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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ignorância versus ilusão

“O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento.”

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014


Segundo a BBC, um grupo de trabalho da União das Repúblicas Socialistas Europeias Europeia pondera a instalação obrigatória, em todos os veículos, de um dispositivo que permita à polícia parar remotamente os nossos automóveis.
Alguns Primatas não têm consciência das suas limitações cognitivas e, quando não açaimados, tornam-se perigosos.
Apache, Fevereiro de 2014

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O que é “fazer Ciência”?


O professor (da Universidade do Algarve) Igor Khmelinskii relata, neste ‘post’ do seu blogue “Clima Virtual versus Clima Real”, que gastou metade do seu dia (1 de Novembro) a assistir à 5.ª Conferência Portuguesa de Ciências Polares e concluiu que os conferencistas, supostos cientistas (seniores), não sabem como se faz Ciência.
Desde os primeiros anos de escolaridade incutimos nos alunos a importância do conhecimento científico. Nos últimos anos do Ensino Secundário, os estudantes das áreas científicas passam metade do seu tempo de escola a adquirirem conhecimentos científicos [infelizmente (e cada vez mais) também alguns pseudocientíficos]. Muitos chegam à universidade para se graduarem em áreas científicas. Alguns são cientistas profissionais. E, no entanto, (já muitos de nós verificámos que) a esmagadora maioria deles não sabe o que é, ou como se faz, Ciência.
As ciências aplicam o método científico, isto é: observam determinado acontecimento; formulam hipóteses justificativas e/ou explicativas do mesmo; planeiam e executam experiências, investigações, trabalhos de campo que tentem negar as hipóteses; se o conseguem, formulam novas hipóteses e repetem os trabalhos; se o não conseguem, as hipóteses não negadas transforma-se em teses. É a este conjunto de procedimentos que chamamos “fazer Ciência”. O objectivo (final) do trabalho dos cientistas é provar que as hipóteses (formuladas) estão erradas.
Então, porque é que a maior parte dos (alegados) cientistas gasta somas colossais de dinheiros públicos e toda a sua vida profissional a tentar demonstrar que as hipóteses que formulou são verdadeiras? Alguém, alguma vez, conseguiu provar a veracidade de alguma?
Apache, Novembro de 2013

sábado, 2 de novembro de 2013

Do politicamente correcto…


“Muito haveria a dizer sobre o marxismo cultural ou “gramsciano” que vai penetrando lentamente nas mentes sob a forma do “politicamente correcto”. Em poucas décadas, o marxismo cultural tornou-se a única força organizada à escala planetária com influência em múltiplos sectores das sociedades e tradicionais meios de comunicação de massas – televisão e imprensa e nas redes sociais onde se dissemina de forma vertiginosa.

O “politicamente correcto” é marxismo com tudo o que esta ideologia tem de nefasto: perda de liberdade de expressão, polícia do pensamento, inversão da ordem social e tradicional e, por fim, um Estado totalitário.”
Floriano Mongo, em comentário deixado no blogue “Porta da Loja"

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

"Cães de palha"

“Estou a ver na SIC o Parlamento. É uma sala bonita. Nela se encontram várias dezenas de pessoas medíocres, pagas ao valor de um resgate de Creso com os nossos impostos, muitas delas auferindo ainda rendimentos oriundos de companhias que subsistem em promiscuidade com o Estado, sendo ‘last but not least’, essas pessoas (?) eleitas por um conjunto de seres que há muito perderam qualquer direito que em tempos pudessem ter tido, ao venderem o voto e as gerações nascituras pelo peso de trinta dinheiros.
Todos mentem com quantos dentes têm, mas parte do eleitorado que os elegeu, bem como parte do eleitorado que sistematicamente não sufraga nada, ainda e sempre carece de valiosos minutos, horas, dias, para remoer na mesma conclusão triste e miserabilista: isto foi sempre assim.
Nos Estados Unidos um rapaz de seis anos foi suspenso da escola por ter brincado aos cowboys e, apontando o dedo a um amigo, ter gritado "POW!"; alega-se que ofendeu a memória dos mortos a tiro. Em França, foram recentemente banidas de documentos oficiais as palavras "pai" e "mãe", substituídas por "progenitores" ou "progenitor 1" e "progenitor 2", para não estigmatizar o segmento radical da populaça homo. Aqui ao lado em Madrid ainda há pouco se quis fazer com que putos da primária não fossem para uma festa de Carnaval vestidos de piratas, porque os piratas além de etnicamente pouco diversos, são geralmente egoístas e fora-da-lei.
Em Portugal, os jarros de vinho com capacidade de um litro foram proibidos nos restaurantes a partir de hoje, por suposto atentado à boa saúde dos consumidores. Assevero-vos que pensarei duas vezes antes de pedir o terceiro meio-litro.
O Ocidente decai. Tolera-se os intolerantes. Debate-se em prime time segundo uma bitola psicológica a que no meu tempo nem os juvenis da bola achariam piada. Esta merda nunca mais acaba.
O Prémio Nobel deveria passar a ser atribuído em dinamite, por via aérea, para honrar aquilo em que se tornaram a Europa, a Academia (a de Oslo mas também no sentido maior do termo), os Parlamentos, e esta gente escarninha, a sul do Pólo Norte, que assiste a tudo cagadinha de medo e refocilada no anonimato que a diluição no rebanho lhes confere.”
Fernando Melro dos Santos, no blogue "Estado Sentido"

