quinta-feira, 20 de abril de 2006

O teu corpo...

Sabe à água da fonte, sabe à luz do luar... Sabe às flores do monte, sabe às ondas do mar! Sabe ao sol de Inverno, sabe à terra quente... Sabe ao toque terno, sabe ao desejo ardente! Sabe a tudo e sabe a nada, sabe a sim e sabe a não... Sabe a paixão alada, a pecado e a perdão! Sabe a cais e a porto-de-abrigo, sabe a ter e a mais querer... Sabe ao que penso e ao que digo, mais ao que eu não sei dizer! Respiro o teu corpo, bebo o teu olhar... Acendo o teu fogo, conjugo o verbo amar!...
Apache, Abril de 2006

domingo, 16 de abril de 2006

Louvor à coragem do Zé...

O governo que lideras tornou-se, tanto por acção como por omissão, adepto, para não dizer acérrimo defensor, da ideia que ultimamente ganhou forma na sociedade portuguesa, segundo a qual, os funcionários públicos são os primeiros responsáveis pela derrapagem das contas públicas e pelo descalabro da economia. Ora, sendo a Administração Pública a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, este balear dos próprios pés, que poderia ser interpretado como puro masoquismo é na realidade, obra de um visionário (no bom sentido, é claro!).
De facto o sector público português é um verdadeiro monstro, senão vejamos...
Segundo o “Statistics in Focus” do Eurostat (departamento de estatísticas da União Europeia), a despesa portuguesa com os salários e benefícios sociais dos funcionários públicos portugueses é inferior à média dos restantes países da Zona Euro.
O “L´Emploi en Europe”, outra publicação da Comissão Europeia, compara em 2003, a percentagem de funcionários públicos com a totalidade dos empregados de cada país da União. A média europeia é de 25,6%, enquanto em Portugal essa percentagem é de apenas 18. A tua “amada” Suécia tem 326 funcionários públicos por cada 1000 trabalhadores. Sabes qual é o défice público da Suécia?! Não há défice! A Suécia tem apresentado na última década, sistemáticos excedentes orçamentais!
É obvio que os gajos não percebem nada de investimento e gastam o dinheiro à toa, pá! Cambada de comunas!....
O que eu me ri quando o teu governo agitou (e bem!) a bandeira do peso das despesas com a saúde e a seguir vieram aqueles totós da OCDE dizer que na Europa dos 15, o gasto médio anual por habitante é de 1458 €, enquanto em Portugal é de 758 €. E que todos os restantes países, com excepção da Grécia, gastavam mais que nós. A França, quase 4 vezes mais, pá!
Mas não ficam por aqui, as barbaridades (no bom sentido, repito!) anunciadas e praticadas pelo teu governo...
A taxa social que incide sobre os salários cifra-se em 34,75 por cento, sendo 11 pagos pelo trabalhador e os restantes 23,75 pagos pela entidade patronal. É cada vez maior o número de trabalhadores por conta própria e empresas, que fogem às suas obrigações contributivas para os regimes de protecção social, assim como aos impostos sobre o rendimento, ante a passividade dos governantes. E enquanto o seu patrão, o estado, acumula dívidas que só à Segurança Social e à Caixa Geral de Aposentações ascendem a mais de 4 mil milhões de Euros, os funcionários públicos pagam!
Olha, o Jardineiro é que tem razão, são uma corja de cubanos, idiotas!
Acho que uma das tuas “jogadas” mais geniais foi teres escolhido o Luís, para contabilista-mor deste reino da falácia (no bom sentido!!!). Logo o Luís, que não teve pruridos políticos, morais ou éticos em acumular 7 mil Euros de salário, com os 8 mil de reforma como Vice-governador do Banco de Portugal, conseguida aos 49 anos de idade, com apenas 6 de serviço. Com o agravante, de a obscena (em termos puramente platónicos, claro!) decisão, ter tido origem numa proposta de um órgão colegial que o próprio integrava, em clara violação do CPA.
Ficámos desolados, quando saiu por motivos pessoais, parece que enjoava quando andava de avião ou de comboio de alta velocidade.
Só conseguimos recompor-nos quando soubemos que tinhas nomeado o Nando, para o substituir… O Nando, o homem que preside, perdão presidia, à CMVM e que acumula quase tantos tachos (leia-se trens de cozinha!) como o Chelsea de Mourinho acumula vitórias.
Destaco aqui a tua decisão iluminada de aumentar os impostos, claramente em sentido inverso do que fizeram os países do teu “encantamento”, Finlândia e Suécia, que decidiram baixá-los em 4 e 3,3%, respectivamente.
Podias ter optado por cobrar os mais de 3 mil milhões de Euros que as empresas privadas devem à Segurança Social?
Podias ter posto em prática um plano para execução das dívidas fiscais pendentes nos Tribunais Tributários e que ascendem a mais de 20 mil milhões de Euros?
Podias ter modificado o quadro legal que permite aos bancos, cujos lucros (em época recessiva) oscilaram entre 15 e 32%, pagar apenas 13 por cento de impostos?
Mas resististe à tentação do óbvio… Genial!
Não quero porém terminar sem elogiar de forma clara e inequívoca a tua coragem e a do teu governo, é da mais inteira justiça que o faça. Prometer em campanha eleitoral que os impostos não seriam aumentados e fazê-lo imediatamente após a tomada de posse, atacar com medidas avulso, descontextualizadas, ineficazes e incompreensíveis, os magistrados, os professores, os funcionários públicos em geral, denegrindo deliberada e compulsivamente a imagem do Estado e até dos Órgãos de Soberania e desmotivando muitos dos que neles trabalham é de uma coragem que merece ser publicamente louvada. Se não fosse um lugar comum, terminava atrevendo-me a dizer… ÉS O MAIOR!!! (Este texto é uma adaptação de uma carta impressa no jornal “Público” de 6 de Junho de 2005, da autoria de Santana Castilho)
Apache, Abril de 2006

