domingo, 18 de maio de 2008

Spooortig!!! (2)

Depois de um desempenho no campeonato cheio de soluços e, daquela exibição insonsa na final da Taça da Liga, conseguimos acabar a época como começamos, a ganhar. Foi a 15ª Taça de Portugal conquistada pelo Sporting, em 67 edições da prova.
Apache, Maio de 2008

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Avaliação Fatal…

O INA (Instituto Nacional de Administração) está a levar a cabo uma série de seminários sobre avaliação de desempenho do pessoal docente. Os destinatários são essencialmente os membros dos Conselhos Executivos, e os Coordenadores responsáveis pela avaliação dos professores. O formador é o senhor Jorge Fatal Nogueira, licenciado em Engenharia de Sistemas Decisionais, pós graduado em Marketing, MBA… [Calma, não comecem já a rir…., o resto do currículo está no “site” do INA.] As turmas têm 25 alunos, a acção decorre em dois dias (num total de 16 horas e custa 200 euros. [Também não valem palavrões… são só 312,5 € por hora e provavelmente não é só para o senhor Fatal, que eventualmente até paga impostos…] Dois destes seminários já decorreram, um (nos passados dias 9 e 10), no Agrupamento de Escolas Ferrer Correia e outro (nos dias 12 e 13), nas instalações do INA em Oeiras. Mas não vale a pena ficarem tristes por não terem participado, pois a dose “fatal” repetir-se-á a 22 e 23 do corrente, no Agrupamento de Escolas Martins de Freitas (Coimbra) e ainda em mais 9 outras datas (disponíveis também no “site” do INA). Para quem ainda assim não consiga arranjar vaga [ou não queira atirar 200 € para o chapéu do artista], porque não quero que os colegas fiquem privados das competências que este seminário certamente vos forneceria [espero que não estejam a rir outra vez…], deixo aqui a “ferramenta” (termo usado pelo próprio) Fatal, composta por 96 condutas [algumas são repetidas, devem ter peso duplo…] sobre as quais, supostamente, incidiria a nossa avaliação… "CONDUTAS 1. É pontual. 2. Disponibiliza-se para actividades que ultrapassam obrigações horárias/profissionais. 3. Cumpre prazos. 4. Quando trabalha em equipa é um elemento participativo e não conflituoso. 5. Zela e preserva material/equipamento escolar. 6. Proporciona ambiente calmo, propício à aprendizagem. 7. Numa reunião tem uma atitude de colaboração e de entreajuda. 8. Manifesta opinião própria e construtiva relativamente a assuntos debatidos. 9. Não gera mau ambiente no local de trabalho. 10. Evita banalidades e perda de tempo. 11. É receptivo à mudança. 12. Dá sugestões / tem opiniões críticas para melhoria de serviços. 13. Faz formação de acordo com o projecto educativo da escola. 14. Faz formação na sua área específica. 15. Disponibiliza-se para apoiar os alunos após as horas lectivas, sempre que considere necessário. 16. Regista e avalia o cumprimento das actividades planificadas. 17. Estabelece planos de acção para corrigir desvios. 18. Apoia o desenvolvimento de métodos de aprendizagem / estudo. 19. Estabelece e faz respeitar regras de convivência, colaboração e respeito. 20. Aplica os critérios de avaliação aprovados pelos órgãos competentes. 21. Cumpre o horário - substitui parâmetros de assiduidade. 22. Mantém a calma perante uma situação de tensão com alunos, professores ou pais. 23. Mantém limpo e arrumado o local de trabalho. 24. Oferece-se para ajudar em outras áreas que não a sua quando é necessário. 25. Predispõe-se para ajudar as pessoas aquando da necessidade de urgência no serviço
26. Conhece o PE da escola, a missão e a visão da escola. 27. Utiliza correctamente os equipamentos. 28. Verifica o estado dos equipamentos antes e depois da sua utilização. 29. Zela pelo cumprimento do regulamento interno da escola. 30. É educado e cordial com todos os elementos da comunidade escolar. 31. Perante uma situação determinada, apresenta diferentes alternativas como solução. 32. Comunica por escrito ao conselho executivo sugestões a implementar (por ex: com base na análise de melhores práticas de outras escolas ou organizações) que ajudam a garantir um serviço de mais qualidade. 33. Mantém a confidencialidade e discrição perante determinadas situações. 34. Recolhe diferentes opiniões ou sugestões procurando criar sinergias com os seus colegas com a mesma função. 35. Colabora / age no sentido de proporcionar um bom clima de escola. 36. Resolve situações de conflito sem ter que solicitar ajuda extra. 37. Assiste a aulas de colegas sempre que considera útil. 38. Permite que outros colegas assistam a aulas suas. 39. Actua de forma rápida e eficaz, de acordo com critérios predefinidos, dentro das acções previstas nos processos de trabalho em que está envolvido. 40. Age com assertividade e discernimento, encontrando as soluções mais pertinentes para cada situação, apresentando-as ao respectivo responsável hierárquico. 41. Analisa problemas e toma decisões relativas a rotinas de trabalho, não necessitando de apoio superior. 42. Avalia sistematicamente os resultados que se propõe atingir e reformula as actividades para atingir os resultados de forma mais eficaz. 43. Cumpre prazos. 44. Transmite a sua opinião de forma racional e controlada. 45. É receptivo à mudança e envolve os seus pares para melhorar a sua área, a dos outros e a escola no seu todo, não se opondo às questões. 46. Quando é chamado a desenvolver outras actividades, encara sempre a situação de uma forma positiva, predispondo-se para actuar. 47. Revela empenho no desenvolvimento das tarefas, realizando-as antecipadamente. 48. Toma decisões e assume a responsabilidade não jogando a culpa dos problemas para cima de outros. 49. Sugere soluções inovadoras, antecipando a ocorrência de problemas. 50. Gere com eficiência todos os meios existentes na escola. 51. Procura todas as oportunidades de formação de forma a alargar conhecimentos específicos relativos à área da sua intervenção. 52. Propõe actividades com vista à modernização e desenvolvimento da comunidade onde se integra (extravasando os limites da escola). 53. Supera as expectativas do grupo com contribuições activas de desenvolvimento, motivando estes a seguir o exemplo, oferecendo ajuda e dando opiniões construtivas (não havendo rejeições das suas contribuições). 54. Assiste a eventos desenvolvidos por qualquer tipo de entidade. 55. Está ao corrente de situações e dificuldades de outras escolas desenvolvendo soluções na escola como prevenção. 56. Perante uma dificuldade na escola conversa com outros colegas que possam partilhar situações similares e sugere determinadas acções. 57. Traz à escola pessoas de assuntos de interesse partilhando experiências. 58. Desenvolve planos de acção para a implementação de melhores práticas pesquisadas e adequadas à escola. 59. Fomenta o networking interno e externo através de comunicações e actividades.60. Analisa continuamente as tendências dos outros e procura implementar as melhores práticas para encontrar as melhores soluções. 61. Aplica a formação recebida nas tarefas que lhe são atribuídas. 62. Aproveita ideias de outras áreas ou de organizações semelhantes e adapta-as à sua. 63. Avalia sistematicamente os resultados que se propõe atingir e reformula as tarefas, no sentido da melhoria, ou seja, faz alterações ao previsto, para atingir os resultados de forma mais eficaz. 64. Consegue sinergias com outras áreas da organização no sentido de facilitar ou agilizar o serviço. 65. Identifica situações que fogem do padrão do controle previsto e apresenta soluções ao Coordenador no sentido de evitar possíveis problemas. 66. Organiza e coordena actividades consideradas por outras áreas como melhores práticas e incorpora-as com vista à superação dos resultados previamente estabelecidos, apresentando propostas ao Coordenador para superação de objectivos através de um plano de acção. 67. Orienta e planeia acções com uma visão partilhada que potencia a missão e os valores da organização. 68. Partilha técnicas, ferramentas e conhecimentos dentro da organização. 69. Partilha técnicas, ferramentas e conhecimentos fora da organização, por exemplo fazendo apresentações em congressos, palestras, etc. 70. Partilha técnicas, ideias e recursos melhorando o trabalho em equipa através de aconselhamentos aos seus colaboradores. 71. Predispõe-se para ajudar as pessoas aquando da necessidade de urgência no serviço. 72. Procura todas as oportunidades de formação de forma a alargar conhecimentos específicos relativos à área da sua intervenção. 73. Sempre que verifica alguma anomalia mesmo que não seja da sua área sugere soluções simples mas concretas. 74. Contribui para a mudança planeando melhores práticas e tomando iniciativas, com base em projectos de autonomia e liderança, medindo o grau de satisfação de pelo menos 75% dos seus colaboradores através de pesquisas de satisfação rápidas. 75. Apresenta por escrito propostas de soluções novas de problemas fora da sua área de trabalho e de actuação. 76. Cria acções novas e motivadoras para a manutenção da disciplina na sala. 77. Cria e implementa novas formas e metodologias que favorecem a participação dos alunos na realização da aula. 78. Cria ferramentas de controle da sua actividade ou de outros dentro da organização que sejam simples mas resolvam os problemas de acompanhamento. 79. Cria instrumentos que proporcionam auto avaliação dos alunos com rigor e objectividade. 80. Cria novos métodos de estudo para os alunos, demonstrando a sua eficácia. 81. Cria novos sistemas ou metodologias nas turmas que estimulam o processo de ensino-aprendizagem. 82. Cria processos e critérios de avaliação e partilha com os avaliados, obtendo consenso e validação. 83. Desenvolve recursos inovadores para a realização de actividades lectivas. 84. É capaz de desenhar condutas observáveis dos colegas avaliados de forma simples e objectiva. 85. Envolve-se em projectos comunitários inovadores por iniciativa própria. 86. Estabelece mecanismos novos de seguimento ou acompanhamentos da implementação dos planos de melhoria negociados com os avaliados. 87. Executa um projecto de liderança inovador e consegue implementar ideias revolucionárias e estratégicas, envolve as pessoas nesses projectos não deixando de fora ninguém. 88. Inova com ideias jamais testadas em algum lado e prova que a organização poderá beneficiar disso. 89. O professor cria e implementa processos claros e reconhecidos pelos alunos para facilitar a sua disponibilidade e apoio aos mesmos. 90. Preocupa-se no desenho e implementação de novas ideias criadas por ele que ajudem a escola na redução do abandono escolar. 91. Propõe novas actividades com vista à modernização e desenvolvimento da comunidade onde se integra. 92. Quando apresenta os problemas apresenta também hipóteses de várias soluções criadas por ele, devidamente estudadas e analisadas e dá a sua opinião de como o problema pode ser resolvido da melhor forma. 93. Sugere novas estratégias para a resolução de problemas. 94. Sugere novos critérios que permitam fazer uma análise da planificação e estratégias de ensino para a adaptação ao desenvolvimento das actividades lectivas. 95. Sugere soluções inovadoras, antecipando a ocorrência de problemas. 96. Utiliza os resultados da avaliação dos alunos como base para criar novas formas de actividade lectiva que permitam desenvolver com eficácia e competência as atitudes dos alunos.” A responsabilidade pela má construção frásica, nomeadamente pelos erros de concordância é do autor das mesmas. [Pronto, basicamente é isto. Deu para rir na mesma e pouparam 200 euros...] P.S. Não andem por aí a mostrar a “ferramenta” do senhor, consta que é confidencial ;)
Apache, Maio de 2008