sexta-feira, 16 de março de 2012

O Brasil real

«A crise nos EUA e na Europa tem levado analistas de todo o mundo a voltar os seus olhos para o Brasil com doçura. Um país gigantesco, uma democracia, paraíso de diversidade e convivência entre diferenças, motivado por prosperidade económica e estabilidade política. Mas será que essas pessoas sabem realmente como é viver aqui? Não vamos usar o nosso tempo a discutir ou listar as apregoadas “conquistas” brasileiras da última década: essa tarefa vem sendo bem executada pela imprensa, daqui e de fora. Vamos parar um instante para pensar como são realmente as coisas para quem vive, trabalha e investe no Brasil – sem deixar que qualquer agenda partidária ou ideológica atrapalhe a nossa percepção.
O habitante brasileiro de uma grande cidade desperta provavelmente algumas horas antes de iniciar a sua jornada de trabalho: se usa um carro para se locomover, precisa estar preparado para toda a sorte de obstáculos provocados pela completa ausência de planeamento urbano, enfrentando vias mal cuidadas e tráfego intenso. Estacionar o veículo (pelo qual pagou o dobro do que teria pago noutro país e que precisa manter legalizado recolhendo pesadas taxas anuais) é outro desafio caro e desgastante. Convém precaver-se nos intervalos com assaltantes armados nos semáforos. Se se movimenta em transporte coletivo, por outro lado, pagará caro por um serviço precário, demorado e muitas vezes perigoso.
No seu trabalho, o brasileiro enfrentará burocracia sempre que for obrigado a lidar com regras e normativas técnicas impostas por governos nas três esferas. Deverá movimentar-se num labirinto entre tributos escorchantes, fiscalização contraditória e muitas vezes corrupta, uma verdadeira teia de armadilhas para que de alguma forma possa ser taxado e multado (o que aumenta o pecúlio dos governos, a verdadeira razão de existir do Estado, no Brasil). Se for um empreendedor, essa tortura será multiplicada, no mínimo, pelo número de funcionários que tiver contratado. Inventar e manter um negócio no Brasil é sujeitar-se ao risco permanente de infringir alguma regra governamental (especialmente trabalhista) confusa, obscura e injusta, que poderá ocasionar a qualquer momento uma demanda judicial com consequências imprevisíveis (embora seja razoável afirmar que muitos pequenos negócios estão condenados todos os anos por causa das pesadas multas e sanções trabalhistas e previdenciárias).
Se se quiser comunicar com parceiros comerciais, o brasileiro dependerá de serviços de péssima qualidade, que crescem em número de clientes mas não em infraestrutura ou avanço tecnológico correspondente: os telemóveis falham simplesmente o tempo todo; as linhas fixas são caríssimas e fornecidas em geral por monopólios; a internet de alta velocidade é instável e o seu preço uma piada de mau gosto. As greves nos correios podem atrapalhar a qualquer momento um lucro que parecia garantido. Os aeroportos sucateados desestimulam a circulação dinâmica dentro do território. No “Espaço aéreo”? Ninguém parece ter a certeza do que acontece por lá.
Ao circular pela própria cidade, o brasileiro não poderá ignorar outra ameaça: a violência. As cidades brasileiras são mal policiadas e há possibilidades quase infinitas de, a qualquer momento, ser atingido por alguma agressão. As ruas estão cheias de criminosos foragidos que a polícia não consegue (ou não se interessa o suficiente para) capturar. Isto, sem contar com os menores de idade (que, por causa da legislação distorcida e leniente, têm praticamente livretrânsito para cometer crimes e sair incólumes até os 18 anos) e consumidores de drogas pesadas, espalhados pelas esquinas e entregues ao vício ao ar livre. Tente desviar-se do crack e da maconha que rola solta na porta de casa e das escolas.