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Que...

Que a palavra amor seja apagada em todos os escritos, esquecida em todas as línguas... Para que jamais me ouças dizer que te amo!... Que a brisa te não volte a acariciar, que a Lua não olhe mais para ti... Para que eu não possa mais sentir ciúmes!... Que o Sol não beije mais, a tua pele... que as flores percam a sua cor e o seu perfume... que se extinga tudo o que é belo... Para que eu não possa dizer que toda a beleza do mundo é um mísero detalhe cénico na divina perfeição do teu corpo!... Que se calem os pássaros, os rios e o mar... mas que não se faça silêncio... Para que no meio dele eu não ouça a tua voz!... Que se acabem as canções... que se proíba a poesia... Que se extingam os sonhos... que se apaguem as estrelas... Para que jamais te possa lembrar!...
Apache, Abril de 2006

sexta-feira, 24 de março de 2006

Guardador de mim

Guardo, dentro de mim,
uma saudade,
uma quimera,
uma verdade,
esta espera...
Guardo, dentro de mim,
a tua imagem,
os teus gestos,
tudo de teu; uma miragem, míseros restos de um sonho meu...
E conto, não pelos dedos
mas pelas estrelas,
os dias de te não ver...
Guardo, dentro de mim, um baú de mil segredos, mil histórias, mil beijos...
E conto, não pelos dedos
mas pelas estrelas,
as carícias, os desejos, as vontades de te ter!...
Apache, Março de 2006

quinta-feira, 16 de março de 2006

Importam-se de repetir?...

