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domingo, 31 de outubro de 2010

Light side

Há sorrisos, olhares, cumplicidades que, mesmo sendo breves, dão mais sentido à noção de eternidade.
Apache, Outubro de 2010

domingo, 27 de setembro de 2009

Está muita gente doente, no meu país

“Numa ruela de má fama
Faz negócio um charlatão
Vende perfumes de lama
Anéis de ouro a um tostão
Enriquece o charlatão.”

“É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir.”

“Na ruela de má fama
O charlatão vive à larga,
Chegam-lhe toda a semana
Em camionetas de carga
Rezas doces, paga amarga.”

“Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar
A enganar o povo que acreditou.”

“Pergunto à gente que passa,
porque vai de olhos no chão?
Silêncio... é tudo o que tem
quem vive na servidão.”

“Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder.”

“Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.”

“Entre a rua e o país
Vai o passo de um anão
Vai o rei que ninguém quis
Vai o tiro dum canhão
E o trono é do charlatão.”

“Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça,
há sempre alguém que semeia,
canções no vento que passa.”

“Mesmo na noite mais triste,
em tempo de servidão,
há sempre alguém que resiste,
há sempre alguém que diz não!”
Apache, Setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Legislativas 2009 - Primeira Sondagem

“Não sei quem vai ganhar a velhacagem «eleiçoeira» que se avizinha. Não sei e, para ser franco, não me interessa. Mas sei, de certeza, quem vai perder. É o do costume: o país. Portugal, chamaram-lhe em tempos. Mais um prego no caixão e mais um certame de vermes. Entre o Pinóquio e a Bruxa, o diabo não escolhe: patrocina.”
Dragão, do blogue “Dragoscópio”

domingo, 12 de abril de 2009

Feliz Páscoa!

“Acredito no Deus que fez os homens mas não no deus que os homens fizeram.” [Alphonse Karr] “Deus constrói o seu templo no coração dos homens sobre as ruínas das igrejas e das religiões.” [Ralph Emerson] “Deus é a lei e o legislador do Universo.” [Albert Einstein]

"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida." [Jesus Cristo]

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

3º Aniversário

[O Último dos Moicanos completa hoje o terceiro aniversário. Vai daí, relembrando datas em que o tempo e a (des)inspiração o permitiam, retomo uma espécie de “escrita à deriva”.]
Por oposição (ou talvez não) às “cartas de amor”, aqui fica um…
Bilhetinho de “desamor”
Com um sorriso estendes-me o céu como tapete mas as tuas palavras são estrelas ninja com que me rasgas o peito… Acaricias-me a carne dilacerada, com o vento morno do teu olhar, mas cuidas-me as feridas com unguento de sal e cicuta… O amor que desesperadamente assassinas é o mesmo monstro que em mar de sôfregas lágrimas, adoras… O fosso de saudade que herculeamente cavas com a tua ausência é o campo de forças indómito que nos une… Lanças-me, anjo negro, o beijo mais apetecido, mas a paixão que semeámos é Fénix nas chamas do desejo renascida… Morra ela de nós, feda pútrida no mais fundo dos abismos, extinga-se no limiar da eternidade, se a cada sístole, o teu sangue não gritar o meu nome.
Apache, algures num passado não muito distante

