terça-feira, 22 de junho de 2021

Acabaram-se as férias


Após alguns anos de pausa e a acabar de descobrir que o 'blogger' está muito diferente e parece mais confuso, vou voltar a publicar, ainda que provavelmente mais esporadicamente.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Foi há 41 anos… (3)

Muitos pensam que a Revolução de 25 de Abril de 1974 foi concretizada pela vontade da maioria das forças armadas, de facto, a ala vencedora representava um pequena facção sem qualquer possibilidade de vitória caso algum dirigente do regime tivesse dado ordem para resistir aos revoltosos.
Atente-se nos números que apresenta um dos mais destacados (activos e ferrenhos) membros do Movimento das Forças Armadas, Diniz de Almeida (que na época do PREC chegou a segundo-comandante do RALIS):

1. A componente vencedora (integrando cerca de 5 % das Forças Armadas)
   A - Ala spínolista - constituída por uma minoria de oficiais, geralmente de valor, aos quais cedo acresceram oportunisticamente numerosos outros oficiais, anteriores émulos ou não, do carismático general.
  B - Ala Autónoma do Movimento ou MFA propriamente dito - constituída por uma minoria de oficiais numericamente superior à primeira (cerca de duas vezes) geralmente de valor aproximado aos primeiros, mas com uma média de patentes acentuadamente inferior em relação a estes. Este último facto determinaria novos focos de tensão...
2. A componente vencida (integrando cerca de 95% das Forças Armadas)
   A - Amorfos - constituindo cerca de 50% dos efectivos totais das Forças Armadas. Neste grupo incluem-se ainda, e aliás em elevada percentagem, oficiais que, dispensando uma maior ou menor hostilidade do Movimento, por razões diversas o não fizeram, contudo, directamente.
   B - Activos (ou potencialmente activos) - cerca de 45 %, abrangendo uma vasta gama de elementos num leque que incluía desde os oficiais ideologicamente afectos ao regime, aos que por diferentes razões se viriam a sentir lesados económica, social, profissional ou psicologicamente, pelo Golpe de Estado”
[Diniz de Almeida, em “Ascensão, Apogeu e Queda do MFA”]
 

Apache, Julho de 2015

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Foi há 41 anos... (2)

Reforçando a ideia de que o Golpe Militar de 25 de Abril de 1974 foi previamente combinado entre Marcello Caetano, chefe do governo e o General Spínola (que presidiria à Junta Militar que tomaria o poder) atente-se nas principais unidades militares “controladas” pelo Movimento das Forças Armadas (MFA):

- Regimento de Artilharia Ligeira N.º 1 (Mais tarde designado por Ralis) de Lisboa – Unidade Operacional à qual pertenciam os principais dirigentes do MFA;
- Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea de Cascais (CIAAC) – Unidade Mista, de (Instrução e Operacional) na qual o MFA controlava, apenas, parte do sector de Instrução. Forneceu os rádios “roubados” na noite anterior e um número insignificante de homens;
- Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) de Lamego – Unidade Mista da qual o MFA controlava apenas parte do sector de Instrução. Forneceu cerca de 3 dezenas de homens utilizados em operações no Norte;
- Escola Prática de Cavalaria (EPC) de Santarém – Unidade de Instrução controlada pelo MFA de onde saiu a principal força golpista, à qual se rendeu, na tarde do dia 25, Marcello Caetano. Comandada pelo Capitão de Cavalaria, Fernando José Salgueiro Maia, a força (que marchou sobre Lisboa) contava com cerca de duas dezenas de sargentos e oficiais de baixa patente, 160 instruendos (recrutas do curso de milicianos) 12 camiões de transporte de pessoal e 10 veículos blindados (4 Chaimites V 200, para transporte de tropas, 3 Panhard EBR (veículos de reconhecimento) e 3 Panhard AML (auto-metralhadoras) uma das quais não funcionava;
- Escola Prática de Artilharia (EPA) de Vendas Novas – Unidade de Instrução. Forneceu duas dezenas de homens e 4 obuses de montanha de 88 milímetros, instalados na manhã do dia 25 no morro do Cristo-Rei, em Almada;
- Escola Prática de Infantaria (EPI) de Mafra – Unidade de Instrução. Forneceu cerca de quatro dezenas de homens, a larga maioria dos quais instruendos, utilizados em operações no Centro do País;
- Escola Prática de Administração Militar (EPAM) de Lisboa – Unidade de Instrução. Forneceu cerca de três dezenas de homens e alguma logística.
 
Aderiram ao MFA, e participaram no golpe, homens de outras unidades militares em número irrelevante para o desenrolar das operações.

Atente-se, igualmente, nas forças que o MFA considerava hostis, curiosamente, as únicas forças vistas nas ruas no dia 25:
 
- Direcção Geral de Segurança (DGS, ex-PIDE) – Sendo uma Unidade de Polícia, dispunha, no entanto, de meios suficientes para, querendo, dificultar e muito (pelo menos em Lisboa) a vida às forças golpistas. Vários agentes passearam pelas ruas de Lisboa durante o dia 25, alguns deles almoçaram tranquilamente em conhecidos cafés e restaurantes da Capital;
- Polícia de Segurança Pública (PSP) – Unidade de Polícia que, em Lisboa, dispunha de homens e equipamento superiores aos revoltosos;
- Guarda Nacional República – Força Militarizada que colocou nas ruas, no dia 25, várias centenas de homens. Um batalhão estava sediado no Quartel do Carmo onde se refugiou Marcello;
- Regimento de Infantaria 1 (RI 1) de Lisboa – Unidade Operacional, que deslocou para as ruas de Lisboa algumas dezenas de homens;
- Regimento de Cavalaria 7 (RC 7) de Lisboa – Unidade Operacional equipada com Carros de Combate M47 de 90 milímetros. Cinco deles saíram para a rua, a 25 de Abril e constituíam um poder de fogo muito superior a toda a artilharia das forças golpistas;
- Regimento de Lanceiros 2 (RL 2) de Lisboa – Unidade Operacional, de elite, da Polícia Militar. Deslocou para as ruas de Lisboa, na manhã do dia 25, pelo menos, três pelotões de homens fortemente armados.
 