Viver no Brasil inclui, também, conviver e de alguma forma conseguir conformar-se com injustiças institucionais e sociais de toda a espécie: bairros pobres que não contam com as mínimas condições de vida humana digna. Governantes que entram e saem sem cuidar do básico necessário às populações: a rede de esgotos está longe de atender grande parte dos brasileiros. As escolas públicas são depósitos de crianças que saem após anos de “estudos” sem saber ler ou escrever. Os hospitais públicos matam, por omissão ou incapacidade, milhares de doentes brasileiros todos os anos. Não há prisões suficientes para todos os criminosos que precisam de ser retirados do convívio social: as que existem, por sua vez, são indignas e desumanas (embora se saiba que mesmo assim é caríssimo mantê-las, porque são pessimamente administradas).
E os políticos brasileiros? Não queiram estar sob o seu jugo. A corrupção é prática disseminada e muitas vezes aceite como natural na esfera pública. Parlamentares envolvidos em escândalos saem e voltam ao poder, como se nada tivesse acontecido. Milhares de milhões desviados somem-se para sempre, apesar do caráter público das negociatas. As autoridades da justiça advogam-se privilégios inenarráveis, em vez de pôr fim ao inaceitável estado de coisas. A população assiste de mãos atadas a uma elite política e burocrática que vive de privilégios. Eleição após eleição, não há perspectiva de melhoria. Os velhos nomes das oligarquias partidárias revezam-se em legendas esvaziadas de propostas ou ideologias. Os brasileiros descontentes com o panorama são ainda assim obrigados a votar e a legitimar o teatro, sob pena de perda de direitos.
Quer fugir do caos urbano em direção ao aprazível interior? Cuidado: as estradas estão mal cuidadas, perigosas e infestadas de criminosos escondidos nas brechas dos viadutos. Leve todo o dinheiro que tiver em casa: os pedágios são caros e repetem-se sem critério aparente. Pense muitas vezes antes de trocar o seu trabalho na cidade pelo campo: se for cortar uma árvore, assegure-se de que não infringe alguma lei ambiental draconiana – caso contrário, pode ter problemas duradouros com a justiça. Se adquirir terras, cuidado com o movimento de extrema esquerda conhecido genericamente por MST (Movimento dos Sem Terra): eles farão tudo para invadir e depredar a sua propriedade, depois disso partirão para fazer a mesma coisa na propriedade vizinha. Não conte com a sensibilidade dos governos nestas batalhas: a maioria esmagadora dos partidos tem, de uma forma ou de outra, alguma ligação com esse movimento, e será difícil expulsar os invasores depois de eles se instalarem (lembre-se que, contrariamente a eles, você não pode usar violência para fazer valer os seus direitos).
Está de volta para a cidade a procura de um novo emprego? Prepare-se: quando se diz que os brasileiros valorizam muito as relações pessoais, não considere isso uma banalidade. No Brasil, networking é tudo. Isto significa que será praticamente impossível, em muitos sectores, conseguir um emprego ou realizar algum negócio sem lançar mão de relações pessoais ou de algum tipo de apadrinhamento…»
Pela redacção do Midia @ Mais