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Pedro e Inês

Enquanto esperava, Pedro afastou a imponente colcha vermelha, que cobria uma generosa cama de madeira de cerejeira. Ao sentar-se na berma da cama, observou uma velha telefonia que repousava tranquila sobre a mesa-de-cabeceira, instintivamente esticou o braço para a ligar mas… Olhou então em volta, quase inspeccionando o quarto que o rodeava, e que se revelava relativamente pequeno, quando comparado com a cama que ocupava uma posição central, encostada a uma das paredes, deixando apenas em redor, uma estreita faixa de chão. Ao fundo, a porta dava acesso a um pequeno corredor com mais duas portas, a de entrada e a da casa de banho, de onde Pedro esperava ansiosamente ver sair Inês. Vestindo modestamente as paredes, encontravam-se dois quadros, um, colocado na parede lateral representava o exuberante «Carnaval de Veneza», o outro, colocado (talvez ironicamente) por cima da cama, exibia uma enigmática escada em caracol, coberta por uma passadeira vermelha, com um imponente corrimão em madeira luxuosamente talhada, intitulado «Ascensão e Queda». Numa discreta prateleira contígua, um único livro desperta de imediato a curiosidade dos amantes da literatura «Crime e Castigo» de Dostoievski. Pedro levantou-se e começou a folhear o livro como se o não conhecesse, mas acabou por levantar os olhos em direcção à pequena janela da restante parede do quarto. Pousou o livro e dirigiu-se para ela, pensando que talvez fosse possível avistar dali a praia, mas a desilusão foi imediata… Claro, a praia ficava do outro lado e o aluguer desses quartos devia ser bem mais caro. Observou por instantes o cinzento do céu e a fraca luminosidade daquela quente e abafada tarde de início de Julho. Cortando este misto de frustração e nostalgia, baixou sofregamente a persiana, deixando o quarto completamente escuro. Descalçou os sapatos, despiu a t-shirt e deitou-se sobre a cama, com as mãos entrelaçadas atrás da cabeça, que pousou numa almofada rosada. Acedeu os dois pequenos candeeiros de parede, deixando o quarto com uma luminosidade romanticamente discreta. Voltou a olhar de relance o velho rádio que permanecia mudo, enquanto ao longe o mar cantarolava uma suave melodia de enternecer… Inês saía finalmente do banho. Trazia o corpo envolto numa toalha branca, que realçava o tom dourado da sua pele e os longos cabelos ainda molhados. Enquanto caminhava para ele, sorria, Pedro hesitava entre desejar a eternização daquele momento ou arrancar avidamente a toalha que escondia o corpo perfeito de Inês. Ela leu-lhe o pensamento. Ao chegar junto da cama, deixou cair a toalha e atirou-se sobre ele. Os dois abraçaram-se e beijaram-se sofregamente, o corpo dela cheirava a morangos, para Pedro, o tempo tinha de facto parado naquela tarde, enquanto os Anjos tocavam “Strawberry Fields Forever”. Breves instantes depois, o suor escorria do corpo de ambos, como se o fogo do desejo jorrasse líquido por cada um dos seus poros. O suor e a saliva de Inês não eram salgados, sabiam a leite e a mel e Pedro bebia-os como se fossem o elixir da vida… Era já noite alta, o tempo, fora daquele quarto prosseguia a sua marcha cruel, ambos tinham de se separar e retornar às suas vidinhas vulgares. Inês levanta-se e veste-se lentamente, enquanto Pedro a observa… Pedro salta da cama e abraça Inês uma última vez, como se esse abraço perpetuasse a indomável paixão que irónica ou tragicamente se associa sempre aos amores impossíveis, de agora, como de antes, destes, como de outro Pedro e de outra Inês, uma paixão imortal, escrita com lágrimas de sangue exalando o sublime perfume da morte!...
Escrito para o "Simply Red" da Morgana - Apache, Julho de 2006

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Que...

Que a palavra amor seja apagada em todos os escritos, esquecida em todas as línguas... Para que jamais me ouças dizer que te amo!... Que a brisa te não volte a acariciar, que a Lua não olhe mais para ti... Para que eu não possa mais sentir ciúmes!... Que o Sol não beije mais, a tua pele... que as flores percam a sua cor e o seu perfume... que se extinga tudo o que é belo... Para que eu não possa dizer que toda a beleza do mundo é um mísero detalhe cénico na divina perfeição do teu corpo!... Que se calem os pássaros, os rios e o mar... mas que não se faça silêncio... Para que no meio dele eu não ouça a tua voz!... Que se acabem as canções... que se proíba a poesia... Que se extingam os sonhos... que se apaguem as estrelas... Para que jamais te possa lembrar!...
Apache, Abril de 2006

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Posso. Mas não vale a pena…

Posso escrever os versos mais tristes esta noite… Posso reescrevê-los incessantemente nas noites que hão-de vir… De nada valem… Tu nunca os lerás… E se por mero acaso, o fizesses, jamais perceberias que foram escritos para ti… Queria esconder-te o meu olhar para que não leses o que não mereces saber…. De nada vale, o que te diria está escrito nas estrelas e nunca conseguiste lê-lo…
Nunca escutaste no vento o meu grito de desespero… Nunca tacteaste o teu nome gravado a fogo no meu peito… Nunca cheiraste na minha pele o perfume do teu suor… Nunca provaste nos meus beijos o mel da tua boca… Não me mereces…
Como é possível que não te doa a ferida aberta que deixaste em mim?!...

Apache, Fevereiro de 2006