A Legião Portuguesa, a Marinha, a Força Aérea e as restantes Unidades do Exército que, no seu conjunto, constituíam mais de 80% das Forças Armadas, eram consideradas pelo MFA como hostis mas o Movimento tinha esperança de que não saíssem para as ruas.
A Legião ainda reforçou homens e meios no Castelo de São Jorge, mas acabou por passar ao lado dos acontecimentos, tendo o seu Quartel, na Pontinha, praticamente vazio, sido tomado, sem qualquer hostilidade, à hora do almoço, por uma dezena de homens do Décimo Grupo de Comandos.
Da Marinha, apenas uma Fragata (Almirante Gago Coutinho) que participava em exercícios militares da Nato, comandada pelo pai de Francisco Louçã, entrou no Tejo, na manhã do dia 25 e passeou o seu enorme poder de fogo, em frente ao Terreiro do Paço, intimidando a frágil mas principal força golpista (da EPC) que ocupava a porta do Ministério do Exército, na Praça do Comércio.
Da Força Aérea, apenas foi avistado um (Heli-canhão) Alouette, equipado com um canhão de 20 milímetros que, durante a tarde, sobrevou ameaçadoramente o Largo do Carmo onde a força de Salgueiro Maia havia sido enviada para obter a rendição do chefe do Governo.
(continua…)
Apache, Maio de 2015

sábado, 25 de abril de 2015

Foi há 41 anos…

A nossa história colectiva está cheia de episódios patéticos mas, neste particular, dificilmente algum supera o 25 de Abril de 1974, o golpe militar que Marcello Caetano, chefe do governo, terá combinado previamente com o general Spínola.
Atente-se em algumas declarações de intervenientes…
“Já sabíamos que, naquela noite, ia dar-se qualquer coisa. É por isso que à meia-noite eu ainda estava na António Maria Cardoso. Repare: na noite anterior, os militares foram buscar os aparelhos de rádio ao Quartel de Cascais. Se existiam dúvidas sobre a possibilidade de eclodir uma nova revolta, elas ficaram logo dissipadas!” [Declarações de Abílio Pires, Inspector da DGS] 
“Disse-lhe que o conduziria [refere-se a Marcello Caetano] à 1ª Região Aérea, em Monsanto, para onde ele fora no 16 de Março [data do Golpe das Caldas] e como de resto estava previsto para situações de emergência. Marcello disse-me que não queria ir para Monsanto e impôs o Carmo como destino.
(...) Fomos recebidos pelo comandante da GNR, general Adriano Pires, que estava à nossa espera. Percebi depois que Marcello Caetano lhe telefonara de casa, antes de eu lá chegar, informando-o que iria para ali. (...) Telefonaram-lhe também os generais Kaúlza de Arriaga e Santos Costa, dizendo-lhe que tinham unidades da Força Aérea e do Exército prontas a acabar com a sublevação, mas a todas essas indicações Marcello respondia ou que não queria um banho de sangue, ou que ficassem a aguardar ordens suas. As horas foram passando e... nada! Marcello nunca deu ordens a ninguém para resistir ou contra-atacar.” [Declarações de Diogo Albuquerque, Chefe da Brigada da DGS, que leva Marcello, de casa, para o Quartel do Carmo]
“É claro que sabiam [antecipadamente do golpe militar]. Principalmente depois do golpe das Caldas, a 16 de Março, controlávamos todos os movimentos dos militares subversivos. (…)Tenho praticamente a certeza [que o Marcello Caetano sabia do golpe]. Na manhã do dia 25 o director da PIDE, major Silva Pais, estabeleceu um contacto telefónico com Marcello Caetano, que já estava no Quartel do Carmo, e acordaram que uma brigada da polícia iria buscar o presidente do Conselho. O Sílvio Mortágua, o Abílio Pires e o Agostinho Tienza e eu. O Pires foi no seu próprio carro, atrás de nós. Seguimos em dois carros para que, em caso de necessidade, um deles pudesse executar uma qualquer manobra de diversão. Íamos esperar o presidente do Conselho à Rua do Carmo. Existe uma ligação- eu não quero ser romanesco e dizer que há uma passagem secreta- entre o Quartel do Carmo e a Rua do Carmo. E essa ligação ainda deve existir hoje, concerteza. O major Silva Pais combinou o nosso encontro com Marcello Caetano para esse local. Seguindo as suas instruções, parámos o carro mais ou menos a meio da Rua do Carmo, uns metros acima dos pilares do elevador de Santa Justa. Como o Marcello nunca mais aparecia, eu disse aos outros para permanecerem ali, subi a Rua do Carmo, virei na Rua Garrett, subi a Calçada do Sacramento e apresentei-me no Quartel do Carmo. Fui recebido pelo comandante-geral da GNR, que me conduziu até ao Marcello. Disse-lhe que estávamos à sua espera na Rua do Carmo, de acordo com o que havia sido combinado com o major Silva Pais e o Marcello respondeu-me que não era preciso porque já tinha tudo tratado com o general Spínola!... (…) Repare que a GNR aquartelada no Carmo era, só por si, uma força, um esquadrão de Cavalaria que tinha certamente auto-metralhadoras e que, sem necessitar de mais ninguém, podia acabar com aquilo [refere-se à força da Escola Prática de Cavalaria que cercava o Quartel]. O Marcello Caetano é que nunca permitiu que a PSP ou a GNR actuassem. Se tivesse dado ordens concretas à PSP e à GNR nesse sentido, aquilo acabava tudo em cinco minutos.” [Declarações de Óscar Cardoso, Inspector da DGS; declarações, tal como as anteriores, em “Histórias Secretas da PIDE/DGS”]
(continua…)
Apache, Abril de 2015