sábado, 7 de janeiro de 2012

Outro(?) Janeiro

"Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele… e da nação."
José Régio, 1969

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Macacadas

O escritor e jornalista peruano, Mario Vargas Llosa, vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2010, insurgiu-se contra as abreviaturas usadas, (quase) sem regra, por alguns jovens, nas messagens nas redes sociais e nos telemóveis. Diz Llosa, em entrevista dada ao semanário uruguaio “Búsqueda”, que quem “escreve assim, é porque fala assim. Se fala assim, é porque pensa assim e, se pensa assim, é porque pensa como um macaco.” Acrescentando que isso o preocupa.
Apesar de achar enviesado o raciocínio de Llosa, a mim, confesso, também me incomoda que alguém escreva pior que eu. Mas a certos macacos, pelo "visto", não. Pelo que, a curto prazo, não se vislumbra o fim da macacada.
Apache, Maio de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Europa deles

“Em 1962, fui viver para uma ilha, a Grã-Bretanha, situada dentro ou perto da Europa. Apaixonei-me logo pela civilização europeia, de que Portugal parecia estar, há séculos, arredado. Em 1986, quando Portugal aderiu à CEE, aprovei o gesto de forma incondicional. Mas o entusiasmo não durou. Não tardei a reparar que a União Europeia produzia subsídios para os agricultores, cotas para o pescado e regras sobre lâmpadas, mas não europeus. Nesta organização, o poder é detido pelo Conselho da Europa, um somatório de interesses nacionais, e pela Comissão, uma casta que não responde perante ninguém. Regiamente pagos, os seus funcionários querem estar bem instalados. No ano passado, decidiram construir uma nova sede para o Conselho, com 40.000 metros quadrados, a qual custará uma fortuna. Por seu lado, o Parlamento é um clube itinerante onde apenas se debatem coisas menores, pelo que não espanta que os seus membros se vinguem, entretendo-se a pensar na forma de melhorar a vidinha. Como não há uma ligação real entre eles e os eleitores, fazem o que lhes passa pela cabeça. Num momento de crise como aquele que atravessamos, não encontraram nada melhor do que proceder a um aumento generalizado das despesas correntes (dos 22 eurodeputados portugueses, só Miguel Portas votou contra). Além dos chorudos vencimentos que recebem, usufruem de 300 euros de ajudas de custo diárias quando estão em Bruxelas e Estrasburgo, têm direito a bilhete de avião de ida e volta em 1ª classe para o país de origem (os serviços só compram passagens em turística quando recebem ordens expressas nesse sentido). Nem o mais ínfimo pormenor foi deixado ao acaso. O percurso entre a casa e o aeroporto – e vice-versa – é pago pela instituição, sendo o respectivo montante calculado em quilómetros. No corrente ano, para a contratação de «assistentes» (muitos deles familiares sem habilitações para o exercício das tarefas exigidas) passarão a dispor de uma verba mensal de 21.200 euros, ou seja, mais 3.000 do que em 2010. Não admira que a proposta do Orçamento para o corrente ano inclua, na rubrica «recursos dos deputados», um aumento de 27 milhões de euros(...)”
Maria Filomena Mónica, no “Expresso” de sábado passado

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

“Maldiciência”

Por vezes, colegas que leccionam outras disciplinas, perguntam-me porque é que a Física e Química A (FQ-A), disciplina leccionada no 10.º e no 11.º Ano, específica do curso de Ciências e Tecnologias tem, desde há largos anos, consecutivamente, a pior média dos Exames Nacionais. Uma resposta completa seria demasiado longa para este espaço e, provavelmente maçadora para muitos dos leitores, pelo que, opto por uma análise relativamente superficial. O problema tem origem no 7.º Ano de escolaridade (no Básico, a disciplina chama-se Ciências Físico-Químicas (CFQ)), ano em que se inicia (formalmente) o estudo das duas Ciências mais exactas do currículo: Física e Química. No 7.º ano, a esmagadora maioria dos alunos (com 12 ou 13 anos) não tem maturidade, sobretudo ao nível do raciocínio abstracto, nem pré-requisitos para enfrentar CFQ. Apesar disso, a parte inicial do ano é passada a abordar conteúdos de Astronomia, muitos dos quais já tratados repetidamente noutros anos de escolaridade e noutras disciplinas. Parte significativa da componente de Química limita-se à apresentação de materiais de laboratório, à classificação das substâncias e à realização de actividades experimentais básicas. A maioria dos alunos consegue obter classificação positiva sem dificuldade e fica com uma ideia de facilidade da disciplina que, de facto, não corresponde à realidade. No 8.