Segundo noticiou o “Expresso” de ontem, os professores do Ensino Básico e Secundário foram a segunda classe profissional mais prejudicada (logo a seguir aos diplomatas) nas actualizações anuais de vencimentos. Desde 2000 (inclusive), os docentes têm visto os seus vencimentos actualizados sempre abaixo da taxa de inflação, tendo nestes oito anos, perdido 12% do poder de compra.
Na realidade, a questão é muito mais grave. Só nos últimos anos (com a actual equipa ministerial), a carreira sofreu alterações profundas, resultando todas elas em significativo prejuízo económico, perda de direitos sociais e desprestígio da classe, junto da opinião pública.
Por exemplo: entre Agosto de 2005 e Dezembro de 2007, o tempo de serviço não contou para a progressão na carreira; o número de anos de permanência em cada escalão foi aumentado; Os três escalões mais altos (da carreira), foram vedados a (pelo menos) dois terços dos docentes, mesmo que na sua avaliação de desempenho, este seja classificado como positivo; deixou de ser possível faltar para acompanhar ao médico, filhos menores; a formação profissional obrigatória passou a ter de ser realizada aos fins-de-semana, nas interrupções lectivas do Natal ou da Páscoa, ou nas férias; a idade da reforma passou para os 65 anos (numa profissão de elevado desgaste) independentemente do número de anos de serviço… E isto são só alguns exemplos, pois para descrever fielmente a nova realidade, muitas páginas de texto seriam necessárias.
Um professor que tenha iniciado a carreira à 10 ou 15 anos atrás, chegará (com as novas regras) à idade da reforma, tendo recebido entre 50 a 60 mil euros a menos ao longo da carreira.
Entretanto milhares de escolas do interior foram encerradas nos últimos anos, e milhares de outras continuam profundamente degradadas; as turmas permanecem enormes (algumas com 30 alunos); os professores do ensino especial, colocados, são cada vez menos; os manuais escolares estão cada vez mais politizados e com menor qualidade científica; os certificados de habilitações certificam cada vez menos conhecimentos e competências; e o Ministério produz cada vez mais legislação sem avaliar correctamente as suas consequências, à velocidade vertiginosa da diarreia mental dos seus mais altos dirigentes.
Quando comparado com tamanha destruição da dignidade dos docentes, ganhar hoje, 12% menos que em 2008, é um pormenor quase irrelevante.
No Ensino Superior, agora com ministério próprio, mas rumo idêntico, assinou-se Bolonha para se inflacionarem diplomas que certificam (também) cada vez menos, cortaram-se verbas ao financiamento das universidades, que o défice (mental dos nossos governantes) assim o exige e mantêm-se milhares de docentes (quase todos doutorados, dos tempos em que havia Doutores e não Bolonheses) com contratos a prazo, em trabalho pouco menos que escravo.
Enquanto isto, os Sindicatos representativos do sector, fazem greves de um dia, múltiplas vigílias, penduram muitas faixas nos estabelecimentos de ensino, distribuem autocolantes e panfletos (sobretudo à frente dos operadores de câmara das televisões) e fazem circular na Net variadas petições.
A maioria dos docentes opta por fingir que nada se passa e qual cachorro obediente e cobarde insiste em lamber as mãos nojentas de um dono sádico e maquiavélico.
É o circo das “Novas Oportunidades” e do "Choque Tecnológico", no mundo do faz de conta, que já levaram a altos cargos, arqueólogos iletrados, que encontraram diplomas em escavações efectuadas em pacotes de cereais, como António Nunes, Armando Vara ou José Sócrates.
Apache, Janeiro de 2008