sábado, 28 de março de 2015

A “Hora do Planeta”, o ritual irrelevante

Cumpriu-se hoje, entre as 20:30 e as 21:30 locais, a nona “Hora do Planeta”.
A “Hora do Planeta” é uma iniciativa simbólica da World Wide Found of Nature (WWF) principiada em 2007, na cidade australiana de Sidney, que ocorre no último sábado de Março, e visa consciencializar para as alegadas alterações climáticas antropogénicas.
Ano após ano, mais cidades e vilas, mais monumentos nacionais, mais pessoas anónimas aderem à iniciativa que consiste em desligar, durante 60 minutos, as luzes dos edifícios mais emblemáticos dos locais ou das casas de cada um.
Porque é que cada vez há mais aderentes à simbólica diligência? Mark Twain respondeu há mais de cem anos, porque “o Homem é um animal religioso”. É da tendência natural do homem para a crença que desde a antiguidade foi aproveitada por oportunistas para criar (sobretudo em actividades imprevisíveis, que vão dos jogos de azar às grandes manifestações da natureza) superstições e rituais a elas ligados. O ritual confunde-se com a própria crença porque surge da ideia de que fazer algo é sempre melhor que não fazer nada. Ora, toda a gente sabe que jogar no Euromilhões é, para a generalidade das pessoas, pior (para as suas finanças) que não jogar. A esmagadora maioria dos jogadores acabarão, após cada jogo, com um pouco menos dinheiro que se nada tivessem feito. Apenas uma ínfima minoria terá um retorno monetário superior ao investimento feito, mas vamos tentando a sorte dado o generoso retorno para aqueles a quem ela sorri.
A “Hora do Planeta”, que aos poucos vai ganhando o estatuto de ritual, é baseada nessa ideia de que fazer algo é sempre melhor que estar quieto. A fé implícita é a de que o Homem (que com todas as cidades, vilas, aldeias, estradas, plantações…) ocupa menos de 4% da superfície do planeta consegue controlar o clima global (ou melhor, os climas, porque são vários e bem diferenciados). E como o controla, pode fazê-lo para o “mal”, provocando o aquecimento da Terra ou para o “bem” mantendo as temperaturas actuais. A ideia da WWF permite, nas cidades que aderem à iniciativa, "poupar", em média, cerca de 2% da electricidade que se consumiria nessa hora. Como a iniciativa ocorre uma vez por ano, tal permite "poupar" (naqueles locais) cerca de 0,0002% de electricidade anual. Nas nossas casas, uma iniciativa destas, em teoria, pode poupar 5, 10, ou mesmo 15 cêntimos em electricidade, conforme o número de lâmpadas que habitualmente estão acesas aquando da iniciativa. Na prática, as poupanças são insignificantes, porque o que não fizemos naqueles minutos, por falta de luz, fica para fazer mais tarde com idêntico consumo de electricidade ou será feitas com outras formas de iluminação mais caras. Mas pode-se alegar que a ideia da WWF não é poupar custos mas sim emissões de dióxido de carbono, gás que diabolizam por acreditarem que causa “efeito de estufa”. Mas nesse caso, a poupança também é insignificante ou mesmo nula. Só parte da electricidade produzida (através do carvão, biomassa e gás natural) é que liberta dióxido de carbono, a restante é obtida (fundamentalmente) da água e do urânio. Quando apagamos as luzes (ou adiamos as tarefas para mais tarde, como escrevia acima, ou) acendemos velas, candeeiros (ou lamparinas) a petróleo ou azeite ou até a lareira, libertamos tanto ou mais dióxido de carbono que o que se libertaria na produção da electricidade.
Há dias um aluno perguntava-me: mas se fosse possível convencer todos os habitantes de um país a aderir a uma iniciativa destas, ainda assim, ela não teria impacto? A resposta: Teria, mas não em economia de custos ou emissões. A sobrecarga (pela redução de consumo, impossível de corrigir na produção) produzida na rede levaria a várias avarias de grande significado e poderíamos passar vários dias sem luz (até substituir parte da rede) com as consequências graves que daí adviriam.
Apache, Março de 2015

sábado, 31 de janeiro de 2015

2014 foi o mais quente da história da meteorologia?