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Alguém me explica? (2)

A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) anunciou anteontem que a produção mundial de arroz, deste ano, deverá bater todos os recordes, cifrando-se em 666 milhões de toneladas, mais 2,3% que no ano passado. Enquanto que o consumo deverá crescer cerca de 0,5%, atingindo (segundo os meus cálculos) algo próximo dos 380 milhões de toneladas. Este ano de 2008 ficará assim marcado por um aumento do excedente mundial de arroz. Pergunta inconveniente… Porque raio, os preços do arroz nos mercados mundiais, subiram 76% nos quatro primeiros meses deste ano? Pelo visto, a “lei da oferta e da procura” vale tanto para os especuladores, como as leis da Física para os “ecologistas”…
Apache, Maio de 2008

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O que é o efeito de estufa?

Antes de mais, alerto os hipotéticos leitores para o facto de o texto que se segue não corroborar a versão política da expressão “efeito de estufa”, a qual poderá ser encontrada em qualquer manual escolar de Física e Química A do 10º ano, bem como em inúmeras páginas da Internet.
Encontram facilmente a resposta à pergunta acima, se eu vos der um exemplo. A Lua, que gira em volta da Terra, a cerca de 384 000 km de nós, está aproximadamente à mesma distância do Sol que o nosso planeta, por isso, recebe dele aproximadamente a mesma quantidade de energia por unidade de área, que a Terra. Seria então de esperar que tivesse idênticas temperaturas. Mas não tem. A temperatura mínima registada na Terra foi de -89,2 ºC e a máxima de 58,1 ºC, enquanto no nosso satélite natural já foram medidas temperaturas mínimas de -233 ºC (durante a noite) e 123 ºC (durante o dia). Motivo para esta discrepância – a Lua (quase) não tem atmosfera! Conclusão, o efeito de estufa é causado pela atmosfera, logo, gases com efeito de estufa são todos os gases que compõem a atmosfera! A expressão efeito de estufa é manifestamente infeliz, a “ciência” é pródiga nesta péssima escolha de termos. O que se passa numa estufa é o que se passa no nosso carro quando fica estacionado ao sol. A luz solar atravessa o vidro e parte dela é absorvida pelos gases que estão no habitáculo, aquecendo-os. Como estes gases não podem contactar com a atmosfera exterior (o sistema é fechado), não trocam calor com estes, mantendo-se mais quentes. Diz-se que uma estufa impede a convecção, isto é, a troca de energia na forma de calor, através de correntes de gases. (a convecção também ocorre nos líquidos.) As trocas de energia entre o ar dentro do carro e o exterior fazem-se essencialmente por radiação. No interior, é absorvida fundamentalmente radiação visível e infravermelha (também alguma ultravioleta) proveniente do Sol e é emitida radiação infravermelha (a menos energética das três) pelo ar interior, por isso, este aquece. O que é que isto tem a ver com a atmosfera terrestre (ar livre)? Praticamente nada. De toda a radiação enviada pelo Sol, para a Terra, parte é reflectida pela atmosfera e pela superfície do planeta (cerca de 30%; a que se chama albedo), a restante é absorvida por ambas (atmosfera e superfície). Contrariamente ao ar aprisionado dentro do carro, a atmosfera terrestre facilita a convecção. Os gases mais quentes (menos densos) sobem deixando “espaço” disponível, que os mais frios (mais densos) ocupam. Criam-se assim, correntes de ar a diferentes temperaturas (as correntes de convecção), que constituem um dos mecanismos que rege o clima. Assim, a atmosfera funciona como um regulador do clima, absorve parte da energia solar (radiação) que distribui para as zonas mais frias (por convecção), não deixando criar grandes amplitudes térmicas. Além disso, devolve ainda, do lado noite, parte dessa energia para o espaço (por radiação) e cede à superfície (quando esta está mais fria) uma pequena parte (por condução). Podemos dizer que é a atmosfera a causa das alterações climáticas. Na Lua, não há estações do ano, e o clima é idêntico todos os dias, um calor infernal no lado dia e um frio insuportável no lado noite. Mais de 350 ºC graus de diferença entre o dia e a noite.
Apache, Maio de 2008