Carla Del Ponte, Procuradora do TPI... “Ele tomava medicamentos às escondidas.” “Temos de esperar pelos resultados das análises toxicológicas para sabermos o que é que ele tinha no sangue. Se esses elementos se confirmarem, poderemos afirmar que ele agravou o seu estado de saúde para poder ir a Moscovo ou porque se quis suicidar.” (Não percebi... Ele (Milosevic) tomava medicamentos às escondidas? Se era às escondidas como é que sabe? Como é que eles entraram na prisão? Agravou o seu estado de saúde... e os médicos da cadeia, o que é que fizeram?... Ou queria suicidar-se ou queria tratar-se? Pois!... A propósito de medicamentos... A Carla esqueceu-se de tomar as gotas!...) Ainda Carla Del Ponte... “ Quero o Radovan Karadzic, quero o Ratko Mladic!” (Logo os dois?... Não terá “mais olhos que barriga”?... Olhe que já não tem 18 anos!... Vá lá tomar as gotas outra vez...) Zalmay Khalilzal, Embaixador americano no Iraque... “Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, estavam a abrir a caixa de Pandora.” (Estás a pensar pela tua própria cabeça?!... A continuares assim, estás a “fechar” a tua carreira diplomática...) António Costa, Ministro da Administração Interna... “A manifestação (da GNR e da PSP) é-me indiferente!” (Querem ver que este foi para aquele ministério só porque tinha um fetiche por fardas...) Ainda António Costa... “A atitude do Sindicato dos Profissionais da Polícia é lamentável... A esses senhores só tenho a dizer NÃO!” (Já estou as ver a próxima pergunta do SPP... Ó Senhor Ministro, considera-se um homem inteligente?...) Serguei Lavrov, Ministro dos Negócios Estrangeiros Russo... “A Rússia tem o direito de não confiar na autópsia feita a Milosevic!” (Não sejam desconfiados... É verdade! O homem morreu mesmo de enfarte do miocárdio... O que nós gostávamos de saber é quem e de que forma lho provocaram?!) Marija Milosevic, filha do dito... “Não vou permitir que os traidores que venderam o meu pai a Haia, festejem sobre a sua campa!” (Pois... Sobre a campa não!... Agora se em vez do seu pai, tivesse sido o Kostunica, o Clinton ou o Bush, não me diga que não abria uma garrafinha de champanhe.)
Apache, Março de 2006

domingo, 12 de março de 2006

Filhos, da puta da política

[Belgrado bombardeada pela Nato]
Morreu Slobodan Milosevic Finalmente venceram-te! Sabes… nunca simpatizei contigo, chamavam-te ditador, tirano, sanguinário, etc. Até sou capaz de concordar que a tua frieza e pragmatismo de discurso empolgava de tal forma as massas, que por vezes me pareciam os discursos de Hitler. Duvido que a manutenção de uma Jugoslávia unida justificasse 200 mil mortos.
Mas numa guerra há sempre dois lados, o diabo que escolha de qual está, que Deus, certamente, não está de nenhum! Nunca simpatizei contigo… até ao fatídico dia 24 de Março de 1999, em que, como escreveu Gabriel Garcia Marquez, Solana, “o homem que parecia incapaz de matar uma mosca deu a ordem mais vergonhosa do século." Xavier Solana, comandante da Nato, dá ordem (a mando dos E.U.A.) para bombardear um país soberano, não alinhado, com um governo legítimo à luz da lei internacional. Afinal, outros imitavam Hitler!
A partir deste dia, quase chegaste a bestial, não por teres deixado de ser uma besta, apenas porque bestas maiores se "levantavam". As mentiras que nos contaram para justificar o injustificável são o mesmo disco riscado de sempre. Ao longo da guerra e no período que lhe sucedeu, as sucessivas traições que foste sofrendo quase te transformaram num herói. Hoje, eras para muitos um símbolo da resistência.
Repito… Finalmente venceram-te!... Não é importante, se morreste por colapso cardíaco (e todos sabiam que a tua saúde era débil), se cedeste à tentação do suicídio (como esteve para acontecer quando Kostunica te vendeu por 100 milhões de dólares), ou se te envenenaram (como suspeitavas que poderia acontecer). A sombra do teu assassinato pairará para sempre sobre a cabeça daqueles que no mês passado recusaram que fosses a Moscovo para seres tratado. Sabias bem que a tua morte lhes dava muito jeito, estavam desesperados… cinco anos de julgamento e…
No dia em que deixaste de estar entre nós, não podia deixar de te prestar esta “pequena” homenagem… Foste um tirano?... Talvez!... Mas foste também o pai desta esperança… da mesma forma que a Jugoslávia não caiu em 78 dias de bombardeamentos, também muitos dirão... NÃO NOS VENCERÃO!!!
Apache, Março de 2006

segunda-feira, 6 de março de 2006

Diálogos desgovernados...