A resposta depende (fundamentalmente) da crença que cada um deposita nas instituições que calculam a média das temperaturas da Terra.
Na semana passada, a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) equivalente, nos Estados Unidos, ao nosso Instituto de Meteorologia (agora, Instituto Português do Mar e da Atmosfera) escrevia na sua página na Internet: “É oficial: 2014 foi o ano mais quente registado na Terra”.
Significa, portanto, que não há dúvidas que 2014 foi o ano o ano mais quente desde 1880 ano (no final da “Pequena Idade do Gelo) a partir do qual a NOAA considera válido o cálculo da média das temperaturas?
Oficialmente, sim. Na realidade, não! Nem perto disso.
Já tinha escrito aqui que, na impossibilidade de calcular a temperatura média da Terra, se calcula a média das temperaturas. Para calcular esta média de temperaturas, o GISS (Instituto Goddard de Estudos Espaciais) da NASA usa dados provenientes, maioritariamente, de uma única fonte, o GHCN (Global Historical Climate Network) da responsabilidade da NCDC (National Climate Data Center) que é controlado pela citada NOAA, que por sua vez é tutelada pelo Departamento do Comércio dos Estados Unidos. Também já tinha escrito por aqui que as estações meteorológicas que fornecem dados ao GHCN chegaram a ser quase 6 mil (nas décadas de 60 e 70 do século passado, de mais de 12 mil possíveis) mas hoje são considerados dados de cerca de  1200 estações (de um total disponível, que não chega a 6 mil). Muitas estações meteorológicas foram fechadas (umas por falta de verbas, outras por se encontrarem em zonas remotas, de difícil acesso, algumas por outras razões). Os termómetros terrestres não estão igualmente distribuídos pela superfície do planeta, pelo contrário, desconhecemos a temperatura de vastas áreas da superfície da Terra. Note-se que dos 29% de terra emersa (não coberta pelos oceanos) cerca de 5,5% são montanhas, 5,8% são desertos, outros 5,8% são florestas boreais, outros 5,8% são pradarias e savanas e 1,8% são florestas húmidas, tudo zonas mal (ou quase nada) cobertas por estações meteorológicas. Resta cerca de 4,4% da superfície do planeta (parte dela habitada pelo Homem) com razoável cobertura de termómetros, a esmagadora maioria dos quais colocados em zonas urbanas. Na falta de dados, o GISS parte do pressuposto que toda uma vasta área apresenta a mesma temperatura que a lida num único termómetro, algumas vezes, a mais de mil quilómetros de distância. Em casos extremos, o GISS permite que um só termómetro represente a temperatura de mais de 4 milhões de quilómetros quadrados.
Na versão da NOAA, 2014 terá sido o ano mais quente, acrescentando 0,04 ºC ao antigo recorde, datado de 2010, com uma margem de erro de 0,09 ºC. Ora, sendo a margem de erro superior (neste caso, mais do dobro) ao recorde, nada garante que este tenha, de facto, sido alcançado. Mais, a margem de erro associada à leitura dos aparelhos é, em muitos casos, de 0,5 ºC, doze vezes superior ao recorde e da mesma ordem de grandeza de todo o aquecimento que a NOAA afirma ter existido desde o início do século XX.
Mas mais importante que tudo isto é a exagerada manipulação que o GISS faz dos dados, ajustando para baixo as temperaturas antigas e para cima as temperaturas recentes. A título de exemplo, o Paraguai contribui para o GHCN com os dados de três estações (Mariscal, Puerto Casado e San Juan Bautista) e em todas elas o GISS corrigiu os dados reais, que mostravam tendência para o arrefecimento, para passarem a mostrar uma tendência para o aquecimento (alterações que variam a relação entre o passado e o presente em cerca de 3 ºC) tal como se mostra nos seis gráficos seguintes. [Cliquem nas imagens para ampliar]








Em conclusão, a manipulação de dados é de tal ordem que, não só, não há garantia de que 2014 tenha sido o ano mais quente dos últimos 135 anos, como nem sequer é possível afirmar, com rigor científico, que a Terra, na sua globalidade, tenha aquecido nas últimas décadas.
Apache, Janeiro de 2015

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Mais vale tarde...

Stephen Hawking, o Físico teórico inglês de setenta e dois anos, é provavelmente o mais mediático dos cientistas actuais. A ambiguidade e a polémica contida em muitas das suas afirmações fizeram dele um dos maiores especuladores da Astronomia moderna, além de o colocarem frequentemente nas primeiras páginas das mais conhecidas publicações científicas. O Físico, membro da Pontifícia Academia das Ciências (nomeado em 1986 por João Paulo II) apesar de ateu convicto, é um recordista de sobrevivência à Esclerose Lateral Amiotrófica (a doença do popular desafio do balde de água gelada) que lhe foi diagnosticada aos 21 anos de idade.
Hawking, autor de várias pequenas teorias sobre os "buracos negros" (nomeadamente: os “buracos negros primordiais”, as “leis” da mecânica do buraco negro, a "radiação Hawking", etc.) publicou, a 22 de Janeiro passado, um pequeno artigo onde afirma não existir “horizonte de eventos”, o que significa que a luz pode escapar à brutal força de atracção gravítica exercida pelos “buracos negros” e, assim sendo, os “buracos negros” também não existem, pelo menos na forma como Hawking (e outros) os tem imaginando.
Apache, Dezembro de 2014

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

"O Ministro Chupa-Chupa"

"Foto da minha rua, conforme se encontra há nove dias bem contados

Pagar IMI em Palmela é isto. Todos os anos há festa, febras, vinho e barraquinhas, mas certas imperfeições permanecem imunes ao bem-querer da dinastia que gere o burgo.
Já sei, para alterar o comportamento dos cidadãos, que não aproveitam estes restos nutritivos, devia ser taxado cada quilograma de desperdício que onera o desempenho laboral-constitucional dos expeditos funcionários da Câmara Municipal de Palmela, tornando impossível a recolha atempada dos detritos.
Esta merda está assim há uma semana. Uma semana. E há outro case study: só este ano já cá veio duas vezes o rapaz montado no rolo compressor, passar gravilha e poeira sobre os buracos da rua. Que eu veja, fá-lo há cinco anos. Entretanto chove, como é normal que chova, e volta tudo ao mesmo. Pelo mesmo custo, já a teriam alcatroado.
Talvez também aqui fizesse falta uma taxa, por direitos de passagem: os pés dos moradores alargam os buracos e elevam no ar bactérias e fungos possivelmente ameaçados de extinção, pondo em causa o moderno ecossistema que é Portugal.
Aliás, tratando-se para mais de um país onde, como reiteradamente afirmou ontem no Prós & Contras o menino Jorge Moreira da Silva, estamos finalmente a par - só nos faltam autocarros eléctricos, camiões a gás e punições maiores para quem trabalha - das outras salas deste manicómio que é a Europa.
Para o que eu havia de estar guardado com esta idade. O ministro do Ambiente parece um daqueles putos a quem nos dava vontade de cobrir de lambadas quando andávamos na escola. A par de Eurico Dias, que está provavelmente na calha para o substituir quando o Marajá do Roxy ascender ao trono, Jorge Moreira da Silva é dos copinhos-de-leite mais enervantes que tenho visto pagar com os nossos impostos.
E é um sovietizado exemplar, senão vejamos o tom de grande educador pesporrento, emitido por um imberbe daqueles ainda a ecoar à mastigação de Cerélac por todos os poros, coisa que num país civilizado daria direito, no mínimo, ao suplício da estrapada.
Aqui? Balidos...
Frases que cativam e despertam a vontade de desintegrar o partido inteiro que pensou, germinou e deixou eclodir Jorge Moreira da Silva: "se queremos mudar o comportamento dos cidadãos, este é um bom começo". Como se fosse o comportamento dos cidadãos, e não a cristalizada, quando não demolida, rede de transportes públicos - mas cujos funcionários auferem subsídios do primeiro mundo - o problema, e sim o demoníaco automóvel onde diariamente as pessoas, por falta de opção, levam miúdos à escola, compram mercearias, vão trabalhar e pagam multas e taxas e coimas e arruínam, nos fossos a céu aberto que são as estradas municipais, esse mesmo súcubo motorizado.
Senhor Ministro, vá mudar uma coisa que eu cá sei. Estou fartinho de si e dos seus congéneres até ao vértex."
Fernando Melro dos Santos, no blogue Estado Sentido

