Mostrar mensagens com a etiqueta Vasco Pulido Valente. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Vasco Pulido Valente. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Um 5 de Outubro “diferente”


Comemorou-se no passado sábado o octingentésimo septuagésimo (870.º) aniversário da assinatura do Tratado de Zamora que “oficializou” a independência de Portugal. Cento e três anos depois do “braço armado” da maçonaria (a carbonária) ter imposto, à revelia da vontade popular, o actual regime, os políticos e o povo em geral devotaram à comemoração da segunda data o mesmo desprezo que no último século lhes mereceu a primeira.

Sobre o tema, deixo um texto de Vasco Pulido Valente, cujas crónicas constituem um dos poucos motivos válidos para insistir na leitura de um dos pasquins do regime, o jornal Público.

“Este é o primeiro ou segundo ano em que não se comemora o "5 de Outubro". Mas nunca a "estranha" queda da Monarquia foi tão importante para compreender a política portuguesa. A origem dessa queda começou na degradação dos partidos do regime (o Partido Regenerador e o Partido Progressista), que pouco a pouco se dividiram em quadrilhas (cada uma com seu chefe ou "marechal") e se combateram ferozmente com a prestante ajuda dos revolucionários republicanos. A história começou com o vexame diplomático do "Ultimato Inglês", continuou com sucessivas crises financeiras de 1890 a 1902, para acabar no assassinato de D. Carlos em 1908 e no caos que ele necessariamente provocou. Durante vinte anos, nem os regeneradores, nem os progressistas se conseguiram entender para fortalecer a Monarquia de que, afinal de contas, a sua própria sobrevivência dependia.
Desde o princípio (1890-1891) explodiram querelas no Partido Regenerador entre os três candidatos que persistentemente se acusavam e caluniavam para chegar à chefia absoluta, que, supunham eles, lhes garantia um poder quase ilimitado sobre o país: João Franco, Hintze Ribeiro e Júlio de Vilhena. Mas, depois da morte do rei, apareceram outros. João Franco chegou mesmo a uma cisão definitiva, criando o Partido Regenerador-Liberal, a que a “inteligência” portuguesa aderiu entusiasticamente. Um pouco mais tarde, José Maria Alpoim também se resolveu separar do Partido Progressista e fundou a “Dissidência Progressista”, famosa pela sua radical falta de escrúpulos.
D. Carlos, que percebia os perigos da situação, ainda tentou reorganizar o sistema partidário, com a ajuda de Franco e dos regeneradores-liberais. Infelizmente, era tarde para um exercício tão profundo e duro. Ele foi mesmo morto no Terreiro do Paço e Franco exilado. O desprezo que os portugueses tinham pela política, e muito particularmente pelos partidos, fez com que não mexessem um dedo para pôr alguma ordem e seriedade na política e, no “5 de Outubro”, para defender o regime da insurreição republicana. Basta dizer que no exílio (e tirando meia dúzia de obstinados) nem o rei D. Manuel queria voltar para Portugal. Embora odiassem a república, a classe média e grande parte da população não a tencionavam trocar por um regresso à vida velha; e até se divertiam a observar a humildade dos seus depenados senhores.”
Apache, Outubro de 2013

sexta-feira, 30 de março de 2012

O problema do país não é ter um Sócrates é ter uma matilha deles

Sobre o ex-Primeiro Ministro, José Sócrates, questiona-se, no jornal Público, edição de hoje, Vasco Pulido Valente:
"A questão é a de explicar como ele conseguiu submeter à sua vontade um PS aprovador e dócil e, quase sem protesto, levar atrás de si (ou persuadir ao silêncio) uma considerável quantidade de pessoas com idade para ter juízo."
A resposta parece óbvia, a política serve, dizem os teóricos da Ciência Política, para servir a causa pública (é o princípio da prevalência do interesse de todos sobre os interesses de alguns) mas Sócrates inverteu a lógica, a política serviu-lhe para encher os bolsos (ou onde acham que arranjou dinheiro para viver em Paris “de papo para o ar”) e os dos amigos e camaradas de partido. O silêncio compra-se facilmente, assim haja dinheiro. E o estado caótico das contas públicas demonstra bem que houve dinheiro, muito dinheiro.
A má notícia (lamento, estão longe do fim) é que continua a haver muito dinheiro, que muitos farejam à distância, como Sérgio Monteiro, actual Secretário de Estado dos Transportes, o lobo que agora se vestiu de cordeiro na recente entrevista ao inconveniente (quando dá jeito) José Gomes Ferreira.
Apache, Março de 2012

sábado, 12 de março de 2011

Geração à rasca ou geração embusteada?