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Uma Mulher com tomates…

Maria Leonor Duarte, professora do 1º Ciclo e Vice-Presidente do Agrupamento Vertical de Escolas de Azeitão, apresentou nestes moldes o seu pedido de demissão, ao Presidente da Assembleia do Agrupamento.
“Vai para três anos que, culminando um processo democrático amplamente participado, tomou posse este Conselho Executivo. Assumimos, então, o compromisso de 'cumprir com lealdade' as funções que nos eram confiadas, funções que decorriam de um quadro legislativo bem diverso do actual. Neste exercício, democratizámos as relações inter-pares, gerámos expectativas e esperanças, fomentámos a iniciativa e a criatividade, quisemos aprofundar a relação pedagógica, libertando os professores de tarefas menores, para benefício dos alunos. Respeitando as pessoas e dignificando a Escola.Porém, as regras mudaram a meio do jogo. É agora bem diferente enquadramento legal que regula a nossa acção. Uma incontinência legislativa inexplicável minou e desvirtuou os compromissos que assumíramos: não nos propusemos asfixiar os professores em tarefas burocráticas sem sentido, alheias ao objecto da sua missão; não nos propusemos fragilizar o estatuto dos profissionais da educação; não nos propusemos submergir os docentes em relatórios, planos, projectos, registos, sem que daí resultassem vantagens ou benefícios para os alunos; nem nos propusemos liquidar o espaço de participação democrática na escola.Com a actual publicação do Dec. Lei nº 75/2008 suprime-se tudo o que de dinâmico, criativo e participado existia na gestão das escolas. A opção por um órgão unipessoal – o director, a sua selecção num colégio eleitoral restrito, as nomeações dos responsáveis pelos cargos de gestão intermédia pelo director, são medidas que não têm em conta os princípios de uma gestão assente na separação de poderes entre os vários órgãos. Este diploma potencia riscos de autocracia e não reconhece o primado da pedagogia e do científico face ao administrativo. Encerra uma lógica economicista e empresarial adversa à verdadeira missão da escola. Não valoriza nem reconhece a diversidade de opiniões e a consequente construção de consensos como motores privilegiados da mudança e da promoção de uma escola de qualidade. Não permite que a instituição escolar se constitua como um espaço privilegiado de experiências de cidadania.Em suma, passados 34 anos sobre o 25 de Abril, o modelo democrático de gestão chegou ao fim. E aos órgãos democraticamente eleitos, convertidos em comissão liquidatária, é 'encomendada' a tarefa de, negando a sua própria natureza, abrirem caminho a um ciclo de autoridade não sufragada, de centralismo, e até de governamentalização da vida das escolas.Por considerar que o novo modelo de gestão atenta contra valores e princípios que sempre defendi, e por não querer associar-me à sua implementação, eu, Maria Leonor Caldeira Duarte, apresento o pedido de demissão do cargo de Vice-presidente do Conselho Executivo do Agrupamento Vertical de Escolas de Azeitão. Com os melhores cumprimentos
Azeitão, 28 de Abril de 2008” O texto “fala” por muitos de nós, fica por isso um curto comentário em jeito de agradecimento… “Em tempos de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!”
Apache, Maio de 2008

domingo, 4 de maio de 2008

Foi você que pediu… um canudo?

A palhaçada do “Novas Oportunidades” chegou ao ensino superior. “A Universidade do Algarve, através da Faculdade de Engenharia de Recursos Naturais, da Faculdade de Economia e da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo confere o grau de mestre em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe e ministra o ciclo de estudos a ele conducente. O grau de mestre em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe é conferido nas seguintes áreas de especialização: Gestão; Manutenção.” Publicado em Diário da República, 2ª série — Nº 51 — 12 de Março de 2008.
Mestrado em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe?!
O que é que se vai seguir? Uma pós-graduação em coloração de madeixas? Uma tese de doutoramento que estabeleça uma relação de causa/efeito entre o comportamento social das formigas após o Maio de 68 e a actual taxa de juro de referência do Branco Central Europeu?
Apache, Maio de 2008

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Cabeça de chumbo

No “Público” da passada quarta-feira lia-se na primeira página que, de acordo com um relatório da OCDE, os “chumbos no básico e secundário custaram 600 milhões de euros”. A senhora ministra, numa das muitas frases que suscitam dúvidas quanto às suas capacidades intelectuais, havia afirmado que chumbar alunos é facilitismo. Devo lembrar a senhora ministra que este é um problema de fácil resolução, basta estender a todos os anos de escolaridade o que vigora actualmente no 1º ano, expresso no artigo 55º do Despacho Normativo nº 1/2005 de 5 de Janeiro – “No 1º ano de escolaridade não há lugar a retenção”. Poupar-se-iam assim, não só, os 600 milhões gastos com as retenções mas também os milhões gastos com os exames nacionais, que neste contexto seriam desnecessários. Economizar-se-ia ainda, nas dezenas de papéis que cada professor preenche em cada momento de avaliação, com relatórios, planos e justificações de evidências. Um verdadeiro manancial (extra) de euros para os bolsos sem fundo dos oportunistas da política. Dois outros estudos, nunca realizados, assumem, neste contexto, particular pertinência… Por um lado, quanto custam ao país, as milhares de aprovações e certificações de competências que os alunos que transitam de ano (ou concluem cursos) efectivamente nunca adquiriram? E por outro, quanto custa ao país a manutenção de gentinha desta espécie, há tantos anos, à frente dos principais órgãos de governo?
Apache, Maio de 2008

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A falta de “Visão”

A última edição da revista “Visão” coloca o Primeiro-Ministro britânico, Gordon Brown, no lugar mais baixo da tabela de “mais e menos” da semana, devido à manifestação de professores contra as suas políticas educativas, que juntou nas ruas de Londres cerca de 10 000 professores. Curiosamente, esta mesma revista, colocou Maria de Lurdes Rodrigues a meio da escala, quando à pouco mais de um mês, uma manifestação por razões semelhantes, juntou nas ruas de Lisboa 100 000 docentes. Comparando a realidade portuguesa com a inglesa, significa que em Portugal, a manifestação teve 60 vezes mais participantes e a “visão” atribui-lhe metade da importância. Diz que é uma espécie de jornalismo…
Apache, Maio de 2008

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Contos Proibidos (3)