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ignorância versus ilusão

“O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento.”

domingo, 2 de novembro de 2014

Gelo da Antárctida atinge o maior valor de “sempre”

No passado dia 21 de Setembro, antepenúltimo dia do Inverno Austral [a Primavera do Hemisfério Sul (Outono do Norte) iniciou-se às 3:29 (hora de Lisboa) do dia 23 de Setembro] o gelo que cobre grande parte do mar que rodeia o continente dos “gelos eternos” atingiu o seu maximum maximorum. Ou seja, foi alcançado o valor mais elevado, desde que se iniciaram os registos, para a área de gelo que rodeia a Antárctida. O novo recorde é de dezasseis milhões oitocentos e sete mil quilómetros quadrados.
Considerando o gelo marinho e o continental, no Inverno deste ano, em redor do Pólo Sul, o gelo atingiu uma área superior a 30,5 milhões de quilómetros quadrados, o valor mais elevado alguma vez “visto” pelos satélites (e que corresponde a mais do triplo do tamanho da Europa). Recordo que o gelo da Antárctida corresponde a mais de 85% do gelo total do planeta.
Os dados são da responsabilidade da National Snow and Ice Data Center e foram (como habitualmente) obtidos pelos radiómetros SMMR e SSM/I instalados a bordo de satélites da NASA.
A imagem abaixo, mostra a variação do gelo marítimo que rodeia a Antárctida desde que em 1979 se iniciaram as observações por satélite.
[Cliquem na imagem para ampliar]
Apache, Novembro de 2014

terça-feira, 28 de outubro de 2014

“Portugal e o futuro”

“(…) Excluindo os próprios envolvidos, os compadres, os amigos de ocasião e os fanáticos, ninguém confia no governo. De trapalhada em trapalhada, a pedir desculpas ou paciência, o bando liderado pelo Dr. Passos Coelho arrasta-se como o Benfica na "Europa", rumo ao desastre final. Dizer que em três anos o bando refreou o défice à custa da receita é a única coisa parecida com um elogio que estes senhores suscitam. O resto, a austeridade sem retorno ou uma desmesurada carga fiscal acompanhada por zero reformas dignas do nome, provou que nem o machado da troika corta a raiz do pensamento pátrio.
Excluindo os próprios envolvidos, os compadres, os amigos de ocasião e os fanáticos, ninguém confia na oposição. Especialista em intercalar o silêncio com as mais descaradas asneiras produzidas para cá de Caracas, o Dr. Costa, rodeado por puros malucos e oportunistas de carreira, já fareja o poder e ameaça usá-lo com a voracidade dos famintos. Em 2014, continua a haver malária, esclavagismo e, no que nos toca de perto, quem defenda o "investimento" público e o crescimento por decreto sem corar de embaraço.
Mesmo estafados, certos clichés do Parque Mayer, incluindo o do "tacho", merecem recuperação: partidos à parte, toda esta gente luta por um objectivo comum, o de alimentar o Estado de modo a dispor dele. A novela da PT em curso é exemplar, principalmente se atendermos à procissão de vultos que agora reclama a respectiva nacionalização e à procissão de familiares dos vultos que antes conseguiu lá emprego.
Existem diferenças? Algumas, que só importarão aos picuinhas: o PSD disfarça, o PS assume. O PSD explora a absurda aura "liberal" que lhe colaram, o PS jura-se de esquerda. O PSD nega o evidente assalto ao contribuinte, o PS promete-o com orgulho. O PSD mata com álibi, o PS esfola por missão. O PSD finge salvar o país da ruína, o PS não distingue a ruína da salvação. E o povo, pá?, perguntava uma cantilena. O povo, quando não conta os cêntimos, saltita entre a crendice e o desnorte, a resignação e o berreiro, a esperança e a realidade. Mas, quando conta os cêntimos, o povo pressente que o pior ainda não chegou.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias”

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Os Primários do PS


Helena Roseta para António Costa: “tens que fazer no país o que estás a fazer em Lisboa”.
O meu vizinho do 2.º Esq. para António Costa: "se vejo algum monhé a entupir as sarjetas aqui da rua, corro-o a pontapé".

domingo, 28 de setembro de 2014

Pesquisa inconveniente (2)