Diálogos (mais ou menos públicos) entre membros do actual desgoverno e um dos muitos jornalistas virtuais, recém-convertidos aos corredores dos gabinetes, o Chato. 1º Episódio Chato – Ó Trocas-te, então os pensionistas mais idosos vão ver as suas reformas mínimas aumentadas para 300 €? Trocas-te – É verdade! Desde que tenham mais de 80 anos, não tenham casa, carro ou contas bancárias e o cônjuge ou os filhos não tenham possibilidades económicas de os ajudar. Chato – E como é que nós vamos verificar todos esses requisitos? Trocas-te – É simples pá… Quem se quiser candidatar a este “Complemento solidário” terá apenas de preencher 5 impressos com um total de 12 páginas, juntar fotocópias do: B.I., Cartão de Contribuinte e Cartão de Pensionista; e os originais dum atestado de residência passado pela Junta de Freguesia, e do modelo 3 do IRS. O cônjuge e os filhos também vão ter que fazer prova do rendimento que têm. Chato – Ó Zé, a oposição vai dizer que são muitos impressos para um velhote com mais de 80 anos… Trocas-te – Ah, pois… Já sei!... Vou dizer que quem não tiver outras fontes de rendimento além da pensão só precisa de preencher um impresso. Chato – Desculpa mas, não estou a perceber… Se o velhote chegar ao balcão da Segurança Social a pedir um impresso para requerer o complemento de reforma e disser que não tem família nem outros meios de sobrevivência, como é que vamos saber se está a falar verdade?... Trocas-te – Ouve lá, pá… Porque não vais chatear outro?... Olha, vem aí a Ministra da Reforma da Educação… 2º Episódio Chato – Sr.ª Ministra, já sabe que todos os sindicatos de professores marcaram uma greve para uma próxima semana? Milú – Podes tratar-me por Milú! Todos os sindicatos?... Incluindo os afectos ao partido do governo? Ingratos!... Vou falar com eles… Ou pelo menos, com alguns deles… (Passados alguns dias de alegada negociação…) Milú – Pronto rapaz, os sindicatos afectos ao governo desconvocaram a greve! Chato – Mas… a senhora vai mudar de políticas?... Milú – Ora, ora… Não sejas ingénuo… Numa negociação tem de haver alguma flexibilidade… Chato – Como assim?... Milú – Prometi gabinetes de trabalho nas escolas, para todos os professores e a abertura de uma linha de crédito para aquisição de computadores portáteis por parte dos docentes! Chato – Oh Dona Milú… Mas… Já se podiam comprar portáteis com recurso ao crédito pessoal… E… Nas escolas não há espaço físico livre para a construção de gabinetes para os professores… Milú – Eu sei!… Os sindicatos falaram-me nisso… Mas achas que a opinião pública sabe?!... 3º Episódio Chato – Dona Milú… Dizem que a senhora se prepara para fechar mais de 1500 escolas do primeiro ciclo do ensino básico, algumas das quais tinham sofrido à pouco tempo obras de remodelação e modernização de equipamentos… Assim os miúdos, muitos deles com apenas 5 ou 6 anos vão fazer vários quilómetros a pé, sob condições atmosféricas muitas vezes extremas, para irem às aulas… Apesar da recessão que o país atravessa, os pais não vão gostar disto… Milú – Gostarão quando perceberem que não se trata de uma medida economicista mas de razões puramente pedagógicas!... (Passados alguns dias, o Chato questiona o Trocas-te…) Chato – Ó Zé, aqui há dias, falei com a Milú, a propósito das mais de 1500 escolas que ela pretende encerrar e disse-me que não se tratava de uma medida economicista mas de razões puramente pedagógicas… Trocas-te – Exactamente!... São critérios pedagógicos que estão por trás do encerramento dessas escolas. Chato – Pois… Só que eu tenho andado a pensar… Tu não me poderias dizer que critérios pedagógicos são esses?... Trocas-te – Então pá… Ainda não sabes?... Vamos fechar todas as escolas com menos de 20 alunos!...
Apache, Março de 2006

domingo, 26 de fevereiro de 2006

Saudade

Saudade palavra triste, saudade, o que quer dizer? É desespero que a tudo resiste? Ou vontade de te ver?... Sete letras tem, saudade… Outras tantas tem, lamento… As mesmas que a verdade com que vivo cada momento! Partiste, quase tudo levaste, mas um pouco de ti restou… O vazio que em mim deixaste, encoberto na ilusão que ficou!... Na longa estrada da vida exibo a minha liberdade… Pergunto se a ausência sentida é ser livre, ou ser, vaidade?... Entre o teu olhar terno de mel e o meu molhado de sal… Saudade é a palavra cruel que trocou o sonho pelo real!... Foste luz, foste vida… Foste rio de ansiedade… Foste “Terra Prometida” até ao fim da eternidade!... Hoje és distância, solidão… Materialização da saudade… Serás demência? Obsessão? Ou visão turva da realidade?...
Apache, Fevereiro de 2006

sábado, 18 de fevereiro de 2006

"Rosa Branca"

