quinta-feira, 10 de julho de 2008

O fenómeno da Tunguska fez 100 anos (3)

(continuação...)
A equipa da Universidade de Bolonha que aposta na teoria da queda de um meteorito, prometeu regressar à Tunguska brevemente. Curiosamente, a principal crítica a esta teoria veio de David Morrison da NASA que afirmou ser estranho que tratando-se de um meteorito, este tenha deixado apenas uma cratera de impacto, ainda por cima tão pequena (cerca de 700 metros de comprimento, 360 de largura e 50 de profundidade). Considerando a área de floresta destruída e o abalo sísmico provocado, seria espectável um meteorito com dimensões muito maiores, que deixaria no solo, uma cratera muito maior que o lago Cheko. Ou então poderia, ainda no ar ou ao embater no solo, fragmentar-se em vários pedaços menores, deixando múltiplas crateras. A hipótese do cometa (pedaço de gelo e poeira que ardeu completamente em contacto com a atmosfera) encaixa perfeitamente no relato referente à bola de fogo que as testemunhas oculares viram no céu (o segundo sol) e na ausência de cratera mas não justificava a enorme onda de calor e a destruição verificada. Mas em 1976 os cientistas soviéticos, Vladimir Stulov e Georgi Petrov, afirmaram que as temperaturas atingidas pelo cometa (que viajaria a mais de 40 mil quilómetros por hora) deveriam ser tão altas que este não se evaporou, antes, os núcleos dos átomos de hidrogénio e de oxigénio que constituem a molécula da água desintegraram-se, tal como acontece numa reacção de fissão nuclear e foi a radiação daí resultante que destruiu a floresta. Muitos cientistas não estão, no entanto, convencidos que as dezenas de milhares de quilómetros por hora que o alegado cometa possa ter atingido tenham, devido à colisão com as moléculas do ar, gerado energia suficiente para desencadear uma reacção nuclear. Como referi no “post” anterior, várias outras teorias foram apresentadas, algumas por cidadãos comuns, outras por conceituados cientistas. Por exemplo, Chandra Atluri e Clyde Cowan da Universidade Católica Americana, acreditam que o fenómeno foi causado pela queda de um pedaço de antimatéria, daí a inexistência de cratera ou de fragmentos. O “único” problema desta teoria é a falta de prova científica da existência de antimatéria. Oura das teorias que se tornaram populares nos últimos anos, foi a proposta por A. A. Jackson e Michael Ryan Jr. da Universidade do Texas, que estão convencidos que naquela manhã a Sibéria foi atingida por um minúsculo buraco negro. Esta teoria tem o mesmo problema da anterior, carece de prova científica convincente, da existência de buracos negros. Talvez o mais surpreendente nos relatos (que Kulik recolheu) de algumas das mais de 900 testemunhas oculares registadas, seja a afirmação de que o objecto de grande luminosidade, semelhante a uma esfera de fogo, mudou de direcção durante o voo, primeiro sobre a localidade de Keshma, depois ao sobrevoar Preobrashenska, antes de desaparecer numa violenta explosão, no céu de Vanavaara, que ficou completamente coberto de fumo. A serem verídicos estes relatos, todas as hipóteses relacionadas com a queda “livre” de objectos celestes ficariam afastadas. Estranha coincidência (ou não, depende da vontade especulativa de cada um), a essa hora (ainda noite do dia 29 de Junho) em Nova Iorque, Nikola Tesla testava a sua nova invenção, o “Raio da Morte”. Passaram cem anos e a ciência não conseguiu ou não quis apresentar uma explicação coerente para um dos acontecimentos mais insólitos (e felizmente não o mais trágico porque por sorte ocorreu num local quase desabitado) da história recente da humanidade. O único dado que (a mim me) parece adquirido é que naquela solarenga manhã de 30 de Junho de 1908, radiação electromagnética de elevadíssima energia estigmatizou o coração da floresta siberiana.
Apache, Julho de 2008

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O fenómeno da Tunguska fez 100 anos (2)