As “ilhas de plástico”
O Projecto Malaspina permitiu também, não propriamente uma conclusão, antes uma constatação que já quase "toda a gente" sabia mas raramente aparece referida na comunicação social: a famosa “Ilha de Plástico”, supostamente existente entre a costa dos estados norte-americanos do Oregon e da Califórnia e o arquipélago do Havai, obviamente, não existe. Muito menos, as cinco “ilhas” modernamente alegadas. [Após o sucesso mediático da invenção da dita ”Ilha de Plástico” (numa zona, relativamente isolada, para onde a circulação oceânica conduziria os plásticos flutuantes) alguns oportunistas alegaram existirem ainda mais quatro ilhas “idênticas” noutras tantas zonas remotas do planeta, onde as correntes oceânicas são similares.]
A possível existência da “ilha” foi prevista em 1988 pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) dos Estados Unidos e “confirmada” em 1997 pelo oceanógrafo e velejador desportivo, Charles J. Moore, no regresso da competição de veleiros “Transpacific Yacht Race”. No entanto, só em 2008 a “ilha de plástico” atingiu o estatuto de verdadeiro mito urbano quando em Fevereiro foi sucessivamente anunciada pela BBC e pelo jornal britânico “The Independent”. Apesar de nunca ter sido captada qualquer imagem de satélite, sequer de avião, da alegada “ilha”, esta chegou a ser anunciada com sendo do tamanho do Texas. Justificando esse facto, alguns ambientalistas alegaram que a “ilha” (mas tarde, cinco “ilhas”) seria constituída por pequenas partículas de plástico que só poderiam ser observadas nos locais, de muito difícil acesso, a bordo de embarcações.
Confirmou-se “agora”, através desta expedição, que as “ilhas” não existem e que a quantidade de plásticos nos oceanos não tem aumentado desde a década de oitenta do século passado. A máxima concentração encontrada aproxima-se dos 200 gramas de plástico por quilómetro quadrado de oceano (o equivalente, em média, a uma garrafa plástica de um litro e meio, por cada 21 campos de futebol) cerca de 26 vezes inferior ao que é habitualmente alegado em textos menos sensacionalistas (por exemplo a Wikipédia, de 5,1 quilogramas por quilómetro quadrado).
Apache, Setembro de 2014 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pesquisa inconveniente (1)

 
Projecto Malaspina

Dois navios espanhóis, o “Hespérides” e o “Sarmiento de Gamboa”, actuando ao abrigo do Projecto Malaspina, percorreram, entre Dezembro de 2010 e Julho de 2011, 42 mil milhas náuticas (cerca de 67 mil quilómetros, o que corresponde a mais de uma volta e meia ao mundo) com 400 investigadores, de dez países, a bordo, recolhendo 70 mil amostras de água, ar e plâncton.
Três anos depois de terminada a expedição, Carlos Duarte, oceanógrafo impulsionador e director do Projecto Malaspina, deu a conhecer, em declarações ao jornal espanhol “El País” (publicadas no passado da 16), algumas das principais conclusões:
- A capacidade dos oceanos degradarem os plásticos e outos poluentes neles (indevidamente) lançados é maior do que se acreditava;
- A quantidade total de alforrecas, nos oceanos não está a aumentar (contrariamente ao que prevê a propaganda associada às alterações climáticas);
- As reservas de peixe são (conforme as espécies) entre 10 e 30 vezes superiores ao que indicam as estimativas.
Apache, Setembro de 2014

sábado, 20 de setembro de 2014

Portugal tem 50% mais deputados que a média da União Europeia

A propósito da recente proposta (finalmente, uma com lógica) de Tó Zero (in)Seguro de redução do número de deputados, na Assembleia da República, para 181 (na linha dos 180 há uns anos propostos pelo PSD) e da oposição (esperada) de Toninho Chamuça e dos partidos à esquerda do PS, que vêm nesta redução enormes dificuldades em empregar os boys dos respectivos aparelhos partidários, lembrei-me de comparar o número de habitantes por cada deputado eleito nos vários países da União Europeia.
Portugal apresenta 47 017 residentes por cada deputado (número resultante da divisão dos 10 813 834 habitantes pelos 230 deputados com assento parlamentar) colocando-se na 11.ª posição face aos 28 membros da UE, com 50% mais deputados que a média da União (que apresenta 70 310 habitantes por deputado).
A lista de países com mais habitantes por cada deputado eleito (ou se preferirem, com menos deputados considerando a população residente) é liderada pela vizinha Espanha, com 136 394 habitantes por cada um dos seus 350 deputados (comparativamente, quase três vezes menos deputados que nós). Em segundo lugar está a Alemanha, com 130 220 habitantes por cada deputado eleito. No terceiro lugar aparece a França com 114 834 habitantes por deputado.
Os últimos lugares desta lista são ocupados pelos países mais pequenos da União (os três últimos são: a Estónia, o Luxemburgo e Malta) que são os que apresentam maior número de deputados em comparação com o número de habitantes.
Alguns países apresentam duas Câmaras e, por isso, comparei também os deputados do nosso parlamento com a soma dos deputados e senadores nos países que possuem duas “assembleias”, sendo que, neste caso, Portugal sobe para o 8.º lugar, duma lista encabeçada pela Alemanha, que apresenta 117 217 habitantes por cada representante com assento nas suas duas câmaras. No segundo lugar aparece a Espanha, com 77 876 residentes por cada represente “parlamentar”. O terceiro lugar passa agora a ser ocupado pela Holanda, com 75 010 habitantes por cada um dos 225 eleitos para as suas duas câmaras.
Segue a lista completa.
[Cliquem na imagem para ampliar]
Apache, Setembro de 2014

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Indesejada premonição


Marcello Caetano pressagiou, desta forma, as consequências político-económicas da revolução (de 25 de Abril de 1974) que teve como principais desfechos: a perda das províncias ultramarinas e a instauração do socialismo.
“Sem o Ultramar estamos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade das nações ricas, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava em vésperas de se transformar numa pequena Suíça, a revolução foi o princípio do fim. Restam-nos o Sol, o turismo, a pobreza crónica e as divisas da emigração, mas só enquanto durarem.
As matérias-primas vamos agora adquiri-las às potências que delas se apossaram, ao preço que os lautos vendedores houverem por bem fixar.
Tal é o preço por que os Portugueses terão de pagar as suas ilusões de liberdade!”
"Marcello Caetano, Confidências no Exílio”, de Joaquim Veríssimo Serrão.