(Em jeito de resposta ao comentário da Cleópatra, na publicação abaixo...)
"Eu penso em ti logo ao nascer da aurora, e quando o dia vai chegando ao fim... Nunca me esqueces e dormindo embora, sonho a ventura de te amar assim… Antes de ver-te, ó flor do céu caída, nem me recordo como até então vivi… Já nem me atrevo a suportar a vida, vivendo um só dia sem pensar em ti… Ó rosa branca delicada e pura, que ideal brancura, que mimosa cor… Lembras-me um anjo que do céu tombasse e por mim pousasse, na roseira em flor… Quando o teu olhar iluminado e casto, pousa em meus olhos reflectindo o céu… Quanto mais fujo, quanto mais me afasto, mais perto vejo o teu olhar do meu… Ó rosa branca luminosa e viva, linda rosa esquiva, de um amor fatal… Pudessem anjos fabricar sozinhos, com montões de arminhos, outra rosa igual… Quando esta vida se apagar serena, vou recordar-me quanto te amei em vão… Ó desdenhosa o que me faz mais pena, é ir pensando que te esqueço então… Ó rosa branca meu amor primeiro, tu não tens canteiro, tu não tens jardim… Porque te chamo se tu não respondes, e porque te escondes, a chamar por mim… Mas sob a campa, meu amor não finda. Verás princesa se eu ouvir teus ais, abrir meus olhos para te ver, ainda, morrer de novo se te não vir mais… Ó rosa branca porque me chamaste?... Para quê roubaste, toda a fé que eu tinha?... Serena e fria como a luz da Lua… que brancura a tua, que desgraça a minha!... "
João de Vasconcelos e Sá - Rosa Branca

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Posso. Mas não vale a pena…

Posso escrever os versos mais tristes esta noite… Posso reescrevê-los incessantemente nas noites que hão-de vir… De nada valem… Tu nunca os lerás… E se por mero acaso, o fizesses, jamais perceberias que foram escritos para ti… Queria esconder-te o meu olhar para que não leses o que não mereces saber…. De nada vale, o que te diria está escrito nas estrelas e nunca conseguiste lê-lo…
Nunca escutaste no vento o meu grito de desespero… Nunca tacteaste o teu nome gravado a fogo no meu peito… Nunca cheiraste na minha pele o perfume do teu suor… Nunca provaste nos meus beijos o mel da tua boca… Não me mereces…
Como é possível que não te doa a ferida aberta que deixaste em mim?!...

Apache, Fevereiro de 2006

sábado, 4 de fevereiro de 2006

Sinais dos Tempos?...

Faixa de Gaza... Manhã de 4 de Fevereiro de 2006.
Palestinianos armados, das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa oferecem cravos a freiras católicas, à porta de uma igreja...
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"Quem não é contra nós é por nós." (Jesus Cristo)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Se eu disser…

Se eu disser que te esqueci, que já não penso em ti e que nem te quero ver… Que não te vou procurar, que contigo deixei de sonhar, que sem ti aprendi a viver… Se eu disser que te esqueci, que tudo o que por ti senti, não foi sentido a valer… Que por ti deixei de chorar, que não te quero encontrar, que foi um bem, te perder… Se eu disser que te menti, que já não espero por ti… Se eu disser que não te quero… Que de ti nada me importa, que já nem passo à tua porta; sabes que não estou a ser sincero… E se um dia quisesses voltar e me viesses perguntar se é por ti que ainda espero… Se eu não quisesse responder, em meus olhos podias ver que é a ti que ainda quero! Se preferires não mais me ver… Com a mágoa de te perder, a saudade, a meu lado caminha! Um desejo, em prece peço a Deus… Que por cada lágrima minha hajam mil sorrisos teus!...
Apache, Fevereiro de 2006

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Tu és...