“Neste dia só se pode falar de educação. Porque os jovens que hoje tencionam sair à rua para protestar contra um mundo onde hoje não têm lugar precisam de saber como foram enganados e, mais precisamente, por quem. Foram enganados pelos governos de Portugal, desde um homem nefasto que se chamava Veiga Simão (e que, segundo ele, “democratizou” o ensino no tempo de Marcelo Caetano) até a Isabel Alçada e ao inefável Sócrates, passando por cada um dos discípulos do sobredito Veiga (Vítor Crespo, Roberto Carneiro e Marçal Grilo) e por dezenas de senhores que em trinta anos mandaram na economia e que pediram insistentemente mão-de-obra “qualificada”, como se na mão-de-obra “qualificada” estivesse o fundamento de todo o progresso. Não está e há muito tempo que é público e notório que não está. Um país não enriquece porque se educa. Pelo contrário, na maior parte dos casos, trata de se educar, quando enriqueceu. Basta pensar, por exemplo, que nunca ninguém promoveu a literacia por um motivo primariamente económico. Os judeus ensinavam a ler as crianças para que elas lessem o Talmude. Os protestantes, incluindo os da Inglaterra e da Escócia) para que elas lessem a Bíblia. Os prussianos para que lessem ordens de batalha (daí o mito universal de que a escola ganhara a guerra franco-prussiana). E os próprios franceses encheram a França de escolas, não para a “desenvolver” (nem sabiam o que isso era), mas para arrancar a população às trevas do catolicismo. O Sul da Europa ficou à parte deste esforço, porque na Igreja se falava latim e os pais queriam os filhos para trabalhar. A tecnologia moderna convenceu infelizmente algumas pessoas de cabeça fraca que uma licenciatura (ou um grau académico superior) abria as portas para um emprego estável e para uma vida de classe média. Claro que a frequência de uma universidade é um bem em si mesmo. Só que já não é a garantia de nada. Em economias como a americana, há emprego para pessoas com altas qualificações (não forçosamente técnicas) e para pessoas com baixas qualificações. No meio há muito pouco emprego e muito mal pago. A informática eliminou milhões de lugares e a “deslocalização” do trabalho, outros milhões. Para o que ficou o equivalente ao 12.º ano chega e, às vezes, sobra. Os jovens deste 11 de Março são vítimas de um Estado que lhes mentiu e que os roubou e agora, quando eles se queixam, responde, como o Sr. Sócrates, com o silêncio ou com insultos.”
Vasco Polido Valente, no jornal "Público", de hoje

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O execrado

“Fora a gente sem nome que fez do PS um modo de vida, não há ninguém na política ou no jornalismo que se atreva a justificar o primeiro-ministro, José Sócrates. Não me lembro - excepto em ditadura - de nenhum homem público tão profundamente execrado. O desprezo e a hostilidade variam de tom e pretexto, mas Sócrates conseguiu unir Portugal inteiro contra ele. E não só por causa do PEC III, que infalivelmente nos levará à miséria (embora isso também conte). O que o cidadão comum detesta é a pessoa: a pessoa que ele exibe no Parlamento e no país. (...)”
Vasco Pulido Valente, no “Público” de ontem

domingo, 30 de novembro de 2008

"Os professores" - Vasco Pulido Valente

“O que é um bom professor? Antes de responder, dois pontos. Primeiro, não há, ou só há por milagre, bons professores numa escola má. Segundo, não há bons professores, sem alunos bons: mais precisamente sem alunos com o interesse e a determinação de estudar. Uma boa escola implica uma cultura específica, um espírito colectivo, fins de uma cristalina clareza e o respeito geral da comunidade. Um amontoado de professores (por muito qualificados que sejam) e um amontoado de alunos, que se limitam a cumprir contrariadamente uma formalidade obrigatória, perante a indiferença da comunidade, não passam de um «ersatz» da verdadeira coisa. O sistema de ensino em Portugal é em grande parte um «ersatz», em que a “avaliação” de professores não faz qualquer espécie de sentido e vai inevitavelmente resvalar para a injustiça e o abuso.
Dito isto, um bom professor, como sabe qualquer pessoa educada (hoje uma raridade zoológica), é o professor capaz de transmitir a paixão de aprender. Não é o professor “popular” ou o que “explica bem”. E não é, com certeza, o professor “dinâmico” que “melhora as notas” e diminui as “taxas de abandono”, com que a sra. ministra sonha. A elevadíssima ambição de apresentar à “Europa” e ao governo “estatísticas” menos miseráveis nunca serviu de critério pedagógico. Mas basta olhar o modelo oficial das “provas” de “avaliação” para se perceber que serve agora de único critério pedagógico.
Manifestamente a sra. ministra decidiu pôr os professores a trabalhar para os números. Para os números dela.
Não vale a pena examinar a “avaliação” que se prepara. Da desordem disciplinar ao vexame de um “polícia” na aula; da vigilância dos “faltosos” (completamente inútil) a actividades extracurriculares (que ninguém pediu e de que ninguém gosta); da “meta” dos “resultados” (que nada significa e é falsificável) à obrigação grotesca de estabelecer, para cada “objectivo” burocrático, um “objectivo estratégico”, um “objectivo táctico” e um “objectivo operacional” — a insensatez não pára, E provavelmente não irá parar. A sra. ministra não é deste mundo. E ouve vozes.
Perante a balbúrdia e os protestos, que provocou, continua convencida da sua razão. Quanto ao governo e ao PS já descobriram o culpado — como de costume, o PC — e também querem “estatísticas” que não envergonhem a Pátria. O ensino não conta.”
Vasco Pulido Valente, no Público de 15/11