(continuação...)
Apesar da violenta explosão que às 7 horas, 17 minutos e 11 segundos (hora local, sete horas menos no Tempo Universal) daquela manhã de 30 de Junho de 1908, junto ao Rio Tunguska, cuja potência foi posteriormente estimada em mil (a duas mil) vezes a da bomba atómica lançada (quase 4 décadas depois) em Hiroxima (equivalente a 15 a 40 megatonelada de TNT) e, da enorme onda electromagnética que deixou um rasto de destruição pelas infindáveis terras montanhosas do coração da Sibéria, à época, apesar das notícias continuadas dos jornais das metrópoles, na Rússia em particular, mas também em toda a Europa, o fenómeno passou quase despercebido à larga maioria da população. Talvez devido ao isolamento da região, ou à era feudal que a Rússia ainda vivia, ou ainda aos anos conturbados que se seguiram, com a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Bolchevique, o certo é que a primeira expedição científica, liderada pelo mineralogista Leonid Kulik (são da sua equipa as fotos deste e do “post” abaixo) só foi enviada ao local em 1921. Quando Kulik chegou ao local deparou-se com um cenário insólito, nunca antes visto. Num raio de 50 km a partir de um ponto central, todas as árvores estavam derrubadas e apontavam para fora do alegado circulo. Digo alegado, porque imagens aéreas da expedição seguinte mostraram que não se tratava de um círculo, as árvores derrubadas desenhavam no solo a forma de uma borboleta, apontando todas elas, do centro para o exterior. Em redor desta zona (central) estendendo-se por 215 mil hectares, tudo havia sido incinerado, não se vislumbrando o menor sinal de vida. A zona onde viviam Semenov e Luchektan ficava a mais de 60 km do centro da ocorrência. Kulik foi o primeiro a propor uma explicação para o fenómeno, a queda de um meteoro. Curiosamente, apesar de nunca ter sido encontrado qualquer vestígio do (suposto) meteoro e, de oficialmente nenhuma cratera de impacto ter sido encontrada, esta é, ainda hoje, a hipótese com mais adeptos na comunidade científica internacional. Kulik apontou a hipótese de o meteoro ter explodido a 5 ou 6 km de altitude, antes de atingir o solo, mas cientista italianos da Universidade de Bolonha, que se deslocaram ao local no ano passado, dizem-se convencidos de que a cratera de impacto é o Lago Cheko que não existia antes do evento e deverá ter no seu fundo pedaços de ferro ou rocha do meteoro. Apesar da demora de 13 anos na chegada da primeira expedição, inúmeras outras se seguiram até aos nossos dias (excepção apenas para o período da Segunda Guerra Mundial), tendo chegado às mais variadas teorias para a explicação do fenómeno. A versão oficial Russa (da Academia de Ciências), repetida uma vez mais, este ano, aquando das comemorações do centésimo aniversário do acontecimento, é a de que se tratou de um pequeno cometa (objecto celeste constituído essencialmente por gelo e poeira) que ao contactar com a atmosfera terrestre se incendiou (devido ao atrito com o ar) tendo derretido por completo antes de atingir o solo. De acordo a versão oficial, o lago Cheko com 50 m de profundidade, fica 8 km a noroeste do epicentro. (continua…)
Apache, Julho de 2008

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O fenómeno da Tunguska fez 100 anos

O agricultor Semenov tinha o hábito de se levantar de madrugada adiantando as primeiras tarefas na quinta, antes de observar diariamente o nascer do Sol. Naquela manhã de 30 de Junho de 1908, dezassete minutos depois das sete horas, Semenov olhava estupefacto para o céu. Não havia um mas sim dois sóis no horizonte. Um deles, de tom azulado, rasgava o céu a uma velocidade astronómica em direcção a Semenov que não conseguia esboçar reacção. Antes que a fantasmagórica bola de fogo o atingisse, um fortíssimo vento quente elevou-o do solo e fê-lo voar uma centena de metros. Ao estatelar-se no solo desmaiou. Quando voltou a si, atordoado, olhou em volta o cenário dantesco que o rodeava. A sua roupa rasgada e chamuscada queimava-lhe a pele, a casa onde morava pura e simplesmente desaparecera, todas as árvores que o seu olhar alcançava estavam derrubadas ou tinham perdido os seus ramos. Centenas de cabeças de gado do vaqueiro Luchektan a cerca de 2 km de si tinham sido assadas e jaziam pela estepe, algumas trespassadas pelos ramos da vegetação. Alguns riachos e pequenos lagos da região secaram instantaneamente. Dois mil quilómetros quadrados de floresta (mais de 80 milhões de árvores) foram arrasados. A 750 km dali passava o comboio transiberiano. O maquinista relatou que sentiu um vento forte e muito quente, enquanto os vidros das janelas estilhaçavam e as cortinas eram arrancadas. Assustados, muitos dos passageiros gritavam, mas os seus gritos foram rapidamente abafados por um trovão como nunca se tinha ouvido. Quando olhou para os carris, reparou que estes ondulavam à sua frente, enquanto o comboio se sacudia. Aterrorizado, puxou o travão de emergência debruçou-se sobre os joelhos e rezou. A 4 mil quilómetros do local, a estação meteorológica de São Petersburgo registou um abalo sísmico de média intensidade e uma enorme perturbação do campo magnético terrestre. Um dos funcionários da estação afirma que as agulhas das bússolas rodavam como moinhos ao vento. A oito mil quilómetros dali, em Londres, os sismógrafos registavam um abalo sísmico de fraca intensidade. Mas durante semanas, a qualquer hora da noite e sem luz artificial, era possível ler o jornal. (continua…)
Apache, Julho de 2008

