Foi esta a ideia deixada pelo sociólogo, Boaventura Sousa Santos, professor catedrático da Universidade de Coimbra, que em entrevista dada na passada quinta-feira pôs o dedo (ainda que levemente) na ferida que “Bolonha” abriu no nosso sistema de ensino superior.
Diz o professor: a descapitalização das universidades com reduções de 16% nos seus orçamentos está a “virar a investigação contra o ensino, como se se pudesse ensinar sem investigação”. Acrescentando que a culpa da má aplicação do “Processo” recai, não apenas na tutela, mas também em alguns professores universitários. “É preciso denunciar ao país que isto é um branqueamento de Bolonha e que se está a tentar fazer disto um «show off» quando na realidade é um problema que tem de ser ratado de uma forma muito mais corajosa”.
Em minha opinião, o que se passa com “Bolonha” não é muito diferente do que nos últimos anos se tem passado com a esmagadora maioria das medidas tomadas pelos governos. Sob a capa de uma ideia com aspectos positivos, neste caso, a livre circulação de alunos pelas instituições do “espaço europeu” e o reconhecimento “automático” dos certificados (ainda que, em ambos os casos, discorde da sua extensão a todo o espaço comunitário), na realidade, o Processo de Bolonha é pouco mais que uma iniciativa que visa reduzir custos e combater o insucesso pela já “velha” política do facilitismo, há muito em voga no ensino básico e secundário.
Com “Bolonha”, a generalidade dos cursos superiores perdeu carga horária; as licenciaturas passaram dos 5 anos (em média) de duração, para 3. Os mestrados, de 7 para 5. E os doutoramentos, antes nunca inferiores a 9 anos de estudos superiores, passaram agora para 7, constando que nalguns cursos e faculdades se podem tirar em 5 anos, saltando o mestrado.
Portugal, tradicionalmente tido com um dos melhores sistemas de ensino, a nível europeu (e consequentemente mundial), graças às políticas educativas das últimas décadas, vê-se agora transformado, numa espécie de “Estados Unidos do Mediterrâneo”, onde, em termos de qualidade de ensino, apenas meia dúzia de faculdades e duas ou três dezenas de cursos resistem estoicamente aos alucinados de “Boston” (e não só) que pretendem substituir o ensino pela certificação, a cultura pelo ‘marketing’, a ciência pela adivinhação. Tal como no básico e secundário, também no superior, está (agora) aberta a Caixa de Pandora.
Apache, Outubro de 2009
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