º ano, com o aumento do grau de dificuldade começam, normalmente, a surgir mais notas negativas, mas como o programa é relativamente curto (por comparação com os outros anos) e o Ministério pressiona para se reduzir o insucesso “de qualquer maneira”, lá se vão repetindo exaustivamente as matérias e cumulativamente vai-se baixando o nível de exigência, e os miúdos avançam para o 9.º Ano. Convém notar que nestes dois anos (7.º e 8.º) a disciplina é leccionada uma vez por semana, numa aula de 90 minutos. [P.S. Façam favor de parar de rir que o assunto é sério.] No 9.º ano, apesar de a disciplina passar (na maioria das escolas) a ser leccionada duas vezes por semana (90 + 45 minutos), o programa é demasiado extenso, o que obriga a leccionar a correr, mesmo os conceitos fundamentais. A divergência face à Matemática, que por esta altura ainda não leccionou conceitos essências a CFQ, aumenta, por comparação com anos anteriores. Muitos alunos evidenciam dificuldades no raciocínio abstracto e no lógico-dedutivo; têm dificuldades em interpretar gráficos e tabelas; e poucos são os que conseguem converter diferentes unidades de medida (ou mesmo múltiplos e submúltiplos da mesma unidade) ou resolver equações (ainda que) do 1.º grau. Só com muita “água benta” se consegue que o insucesso não dispare. Chegados ao Secundário (10.º Ano) encontram programas extensíssimos, mas pior do que isso, uma disciplina que obriga a saber interpretar enunciados e gráficos, a equacionar problemas e a resolver equações. Poucos são os alunos que têm “bagagem” a Português e a Matemática para enfrentar FQ-A. As notas de frequência são fortemente inflacionadas pelas notas dos relatórios (muitas vezes “fingidos”) das actividades práticas, pelas notas dos trabalhos de pesquisa e pelas notas das atitudes em sala de aula, fazendo com que alunos com 7 ou 8 valores na média dos testes acabem com 10 ou 11 valores na média final ponderada. No 11.º ano o grau de dificuldade da disciplina aumenta e a falta de pré-requisitos a Matemática e a Português torna-se, em muitos casos, gritante (note-se que não estou a culpar os professores destas áreas, limito-me a constatar factos); o programa mantém-se extensíssimo e aparecem os Testes Intermédios, da responsabilidade do GAVE, que incluem matéria leccionada nos dois anos (10º.º e 11.º). Os alunos, habituados a testes que abordam conteúdos que cabem (em não mais que) numa centena de páginas do manual, vêem-se agora na necessidade de estudar dois manuais para cada um destes testes. No final do ano, apesar das médias dos testes serem muito baixas, a nota positiva obtida no 10.º Ano, as classificações obtidas nos relatórios e nos trabalhos de pesquisa (tantas vezes copiados da Internet ou feitos com a ajuda do explicador) e as classificações obtidas com as atitudes em aula (apesar de tudo medianas, na generalidade), empurram as médias ponderadas para os 9 (há espera do favorzinho do professor) ou dez valores e o aluno segue para Exame Nacional, que abarca conteúdos de 4 manuais (2 de cada ano). Os exames são, regra geral mal elaborados, com enunciados dúbios e quase sempre com erros científicos grosseiros; perguntas de exame, “abertas”, aparecem depois com critérios extremamente fechados e, nas reuniões de correctores para aferição de critérios, a maioria dos docentes (faz o mesmo que em relação ao vergonhoso modelo de avaliação) “assobia para o ar”. A agravar tudo isto, o uso autorizado da calculadora gráfica, com a memória carregada de cábulas, e o fornecimento de formulário nos Exames, passa a ideia a muitos de que a disciplina "não dá trabalho". Se juntarmos a tudo isto manuais escolares com erros e (alguns) professores oriundos de Escolas Superiores de Educação, de cursos “via ensino”, sem preparação científica suficiente, bem como ausência de acções de formação gratuitas e de qualidade, talvez compreendamos o estado lastimável a que as “ciências exactas” chegaram. Mas não faz mal, que ninguém se mace, os vendedores de “ecobolas”, de substitutos dos clorofluorcarbonetos, de “créditos de carbono” e de “cascas de alho”, agradecem.
Apache, Fevereiro de 2011