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Aparências…

«Olá, apesar do fato, eu sou Richard Feynman. Normalmente dou as conferências em mangas de camisa, mas, quando saí de casa esta manhã, a minha mulher disse-me: "Devias usar um fato." Eu respondi-lhe: Mas dou sempre as conferências em mangas de camisa. E ela retorquiu: "Sim, mas desta vez não sabes do que estás a falar; por isso resta-te tentar causar boa impressão..." E vesti o casaco.»
Richard P. Feynman

terça-feira, 1 de julho de 2008

Os “Velhos do Sabor"

A associação ambientalista, Plataforma Sabor Livre interpôs uma providência cautelar tentando impedir a construção da Barragem do Baixo Sabor, porque a Declaração de Impacte Ambiental que autorizava a obra caducou a 15 de Junho. A obra já devia ter sido iniciada, mas foi atrasada (entre outros motivos) por sistemáticos entraves jurídicos colocados pela associação ambientalista. Não querendo tomar a parte pelo todo, há muito Sá Fernandes por esse país fora. - À e tal, termoeléctricas a carvão ou fuel não, que libertam dióxido de carbono e há aquilo do aquecimento global e cada vez que usamos um ou dois neurónios entramos em sobreaquecimento… À e tal, termoeléctricas a energia nuclear não, que libertam radiações e se houver mutação genética ainda ficamos com um palminho de testa... À e tal, hidroeléctricas não, que a malta tem aversão à água desde que a vizinhança começou a pedir para tomarmos banho pelo menos uma vez por ano. Se a estupidez pagasse imposto, certas organizações ambientalistas nem com os chorudos apoios de algumas multinacionais se safavam.
Apache, Julho de 2008

Se a estupidez pagasse imposto...

Na Áustria, um grupo de activistas pediu ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para reconhecer o chimpanzé Matthew Pan como pessoa. Será que é desta que (pelo menos juridicamente) se demonstra a fantasiosa teoria de Darwin?!
Apache, Julho de 2008

segunda-feira, 30 de junho de 2008

A cor do cabelo é falsa, mas…

De acordo com o relato de um docente, exarado em acta, na última reunião com os Presidentes dos Conselhos Executivos das escolas da região, Margarida Moreira a Directora Regional de Educação do Norte pediu aos presidentes dos órgãos de gestão para terem especial atenção aos professores que nomeiam para correctores dos Exames Nacionais, dizendo que “talvez fosse útil excluir de correctores aqueles professores que têm repetidamente classificações distantes da média” acrescentando que “os alunos têm direito a ter sucesso.” Ou seja, à senhora não lhe basta que o Ministério a que pertence tenha elaborado, nas disciplinas tradicionalmente de maior insucesso, os exames mais fáceis de sempre, pretende ainda afastar de correctores os professores de quem se suspeite de rigor nas correcções. Além do facilitismo risível que quer instituir, torna-se evidente das suas palavras que a cachopa não faz a mínima ideia do que significa a expressão “ter direito a…” A cor do cabelo é falsa mas infere-se que Margarida Moreira é loura até à última célula.
Apache, Junho de 2008

sábado, 28 de junho de 2008

"Acuso a Ministra da Educação e o director do GAVE" - Santana Castilho

"O director do GAVE teve o topete de sugerir que quem tem criticado os exames não tem competência para se pronunciar sobre avaliação educacional. Do alto da sua arrogância, ocupado que está todo o ano a produzir provas medíocres, não teve certamente tempo para comparar o seu percurso com o daqueles a que se refere. (…) Em linha com o anterior [o director do GAVE], a Ministra da Educação veio tentar convencer o país de que 90% de alunos com positiva a Português e 82% com positiva a Matemática mostram uma enorme recuperação, fruto das políticas seguidas pelo Governo. A esta Santinha da Ladeira II é preciso lembrar a trapalhada e a iniquidade por que foi politicamente (ir)responsável em 2006, no que toca às provas de Física e Química do 12º ano. Porque também ela, depois dos acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal Constitucional, já que não teve a dignidade de se demitir, deveria ao menos ser contida e humilde. (…) Tudo visto, o que temos [refere-se às políticas do Ministério]? O natural cumular de uma política de primeira hora: poupar em nome do santo défice, vergar os que pensam e fabricar resultados. Esta gente sempre confundiu sucesso escolar com índices de aprovação. Por isso fomentaram provas ridiculamente elementares. Por isso lhes juntaram formulários com as fórmulas para resolver os problemas. Por isso deram instruções para não penalizar os erros de ortografia. Por isso conceberam directivas e critérios de correcção que promovem a indigência. Acuso-os de fabricarem um falso sucesso escolar. Acuso-os de tudo fazerem para que os alunos que não aprendem aprovem. Acuso-os de nada fazerem para evitar que as incompetências se acumulem e alguma vez sejam recuperadas. (…)"
Santana Castilho – Professor do Ensino Superior

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Relação entre dióxido de carbono atmosférico e aumento de temperatura

Os adeptos da teoria da antropogenia do alegado aquecimento global insistem amiúde que o aumento de dióxido de carbono na atmosfera causa uma elevação de temperatura. Já afirmei neste blogue que está cientificamente provado o contrário, isto é, um aumento da temperatura da água dos oceanos evapora algum do dióxido de carbono que estes têm dissolvido, aumentando a sua concentração no ar (nas zonas costeiras).
Dos milhares (para não dizer milhões) de locais possíveis para medir a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, o único local onde esta medida é (oficialmente) aceite pelo IPCC é Mauna Loa, no Havai, em cima do maior vulcão activo do planeta. Como os vulcões emitem enormes quantidades de dióxido de carbono, os valores ali medidos não representam com a mínima credibilidade o que se passa na atmosfera de outros locais. Ainda assim, para se perceber o ridículo desta teoria, deixo dois gráficos (tão do agrado dos alarmistas) referentes ao mesmo período de tempo (1979-2008), o primeiro (já antes publicado) referente à variação das temperaturas na baixa troposfera, medido pelo satélite MSU da Universidade do Alabama, o segundo, referente à concentração de dióxido de carbono (em partes por milhão (em volume)), medido em Mauna Loa pela NOAA

Como se comprova pelas figuras, as “linhas” que elas apresentam são praticamente iguais, depois de ingerida suficiente quantidade de álcool…

Apache, Junho de 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008

"Eduquês", "Sociologuês" ou incapacidade cognitiva? (3)

Chegámos a um ponto de situação tal, em relação à qualidade dos exames nacionais, que penso ser necessário exigirmos que os enunciados contenham os nomes dos autores. É que ao colocarmos os nossos filhos na escola, temos expectativas de que lhes seja ensinado algo que os possa preparar minimamente para o futuro. Está assim implícito um contrato entre a escola e os encarregados de educação de prestação de serviço educativo por parte desta. Sendo notório que o Ministério da Educação, através do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) (e não só) se demite cada vez mais dessa função, é importante sabermos a quem vamos acusar de burla. Ilustrando esta afirmação, atente-se no enunciado da já famosa questão 3 do Exame Nacional do 9º ano, da disciplina de Matemática… “Numa sala de cinema, a primeira fila tem 23 cadeiras. A segunda fila tem menos 3 cadeiras do que a primeira fila. A terceira fila tem menos 3 cadeiras do que a segunda e assim, sucessivamente, até à última fila, que tem 8 cadeiras. Quantas filas de cadeiras tem a sala de cinema? Explica como chegaste à resposta.” Há 30 anos atrás um aluno da primeira classe resolveria facilmente uma questão destas.
Mas o que ridiculariza ainda mais esta questão é que, mesmo que o aluno não apresente a resposta correcta (6 filas, contendo, respectivamente 23, 20, 17, 14, 11 e 8 cadeiras) poderá, ainda assim, obter 60% da cotação da pergunta (de acordo com os critérios de correcção) se escrever “alguns números possíveis de cadeiras para as filas”; por sua vez, se responder 5 filas (em vez das 6) tem direito a 80% da cotação.
Comentando os exames deste ano, a dona Lurdes disse que “o nível de complexidade de uma prova tem técnicas, não é uma questão de opinião, é uma questão de validação técnica, com recurso a técnicas estatísticas…” Portanto se acham que a senhora pensa que somos todos estúpidos, lembrem-se que podem não haver técnicas estatísticas que o demonstrem. Se, pelo contrário, estão a pensar chamar nomes feios à senhora, saibam que a utilização do termo “senhora” é, neste contexto, uma questão meramente técnica.
Apache, Junho de 2008

terça-feira, 24 de junho de 2008

"Eduquês", "Sociologuês" ou incapacidade cognitiva? (2)

"Confirma-se a tendência já patente no exame nacional do 9ºano da semana passada, em propor exercícios que correspondem aos primeiros exemplos usados para introduzir as noções. Por outro lado, no que diz respeito ao capítulo da trigonometria, apenas aparece numa questão um limite notável elementar, envolvendo a função seno, o que fica muito aquém do indicado e exigido no programa do décimo segundo ano. A questão 3 do Grupo II, poderia ser abordada numa aula do nono ano e resolvida por considerações de simples bom senso. A questão 5 do Grupo II pouco ou nada avalia em termos matemáticos. Testa apenas a destreza no uso da calculadora. O grau de dificuldade deste exame é inferior ao do ano passado. O padrão utilizado pelo G.A.V.E. para avaliar o desempenho dos alunos não permite distinguir aqueles que efectivamente trabalham dos que pouco trabalham, e não ajuda os professores a incentivarem os alunos a aprofundar os seus conhecimentos."
Comentário da Sociedade Portuguesa de Matemática ao exame nacional (1ª fase) do 12º ano.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

"Eduquês", "Sociologuês" ou incapacidade cognitiva?

«Encontrámos [no grupo II] dois termos da Terminologia Linguística do Ensino Básico e Secundário [“frase subordinada relativa” e “verbo auxiliar modal”], que como se sabe não está em vigor. (…) O ponto de partida para uma reflexão que é proposta aos alunos é um texto do Padre António Vieira, que não faz parte do programa do 12.º ano. (…) Há uma pergunta sobre “Os Lusíadas” [a 2 do grupo I] cuja formulação não é clara.»
Comentário da Associação de Professores de Português, ao exame nacional (1ª fase) do 12º ano.
"Na generalidade, a prova é mais acessível e mais fácil do que nos anos anteriores. Algumas questões poderiam ser resolvidas por alunos do 2º ciclo."
Comentário da Associação de Professores de Matemática, ao exame nacional (1ª fase) do 9º ano.
“O nível geral da prova é demasiadamente elementar. (…) Aos alunos no ano terminal do Ensino Básico, ou seja, no final da escolaridade obrigatória, deveria exigir-se outro tipo de dificuldade. (…) A questão 1 resolve-se contando pelos dedos. A 3 é facilmente resolvida por alunos do 1º Ciclo. A 6, que envolve percentagens é tão simples que um aluno do 2º Ciclo deveria ser capaz de resolver. (…) As matérias específicas do 9º ano constituem apenas 22 dos 100 pontos. (…) Em todos os casos os conceitos avaliados são simples e testados com exemplos demasiado elementares.”
Comentário da Sociedade Portuguesa de Matemática ao exame nacional (1ª fase) do 9º ano.
“Todas as perguntas se ficam por questões extremamente elementares. Persiste-se no fornecimento de um formulário de eficácia muito duvidosa, sobretudo porque pode levar o aluno a classificar de fórmula algo que é um conceito. Persiste-se também em questões que pouco ou nada exigem de conhecimentos prévios em Química. Exigem apenas que o aluno saiba ler (nem precisa sequer de ter grandes competências a nível da interpretação) um texto (caso da questão 1.2), ou os eixos de um gráfico (caso da questão 2.2.1).”
Comentário da Sociedade Portuguesa de Química ao exame nacional (1ª fase) de Física e Química A do 11º ano.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

“A derrota do federalismo político europeu”

Noutros acampamentos…
«Os irlandeses votaram (…) contra a ratificação do Tratado de Lisboa.
Alguns dos motivos para a vitória do "Não" na Irlanda: O receio da revogação europeia da proibição do aborto e da eutanásia na Irlanda (apesar dos defensores do Sim terem lembrado que o Tratado de Lisboa não põe em causa o Protocolo 17 do Tratado de Maastricht relativo ao artigo 40.3.3 da Constituição Irlandesa sobre a proibição do aborto (mas não o repete...) e da conferência de bispos irlandeses terem emitido, em 29-5-2008, uma Reflexão Pastoral "Fostering a Community of Values" que, de certo modo, apoia o Tratado, os defensores do Não reprovaram a falta de clareza do mesmo nessa questão e temiam os avanços federais das instituições e principalmente da jurisprudência do TJCE sobre esta matéria); O receio da perda de soberania fiscal (eliminando a vantagem económica dos baixos impostos sobre as empresas); A desconfiança de uma política externa supranacional (e receio da perda de neutralidade); A oposição ao Estado Social socialista - e, para outros, a oposição ao neoliberalismo laboral. Na Europa, os líderes da política furtiva afligem-se com o resultado. E maldizem os 109 964 eleitores irlandeses que votaram "Não", em vez de ficarem em casa, ou uma metade-mais-um deles que se enganou no voto que deveria ser "Sim". José Sócrates, que tinha prometido referendar o tratado e não cumpriu, vê agora dissipado parte do ganho "fundamental" que previa nele para a sua "carreira". Não foi, portanto, a abstenção que fez perder na Irlanda o "Sim ao Tratado de Lisboa". Foi o voto do povo. E o voto do povo, mesmo para os democratas representativos que desprezam o eleitor durante os seus mandatos, é incontornável. Não poderá, portanto, fazer-se um segundo referendo daqui a meses: tem de fazer-se um novo Tratado, consentindo aos Estados - e não só à Irlanda... - a possibilidade de não aplicar determinadas decisões políticas ou, mesmo, determinadas políticas. Percebe-se bem que o voto "Não" seria repetido noutros países, se fosse consentido ao povo o direito de o sufragar, como diz o Ruy Caldas do "Classe Política". Essa impressão é que constitui o maior revés da votação irlandesa.(…)Creio que o voto contra irlandês manifesta a censura popular perante uma constituição programática europeia, mal disfarçada da versão anterior, e o projecto de federalismo europeu imperial. Aprendemos - aprenderam todos os que estudaram Ciência Política e Direito Constitucional! - que uma constituição não deve defender um programa político, uma ideologia, porque como lei fundamental que é tem de ser consensual, para que possa ser aceite, integrada, promovida e jurada por todos.Esta constituição/tratado, que pretende entronizar o deus Atheos das elites e omitir a herança e convicção popular, baseia-se no totalitarismo do politicamente correcto que exclui a liberdade nacional de outras formas de pensamento e decisão. Porque se imiscui no terreno ideológico, no plano da economia e dos costumes, agrada a uns e desagrada a outros. Para reduzir a oposição, torna-se uma mistura que passa a desagradar a quase todos. Assim, passa a ser atacada no plano económico por ser demasiado socialista (na regulação) ou demasiado neoliberal (no trabalho); e no plano dos costumes, por ser demasiado ateia ou demasiado liberal. E, acima de tudo, a preponderância das grandes potências sobre os demais povos. (…)»
António Balbino Caldeira no blogue “Do Portugal Profundo” [Link na coluna do lado]
Um texto que vale a pena ler na íntegra!
Apache, Junho de 2008

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Futebolisticamente incorrecto

Considerando que: Não tenho conta no BES e irritam-me solenemente os seus anúncios publicitários que parecem ter sido escritos por alguém tão inteligente como a Senhora Ministra da Educação; Não abasteço na GALP. Desagrada-me a ideia de um vendedor de combustíveis colocar os clientes a empurrar autocarros; Não sou propriamente um cliente… Modelo; Nunca assisti a nenhuma missa patrocinada pela Caixa Geral de Depósitos; Apesar de gostar de desporto não costumo praticar boxe com sérvios; O Petit é um excelente distribuidor de fruta, a quem falta apenas uma banca no Mercado da Ribeira, o Raul Meireles e o Jorge Ribeiro talvez consigam “ponta” na selecção de Pinheiro da Cruz e o Nuno Gomes tem futuro garantido no McDonald´s. Mas acima de tudo, considerando que sou português e gosto de futebol, porque raio haveria eu de apoiar esta selecção?
Apache, Junho de 2008

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Valter Lemos e a "stand up comedy"

No passado dia 7 (de Junho) realizou-se em Lisboa um encontro internacional sobre educação especial, que reuniu cerca de 1700 especialistas, a maioria dos quais, professores do ensino especial. Logo no início da sua intervenção, o Secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, do alto da sua vaga prosápia sai-se com esta frase – “Em 2013 teremos em Portugal uma verdadeira escola inclusiva”. A plateia reage com uma gargalhada geral. À saída do encontro, instado pelos jornalistas a comentar o episódio, Valter Lemos não deixa os seus dotes por garganta alheia e dispara mais bazófia – “É a incredulidade normal de um país que se habituou a não ser consistente nas opções e a não perseguir de forma consistente os objectivos.” Acrescentando ainda: - “A incredulidade não é preocupante desde que os professores trabalhem.” Que pena estes comentários já não terem sido ouvidos pelos participantes no encontro. Perdeu-se assim mais uma boa gargalhada. Quando o governo de Sócrates cair de maduro, Valter Lemos tem futuro garantido… na stand-up comedy!
Apache, Junho de 2008

terça-feira, 10 de junho de 2008

O “Aquecimento Global” continua de férias

[Cliquem na imagem para ampliar]
O gráfico da figura acima foi construído com os dados fornecidos pelo satélite da Universidade do Alabama e mostra que à semelhança do que aconteceu em Portugal, o passado mês de Maio foi, na generalidade do planeta, bastante frio. O gráfico apresenta a variação de temperatura da baixa troposfera em relação à média dos últimos 29 anos (representada pelo zero da escala). O último mês foi o mais frio desde Abril de 1997 e o Maio mais frio desde 1992. A temperatura do planeta apresenta-se quase 0,2 ºC abaixo da média. Está na altura de deixar uma pergunta inconveniente aos inventores da antropogenia do aquecimento global – Não acham que antes de continuar a discussão sobre a culpabilidade das nossas emissões de dióxido de carbono no aquecimento do planeta é melhor arranjarem primeiro uma forma de o planeta aquecer? É que ao preço a que está o petróleo, o pobre vai congelar no próximo Inverno.
Apache, Junho de 2008

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Fotografias famosas, manipuladas - Turista no World Trade Center

Vários avanços tecnológicos conseguidos nos últimos 150 anos mudaram radicalmente o nosso mundo. Um deles, foi a invenção da máquina fotográfica. Não é em vão que passados tantos anos do surgimento das primeiras imagens, inicialmente estáticas e depois animadas, ainda hoje usamos a máxima – “uma imagem vale mais que mil palavras”. A popularidade das imagens foi tão evidente desde o seu aparecimento que cedo se percebeu da importância da sua manipulação. No início esta estava reservada a especialistas, mas hoje em dia com o fácil acesso a software próprio para o efeito, qualquer entusiasta da imagem consegue melhores ou piores manipulações. No entanto, as mais famosas imagens manipuladas são quase obras de arte, possíveis de obter, apenas por alguns. Começo este tema com uma imagem que circula por mail, que alegadamente teria sido encontrada numa câmara achada nos destroços do World Trade Center. A imagem tornou-se famosa por ganhar o concurso “Best 9/11 Photoshopped Picture”.

É evidente a inclusão do avião numa imagem de um dos muitos turistas que diariamente visitavam o terraço da Torre Sul do complexo. Mas para quem não reparou na manipulação, deixo três evidências. 1- O primeiro ataque deu-se na Torre Norte, portanto, tendo a foto sido obtida no terraço da Torre Sul deveria ser visível o fumo oriundo da outra torre. 2- Um avião (ou qualquer outro objecto) a deslocar-se a uma velocidade de mais de 800 km/h não é captado de forma tão nítida por uma câmara fotográfica vulgar. 3- Era impossível uma pose tão tranquila por parte do visitante, com o ruído ensurdecedor do avião (o som é mais rápido que um “Boeing”) sendo também impossível uma foto não tremida, com a vibração do prédio, provocada pelo arrasto aerodinâmico do “jacto” já tão próximo do edifício.

Apache, Junho de 2008

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Obama, "O Profeta"

“I am absolutely certain that generations from now, we will be able to look back and tell our children that this was the moment when we began to provide care for the sick and good jobs to the jobless; this was the moment when the rise of the oceans began to slow and our planet began to heal.”
Barack Obama - Saint Paul (Minnesota), após a sua vitória nas eleições primárias do Partido Democrata.
Não me espanta que alguém consiga dizer isto em público sem se rir. Não me surpreende que uma comunicação social sem escrúpulos tenha reproduzido as palavras do dito cujo como se elas fossem providas de conteúdo. Não me admira que essa enorme massa de gente anónima, analfabeta e nanocéfala, que orbita em torno deste circo eleitoral americano o tenha aplaudido histericamente. O que (ainda) me choca é que ele não tenha sido imediatamente internado para uma cura de desintoxicação.
Apache, Junho de 2008

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Para ler e pensar…

“A observação de relações causa-efeito fornece a primeira estrutura explicativa deste universo. Se largarmos a pedra da mão, ela cai. Mas em relação a muitos fenómenos não descortinamos a causa do efeito observado; então, a humanidade descobriu algo importante: o Período! O dia segue-se à noite, as cheias dos rios repetem-se anualmente, as posições dos astros nos céus repetem-se com períodos diferentes para os diferentes astros errantes. Todo o Universo parecia determinado por períodos. Conhecer o Universo seria então uma questão de determinar os seus períodos. Que se mediam com o grande relógio da antiguidade, o único relógio de grandes períodos, a posição dos astros no céu. A Astrologia não nasce na crença de que os astros determinam as características dos humanos e os acontecimentos das suas vidas, mas na crença de que ambos obedecem a períodos, medidos pelas posições relativas dos astros. Mas começou-se a verificar que conhecer os períodos não é suficiente. Eis que a Matemática surge com um novo recurso: a Equação! Estabelecer a equação que satisfaz os dados das observações permitiria determinar as novas ocorrências. Nascem então os modelos matemáticos. A relação causa-efeito passa a um papel secundário. O paradigma dos modelos matemáticos é o modelo de Ptolomeu – um modelo matemático dos dados das observações. Este era um modelo poderoso. A precisão dos seus resultados suplantava o modelo de Copérnico. Não era evidentemente um modelo «lógico», não estava construído sobre relações causa-efeito, isso nada interessa aos matemáticos, cuja "alta capacidade de abstracção os liberta dessa necessidade própria das mentes simples". Só têm uma limitação os modelos matemáticos. O modelo de Ptolomeu durou 15 séculos mas, se dependesse apenas dos matemáticos, poderia durar 150 séculos. Porque um modelo matemático é um mero exercício de ajustar equações a dados tal e qual eles são obtidos pela observação. Como não se preocupa com relações causa-efeito, não pode dar o salto que vai do modelo de Ptolomeu para o de Copérnico. Poderemos pensar que não tem de ser assim, se a Matemática se preocupasse em encontrar o modelo com o número mínimo de parâmetros, já poderia dar esse salto. Mas que metodologia pode guiar o matemático nessa procura? Os modelos matemáticos são úteis, como o de Ptolomeu o foi; permitem alcançar resultados para além do que as relações causa-efeito que conhecemos num dado momento permitem; mas temos de perceber a sua grande limitação e estar conscientes de que apenas modelos fenomenológicos, ou seja, completamente determinado por relações causa-efeito, nos permitem previsões com segurança elevada. O problema é que é muito mais difícil estabelecer um modelo fenomenológico, como o de Newton, do que um modelo matemático, como o Ptolomeu. Embora o modelo fenomenológico seja muito mais simples – na realidade, este é um modelo “que até pode ser explicado às crianças”, pois estas podem compreender as relações causa-efeito. Mas a linha de investigação que pode levar a eles é que não deve ser abandonada, como tem sido, devido à crença cega nas capacidades dos modelos matemáticos. O facilitismo de recorrer aos modelos matemáticos tem vindo a alastrar a todos os ramos do conhecimento. Por exemplo, uma Economia baseada em modelos matemáticos poderá ser óptima para descrever o passado, mas inútil para prever o futuro. E para orientar a decisão. Tem, por isso, razão o Papa quando fala das limitações da Ciência. Porque a Ciência cada vez se reduz mais à matemática e há instrumentos mais poderosos de obter Conhecimento. O Big Bang é um modelo matemático. Desenhado para se ajustar às observações. Mas, hélas, tal como no modelo de Ptolomeu, estas dependem do observador! E dar esse salto é impossível para um modelo matemático. O Big Bang também durará 15 séculos?
“Alf” – Autor dos blogues de Ciência: “Outra Margem” e “Outra Física” [com links na coluna do lado]

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Eles comem tudo… (3)

Há dias ficou-se a saber que dois milhões de portugueses vivem com menos de 10 euros por dia, ou melhor, viviam. É que um tal de José Sousa esclareceu no parlamento que os dados se referiam a 2004. Ficámos então muito mais descansados, de 2004 para cá talvez algum deles já tenha arranjado emprego como jardineiro de um dos vencedores do Euromilhões. Poucos dias antes, havíamos tido conhecimento dos resultados referentes ao primeiro trimestre de 2008, da Galp, onde a “crise” que se vive no sector petrolífero é bem patente. Recorde-se que o seu presidente, Manuel Ferreira de Oliveira, disse que a subida dos preços do petróleo é uma “realidade preocupante, mas contra a qual nada há a fazer”. A Galp apresentou lucros (líquidos) de 13,86 € por segundo. A crise tem destas coisas. E para terem uma ideia da globalidade da dita "crise", tantas vezes repetida pelos nossos “governantes” e pela comunicação social, fiquem a saber que a Exxon Mobil, apresentou no ano de 2007 lucros jamais alcançados por qualquer outra empresa de 1300 dólares (835,96 €, ao câmbio de 29/05/2008) por segundo (algo semelhante aos lucros da Galp num minuto).
Apache, Maio de 2008