"Para os portugueses que conhecem a realidade das escolas e do sistema de ensino, comentar as últimas afirmações de José Sócrates é pura perda de tempo. A credibilidade do que diz não vai além da da publicidade enganosa. Mas junto dos menos esclarecidos, que infelizmente constituem a maioria, é dever cívico não as deixar passar em branco.
É preciso topete para falar do maior investimento de sempre nas escolas portuguesas, quando as verbas consignadas à Educação, em cada um dos três orçamentos de Estado da responsabilidade deste governo, decresceram sempre até atingir, no orçamento de 2008, o valor mais baixo dos últimos sete anos, quer em termos absolutos, quer em percentagem do PIB.
É preciso topete para, não contente com tal demagogia, ainda se gabar de um programa que vai obrigar qualquer governo, até 2015 - note-se bem, 2015 -, a executar orçamentos de Estado sucessivos segundo a cartilha que ele agora definiu. Onde chegou o absolutismo! Qualquer governo e ministro da educação futuros terão a vida armadilhada pela enxurrada caótica de legislação que será preciso corrigir. Mas destacar o armadilhamento das decisões dos que virão é obra dum despudor inimaginável.
É preciso topete para dizer que os que manifestam opinião contrária ao Grande Delfim ofendem os professores, os alunos e as famílias.
É preciso topete para dizer que os críticos não sabem explicar por que razão as reprovações caíram ao longo dos últimos três anos. Onde tem andado Sócrates, que não lê, não ouve, nem vê o que, de todos os quadrantes, tem formado um consenso notório? O milagre da drástica diminuição das reprovações deve-se a uma despudorada manipulação estatística, da responsabilidade do Governo.
Há dias e a esse propósito, questionado por Mário Crespo na SIC Notícias, o ministro Santos Silva foi de uma candura comovente. Disse ele não compreender os críticos de um facto evidenciado por dados fornecidos pela estatística, que é uma ciência. Como cientista social, não ignora que a natureza dos indicadores e o uso que deles se faz condiciona fortemente os resultados a que, a coberto da estatística, se pode chegar. Como professor universitário, sabe que o objecto da Ciência é a procura da verdade e que na história desse percurso abundam exemplos de enormes mistificações e desonestidades feitas em seu nome. Como político, não ignora a convicção de Maquiavel, segundo a qual a Política não conhece a Moral. Porque não aproveitou a ocasião para separar bem as águas? Por que não resistiu a dar ele próprio um belo exemplo de manipulação grosseira? Santos Silva denegriu uma sociedade científica, de cujo nome se não recordava, por ter dado um parecer favorável sobre um exame que, depois… (estupefacção do ministro)… viria a criticar fortemente, pelo seu “facilitismo”. Falava da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), a quem o Ministério da Educação pediu um parecer sobre a eventual existência de erros científicos no exame de Matemática do 9º ano. À SPM não foi pedido parecer sobre a adequação pedagógica do exame nem sobre o correspondente grau de dificuldade. A SPM já separou as águas publicamente. É preciso topete para teimar em misturá-las!O milagre da drástica diminuição das reprovações deve–se: a um estatuto do aluno que incentiva a indisciplina e desvaloriza o trabalho (os alunos podem passar sem pôr os pés nas aulas); a um estatuto do professor que baniu a palavra ensino e grudou a carreira dos docentes a resultados que dependem de muitas variáveis que eles não podem controlar; a uma autêntica avalanche normativa (há quem tenha contado 37 comandos diários) que soterrou as escolas em burocracia que o talento de Franz Kafka não imaginaria; a um perverso processo administrativo que dificulta de tal modo o chumbo que o mais inteligente é nem começar; a exames indigentes, a que só falta trazer as soluções, de patas para o ar, no final do enunciado; a uma confusão assassina sobre o que significa sucesso escolar (notas fabricadas versus conhecimento efectivamente acrescentado)."
Santana Castilho, Professor do Ensino Superior
2 comentários:
Será que o autismo é contemplado na nova legislação? Hum... deve ter um grau para políticos que não vem contemplado.
O egocentrismo da personagem é tamanho que se fosse balão já teria rebentado há muito.
Quando se reconhece o erro cresce-se enquanto pessoa... mas nem todos têm capacidades nem competências para isso.
Beijocas e bom ano
O “artista” em causa não tem inteligência suficiente para reconhecer os erros.
Bom ano. Beijinho.
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