25 de Abril… Os dias seguintes
“Os militares, como afirma o próprio Otelo, tinham então como meta «a restauração do prestígio das Forças Armadas» e não são aparentes quaisquer indícios de que, por detrás do Movimento das Forças Armadas, existisse um plano politicamente concertado e ideologicamente fundamentado. Spínola era um anticomunista convicto e, no fundo, considerava-se um patriota com a missão de restabelecer em Portugal uma democracia mais ou menos liberal e manter a possível unidade do «império colonial» em moldes que os Movimentos de Libertação pudessem aceitar. (…) A Junta de Salvação Nacional dificilmente poderia, no dia 25 de Abril, ser considerada de esquerda e muito menos associada ao Partido Comunista. Quaisquer extrapolações posteriores só se compreendem para justificar a incapacidade, quer da direita, quer da esquerda democrática, para então fazer compreender aos homens do MFA as vantagens e superioridade da via democrática. O general Spínola que, enquanto presidente da Junta de Salvação Nacional, seria nomeado Presidente da República, Silvério Marques, Pinheiro de Azevedo, Galvão de Melo, Diogo Neto, Costa Gomes eram todos homens de direita; por outro lado, pouco se conhecia a respeito da personalidade de Rosa Coutinho, apesar de bem visto pelos americanos após um curso que frequentara naquele país. Costa Gomes, que posteriormente viria a ser aliciado para o campo comunista, atingindo mesmo o mais baixo grau de subserviência ao dar cobertura às actividades da estratégia soviética através do Conselho Mundial da Paz, era inicialmente parte do establishment ocidental, tendo mesmo sido ele o primeiro a propor o general Spínola para presidente da Junta. O primeiro-ministro escolhido em segunda mão para chefiar o Primeiro Governo Provisório, Prof. Adelino da Palma Carlos, era um republicano «maçom», de pendor mais conservador que liberal. Os membros do Primeiro Governo Provisório eram igualmente, na sua grande maioria, liberais e conservadores nomeados com base nas propostas e recomendações dos chefes partidários, com excepção de Raul Rego e Firmino Miguel. (…) Dados os sentimentos anticomunistas do general Spínola, dada a sua amplamente demonstrada ignorância política e o facto de se saber que Mário Soares teria dito ao general que se Cunhal não entrasse ele também não entrava para o Governo, parece evidente que a decisão foi influenciada decisivamente pelos socialistas. (…) O mundo inteiro recebera o anúncio do 25 de Abril com grande regozijo e quem dava garantias e tranquilizava os governos aliados de Portugal na NATO era exactamente o general Spínola e não o socialista Mário Soares, co-signatário de um «inquietante» acordo de governo com o Partido Comunista. (…) O Partido Socialista achava o seu secretário-geral fundamental para organizar um partido que a 25 de Abril não existia «de facto» e que, como se veria alguns meses depois, ia sendo entregue» ao PCP no seu 1º Congresso. (…) Algo semelhante me dissera em tempos Olof Palme que tivera vários contactos com Otelo Saraiva de Carvalho por quem nutria grande simpatia. Contou-me, durante um momento de boa disposição no centro de formação do movimento sindical sueco, em Bommersvik, que Otelo lhe dissera durante a sua primeira visita a Portugal, em Outubro de 1974, que antes do 25 de Abril sempre considerara a social-democracia demasiado à esquerda. Era opinião do malogrado primeiro-ministro da Suécia, que Otelo e os capitães de Abril que ele tivera oportunidade de conhecer, não passavam de militares inicialmente bem-intencionados e politicamente «analfabetos», que o PCP habilmente conseguira, com apoio da comunicação social, transformar em «estrelas». (…) Mário Soares chegara a Portugal sob a influência do contrato político acordado com o PC em Paris em 1973 e, pior do que isso, perfeitamente convencido de que o PS estava predestinado a um papel subalterno em relação aos comunistas. (…) Embora surpreendidos com o golpe, a satisfação com a queda do regime de Marcello Caetano foi unânime em todo o mundo e nenhuma dificuldade existiria para o reconhecimento do novo Governo. Aliás, antes mesmo de Mário Soares iniciar, a 2 de Maio de 1974, o seu périplo com a finalidade de alegadamente obter reconhecimento e apoio para o novo regime, já se tornara mais que evidente que a nomeação de Spínola para Presidente da República, a declaração do MFA e a composição da Junta de Salvação Nacional eram mais do que indícios suficientes para tranquilizar os aliados tradicionais de Portugal. O que já lhes era mais difícil de aceitar - isso sim - era a inclusão de Álvaro Cunhal e de dirigentes comunistas no governo. E não se pense que as objecções a tal precedente num país da NATO, eram só dos EUA. Os socialistas presentes em governos europeus de países da NATO, como os da Grã-Bretanha, Alemanha, Noruega e Dinamarca demonstraram igual perplexidade! É portanto neste contexto que se devem compreender as manobras e o círculo vicioso de contra-informação e decepção em redor da nomeação de Mário Soares para ministro dos Negócios Estrangeiros. (…) Apesar da fama e prestígio que adquirira, essencialmente derivados das suas reconhecidas qualidades militares e, posteriormente, pela coragem de enfrentar Marcello Caetano, Spínola não tinha condições políticas para ser Chefe de Estado. E nenhum dos seus conselheiros foi capaz de o demover da ideia de incluir o PCP no governo. Que Mário Soares o tivesse feito compreende-se, dado o ainda fresco programa de acção comum e a subalternidade a que o PS parecia disposto a submeter-se. Agora que Freitas do Amaral também o tenha aconselhado nesse sentido é deveras surpreendente e mostra, de facto, as grandes responsabilidades que a direita teve no avanço comunista em Portugal. Num acto demonstrativo de grande versatilidade da direita portuguesa o ex-procurador à Câmara Corporativa e, então, conselheiro de Estado da «Revolução», lembraria Spínola de que já De Gaulle tinha incluído comunistas no governo francês «a seguir à vitória dos aliados na Segunda Grande Guerra». Mas, o conselho de Freitas do Amaral nem sequer se pode comparar à situação em Portugal após o 25 de Abril. É que os Aliados saíram vitoriosos de uma Guerra devastadora contra o nazismo e contra o fascismo graças à sua tardia aliança com a União Soviética de Estaline e, em França, os comunistas tiveram um papel decisivo na Resistência e no apoio ao general De Gaulle para Presidente da República. Em Portugal a «resistência» comunista, se bem que meritória, não foi decisiva para a queda do regime que, segundo o próprio Freitas do Amaral, não era um regime fascista e a designação de Spínola não seria influenciada pelo Partido Comunista. (…) Por esta altura, o tesoureiro do partido era um dos fundadores presentes em Bad Munstereifel. Carlos Carvalho, que usava como método de contabilidade a acumulação de papelinhos soltos, onde ia depositando números e com os quais passava recibos. Método aliás legado aos seus sucessores. Diplomatas e delegações estrangeiras eram recebidas nos corredores e nas escadas.”
Rui Mateus em “Contos Proibidos – Memórias de um PS desconhecido, 1996”

domingo, 27 de abril de 2008

Velhas "notícias” sobre Alterações Climáticas

O medo das catástrofes climáticas é tão velho como a humanidade. Com a evolução do conhecimento científico, esse medo tendia a diminuir, mas eis que surgiu a comunicação social de massas…
24 de Fevereiro de 1895 – New York Times – “Geólogos pensam que o mundo vai congelar de novo”. 7 de Outubro de 1912 – New York Times – “O professor Schmidt avisa-nos que vem aí uma nova Idade do Gelo”; - Los Angeles Times – “A quinta idade do gelo vem a caminho. A raça humana terá de lutar contra o frio, pela sobrevivência”. 9 de Agosto de 1923 – Chicago Tribune – “Cientista diz que o gelo do Árctico vai cobrir o Canadá”. 10 de Agosto de 1923 – Washington Post – “Vem aí uma nova Idade do Gelo”. 6 de Abril de 1924 – Los Angeles Times – “ Se isto for verdade, deveremos considerar que estamos a entrar noutra Idade do Gelo”. 11 de Março de 1929 - Los Angeles Times – “A maioria dos geólogos pensa que o mundo está a ficar mais quente e que irá continuar a aquecer”. 15 de Maio de 1932 - New York Times – “A cobertura de gelo dos Pólos está a derreter”. 6 de Novembro de 1939 – Chicago Daily Tribune – “Chicago lidera uma lista de milhares de cidades à volta do mundo, que têm sido afectadas por uma estranha tendência de aquecimento do clima, verificada nas últimas duas décadas”. 10 de Agosto de 1952 – New York Times – “Aprendemos que o mundo tem vindo a aquecer no último meio século”. 8 de Janeiro de 1954 – World Report – “Os invernos estão a ficar temperados e os verões secos. Os glaciares retrocedem e os desertos avançam”. 20 de Fevereiro de 1969 - New York Times – “A cobertura de gelo do Árctico está minúscula. O oceano, junto ao Pólo Norte tornar-se-á mar aberto dentro de uma ou duas décadas”. 15 de Novembro de 1969 – Science News – Saber durante quanto tempo mais vai continuar este arrefecimento é um dos maiores desafios da civilização”. 11 de Janeiro de 1970 - Washington Post – “Invernos mais frios no alvorecer da Nova Idade do Gelo”. 29 de Dezembro de 1974 - New York Times – “As actuais alterações climáticas resultarão em mortes em massa e provavelmente em anarquia e violência”. 28 de Abril de 1975 – Newsweek – “O mundo arrefece. A escassez de alimentos como resultado das alterações climáticas, pode começar brevemente, talvez dentro de dez anos. No centro da questão está o acentuado arrefecimento da Terra”. 21 de Maio de 1975 – New York Times - Um dos mais severos arrefecimentos de sempre torna-se inevitável”. 12 de Janeiro de 1976 - New York Times – “O frio já matou centenas de milhar de pessoas nos países pobres”. 22 de Agosto de 1981 - New York Times – “Está previsto um aquecimento global de uma magnitude sem precedentes”. 18 de Janeiro de 2006 - Washington Post – “O aumento das temperaturas altera literalmente os fundamentos da vida no planeta”. 26 de Março de 2006 – Time – “O gelo dos Pólos derrete cada vez mais depressa (…) A Terra está a ser devastada pela seca (…) A subida do nível do mar está a afundar as populações costeiras (…) Quaisquer que sejam as análises, a Terra está no ponto de viragem. O clima está a implodir e o responsável é o aquecimento global.” Percebem agora porque é que o Al Gore começou a jogar múltiplas e diz que podemos vir a morrer congelados por causa do aquecimento global? Se aquecer, ele tem razão, se arrefecer também, é a fórmula do sucesso garantido, ou a arte da aldrabice, a que alguns chamam política e outros, negócio. Nada de novo, aqui, “debaixo” do Sol.
Apache, Abril de 2008

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Dona Lurdes, ao "Correio da Manhã" (2)