terça-feira, 22 de julho de 2014

O Costa, da Parvónia


“A cada semana, António Costa revoluciona a ciência económica. Primeiro foi a tese de que a riqueza é preferível à austeridade, inovadora aplicação na macroeconomia do princípio de Maria Antonieta. Depois, descobriu que o problema não é o excesso de licenciados, mas a falta de empregos para licenciados (criam-se os empregos e a chatice fica resolvida). Agora, explicou a uma embevecida plateia de sindicalistas que "não há crescimento sustentável com endividamento, mas também não há crescimento sustentável com empobrecimento", sentença que se comenta sozinha.
Se não se aproximassem as férias, o Dr. Costa ainda estaria a tempo de dizer que: 1) o investimento público é melhor do que o privado excepto nos casos em que o investimento privado é melhor do que o público; 2) o Estado social é sustentável desde que saia baratinho aos cidadãos; 3) Portugal não deve sair do euro enquanto os euros entrarem em Portugal; 4) pelo menos na perspectiva dos destinatários, os salários altos são preferíveis aos salários baixos; 5) o Pato Donald é um boneco.
Brincadeiras à parte, o que é isto? Não é de agora que Portugal não se pode queixar em matéria de produção de políticos absurdos. Mas entre as nulidades sem uma ideia na cabeça e o Dr. Costa, em cuja cabeça fervilham centenas de ideias desconchavadas, vai uma diferença considerável. Já nem falo da tentativa de vender o homem a título de salvador da pátria: falo do homem propriamente dito e da deprimente comparação com aqueles a quem sonha suceder. Ao pé do Dr. Costa, Passos Coelho passa por um modelo de estadista, Sócrates por um sujeito quase ponderado, Santana por um governante responsável, Barroso por um gigante do pensamento, Guterres por um paradigma da racionalidade financeira e Cavaco, ele sim, pelo salvador da pátria que nunca foi. Perante o Dr. Costa, até o jovem António José Seguro parece habitar o mesmo planeta que os restantes mortais.
Em suma, o Dr. Costa é um embaraço ambulante. Logo, provavelmente será depois do Verão o líder do PS e, se os amigos o mantiverem calado entretanto, hipotético primeiro-ministro no ano que vem. Um pessimista vê à distância e, na lógica do "depois de mim virá", tende a imaginar que espécie de calamidade pode aparecer ao País após o Dr. Costa. Um optimista desconfia que, após o Dr. Costa, é improvável haver País.”
Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Patrick Moore no Senado dos Estados Unidos

O ecologista canadiano Patrick Moore é doutorado em Ecologia pela Universidade de British Columbia e em 1971 ajudou a fundar a Greenpeace. Foi, durante nove anos, Presidente da Greenpeace Canadá e, durante seis, Director da Greenpeace Internacional. Em 1985 estava a bordo do Rainbow Warrior (o famoso navio que a WWF do Príncipe Carlos ajudou a comprar doando 40 mil libras à Greenpeace) que foi afundado pela marinha francesa quando tentava furar o bloqueio naval que impedia o acesso ao Atol de Mururoa (na Polinésia Francesa) onde os franceses faziam ensaios com armas nucleares. No ano seguinte, Moore retirava-se da organização ecologista.
No passado dia 25 de Fevereiro, Patrick Moore discursou perante a Comissão de Ambiente e Obras Públicas do Senado dos Estados Unidos. O curto mas incisivo discurso, que reproduzo quase na íntegra, com tradução minha, está longe dos tradicionais desvarios dos dirigentes da Greenpeace.

“Em 1971, ainda doutorando em Ecologia juntei-me, no átrio de uma igreja em Vancouver, no Canadá, a um grupo de activistas e navegámos num pequeno barco atravessando o Pacífico, para protestar contra os testes de uma bomba de Hidrogénio realizados, pelos Estados Unidos, no Alasca. Tornámo-nos a Greenpeace.
 
Após 15 anos de liderança tive de deixar a Greenpeace por esta ter efectuado uma acentuada viragem política à esquerda, adoptando politicas que eu não poderia aceitar por contrariarem a minha perspectiva científica. Quando deixei a Greenpeace, as Alterações Climáticas ainda não eram assunto, mas hoje são-no, seguramente.
 
Não há prova científica de que as emissões humanas de dióxido de carbono tenham sido a causa dominante do pequeno aquecimento verificado na atmosfera da Terra, nos últimos 100 anos. Se essa prova existisse, ela haveria de ter sido mostrada para que todos a víssemos. Actualmente, não existe nenhuma prova tal como a entendemos em Ciência.
O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) afirma que: é “extremamente provável” que a influência humana tenha sido a causa dominante do aquecimento verificado na segunda metade do século XX.”
“Extremamente provável” não é um termo científico, mas um juízo de valor, tal como acontece num tribunal. O IPCC define “extremamente provável” como “uma probabilidade de 95 a 100%”. Mas, após uma cuidada análise, fica claro que estes números não resultam de nenhum cálculo matemático ou análise estatística. Foram “inventados” para fazerem parte do relatório do IPCC exprimindo um “julgamento de peritos”, tal como foi determinado por alguns dos que contribuem para o IPCC.
Estes “julgamentos” são quase integralmente baseados nos resultados obtidos por sofisticados programas de computador desenhados para prever o futuro das alterações climáticas. Tal como foi notado por muitos observadores, incluindo o Dr. Freeman Dyson, do Instituto de Estudos Avançados, de Princeton, um modelo computorizado não é uma bola de cristal. Podemos dizer que é sofisticado mas não podemos com ele prever o futuro melhor do que o faríamos com uma bola de cristal, atirando ossos ou apelando aos deuses.
 
