No passado mês de Fevereiro, foram distribuídas por cerca de 3 500 escolas inglesas, milhares de cópias do polémico DVD «Uma Verdade Inconveniente», que a Academia de Hollywood premiou com dois Óscares. O pacote contém (além do DVD), um CD produzido pelo Departamento de Ambiente Alimentação e Agricultura britânico e uma animação sobre o ciclo do carbono.
Aquando da distribuição do dito, pelas escolas, o Secretário de Estado do Ambiente havia afirmado que o debate sobre as Alterações Climáticas estava terminado, tendo chegado a hora de educar as gerações futuras para esta dura realidade, devendo o referido pacote multimédia ser exibido em todas as escolas do país a todas as crianças com mais de 11 anos.
Daí para cá, a polémica não tem parado, tendo alguns directores de estabelecimentos de ensino devolvido os pacotes enviados pelo ministério, por considerarem o seu conteúdo impróprio para exibição em aula.
Entretanto, indignado com o conteúdo do documentário apresentado por Al Gore, Stewart Dimmock, camionista, pai de dois jovens de 11 e 14 anos decidiu recorrer ao tribunal, pedindo que o vídeo seja banido das escolas, por ser inadequado à faixa etária a que se destina, devido ao excessivo sentimentalismo de algumas cenas e às graves incoerências científicas do discurso de Gore.
Logo no início do primeiro, dos três dias de audiências, o Sr. Dimmock afirmou: “Desejo que os meus filhos tenham a melhor educação que me seja possível oferecer-lhes, livre da imposição política de um rumo, e a película do Sr. Gore afasta-se irremediavelmente desse requisito. (…) Este pacote sobre alterações climáticas, distribuído pelas escolas, serve única e exclusivamente para que os novos polícias do pensamento doutrinem os nossos jovens.”
Já no último dia das audiências, concluiu: “com a exibição, em sala de aula, da propaganda de Gore, o governo promove uma autêntica lavagem cerebral aos adolescentes.”
Foram ouvidos durante as audiências, vários representantes dos mais variados ramos da ciência, bem como especialistas em Ciências da Educação e representantes dos ministérios envolvidos na polémica.
No final, o Juiz considerou legitima (por se enquadrar no direito à liberdade de expressão e opinião) a exibição do vídeo, mas impôs que antes ou imediatamente após o visionamento do mesmo, os alunos sejam alertados pelo professor, que este “promove apenas uma opinião política sobre o aquecimento global, não tendo eles que aceitar, necessariamente, os pontos de vista apresentados, pois a mensagem contém incoerências e exageros de informação, para os quais não existe quaisquer evidência científica.”
Comentando a decisão, o advogado do Sr. Dimmock, manifestou-se satisfeito, afirmando que ela “força o governo a dar uma volta de 180º”, mas considera que “ainda não se foi suficientemente longe, pois não há orientações dos professores que superem o facto de a película ser inadequada para o contexto de rigor de uma sala de aula.”
Quanto ao ministro, Kevin Brennan, não se mostrou surpreendido com a decisão, tendo afirmado que: “ a decisão do Juiz é clara, no sentido de, as escolas poderem continuar a usar «Uma Verdade Inconveniente» como parte de uma educação para as alterações climáticas, de acordo com as orientações do ministério, já disponíveis online.”
Posto isto, o jornal gratuito “Metro” destaca a vitória obtida pelo camionista, Dimmock, sobre a pseudo-ciência do advogado, Gore, enquanto a BBC se congratula com o sim claro dos tribunais à versão de Gore.
Nada de novo, aqui, debaixo do Sol…
Apache, Outubro de 2007