(Inspirado na música “Como uma ilha” de Pedro Abrunhosa e não só...)
Tu és todas as ilhas, de todos os mares; todos os rios, de todos os lugares. Tu és todos os dias, todos os momentos. Consomem-se os instantes, eternizam-se os pensamentos. Tu és toda a dúvida, razão de toda a incerteza. És o lábio de todo o beijo que desperta o meu desejo, pelo teu corpo, princesa. Tu és todas as noites em todos os quartos; toda a força dos ventos em todas as velas de barcos. Tu és todas as cidades, de todos os países; todas as verdades, todos os sonhos felizes. Tu és como um deus, sem princípio nem fim. Nasceste qual flor do campo, renasces dentro de mim. Prendeste-te no meu peito, como árvore ao chão. Como barco ancorado em terra, como fogo na minha mão. Haverá remédio que cure os delírios da paixão?... De dia, és Sol Poente sobre o mar, à noite, és luz de estrela e luar...
Porque será que te espero, que te penso, que te sonho e que… desespero?...
Apache, Janeiro de 2006

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

"She" - Elvis Costello

"She May be the face I can't forget. A trace of pleasure or regret May be my treasure or the price I have to pay. She may be the song that summer sings. May be the chill that autumn brings. May be a hundred different things within the measure of a day. She May be the beauty or the beast. May be the famine or the feast. May turn each day into a heaven or a hell. She may be the mirror of my dreams. A smile reflected in a stream. She may not be what she may seem inside her shell. She who always seems so happy in a crowd. Whose eyes can be so private and so proud No one's allowed to see them when they cry. She may be the love that cannot hope to last May come to me from shadows of the past. That I'll remember till the day I die She May be the reason I survive The why and wherefore I'm alive The one I'll care for through the rough and ready years Me I'll take her laughter and her tears And make them all my souvenirs For where she goes I've got to be The meaning of my life is she."
She - Elvis Costello, com a Filarmónica de Liverpool

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

O Atestado Médico…

Imagine que é professor, que é dia de exame nacional e que, vai ter de fazer uma vigilância. Continue a imaginar... O despertador avariou durante a noite... Ou ficou preso no elevador... Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta injustificada. Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é muito complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la?
Passemos então à parte divertida.
A única justificação para faltar a uma vigilância é o Atestado Médico. O facto de ficar preso no elevador, ou do despertador avariar, não interessa para nada. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador... Mas não!... Só uma doença poderá justificar a sua ausência na sala do exame.
Vai ao médico... E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.
Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo... Por exemplo, com o sorriso do Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Milícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, Gondomar ou Oeiras, os fãs do nazismo ou o sucesso de alguns programas da TVI. O professor sabe que não está doente... O médico sabe que o professor não está doente... O Presidente do Conselho Executivo da escola sabe que o professor não está doente… O Director Regional de Educação sabe que o professor não está doente... A Ministra da Educação sabe que o professor não está doente... Até o próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, sabe que o professor não está doente.
Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca ou do elevador que fica parado, o único que está doente é o país... Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.
Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional e útil em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade. Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: "uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade." Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: “quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados.” Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o "ET", que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões.
O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia... A começar pela política. Os nossos políticos são, na sua maioria, compulsiva e descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados. Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade...
Vejamos, se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal. Fica ofendida. Se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei. Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho. Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade. Somos pobres, mas queremos viver como os alemães e os franceses. Somos culturalmente ignorantes, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza, ou à Suiça. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias apesar de as Portagens nos custarem os olhos da cara... (já para não falar no novo aeroporto na Ota... ou no TGV), mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o mundo. Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador, ou o despertador não funcionar, que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que seja demasiado tarde!…

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Em forma de "assim"

Um plágio (mais ou menos descarado) a um post do blog da Eva.
Estranha coisa esta em forma de assim que não se explica mas que se sente. Estranha coisa esta em forma de assim que não se confessa, mas que ao negar se mente. Estranha coisa esta em forma de assim que de tanto calar a alma, em silêncio a proclama. Estranha coisa esta em forma de assim que do fogo faz suor e do frio fez chama. Estranha coisa esta em forma de assim que de tanto se querer partilhar, se esconde e se intimida ao teu olhar, para se mostrar tão ousada em mim. Estranha coisa esta em forma de assim que me estremece o corpo e embarga a voz. Estranha coisa esta em forma de assim que emudece o meu eu, de tanto pensar, nós. Estranha coisa esta em forma de assim, sem espaço, sem tempo, sem princípio ou fim, que no silêncio do teu não teima em ouvir sim.
Apache, Janeiro de 2006