A forma mais simples de expormos a falácia do “extremamente provável” talvez seja olharmos para os registos históricos (…) Quando há 500 milhões de anos surgiram as modernas formas de vida, os níveis de CO2 na atmosfera eram mais de dez vezes superiores aos actuais, ainda assim, a vida floresceu. Há 450 milhões de anos surgiu uma idade do gelo e o CO2 era dez vezes mais abundante que actualmente. Há alguma correlação, mas pouca evidência que suporte uma causalidade entre CO2 e temperatura global, ao longo dos milénios. O facto de termos tido temperaturas elevadas e idades do gelo com níveis de dióxido de carbono mais de dez vezes superiores aos actuais, contradiz a certeza de as emissões humanas de CO2 serem a causa do aquecimento global.
As temperaturas actuais, cuja média global ronda os 14,5 ºC, são semelhantes às da Idade do Gelo do Pleistoceno. Em termos globais, as temperaturas oscilaram entre um mínimo de 12 ºC nos períodos de máxima glaciação e um máximo de 22 ºC, nos períodos quentes, que ocorreram por longos períodos intervalados pelas idades do gelo. Durante os longos períodos quentes não houve gelo nos pólos, todo o planeta teve clima tropical ou subtropical, de pólo a pólo. Há apenas cinco milhões de anos, as ilhas do árctico canadiano estavam totalmente florestadas. Hoje vivemos um período frio na história da vida na Terra e não há razão para creditar que um aquecimento do clima não seja benéfico para os humanos e para a maioria das espécies. Mas há vastas razões para acreditar que um acentuado arrefecimento do clima traria resultados desastrosos para a civilização.
 
Movendo-nos agora para um passado mais recente, é instrutivo estudarmos os registos de temperatura dos últimos 130 anos. O IPCC afirma que os humanos são a causa dominante do aquecimento desde meados do século XX. Entre 1910 e 1940, a média das temperaturas subiu 0,5 ºC. Seguiu-se um período de 30 anos de pausa, até 1970. Por sua vez, este foi seguido por outro período de 30 anos (entre 1970 e 2000) em que a média das temperaturas subiu 0,57 ºC. Daí para cá não houve aumento, talvez um ligeiro decréscimo na média global.
O aumento de temperatura entre 1910 e 1940 foi idêntico ao aumento verificado entre 1970 e 2000. No entanto, o IPCC não atribui o primeiro aumento à “influência humana”. É claro, na sua crença, que as emissões humanas só tiveram impacto na temperatura “na segunda metade do século XX”. O que leva o IPCC a acreditar que o aumento de temperatura após 1950 é causado fundamentalmente pela “influência humana” quando não tem explicação para um aumento idêntico verificado entre 1910 e 1940?
É importante reconhecermos, em comparação com as terríveis previsões feitas na perspectiva de que a subida da média das temperaturas possa atingir os 2 ºC, que os humanos são uma espécie tropical. Surgimos junto ao equador num local onde não existem climas frios. As únicas razões porque conseguimos sobreviver em climas mais frios são: o fogo, as roupas e as casas. Podemos dizer que o frio e o gelo são os inimigos da vida, excepto para as relativamente poucas espécies que se conseguiram adaptar às gélidas temperaturas das idades do gelo do Pleistoceno. É “extremamente provável” que uma média das temperaturas globais superior à actual seja bem melhor que uma mais fria."
Apache, Maio de 2014

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014


Segundo a BBC, um grupo de trabalho da União das Repúblicas Socialistas Europeias Europeia pondera a instalação obrigatória, em todos os veículos, de um dispositivo que permita à polícia parar remotamente os nossos automóveis.
Alguns Primatas não têm consciência das suas limitações cognitivas e, quando não açaimados, tornam-se perigosos.
Apache, Fevereiro de 2014

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Das praxes...


«Não vou comentar os acontecimentos do Meco, de uma escala apesar de tudo rara ou inédita. Mas, dado o clima da semana, julgo ser obrigatório escrever sobre as "praxes" que, ao que consta, provocaram os acontecimentos. Pior ainda, não consigo fugir ao consenso geral: mesmo quando não são propensas ao perigo, as "praxes" são uma manifestação de idiotia e uma explicação para o nível geral do nosso ensino superior.
As reportagens sobre os jovens afogados vão mostrando porque é que tantas criaturas terminam a licenciatura sem uma vaga ideia do respectivo conteúdo, de resto frequentemente superficial. O universo das "praxes" é um currículo à parte, repleto de hierarquias, estatutos, símbolos de honra e desonra, códigos de conduta e normas de vestuário que os leigos devem aprender com zelo, sob pena do que calha, incluindo, em situações extremas, da morte. Não admira que, enquanto se dedicam às ordens do "Dux" (?), os "estudantes" não tenham vagar para o propósito oficial das universidades, as quais assistem impávidas à troca do saber especializado pela iniciação paralela à reverência, à prepotência, à desumanização, ao colectivismo e, afinal, à cretinice. Se a aversão à liberdade é uma marca nacional, o desejo de pertença, uma discutível virtude, realiza-se aqui da maneira mais primária.
"Aqui", onde? É justo distinguir entre universidades com e sem aspas. O peso das "praxes" é menos relevante nas instituições em que os estudantes, por incrível que pareça, têm de estudar. A importância da capa e da batina cresce em função da insignificância da instituição, o que, em Portugal, equivale a dizer que as "praxes", se levadas ao limite da sua essencial selvajaria, são sobretudo característica das "universidades" particulares, por cá quase uma contradição nos termos.
No mundo civilizado, as melhores escolas são, como seria de esperar, as que funcionam à margem do Estado. No mundo que nos tocou em sorte, em que o ensino público já é o que é, a iniciativa privada foi incapaz de criar um simulacro - ou, vá lá, uma caricatura - de Yale ou Harvard. Em vez disso, ergueu uns barracões sem dignidade nem docentes que, grosso modo, encheu com o refugo do numerus clausus. Nesses lugares, as "praxes" fingem uma tradição e servem de currículo. Por regra, a coisa não vai além da trapaça; ocasionalmente, chega à tragédia. Em ambas as circunstâncias, à semelhança dos rapazes e raparigas mortos na praia, as diversas "Lusófonas" são um caso de polícia.»
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias”