Ou, como os autores lhe chamaram, “Politicas de valorização do primeiro ciclo do ensino básico em Portugal”
Um relatório pago e editado pelo Ministério da Educação (ME), tornado hoje público, concluiu, com base em dados fornecidos pelo próprio ME, que todo o lixo por eles produzido nos últimos 4 anos é lixo de excelente qualidade. Que surpresa, não estava nada à espera.
O Relatório baseia-se nos dados fornecidos pelo Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação do ME (GEPE) e em “reuniões” nas quais foram ouvidos 58 intervenientes no processo educativo, onde se incluíram 10 coordenadores de escola, sendo estes (da lista apresentada) os elementos entrevistados que mais próximo estão de uma sala de aula.
Na página do ME, lê-se que o “estudo corresponde a uma avaliação intermédia, realizada durante a fase de implementação das reformas”, por uma equipa liderada por Peter Matthews (a qual inclui Alexandre Ventura, o oportunista que agora preside ao CCAP), de acordo com a metodologia usada pela OCDE. Destaca-se mais adiante que “as medidas desenvolvidas para a reorganização do 1.º ciclo já estão a produzir resultados”, conclusão que deixa clara a credibilidade do relatório. Medidas ainda em fase de implementação já produzem resultados mensuráveis, proporcionando “melhorias efectivas nos resultados educativos.” Melhor só na cochinchina.
Acrescenta o ME que, apesar de serem cópias de “boas práticas de outros países (…) estão a atrair um crescente interesse a nível internacional.” Por outras palavras, já existia algo semelhante numa qualquer república das bananas, mas o facto de um país da União Europeia amochar perante o culto da parvoeira institucionalizada, está a transformar-nos num 'case study'.
Quanto aos principais resultados e às recomendações…
“A decisão de encerrar as escolas do 1.º ciclo de pequena dimensão é considerada positiva pelos autores do estudo, que consideram os benefícios de apostar em melhores instalações e enquadramento social em escolas maiores superiores às desvantagens associadas às viagens realizadas pelas crianças.”
Os autores do relatório esqueceram-se de ter em conta inúmeros casos em que as crianças foram transferidas para escolas mais distantes da residência e com piores instalações.
“Os resultados no 1.º ciclo estão a melhorar e os alunos têm acesso a um currículo de mais qualidade.”
Conclusão baseada nas ridículas provas de aferição que o ME tem levado a cabo no 1º Ciclo? Ou ainda melhor, conclusão sem fundamento?
“A alteração das regras de gestão das escolas, designadamente no que respeita à eleição do director, é encarada de forma positiva, na medida em que permite uma escolha baseada no mérito profissional dos candidatos.”
Quando tínhamos um Presidente do Conselho Executivo eleito por toda a escola, o seu mérito profissional não era considerado, mas agora que temos um Director (na maioria dos casos, a mesma pessoa) eleito por 'meia dúzia' de iluminados, o seu mérito passou a ser valorizado.
“Apesar de reconhecer que a avaliação interna das escolas tem registado progressos significativos, o relatório recomenda a re-introdução [o erro de grafia é da responsabilidade do ME] da observação de aulas por parte dos inspectores.”
Está tudo a decorrer optimamente, mas ainda seria melhor se, os inspectores, esses professores exemplares que há muitos anos trocaram as salas de aula pelos corredores da IGE, forem às escolas explicar como se deve dar uma aula.
E finalmente, a tradicional cereja:
“O relatório recomenda a eliminação da retenção no 1.º ciclo e a definição de critérios para «boas aulas».”
Noto uma certa incongruência no discurso… Deixando de haver retenções, deduz-se (pelo tipo de raciocínio (sem ofensa) do ME) que todas as aulas são excelentes, pelo que o empenho na produção de receitas deve ser reencaminhado para outros níveis de ensino.
Apache, Janeiro de 2009
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