CM - Não havia também algum medo dos professores de fazerem participações disciplinares dos alunos? Das consequências que lhes podiam cair em cima? MLR - Isso pode existir. Já me têm feito referências a essa possibilidade. Mas voltamos de novo ao ponto da organização funcionar. O professor até pode ter receio ou até pode ter medo. Admito. Não é saudável, mas admito. Apache - Medo? Ainda a semana passada fui instrutor de um Processo disciplinar com 17 participações e essa turma tem mais de 60. Imaginem que os professores perdiam o medo de fazer participações disciplinares… (…) Uma das críticas que se faz é ao facilitismo instalado na escola pública. Não há exigência, não há trabalho. Que a escola devia chumbar quem não sabe e não trabalha? Concorda com isto? Sabe que há muitas contradições nesse discurso. E no nosso sistema há muitas contradições. Porque, em minha opinião, a repetência ou o chumbo é o elemento mais facilitista do sistema educativo. Bem, se o discurso do facilitismo tem contradições, esta argumentação tem o quê?
Eis-nos irremediavelmente à deriva, num universo paralelo… Mais facilista? Como? É a coisa mais fácil. O aluno está com dificuldades, fica ali num cantinho da sala e no final do ano repete. Isso é o que há de mais facilitista no nosso sistema. E são muitos e pratica-se com demasiada frequência. Hum… Talvez o problema esteja precisamente no facto de as salas terem cantos, uma sala redonda ajudava certamente na compreensão desta lógica da batata. Com muita frequência? Sim. Eu tenho um estudo do PISA (Programme for International Student Assessment) com coisas muito interessantes. Este estudo procura comparar os resultados dos países do Sul que têm todos estes fenómenos da repetência e como a repetência não ajuda a melhorar os resultados escolares. Ah, pois… Se os alunos passarem todos, os resultados escolares são melhores. Raciocinio muito elaborado... Não ficam a saber mais? Não. O princípio é este: não sabes, ficas mais um ano para repetires toda a matéria que deste para ficares a saber. E o que acontece é que a segunda parte desta premissa não se verifica. Ele chumba, fica para repetir, repete mas não aprende. Pelo contrário. Desaprende. Donde se conclui que o melhor é os alunos não irem à escola, evitam “desaprendizagens”… Fica pior? Fica pior. E por isso é que eu digo que é facilitista porque é a maneira de deixar os alunos entregues a si mesmo. É uma contradição do nosso sistema. Que é considerar que a exigência se mede pelo número dos que repetem. Nós temos inúmeros alunos a repetir muito mais do que a média de todos os países da Europa ou mesmo da OCDE. Somos o País em que há mais repetências. Este estudo vinha no fundo do pacote das bolachas… Mais chumbos? Somos o País em que há mais chumbos. E por aí o nosso sistema não seria facilitista, seria exigente, mas na realidade é facilitista porque essa repetência não serve para aumentar o rigor e a exigência de trabalho com esses alunos. Ficam numa espécie de limbo que depois prejudicam muitíssimo os nossos resultados como se pode ver no estudo do PISA. Numa espécie de limbo, está a ficar esta entrevista, algures entre a falta de vergonha e a incapacidade de encadeamento lógico das ideias. Prejudicam como? Se considerarmos na amostra os alunos que não repetem, os alunos que estão no ciclo adequado à sua idade têm valores iguais à média dos países da OCDE. Até produzimos mais excelência. Isto é, os nossos alunos do 7 º ano muito bons são melhores do que os muito bons dos outros países. Mas depois temos o peso dos que chumbam, dos que ficam retidos, que puxam os nossos resultados médios para baixo. Cá está… O sistema é facilitista, mas produzimos mais excelência... “Mas depois temos o peso dos que chumbam”… Hum… Não será o chumbo dos que pesam? Ficam para trás? Vão repetindo, ficam para trás e pesam nos resultados globais muito negativamente porque a repetência, de facto, na minha opinião, é facilitista porque não é um meio de os obrigar a estudar a mais e a aprender. Daí que se um aluno que não faz a ponta de um corno, passar, sente-se imediatamente obrigado a estudar, até porque sabe a partida que se o não fizer, para castigo, passa de novo. A entrevista prosseguiu no mesmo tom. Faz-se uma afirmação populista e seguidamente fundamenta-se o seu contrário. Continuar a publicar esta entrevista podia prejudicar gravemente a saúde metal de hipotéticos leitores, daí, ter optado por interrompê-la aqui. Se quiserem arriscar (à vossa responsabilidade), ela encontra-se aqui. Esperem… Se acham que estou a exagerar ao prevenir-vos, reparem no estado lastimável em que ficou o jornalista (António Ribeiro Ferreira), que escreveu assim no final… “Maria de Lurdes Rodrigues não pára, muitas vezes nem para almoçar. A semana que passou foi uma delas. Praticamente sem tempo para almoçar. E a mulher dura, necessariamente com muito mau feitio para suportar os ataques duríssimos de sindicatos e da generalidade dos partidos da Oposição, é uma senhora adorável que pergunta ao jornalista se pode ir comendo umas bolachas durante a entrevista. Uma mulher determinada, inteligente, que percebe bem as razões que levam os professores para a rua. Nunca, em trinta anos, alguém lhes impôs princípios que são hoje universais.” Depois não digam que não avisei…
Apache, Abril de 2008

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dona Lurdes, ao “Correio da Manhã”

