Comemorou-se no passado sábado o octingentésimo septuagésimo (870.º) aniversário da assinatura do Tratado de Zamora que “oficializou” a independência de Portugal. Cento e três anos depois do “braço armado” da maçonaria (a carbonária) ter imposto, à revelia da vontade popular, o actual regime, os políticos e o povo em geral devotaram à comemoração da segunda data o mesmo desprezo que no último século lhes mereceu a primeira.
Sobre o tema, deixo um texto de Vasco Pulido Valente, cujas crónicas constituem um dos poucos motivos válidos para insistir na leitura de um dos pasquins do regime, o jornal Público.
“Este é o primeiro ou segundo ano em que não se comemora o "5 de Outubro". Mas nunca a "estranha" queda da Monarquia foi tão importante para compreender a política portuguesa. A origem dessa queda começou na degradação dos partidos do regime (o Partido Regenerador e o Partido Progressista), que pouco a pouco se dividiram em quadrilhas (cada uma com seu chefe ou "marechal") e se combateram ferozmente com a prestante ajuda dos revolucionários republicanos. A história começou com o vexame diplomático do "Ultimato Inglês", continuou com sucessivas crises financeiras de 1890 a 1902, para acabar no assassinato de D. Carlos em 1908 e no caos que ele necessariamente provocou. Durante vinte anos, nem os regeneradores, nem os progressistas se conseguiram entender para fortalecer a Monarquia de que, afinal de contas, a sua própria sobrevivência dependia.
Sobre o tema, deixo um texto de Vasco Pulido Valente, cujas crónicas constituem um dos poucos motivos válidos para insistir na leitura de um dos pasquins do regime, o jornal Público.
“Este é o primeiro ou segundo ano em que não se comemora o "5 de Outubro". Mas nunca a "estranha" queda da Monarquia foi tão importante para compreender a política portuguesa. A origem dessa queda começou na degradação dos partidos do regime (o Partido Regenerador e o Partido Progressista), que pouco a pouco se dividiram em quadrilhas (cada uma com seu chefe ou "marechal") e se combateram ferozmente com a prestante ajuda dos revolucionários republicanos. A história começou com o vexame diplomático do "Ultimato Inglês", continuou com sucessivas crises financeiras de 1890 a 1902, para acabar no assassinato de D. Carlos em 1908 e no caos que ele necessariamente provocou. Durante vinte anos, nem os regeneradores, nem os progressistas se conseguiram entender para fortalecer a Monarquia de que, afinal de contas, a sua própria sobrevivência dependia.
Desde o princípio (1890-1891) explodiram querelas no Partido
Regenerador entre os três candidatos que persistentemente se acusavam e
caluniavam para chegar à chefia absoluta, que, supunham eles, lhes garantia um
poder quase ilimitado sobre o país: João Franco, Hintze Ribeiro e Júlio de
Vilhena. Mas, depois da morte do rei, apareceram outros. João Franco chegou
mesmo a uma cisão definitiva, criando o Partido Regenerador-Liberal, a que a
“inteligência” portuguesa aderiu entusiasticamente. Um pouco mais tarde, José
Maria Alpoim também se resolveu separar do Partido Progressista e fundou a
“Dissidência Progressista”, famosa pela sua radical falta de escrúpulos.
D. Carlos, que percebia os perigos da situação, ainda tentou
reorganizar o sistema partidário, com a ajuda de Franco e dos
regeneradores-liberais. Infelizmente, era tarde para um exercício tão profundo
e duro. Ele foi mesmo morto no Terreiro do Paço e Franco exilado. O desprezo
que os portugueses tinham pela política, e muito particularmente pelos partidos,
fez com que não mexessem um dedo para pôr alguma ordem e seriedade na política
e, no “5 de Outubro”, para defender o regime da insurreição republicana. Basta
dizer que no exílio (e tirando meia dúzia de obstinados) nem o rei D. Manuel
queria voltar para Portugal. Embora odiassem a república, a classe média e
grande parte da população não a tencionavam trocar por um regresso à vida
velha; e até se divertiam a observar a humildade dos seus depenados senhores.”
Apache, Outubro de 2013