se pode esperar que a Igreja mande a sua doutrina milenar “às urtigas” para adoptar “filosofias baratas” de determinadas faixas sociais ou políticas, que na generalidade são modas passageiras ou servem para publicitar (encapotadamente) interesses comerciais [última citação: “convinha então apurar se essa associação folclórica ainda seria a Igreja e para que serviria uma Igreja assim.” E ainda: “por mim, que não (….) recebo comissão da Durex (…)”].
Ou seja, respondendo mais directamente à tua pergunta, para AG, a “boa” Igreja é aquela que defende as suas convicções sem se deixar subverter por tendências de certa modernidade, obscenas, do ponto de vista dessa mesma Igreja (interpretação minha, claro).
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