CM - Este acordo com os sindicatos a propósito da avaliação dos professores teve por base uma chantagem do Governo, como afirmou a socialista Ana Benavente? MLR - Não, não foi feita nenhuma chantagem. Repare, o que aconteceu é que, em minha opinião, os professores foram induzidos no erro de pensar que era possível não haver avaliação e daí não ocorrerem nenhumas consequências. Apache - Não creio que os professores achassem possível não haver avaliação, isso implicava que os docentes considerassem que Portugal se pautaria por critérios idênticos aos dos países mais avançados da Europa, como, por exemplo, a Finlândia. Os professores portugueses não são tão optimistas. Tem consequências nos contratos e nos vencimentos? O que está estabelecido no decreto regulamentar é que a avaliação, que no anterior modelo não tinha qualquer consequência em termos de progressão na carreira e contagem do tempo de serviço, neste modelo tem consequências. Mente, ou na hipótese moralmente menos danosa, não sabe ler. O antigo diploma que regulava a avaliação docente: Decreto Regulamentar nº 11/98, de 15 de Maio “Artigo 12º 6 – A atribuição ao docente em avaliação de uma primeira menção qualitativa de Não satisfaz produz os efeitos previstos nos nºs 1 e 2 do artigo 48º do ECD.” [reincidência] “Artigo 18º 7 – A não atribuição da menção qualitativa de Satisfaz determina a aplicação do disposto nos nºs 3 ou 4 do artigo 48º do ECD, consoante os casos.” O antigo Estatuto da Carreira Docente: Decreto-Lei nº 139-A/90 de 28 de Abril, sucessivamente alterado pelos Decretos-Lei nºs 105/97 de 29 de Abril e 1/98 de 2 de Janeiro “Artigo 48° Efeitos da atribuição da menção de Não Satisfaz 1 - A atribuição da menção qualitativa de Não satisfaz determina que não seja considerado o período a que respeita para efeitos de progressão na carreira ou, tratando-se de docente em pré-carreira, para efeitos de ingresso na carreira. 2 - A primeira atribuição da menção qualitativa de Não satisfaz determina a permanência do docente no escalão em que se encontra, devendo ser acompanhada de uma proposta de formação que permita ao docente superar os aspectos do seu desempenho profissional identificados como negativos no respectivo processo de avaliação. 3 - A atribuição de uma segunda menção qualitativa de Não satisfaz determina a cessação de distribuição de serviço lectivo ao docente em avaliação, devendo o órgão de gestão do estabelecimento de educação ou de ensino propor a reconversão ou reclassificação profissional do docente em situação de carreira ou pré--carreira, nos termos da lei. 4 - A verificação da situação prevista no número anterior determina a cessação da nomeação provisória no termo do ano escolar, no caso de docentes em pré-carreira.” Foi isso que alguns apelidaram de chantagem? Claro. O que acontece é que Governo nenhum, na minha opinião, estaria disponível para abrir uma excepção para os professores num quadro em que toda a administração pública está a ser avaliada e tem condicionamentos na sua progressão em função dos resultados da avaliação. Hum… Acho que devia aproveitar o programa Novas Oportunidades e matricular-se no Primeiro Ciclo do Ensino Básico, para adquirir competências ao nível da leitura? E os professores não têm consequências tão gravosas, pois não? No caso da administração pública é pior porque mesmo com avaliações positivas o que acontece é que as progressões estão dependentes da autorização da chefia directa, de questões orçamentais. Já no caso dos professores, a sua avaliação depende da boa disposição dos avaliadores (a chefia directa) no dia do preenchimento das grelhas e obviamente de questões orçamentais, para variar. Estão limitadas. Exactamente. E no caso dos professores a situação é muito diferente porque nós temos a noção de que a função docente é diferente, mais exigente, tem outras características, tem um modelo diferente. Pois, é preciso ir buscar os alunos a casa, engraxar os sapatos aos avaliadores, usar muito as Tecnologias da Informação e Comunicação, elogiar as Áreas Curriculares Não Disciplinares e proporcionar muito conforto aos alunos. Tudo com muita tranquilidade, sem stresses. (…) Foram precisos muitos anos para se arranjar um modelo de avaliação dos professores. Porquê? Por receio político? (Outro com graves problemas de memória) E de outros funcionários públicos, não foram só os professores. Esta situação não era um exclusivo dos professores. Foi difícil, está ainda a ser difícil, vai ser difícil durante alguns anos porque foram muitos anos em que aquilo que vigorou foi um paradigma que é contrário, em quase todas as dimensões, àquele que é o paradigma que estamos a tentar concretizar agora. Um paradigma contrário em quase todas as dimensões? Deve ser de um universo paralelo… Uma espécie de antimatéria dos paradigmas… É um novo paradigma? (Olha, aprendeu uma palavra nova…Quando explicarem ao Albino o que é um paradigma, aproveitem e expliquem também a este.) É um novo paradigma seguramente. Repare. A divisão da carreira em duas categorias é uma situação que é muita estranha para os professores. Porque durante trinta anos as associações sindicais construíram um grupo homogéneo, acabaram com todas as diferenças. “Muita estranha”? “As organizações sindicais construíram um grupo homogéneo”? Terão construído os professores? Acabaram com todas as diferenças? E eu que estava convencido que a beldade do Departamento de Artes tinha qualquer coisa diferente de mim… Todos iguais? Todos iguais. Os professores do 1 º ciclo eram diferentes, os professores de ginástica eram diferentes, os professores de educação visual eram diferentes de todos os outros professores. Tudo acabou. A única variável que os professores continuaram a considerar legítima para os distinguir era o tempo de serviço. Era a carreira. “Todos iguais.” Pronto, está confirmado. Que desilusão! “Os professores de ginástica”? Que é isso? “Tudo acabou.” Pois, agora distinguem-se pela capacidade de lamber botas e por passar todos os alunos, saibam ou não. Com conforto e tranquilidade, claro. Só isso? Só isso. Mas esse tempo de serviço era muitas vezes um tempo de calendário. “Tempo de calendário”? Será uma alteração climática? Não significava serviço efectivo? Não, era um tempo de calendário. Agora estamos a propor uma alteração completa. Que é a reestruturação da carreira em sentido vertical, a sua verticalização. E isso é absolutamente necessário porque se fazem as comparações com outras profissões e com a profissão docente em outros países e este é o caminho natural de evolução de uma profissão. Nenhuma profissão pode ser de progressão cilíndrica, em que não há nenhuma estruturação vertical. Porque isso é contrário ao princípio de carreira. “Não, era um tempo de calendário.” Deve ser o tal paradigma, contrário em todas as dimensões… Esqueceu-se que já havia uma progressão na carreira. A idade não perdoa… “Progressão cilíndrica, em que não há nenhuma estruturação vertical”? O poço da morte não é, que esse tem estruturação vertical. Porquê? O princípio de carreira a estruturar as profissões significa que se admite que mais tempo de serviço significa mais experiência, mais competências. Há carreiras em que nós admitimos que o tempo de experiência conta, é uma mais-valia. Por exemplo na carreira docente, por isso havia vários escalões. Isso não se passava com os professores? Não. Havia carreira, havia os professores mais experientes, mais graduados e melhor remunerados mas isso não correspondia a nenhuma responsabilidade. O que fizemos foi reestruturar, no fundo formalizámos essa diferença e os professores com mais experiência e mais competências devem assumir mais responsabilidades no interior da escola, mais tempo de trabalho na escola e devem ter mais responsabilidades na avaliação e acompanhamento dos professores mais novos. E isto são mecanismos comuns a todas as profissões e eram uma excepção na função docente. Eram uma excepção, não. Agora é que são. Convém relembrar os esquecidos que os titulares (de onde saem os avaliadores, por nomeação do Director e não por qualquer critério de mérito) foram “classificados” com base em cargos exercidos nos últimos 7 anos e não com base no desempenho pedagógico em 20 ou 30 anos de carreira. E isso é muito estranho para os professores? Eu sei que é muito importante concretizar estes princípios. Mas também sei que isto é muito estranho para a maioria dos professores. Muito estranho, de facto. A larga maioria dos professores pauta-se por critérios de dedicação e de mérito, não por amizades, conluios e compadrios. Era o tal paradigma de que falava? É. Pronto, agora já sabemos o que é um paradigma… De outras dimensões, é certo, mas havemos de chegar aos paradigmas do nosso universo, com tranquilidade… (…) Mas os sindicatos queixam-se que de a sua equipa quando vai para negociação já vai com posições definitivas e apenas perguntam a opinião deles. Que não há verdadeiras negociações. Vamos lá ver. O que é a negociação? A negociação não pode significar, é bom que não signifique, a perda daquilo que são os pontos de partida, os pontos de referência. O Ministério da Educação, pelas razões que já lhe disse, considera muito importante reestruturar a carreira em duas categorias: professor e professor titular. “O que é a negociação?” Oh, não… Vem aí outro paradigma contrário em todas as dimensões… E os sindicatos nem querem ouvir falar disso? Os sindicatos reagem negativamente, não aceitam a necessidade de reestruturar a carreira por razões que eu consigo compreender até pela história recente da carreira docente. Não aceitam. Hum… Afinal consegue (ainda que com dificuldade) compreender este universo. Mas o Ministério vai para a frente com a proposta, apresenta uma proposta de reestruturação da carreira. Os sindicatos vão para a negociação e de duas, uma: ou têm capacidade de destruir, convencer o Ministério da Educação de que isto é errado, ou não. Os sindicatos, “ou têm capacidade de destruir ou não”? O sindicalista suicida… mais uma figura de outras dimensões… (…) Quando é que um professor sente de facto na pele e é penalizado por ser um mau professor? (Por outras palavras, quando é que é chicoteado na praça pública?) No segundo ciclo. Com a confirmação. Todos aqueles que tiverem uma avaliação, conforme a avaliação negativa sofrerão os efeitos desse resultado. Falando da qualidade dos professores. O ponto máximo de mobilização dos professores, na manifestação de 8 de Março, foi a avaliação. Muitos professores terão medo da avaliação? Qual é, em sua opinião, a qualidade média dos professores? É boa, medíocre ou má? Já me têm feito essa pergunta. Vou só trincar mais umas bolachinhas… Qual é a sua ideia, que expectativa tem dos resultados da avaliação? Acho que a profissão dos professores é como todas as outras profissões. Excepto a de político. Não quero cá misturas com outras dimensões… Claro. Há de tudo. Veja a comparação que muitas vezes se faz entre a escola pública e a escola privada. Diz-se que a escola privada funciona melhor, tem melhores resultados, tem melhores professores, podia deduzir-se isso. Mas não se pode dizer isso, até porque a base de recrutamento dos professores é a mesma. Muitas vezes os professores são os mesmos, porque acumulam. As escolas profissionais são um exemplo dessa acumulação. Ups… Fugiu-lhe a língua para a verdade. É como os professores que têm bons resultados numas turmas e maus noutras. Tragam cá outra vez a cassete, para a senhora ouvir. Aí a idade… Essas acumulações não prejudicam a escola pública? Nestes últimos três anos criámos umas regras que impedem essas acumulações com a facilidade que acontecia anteriormente. Mas como lhe dizia, a base de recrutamento é a mesma. O que muda são as regras, a organização. As organizações quando funcionam superam as insuficiências dos profissionais. Pois. Infelizmente, a organização, Ministério da Educação, funciona tão mal que não supera as insuficiências, cria-as.
(...) E de preparação de base, não acha? De preparação de base. Também admito. Mas não é nada que não se supere com o trabalho. Nós aprendemos muito ao longo da vida, mesmo com uma preparação de base deficiente. Veja-se o caso (paradigmático) do “Inginheiro”… Isso leva-nos ao novo modelo de gestão das escolas. Ao modelo de gestão e ao modelo de avaliação também. A avaliação dá às escolas, a quem dirige as escolas, tanto do ponto de vista da gestão como pedagógico, os meios para distinguir os melhores professores. No fundo, para estabelecer os diferenciais de qualidade. Estabelecer o que é um professor excelente para essa organização, o que é muito bom e por aí adiante. E os professores com esses referenciais podem evoluir e aproximar-se desses modelos. Coisa que agora ainda não há na escola pública. Agora em espaços organizacionais em que estes modelos não existem, tanto faz ser muito bom como muito mau, não há consequências. É por isso que eu sou uma defensora do modelo de avaliação. Deste ou de outro qualquer. Já tenho dito e repito. Eu acho que não há modelos ideais. Cada País tem o seu modelo. Se é uma defensora de qualquer modelo porque é que acabou com o anterior, menos mau que este? “Cada país tem o seu modelo”? Nós temos o do Chile e da Colômbia. É muito subjectivo? O importante é que exista um modelo, que tenha consequências e que seja apropriado pelos próprios profissionais, que sejam os profissionais a defender o modelo de avaliação. Isso é absolutamente essencial. Pois… Que o modelo seja objectivo, justo, isso agora não interessa nada… (...)
O novo modelo de gestão, com a figura do director, não vai permitir resolver em grande parte os problemas de indisciplina e violência nas escolas? Para o problema da indisciplina eu acho que há um conjunto de medidas que têm de ser convergentes com esse objectivo. O modelo de gestão que foi aprovado e que será agora publicado é um modelo que reforça a autoridade, os princípios de autoridade e de responsabilização no interior da organização. Agora também foi importante a revisão do Estatuto do Aluno. Eu também acho que qualquer dos dois pode contribuir decisivamente para abandalhar mais. Percebe-se, de facto, a interligação dos dois diplomas… Também muito contestado. Foi importante a revisão na dimensão da desburocratização do procedimento. Na possibilidade da repreensão automática. Porque no anterior estatuto a repreensão não era automática. Primeiro fazia um requerimento e depois é que repreendia. Isso é que não pode ser. "A repreensão não era automática"? “Um requerimento”?
Lá vamos nós de novo para a Twilight Zone…
Apache, abril de 2008

