CM - Não havia também algum medo dos professores de fazerem participações disciplinares dos alunos? Das consequências que lhes podiam cair em cima?
MLR - Isso pode existir. Já me têm feito referências a essa possibilidade. Mas voltamos de novo ao ponto da organização funcionar. O professor até pode ter receio ou até pode ter medo. Admito. Não é saudável, mas admito.
Apache - Medo? Ainda a semana passada fui instrutor de um Processo disciplinar com 17 participações e essa turma tem mais de 60. Imaginem que os professores perdiam o medo de fazer participações disciplinares…
(…)
Uma das críticas que se faz é ao facilitismo instalado na escola pública. Não há exigência, não há trabalho. Que a escola devia chumbar quem não sabe e não trabalha? Concorda com isto?
Sabe que há muitas contradições nesse discurso. E no nosso sistema há muitas contradições. Porque, em minha opinião, a repetência ou o chumbo é o elemento mais facilitista do sistema educativo.
Bem, se o discurso do facilitismo tem contradições, esta argumentação tem o quê?
Eis-nos irremediavelmente à deriva, num universo paralelo…
Mais facilista? Como?
É a coisa mais fácil. O aluno está com dificuldades, fica ali num cantinho da sala e no final do ano repete. Isso é o que há de mais facilitista no nosso sistema. E são muitos e pratica-se com demasiada frequência.
Hum… Talvez o problema esteja precisamente no facto de as salas terem cantos, uma sala redonda ajudava certamente na compreensão desta lógica da batata.
Com muita frequência?
Sim. Eu tenho um estudo do PISA (Programme for International Student Assessment) com coisas muito interessantes. Este estudo procura comparar os resultados dos países do Sul que têm todos estes fenómenos da repetência e como a repetência não ajuda a melhorar os resultados escolares.
Ah, pois… Se os alunos passarem todos, os resultados escolares são melhores. Raciocinio muito elaborado...
Não ficam a saber mais?
Não. O princípio é este: não sabes, ficas mais um ano para repetires toda a matéria que deste para ficares a saber. E o que acontece é que a segunda parte desta premissa não se verifica. Ele chumba, fica para repetir, repete mas não aprende. Pelo contrário. Desaprende.
Donde se conclui que o melhor é os alunos não irem à escola, evitam “desaprendizagens”…
Fica pior?
Fica pior. E por isso é que eu digo que é facilitista porque é a maneira de deixar os alunos entregues a si mesmo. É uma contradição do nosso sistema. Que é considerar que a exigência se mede pelo número dos que repetem. Nós temos inúmeros alunos a repetir muito mais do que a média de todos os países da Europa ou mesmo da OCDE. Somos o País em que há mais repetências.
Este estudo vinha no fundo do pacote das bolachas…
Mais chumbos?
Somos o País em que há mais chumbos. E por aí o nosso sistema não seria facilitista, seria exigente, mas na realidade é facilitista porque essa repetência não serve para aumentar o rigor e a exigência de trabalho com esses alunos. Ficam numa espécie de limbo que depois prejudicam muitíssimo os nossos resultados como se pode ver no estudo do PISA.
Numa espécie de limbo, está a ficar esta entrevista, algures entre a falta de vergonha e a incapacidade de encadeamento lógico das ideias.
Prejudicam como?
Se considerarmos na amostra os alunos que não repetem, os alunos que estão no ciclo adequado à sua idade têm valores iguais à média dos países da OCDE. Até produzimos mais excelência. Isto é, os nossos alunos do 7 º ano muito bons são melhores do que os muito bons dos outros países. Mas depois temos o peso dos que chumbam, dos que ficam retidos, que puxam os nossos resultados médios para baixo.
Cá está… O sistema é facilitista, mas produzimos mais excelência...
“Mas depois temos o peso dos que chumbam”… Hum… Não será o chumbo dos que pesam?
Ficam para trás?
Vão repetindo, ficam para trás e pesam nos resultados globais muito negativamente porque a repetência, de facto, na minha opinião, é facilitista porque não é um meio de os obrigar a estudar a mais e a aprender.
Daí que se um aluno que não faz a ponta de um corno, passar, sente-se imediatamente obrigado a estudar, até porque sabe a partida que se o não fizer, para castigo, passa de novo.
A entrevista prosseguiu no mesmo tom. Faz-se uma afirmação populista e seguidamente fundamenta-se o seu contrário.
Continuar a publicar esta entrevista podia prejudicar gravemente a saúde metal de hipotéticos leitores, daí, ter optado por interrompê-la aqui. Se quiserem arriscar (à vossa responsabilidade), ela encontra-se aqui.
Esperem… Se acham que estou a exagerar ao prevenir-vos, reparem no estado lastimável em que ficou o jornalista (António Ribeiro Ferreira), que escreveu assim no final…
“Maria de Lurdes Rodrigues não pára, muitas vezes nem para almoçar. A semana que passou foi uma delas. Praticamente sem tempo para almoçar. E a mulher dura, necessariamente com muito mau feitio para suportar os ataques duríssimos de sindicatos e da generalidade dos partidos da Oposição, é uma senhora adorável que pergunta ao jornalista se pode ir comendo umas bolachas durante a entrevista. Uma mulher determinada, inteligente, que percebe bem as razões que levam os professores para a rua. Nunca, em trinta anos, alguém lhes impôs princípios que são hoje universais.”
Depois não digam que não avisei…
Apache, Abril de 2008
3 comentários:
Estou a ler-te e a ouvir o programa da 2 com o Tordo a cantar a Tourada... Hum... talvez se possa depreender muito desta coincidência. Primeiro ri com gosto porque gosto do título que dás... Dona Lurdes... depois porque, de facto a senhora Dona tem um certo quê de comicidade... os tiros nos pés abundam mas a malta até gosta. O Tordo cá vai cantando que entram vacas, chocas e ... enfim... parece que nada mudou. Não me atrevo a ler mais do mesmo. Eu estou já afectada demais com esta dona coisa.
Beijocas e bom fim-de-semana para ti.
:)
Bom fim-de-semana.
um humor muito negro...
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