“Triste pela falta de sacrifício e solidariedade que emperra o rumo do povo, é com extraordinário prazer que sinto a nobreza corporativa da adesão de 94% (132 mil/140 mil) dos educadores de infância e docentes do ensino básico e secundário do País, à greve nacional dos professores de 3-12-2008.
A revolta dos professores contra a degradação do ensino é uma lição de responsabilidade colectiva que é dada ao País. Podem os delirantes ‘socratinos’ tentar reduzir a indignação a salários e promoções, ou até à avaliação, mas quem sente a escola sabe que o problema é o ensino: a ‘desavaliação’, a ‘artificialização’ do sucesso educativo, a tolerância da indisciplina, a burocratização, a transformação do professor num funcionário de secretaria, a ‘reunite’, o tóxico experimentalismo pedagógico permanente do Ministério, o absurdo didáctico meta-universitário para aplicação a crianças e adolescentes que paradoxalmente contrasta com a basicidade dos exames, a desvalorização da aprendizagem face ao planeamento formal de esquemas, estratégias e metodologia, e o menosprezo da função.
O que os professores contestam no fundo do coração é a política de estupidificação do ensino que tem sido seguida desde há décadas na educação e que tem por fim, em nome de um objectivo ideológico utópico, a passagem administrativa dos alunos, garantindo um resultado irreal, com diploma inabilitante. Na era da aquisição de competências, o falhanço rotundo da utópica política educacional igualitária do ‘marçalismo’ e sucessores que gera a incompetência dos alunos ‘mal-diplomados’. A geração da incompetência funcional dos alunos ‘mal-diplomados’, inabilita, regride o nível de desempenho profissional e prejudica a recuperação tecnológica do País. E se Portugal não tem recursos naturais abundantes, o único caminho de desenvolvimento é o progresso tecnológico que fica, assim, comprometido.
Em nome da preguiça dos números reconfortantes do sucesso educativo artificial presente, abandona-se a perspectiva do futuro bem-estar. Troca-se o sacrifício do rigor da aprendizagem pelo consumo da balda da ignorância, substitui-se o trabalho pela preguiça, cede-se a excelência pela mediocridade e destrói-se o mérito pela negligência. Um desastre real motivado pela utopia ideológica.”
António Balbino Caldeira, no blogue “Do Portugal Profundo”
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