domingo, 20 de abril de 2008

Falta-nos saber o preço…

«O Ministro do Trabalho foi o mediador do conflito da Educação, tendo chamado o líder da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, para desbloquear a guerra aberta entre os sindicatos e Lurdes Rodrigues. (…) No dia 29 de Março, o Ministro do Trabalho telefona a Carvalho da Silva pedindo-lhe um encontro, que acontece no gabinete do ministro. Tinham passado 11 dias sobre o encontro da delegação da CGTP com o Primeiro-Ministro, em São Bento, onde a guerra na Educação fora aflorada. Os cem mil manifestantes foram a almofada necessária para que Carvalho da Silva pedisse “uma saída para este conflito”, sem a qual, terá deixado claro, não haveria possibilidade de acalmar todos os outros sectores. Sócrates, por seu lado, não deixou passar a oportunidade de ter pela frente o líder sindical para solicitar a sua intervenção na resolução de um problema que, a agudizar-se, não traria senão prejuízos para ambas as partes. Carvalho da Silva foi sensível à argumentação do Primeiro-Ministro, talvez ‘sugestionado’ pelo facto de estar em curso a revisão do Código Laboral e de os sindicatos, participando na solução, ganharem a médio prazo créditos sobre o Governo. Os recados estavam dados e o governo passou à acção. Vieira da Silva foi o mandatário da tentativa de aproximação entre professores e ministério. Reuniu, primeiro com o dirigente da Inter. Depois, solicitou a sua ajuda para conseguir chamar ao ministério o líder da Fenprof. Mário Nogueira juntar-se-ia no dia 31 ao encontro com Carvalho da Silva e com o Ministro do Trabalho. (…)» [“Expresso” – 19 de Abril de 2008] A ser verdadeira (e até agora não foi desmentida), a notícia deixa claro que a Plataforma de Sindicatos da Educação vendeu os professores ao Governo em troca de benesses ainda não apuradas nas negociações laborais que as centrais sindicais mantêm com o Executivo. Resta agora aos professores sindicalizados responder condignamente aos vendilhões.
Apache, abril de 2008

sábado, 19 de abril de 2008

Alguma luz…

Em resposta ao repto lançado por vários movimentos independentes de professores e também por professores anónimos (Apache incluído), dois dos sindicatos associados na Fenprof, o SPGL e o SPN publicaram os resultados da votação do dia D, escola a escola. Antes de mais, convém destacar a coragem destes dois sindicatos em darem um pouco de transparência a este nebuloso processo. Numa análise dos resultados, convém perguntar onde foram parar os das escolas do 1º ciclo e jardins-de-infância? Na zona a que pertencem estes dois sindicatos, estas escolas são cerca de 7 400 e das listas constam cerca de 20. Será que se esqueceram de actualizar os nomes das básicas do 2º e 3º, ciclos, para agrupamentos e as votações são de todo o agrupamento e não da escola sede? Se assim for, o número de votantes é absolutamente ridículo. Caso contrário, o que é ridículo é o número de escolas com resultados tornados públicos. Vejamos os dois casos separadamente… O SPN lista cerca de 400 escolas, mas apenas 200 apresentam resultados. Porquê? A zona que o sindicato cobre tem mais de 4 600 escolas, nas quais leccionam mais de 53 mil docentes. A moção da Plataforma Sindical recolheu 6512 votos favoráveis. O SPGL exibe resultados de 213 escolas. Na zona que abrange, só as escolas com 3º ciclo e secundárias são 365. O número total de escolas desta zona ascende a mais de 3 600. A moção da Plataforma de Sindicatos recolheu 4708 votos favoráveis dos cerca de 47 mil docentes da região. Entretanto, a Fenprof, actualizou (no seu site) os resultados nacionais, reduzindo (de 80,8) para 77,2% o número de votos favoráveis à moção. Com base nos resultados tornados públicos pelos dois maiores sindicatos associados a esta federação, corrijo também a minha estimativa (anteriormente apresentada no “post” intitulado “tenham vergonha”). A moção da Plataforma terá (por extrapolação) obtido, a nível nacional, entre 14 e 18 mil votos favoráveis, de um universo de mais de mais de 145 mil docentes.
Apache, Abril de 2008

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Somos todos iguais, mas... (3)

O quadro contíguo evidencia o decréscimo das emissões, por parte dos E.U.A., dos seis principais poluentes atmosféricos. Contrariamente aos tão badalados mitos do “aquecimento global” e do “buraco do ozono” antropogénicos, a poluição tem (nos países mais pobres, que só nas últimas décadas do século XX despertaram para a Revolução Industrial) causado sérios problemas às populações. Parece no entanto que, à semelhança de tantos outros indicadores do nível de desenvolvimento, também no que se refere à poluição, somos todos iguais, mas alguns são mais iguais que outros. [Fonte: EPA (Agencia de Protecção Ambiental dos Estados Unidos)]
Apache, Abril de 2008