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O dinheiro fácil… de alguns

“O sistema monetário que permite a meia dúzia de privilegiados imprimir dinheiro a partir do nada é o mesmo que permite gastos e extravios colossais. Quanto menor é o controlo sobre o crescimento do dinheiro, menor é a informação sobre os gastos e menos capacidade temos para os travar, tornando-se estes, praticamente ilimitados. Se o sistema nada em dinheiro fácil, as pessoas podem pagar para construir coisas descontroladamente extravagantes e improdutivas - como parques eólicos ou tapetes de painéis solares.”
JoNova, escritora e divulgadora de Ciência [Tradução minha]

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

“Relato de uma fraude”

O texto que se segue, expressivo de uma realidade vivida (infelizmente) em cada vez mais escolas deste país, passou-me à data, despercebido. Hoje, um colega falou-me dele e achei por bem publicá-lo, até porque, contrariamente a outros textos do mesmo autor, não se vê muito pelos blogues. "Há cerca de um mês, a ministra da Educação chamou ao acto de estudar "assim uma espécie de desporto do cérebro". E a História registou. Agora, confrontada com os resultados dos exames nacionais do básico e do secundário, crescentemente dominados por escolas privadas, a Dra. Isabel Alçada lançou, toda orgulhosa e contentinha, outra frase para a eternidade: "A escola pública está aberta a todas as crianças." Convencida de que o defende, a Dra. Isabel Alçada acaba por denunciar o principal equívoco do ensino contemporâneo: a crença de que a função da escola é dar provas de democracia e não provas de competência. No tipo de mundo que levou a autora de Uma Aventura ao poder, a inclusão, ou, em português de gente, o simulacro de caridade, é preferível à instrução. Claro que a ideia de uma escola que não exclui ninguém independentemente de raça, classe, religião, maneiras ou volume de massa encefálica é lindíssima. Ainda por cima, é falsa. Por incrível que pareça, há crianças cujas peculiaridades, digamos, as afasta do ensino "normal". Ou seja, contra as próprias leis da lógica, à medida que desce o grau de exigência aumenta a quantidade de alunos incapazes de o alcançar. É também para essas criaturas que se criaram as Novas Oportunidades e, dentro das Novas Oportunidades, as vias profissionalizantes. Segundo a retórica oficial, o "desígnio nacional" das vias profissionalizantes consiste em "combater o abandono e o insucesso escolares de forma a elevar o nível de qualificação dos jovens portugueses", suponho que na impossibilidade de elevar o nível de quem escreve "profissionalizante" sem se rir. Na realidade, porém, as coisas passam-se de modo um bocadinho diferente do pretendido. Há dias, durante o jantar, uma prima apresentou-me aos CEF. Se bem percebi, os CEF são os Cursos de Educação e Formação e, desde que concluídos, correspondem ao 6.°, 9° ou ao 12° anos de escolaridade. Destinam-se a indivíduos com idade mínima de 15 anos que, na sua maioria, foram capazes de reprovar consecutivamente num sistema que só reprova alguém por engano. Finalmente, decorrem em escolas públicas ou em misteriosas empresas privadas. A minha prima lecciona numa destas. "Leccionar" é eufemismo para o que ali acontece. Na prática, os "formadores" gastam as aulas a tentar evitar agressões e a não conseguir evitar insultos e ameaças de uma plateia enfurecida. A plateia, de que uma razoável percentagem possui cadastro e um percurso de vida susceptível de comover assistentes sociais, comparece nas aulas a troco de subsídios de alimentação e de transporte. Aliás, o eventual atraso dos subsídios é o único motivo que leva os familiares dos alunos a revelarem a sua existência, através de telefonemas impacientes para a secretaria da escola em causa. Os formadores mostram superior flexibilidade: em geral, passam meses sem receber um cêntimo. Uns desistem, do emprego e do dinheiro que o Estado paga e que os donos da escola retêm indefinidamente. De qualquer modo, os salários que raramente auferem não cobrem os estragos com que os alunos, na doce irreverência da juventude, brindam os seus automóveis. Por isso, os formadores optam por estacionar os carros a quilómetros do emprego, o que fomenta as caminhadas e modera a hipertensão. Infelizmente, a pressão arterial dos docentes regressa a valores perigosos durante o expediente, um tumulto ininterrupto que os responsáveis da escola procuram conter em limites decentes, leia-se idênticos aos da antiga penitenciária do Carandiru. A semelhança do que sucedia no Carandiru, nos CEF decorrem negociações regulares entre as autoridades e os revoltosos. A semelhança do que sucedia no Carandiru, nos CEF as negociações falham e os revoltosos, habitualmente sob o efeito de álcool e drogas de pesos diversos, desatam a partir o que lhes surge pela frente, incluindo formadores. Nos últimos tempos, alguns formadores decidiram retribuir. Cansados de serem enxovalhados, juntam-se em pequenos grupos, atraem um aluno particularmente entusiasmado para um local esconso e enchem-no de pancada. Nesta fase do relato, interrompi a minha prima, que fui ouvindo com a mistura de deslumbre e de pavor que se dedica a um antropólogo recém-chegado de uma temporada no meio dos selvagens do Bornéu, sem ofensa para os selvagens do Bornéu. A diferença é que, no caso, o Bornéu fica no centro do Porto, num dos inúmeros altares à sabedoria erguidos pelo Eng.º Sócrates para, relembro, elevar o nível de qualificação dos jovens portugueses. É verdade que a selvajaria que constitui o quotidiano dos CEF não se restringe aos centros urbanos, e já na semana em curso um vídeo divulgado na Internet demonstra que a rapaziada de um determinado CEF de Castelo Branco pede meças aos seus colegas do Litoral em matéria de fúria destruidora. Será igualmente verdade que nem todos os CEF se resumem a campos de delinquência, e nem todas as turmas se resumem a criminosos. Mas é evidente que as excepções não redimem a regra: a regra é que prejudica, e toma escusadas, as excepções. O Governo, naturalmente, discorda e continua a exibir os CEF, as Novas Oportunidades e tralha afim como maravilhosos exemplos da "aposta" na "educação". É quase fascinante imaginar a cara de pau ou o sangue-frio necessários para se vender tamanha fraude a título de proeza. E fascina mesmo pensar que, longe de se esgotar na educação, a fraude percorre tudo, contamina tudo, arrasa tudo. Hoje, a fraude é o País."
Alberto Gonçalves, na revista "Sábado" do passado dia 21 de Outubro

