“Não é por haver algumas pessoas que se intitulam de cientistas da educação que a educação é uma ciência. Nunca foi. Não é. Nunca será.
Em Portugal, nos últimos 30 anos, não houve uma verdadeira conversação em torno da educação, das políticas educativas e das pedagogias. Houve uma peça com muitos actores a repetirem o mesmo monólogo. Uma dúzia de gurus e, duas centenas de citadores e comentadores. O mal que esta falta de conversação fez à educação pública portuguesa não tem medida. O pior de tudo foi que as mil e uma propostas de reformas educativas apresentadas e nunca questionadas foram aceites pelos governantes como se de pura ciência se tratasse. Quanto mais citações dos gurus, maior a aparência de ciência essas propostas gozavam. E os quase trinta ministros da educação acreditaram que as propostas vindas da meia dúzia de gurus e citadas pelas duas centenas de comentadores eram pura ciência. E como bons positivistas acreditaram e caíram no logro de transformarem essas propostas em legislação para as escolas e em reformas curriculares. Em 30 anos, os políticos foram destruindo a qualidade da escola pública. Criaram uma enorme confusão. A escola pública tinha qualidade e os nossos diplomados ombreavam com os melhores do mundo. O único problema da escola pública era que não estava ao alcance de todos. Alguma qualidade que ainda persiste é devida ao bom senso, ao empenhamento e ao sacrifício dos professores. Felizmente, ainda há muitos professores que resistem às orientações tolas vindas do ministério da educação. Se assim não fosse, o desastre seria maior.
Em Portugal, não há o hábito de discordar. Os gurus rodearam-se de uma aura de credibilidade inquestionável e têm sido protegidos por legiões de panegiristas. O compadrio, o nepotismo e a protecção dos que dizem bem de nós e nos adulam continuam a ser o timbre das elites portuguesas. É através da adulação e do compadrio que se sobe na vida.”
Ramiro Marques, no blogue “Profavaliação” de que é autor, Janeiro de 2009
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