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A pedrada no charco

O Professor comentava no “Público” de ontem (dia 16) os últimos desenvolvimentos da contenda que opõe os professores às políticas do Ministério da Educação. O texto, que subscrevo e transcrevo na íntegra, reza assim:
«Comecemos por uma questão semântica: entendimento e acordo são vocábulos sem diferenças, do ponto de vista da significação, que justifiquem o esforço da Plataforma Sindical para os distinguir. Vão a um bom dicionário. No contexto que "aproximou" sindicatos e ministério, são sinónimos. Mas se essa fosse a questão, então capitular dirimia o conflito. E não estou a ser irónico. Voltem a um bom dicionário.Posto isto, passemos ao que importa. Ministério e sindicatos acertaram, concertaram sob determinadas condições. No fim, os sindicatos cantaram vitória. Permitam-me que invoque alguns argumentos para desejar que os sindicatos não voltem a ter outra vitória como esta.A actuação política deste Governo e desta ministra produziu diplomas (estatuto de carreira, avaliação do desempenho, gestão das escolas e estatuto do aluno) que envergonham aquisições civilizacionais mínimas da nossa sociedade. A rede propagandística que montaram, procurou denegrir os professores por forma antes inimaginável. Cortar, vergar, fechar foram desígnios que os obcecaram. Reduziram salários e escravizaram com trabalho inútil. Burocratizaram criminosamente. Secaram o interior, fechando escolas aos milhares. Manipularam estatísticas. Abandalharam o ensino com a ânsia de diminuir o insucesso. Chamaram profissional a uma espécie de ensino cuja missão é reter na escola, a qualquer preço, os jovens que a abandonavam precocemente. Contrataram crianças para promover produtos inúteis. Aliciaram pais com a mistificação da escola a tempo inteiro (que sociedade é esta em que os pais não têm tempo para estar com os filhos? Em que crianças passam 39 horas por semana encerradas numa escola e se aponta como progresso reproduzir o esquema no secundário, mas elevando a fasquia para as 50 horas?). Foram desumanos com professores nas vascas da morte e usaram e deitaram fora milhares de professores doentes (depois de garantir no Parlamento que não o fariam). Promoveram a maior iniquidade de que guardo recordação com o deplorável concurso de titulares. Enganaram miseravelmente os jovens candidatos a professores e avacalharam as instituições de ensino superior com a prova de acesso à profissão. Perseguiram. Chamaram a polícia. Incitaram e premiaram a bufaria. Desrespeitaram impunemente a lei que eles próprios produziram. Driblaram as leis fundamentais do país. Com grande despudor político, passaram sem mossa por sucessivas condenações em tribunais. Fizeram da imposição norma e desrespeitaram continuadamente a negociação sindical. Reduziram a metade os gastos com a Educação, por referência ao PIB. No que era essencial, no que aumentaria a qualidade do ensino, não tocaram, a não ser, uma vez mais, para cortar e diminuir a exigência e castrar o que faz pensar e questionar.A questão que se põe é esta: por que razão, esta gente, que tanto mal tem feito ao país e à Escola, que odeia os professores, que espezinhou qualquer discussão ou concertação séria, que sempre permaneceu irredutível na sua arrogância de quero, posso e mando, de repente, decidiu "aproximar-se" dos sindicatos? A resposta é evidente: porque os 100.000 professores na rua, a 8 de Março, provocaram danos. Porque a campanha eleitoral começou a reparar os estragos para garantir mais quatro anos.O tempo e a oportunidade política da plataforma sindical aconselhavam uma firmeza que claudicou. Porque quem estava em posição de impor contemporizou. Porque de um dia para o outro se esqueceram as exigências da véspera. Porque quem demandou a lei em tribunal pactuou com uma farsa legal. Porque quem acusou de chantagem acabou a negociar com o chantagista. Porque quem teve nos braços uma unidade de professores nunca vista pensou pouco sobre os riscos de a pôr em causa.É verdade que os sindicatos ganharam uns trocos. Mas o lance não era para trocos. Era para devolução integral: da dignidade perdida.Aqui chegados, permitam-me a achega: pior que isto é não serem capazes de superar isto. E lembrem-se de Pirro, quando agradeceu a felicitação pela vitória: " Mais uma vitória como esta e estou perdido."» [Santana Castilho – Professor do Ensino Superior ]
Apache, Abril de 2008

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Tenham vergonha!

Comentando os documentos produzidos por dezenas de escolas, apelando à não assinatura, pela Plataforma Sindical, do Memorando de Entendimento com o Ministério da Educação, Mário Nogueira, dirigente da Fenprof afirmou: "Vozes de burro não chegam ao céu, por isso esperemos que não escoiceiem perto de nós." Convém lembrar o senhor sindicalista, que foi à plataforma que o ministério acenou com as cenouras!
Entretanto, no “site” da Fenprof foram publicados os alegados resultados (ainda provisórios) da votação, pelos professores, do Memorando de Entendimento. Terão votado favoravelmente 80,8% dos docentes, num universo de cerca de 50 mil, o que, a ser verdade, corresponde a cerca de 40 mil votos favoráveis. Ou seja, 105 mil docentes (mais de 72% da classe) não validaram o Memorando de Entendimento. Mais, como quem se baba publicamente por um punhado de cenouras não dá garantia de competência ao nível do cálculo elementar, exige-se a publicação dos resultados escola a escola.
Apache, Abril de 2008

O eco

Quinze de Abril era o dia do “Debate Nacional Sobre o Estado da Escola Pública”, de acordo como prospecto publicitário da “Plataforma Sindical dos Professores”. Digo, era, porque dado o golpe de teatro da madrugada do passado sábado, o que se discutiu, pelo menos aqui por estes lados, foi a aprovação ou não do “Memorando de Entendimento”, entre o Ministério da Educação e os sindicatos, na referida data. A posição das escolas foi assim comentada pela senhora ministra nestes termos: “No final da reunião [com a Comissão de Educação e Ciência], a ministra comentou ainda o «esmagador» apoio dado pelos professores consultados hoje ao entendimento alcançado entre Governo e sindicatos.” [Lusa] Por seu lado, o dirigente máximo da maior federação de sindicatos de professores, expressava assim a sua opinião: “Mário Nogueira, porta-voz da estrutura que reúne todos os sindicatos do sector, afirmou que «a esmagadora maioria das escolas aprovou de forma inequívoca» a moção que prevê a ratificação do entendimento estabelecido entre a plataforma e o Ministério da Educação (ME) no que diz respeito à avaliação de desempenho.” [Sol/Lusa] Este eco inesperado (ou talvez não) constitui para muitos professores uma poluição sonora quase insuportável. Com tanta coerência de discurso, penso que, desta vez, não haverá discrepância nos números. Assim, atrevo-me a lançar um desafio, ao ministério e/ou aos sindicatos: Os 145 122 docentes que leccionam nas escolas portuguesas têm o direito de saber quantos votaram favoravelmente a assinatura deste entendimento; tornem público esse número, ou tenham a dignidade de se calarem!
Apache, Abril de 2008

terça-feira, 15 de abril de 2008

"Aquecimento Global" ausente, em parte incerta

O gráfico acima, construído com dados fornecidos por satélite, mostra a variação das temperaturas na zona do globo compreendida entre as latitudes, 20º N e 20º S. O passado mês de Março foi o mês mais frio dos últimos 18 anos. A temperatura média daquela faixa (mais de 21% da superfície da Terra) ficou 0,5 ºC abaixo da média.
Apache, Abril de 2008

sábado, 12 de abril de 2008

Acordo? Entendimento? Com quem?

Na madrugada passada, após mais de sete horas de reunião (a terceira em quatro dias) o Ministério da Educação (ME) e a plataforma de sindicatos concordaram em que este ano, a avaliação dos docentes contratados se fizesse através do preenchimento da ficha de auto-avaliação proposta pelo ME, através da assiduidade e do cumprimento do serviço distribuído e participação em acções de formação. Ou seja, na prática, algo semelhante ao sistema de avaliação anterior, suspenso em Agosto de 2005 pela equipa de Maria de Lurdes Rodrigues. Mal a comunicação social deu nota do facto, sindicatos, governo e partidos políticos precipitaram-se num difuso jogo de palavras, falando uns em acordo e outros em entendimento, reivindicando vitórias e derrotas, como se, na essência, algo tivesse de facto mudado. A ministra cedeu na sua infinita teimosia e permite agora que os procedimentos de avaliação sejam iguais em todas as escolas. Grande cedência, o princípio da igualdade, a isso a obrigava. A única coisa que conseguiu, foi adiar para o próximo ano lectivo, uma multidão de processos de impugnação da avaliação nos tribunais administrativos. Quanto ao mais: Mantém-se a divisão da carreira em duas categorias (professor e professor titular); A recentemente declarada inconstitucionalidade do concurso para titulares está a caminho da gaveta do esquecimento; Não se vislumbra nenhuma vontade do ME em eliminar as várias ilegalidades contidas no Decreto Regulamentar que vai reger a avaliação do próximo ano; O (novo) Estatuto do Aluno não sofreu qualquer alteração; Também nada foi alterado na nova legislação sobre Necessidades Educativas Especiais; A Prova de Ingresso continua sem encontrar o caixote do lixo; E o Senhor Presidente da República acabou (ontem) de promulgar a novíssima legislação sobre gestão escolar que atropela a Lei de Bases do Sistema Educativo. Enquanto isso, sindicatos e tutela chegam a um acordo, perdão, a um entendimento sobre o diâmetro da malha da peneira com que pretendem tapar o sol. Não se incomodem, façam o favor de continuar com as palhaçadas, escusam é de contar com os professores.
Apache, Abril de 2008