domingo, 28 de novembro de 2010

A excitação com a borracha

“É fascinante o zelo com que criaturas tão distantes do catolicismo quanto eu dissecam as afirmações do Papa. Fascina igualmente o modo como não as percebem. Há dias, Ratzinger repetiu, talvez com ligeiríssimas variações, a posição (sem trocadilhos) católica acerca do preservativo: não deve ser usado excepto em casos de risco de vida. Por mim, que não sou fanático do pechisbeque nem recebo comissão da Durex, está bem: as normas eclesiásticas não me dizem respeito. Estranhamente, dizem respeito a inúmeros ateus exaltados, que de repente desataram a opinar sobre o que tomaram por uma revolução no pensamento da Igreja. Ainda mais estranho é que a "revolução", mesmo ilusória, não os satisfez. Para uns, Ratzinger falou tarde e devia ser condenado (a quê?) por cada católico contaminado pelo VIH para aí desde 1982. Para outros, a "revolução" não basta. O que bastaria aos exaltados? É complicado discernir. Aparentemente, só ficarão consolados, se ficarem, quando o Papa defender o preservativo nas viagens de autocarro e metro (com mais de duas paragens), a sodomia (com segurança), a rotatividade de parceiros (idem), a adopção de crianças por casais homossexuais e a adopção de casais homossexuais por crianças, o suicídio assistido, o suicídio sem público e quando o Vaticano, em suma, não se distinguir daquelas dúzias de alminhas que, graças a um quotidiano ocioso, foram à Assembleia da República aplaudir o casamento gay. Convinha então apurar se essa associação folclórica ainda seria a Igreja e para que serviria uma Igreja assim. Provavelmente, para nada que a simpática e totalitária esquerda das "causas" já não faça, inchada com uma auto-importância que a concorrência católica apenas viria perturbar.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada segunda-feira

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"A república e os bananas"

«A 5 de Outubro de 1910 um bando de rústicos hasteou uma bandeira na varanda da Câmara de Lisboa e implantou, como se implanta um dente, a República. As baixas foram mínimas, e isso já incluindo os dois líderes revoltosos mortos horas antes por malucos (no caso do almirante Reis, tratou-se de suicídio). A resistência do regime anterior, atarantado, caduco e fatalmente "aberto", foi residual. O interesse do povo foi quase nulo. A bandeira em causa foi a do Partido Republicano, que contava com a simpatia de uns poucos milhares de lisboetas e o desprezo do resto do País. O País caiu assim, feito fruta, nas mãos dos rústicos, que se achavam iluminados por frequentar o Rossio e terem ouvido uns delírios em francês. Mesmo por comparação com os desvarios precedentes, estava inaugurada uma época de caos económico, totalitarismo político, perseguições religiosas e ideológicas, discriminação cívica, atentados regulares e geral atraso de vida. E imensa retórica progressista. A deposição da monarquia significou a troca do privilégio de classe pelo privilégio da falta dela, o que não sendo tão mau quanto soa não é tão bom quanto a propaganda oficial jura. A 5 de Outubro de 2010, o regime em vigor festejou, com tiques devotos, o centenário desse encantador período. Humor negro? Quem dera. Os senhores que hoje mandam nisto celebram a ascensão da I República porque, em larga medida, essa é a sua ascensão. O mofo jacobino e maçónico que tomou conta de Portugal há cem anos é o mofo que desde então sempre nos regeu, com uma longa interrupção para o mofo seminarista, igualmente conhecido por Estado Novo. Se entretanto Portugal mudou muito, quase nada se deveu ao esforço próprio. Nas últimas décadas, as dádivas e o crédito alheios emprestaram-nos o verniz de "modernidade" que disfarçou, mas não impediu, a falência iminente, a corrupção genética e a aversão à autonomia dos cidadãos. Os cidadãos, diga-se, também não ajudam, visto que assistem a tudo com a indiferença de há um século. Excepto quando lhes dá ou retira o amparo, as pessoas não pensam que o Estado e o poder sejam assunto seu. No fundo, e com relativa razão, habituaram-se a pensar que são assunto "deles". E "eles" festejam: a desgraça a que, perante a apatia geral e a impunidade, nos conduziram.»
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias”

