No “Expresso” desta semana, Miguel Sousa Tavares (MST), atira-se, uma vez mais, aos professores, “personificando” o seu ataque à classe, na figura da Fenprof, como se fosse apenas esta organização sindical a única a denunciar o autismo da equipa governativa, cujas políticas de cariz popular visam sobretudo a destruição do pouco que ainda resta de qualidade no ensino em Portugal, descredibilizando, desprestigiando e denegrindo a imagem dos professores, que nos últimos 20 anos têm tentado por todos os meios ao seu alcance impedir a destruição do sistema público de ensino, enfrentando as vergonhosas políticas educativas impostas pelo conjunto de analfabetos funcionais que vêm povoando os corredores da 5 de Outubro.
MST, qual mabeco amestrado, late em sintonia com a voz do dono, sem saber do quê nem porquê, como facilmente se percebe pela falta de fundamentação das suas afirmações.
O “artista” desvaira assim…
“Saiu o regulamento para a classificação dos professores com vista à sua subida na carreira.” Não saiu, está em discussão com os representantes da classe.
“Desapareceu a enormidade da participação dos pais no processo (a menos que sejam os próprios professores a requere-la), evitou-se a discriminação de condições entre escolas boas e escolas «difíceis» e o que restou pareceu-me um sistema adequado e justo para premiar o mérito, a assiduidade e o esforço – certamente melhor do que nada.
Mas, claro, a Fenprof está contra – como sempre, sempre, está contra qualquer medida que exija resultados ao sistema e aos professores e que tente inverter a situação catastrófica em que tem vivido o ensino.” Pareceu-lhe justo? E pareceu-lhe, porquê? É que não parece a mais ninguém. Estou a exagerar, parece que há uma prima da Milú, um sobrinho do Jojó Calhau e uma afilhada do Lelé que concordam consigo, os outros 170 mil professores é que não.
Quanto à situação catastrófica do ensino, que tal dar uma olhadela pelos currículos: cargas horárias, número de disciplinas, conteúdos, orientações programáticas… E já agora, manuais escolares, qualidade das instalações e equipamentos escolares, número de alunos por turma, número de alunos por professor do ensino especial, tempo disponível para trabalho individual dos docentes…
“À Fenprof interessa apenas o que respeite ao bem estar dos professores, mesmo que à custa da perpetuação do subdesenvolvimento cultural do país.” Escreve-se “bem-estar”, com hífen. Não sei se sabe, mas as organizações sindicais foram criadas para defender os interesse dos trabalhadores, não os dos patrões, nem os dos clientes, esses têm organizações próprias.
“A Fenprof acha que um professor que falte deve ter os mesmos direitos que um que não falte; acha que um que obtenha melhores resultados não deve ser beneficiado relativamente a outro que se está nas tintas para os resultados dos alunos; acha que um sistema de classificação em que nem todos podem obter a classificação máxima está desvirtuado à partida; acha, em suma, que classificar professores em função do seu mérito e dos resultados obtidos é uma ofensa aos direitos adquiridos.” Estou convencido que você não é completamente estúpido, apenas imita muito bem.
Você acha que um professor que esteja doente, ou que tenha um familiar doente, a quem tenha de dar apoio, ou que falte para cumprimento de obrigações legais, por maternidade, paternidade, etc., tudo direitos consagrados na Lei, deve perder outros direitos. E quais? O de progredir na carreira, o de ser remunerado no final do mês, o direito ao emprego, ou a liberdade?
Fala dos resultados obtidos pelos professores mas quem obtém resultados (bons ou maus) são os alunos. Não conheço nenhum professor que goste do insucesso dos seus alunos, mas se estes não fizerem o seu papel, não há docentes que os salvem.
Não é a Fenprof que acha, são os professores que acham “que um sistema de classificação em que nem todos podem obter a classificação máxima está desvirtuado à partida”. Como reagiriam os meus alunos, se amanhã chegasse a aula e os informasse que apenas 5% deles poderiam obter 19 ou mais, que apenas 20% poderiam obter 17 ou 18 (independentemente do mérito de cada um) e que só passariam os que obtivessem nota superior a 14, numa classificação onde predominam critérios profundamente subjectivos e onde o avaliador tem tantas ou menos competências que os avaliados?
Quanto à conclusão que tira é, demagoga, falaciosa e infundada. Nunca ouviu nenhum dirigente sindical, ou professor, recusar-se a ser avaliado pelo mérito.
Quando não sabe do assunto, o inteligente fica calado, o esperto verborreia.
P.S. Não sou, nem nunca fui filiado em qualquer organização sindical.
Apache, Outubro de 2007