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Conflito de Culturas

“A luta entre os professores e o Ministério da Educação é um conflito de culturas e civilizações. Se permitirmos que o Ministério vença, os nossos netos serão selvagens.”
José Luiz Sarmento, autor do blogue “As minhas Leituras”

sábado, 18 de setembro de 2010

«Euroesclerose»?…

“Considerando que a Região Autónoma da Madeira não deve pactuar com aquilo a que se chama «euroesclerose», marcada por um ataque aos Valores que suportam a civilização europeia, consequência também das correntes auto-denominadas de «pós-modernismo». Considerando que não é possível, sob o ponto de vista da realidade cultural e da sua necessária pedagogia escolar, conceber a Europa e Portugal sem as bases fundamentais do Cristianismo. Considerando que, por tal, a laicidade do Estado não é minimamente lesada pela presença de Crucifixos nas Escolas e, pelo contrário, incumbe ao Estado laico dar uma perspectiva correcta da génese civilizacional dos povos, bem como dos Valores que suportam o respectivo desenvolvimento cultural. Considerando que os Crucifixos não representam em particular apenas a Igreja Católica, mas todos os Cultos fundados na mesma Raiz que moldou a civilização europeia. Não há, assim, qualquer razão para a retirada dos mesmos Crucifixos das Escolas, pelo que determino a sua manutenção. O presente Despacho vai para publicação no «Jornal Oficial» da Região Autónoma da Madeira e para execução pelo Senhor Secretário Regional de Educação e Cultura. Funchal, 14 de Julho de 2010. O Presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim”
Apesar da frequência com que discordo do «Governador» da Madeira, apraz-me a rebeldia com que amiúde despacha «à vassourada» os devaneios fundamentalistas do continente e de Bruxelas. Neste caso específico, Jardim vai mais longe e «desrespeita» a decisão (ainda não transitada em julgado) do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH). Recordo que em 2009, uma italiana (depois de o Supremo lhe ter recusado a pretensão) recorreu aquele tribunal apelando a que fossem proibidos os crucifixos nas escolas do país. O TEDH deu-lhe razão tornando obrigatória a retirada dos crucifixos, decisão que vale, não só nas escolas italianas mas, em todas as escolas dos 47 países membros do Conselho da Europa (entre os quais se encontram todos os membros da União Europeia). Em Junho passado, 10 países membros do TEDH (entre os quais se contam: a Itália e a Grécia, berço das duas maiores religiões cristãs; e a Rússia, o país europeu com o maior número de cristãos) recorreram da decisão, acusando o Tribunal de atentar contra a liberdade religiosa. Quanto à moda «abichanada» do politicamente correcto (ditada por Bruxelas e seguida religiosamente pelo Governo Luso), parece que não irá «pegar de estaca» na Madeira enquanto Jardim por lá mandar. Goste-se ou não, Alberto João Jardim lidera a única oposição política visível em Portugal.
Apache, Setembro de 2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Nós por cá, todos bem…

“Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria. Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais. E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.”
Pedro Afonso, Médico psiquiatra, no “Público” do passado dia 21 de Junho de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Desigualdades

“Se um cavalheiro anónimo barricar a entrada de um estabelecimento comercial, é provável que acabe nas páginas dos jornais devotadas ao crime ou aos distúrbios psiquiátricos (secção que os jornais normalmente não têm mas que, nos dias de hoje, deviam ter). Se um bando de cavalheiros da Greenpeace fizer exactamente o mesmo, acaba nas páginas da ecologia.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias”, de ontem (25 de Maio)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Burros há muitos...

"Há tantos burros mandando em homens com inteligência, que as vezes fico pensando se a burrice será ciência." Ruy Barbosa

domingo, 31 de janeiro de 2010

“Cem anos de simulação”

“(…) Comemorar a Iª República é igual a comemorar o dia em que o nosso tio-avô contraiu sífilis. A abolição da monarquia constitucional resultou da acção de um pequeno bando de rústicos, de carácter, conduta e aspecto duvidosos. O regime imposto pelo bando foi um exercício de limitação sucessiva de direitos concedidos, é verdade que moderadamente, até 1910. Fora a famosa liberdade religiosa, um pretexto para perseguir o clero, no resto, contas por alto, condicionou-se a liberdade de expressão, mediante censura activa, e a liberdade de voto, entretanto restrita aos alfabetizados - cujo número, durante a vigência "progressista" de Afonso Costa e comparsas, misteriosamente quase não sofreu alterações (durante Salazar, curiosamente, sim). As consequências imediatas de semelhante delírio traduziram-se na emergência do Estado Novo, que adaptou a trela nos costumes e contrapôs ao caos governativo e económico um modelo de ordem, para alívio inicial das massas. As consequências a longo prazo ainda se sentem hoje, quando um país teoricamente civilizado festeja com pompa oficial a delinquência e o atraso de vida, afinal os autênticos "valores" da I República, de que a III, para nosso embaraço, pelos vistos não abdica.”
O republicano Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias de ontem (30 de Janeiro)