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sábado, 20 de novembro de 2010

Olívia costureira versus Olívia patroa (2)

«O ministro das Finanças sempre foi homem de vibrantes debates consigo mesmo. Até agora, porém, permitia-nos, e permitia-se, respirar. Se num ano o Dr. Teixeira dos Santos assegurava a portentosa saúde das contas públicas, só no ano seguinte se resignava à respectiva derrocada. Se num mês garantia que o défice nem chegaria aos 6%, só no mês seguinte aparecia a reconhecer que afinal a coisa rondava os 9%. Se numa semana jurava a impossibilidade de reduzir a despesa, só na semana seguinte admitia cortar aqui e ali. Agora, o homem deu em contradizer-se ao fim de poucas horas. De manhã surge no ‘Financial Times’ a confessar que o "risco" de Portugal recorrer à ajuda internacional é "elevado". De tarde, aparece na agência Reuters a proclamar que o recurso à ajuda internacional "não está iminente" e que não passa de "rumores e especulação". O tique mantém-se suportável porque, por enquanto, o Dr. Teixeira dos Santos reserva um período, mínimo que seja, entre uma afirmação e o seu reverso. Mas nada o impede de, a breve prazo, desatar pura e simplesmente a discutir sozinho em tempo real. Por este andar, não faltará muito para que o vejamos, em conferência de imprensa, a contestar as frases que proferiu dois segundos antes: "É forçoso reconhecer que o pior da crise ainda não chegou." "Não chegou? Claro que chegou. A recuperação económica já é um facto." "Não é, não senhor!" "Ai, isso é que é." "V. Exa. chamou-me mentiroso?" Etc. Talvez tudo não passe de uma estratégia deliberada para confundir os investidores estrangeiros, embora não se perceba exactamente a quem serve a confusão: de cada vez que o Dr. Teixeira dos Santos abre a boca, os juros da dívida sobem uns pontinhos e a famosa "credibilidade" pátria arranja maneira de se afundar mais um bocado. Outra possibilidade é ser o próprio Dr. Teixeira dos Santos a andar confuso, hipótese que ele decerto negará com veemência. E confirmará logo depois.»
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada quinta-feira

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Notícias do hospício

Num país onde o Governo enterrou, há (apenas) alguns meses, largos milhares de milhões de euros em dois bancos falidos (BPN e BPP); num país onde uma agência governamental (ANQ) gasta dezenas de milhões de euros a certificar com o 12.º ano, analfabetos funcionais; num país onde as escolas secundárias estão a ser dadas (sob o pretexto de precisarem de obras de recuperação) a uma empresa maioritariamente privada (a Parque Escolar), onde o Governo investiu alguns milhares de milhões de euros em obras, em vários casos desnecessárias; num país onde nos últimos anos largas dezenas de milhões de euros foram gastas a distribuir computadores portáteis, a crianças de seis anos que não sabem ler nem escrever; num país em que o Primeiro-Ministro gasta, anualmente, 63 mil euros em flores e mais de 220 mil euros em telemóvel; os dois principais partidos políticos concordam que o Governo roube (via Orçamento de Estado) entre 3,5 a 10% no vencimento dos funcionários públicos (que estão entre os mais mal pagos da União Europeia) e corte brutalmente as despesas (também elas das mais baixas da Europa) com o “estado social” (nomeadamente abonos de família) apesar de sermos um dos países europeus com maior percentagem de pobres. Este é o mesmo Governo que (com o beneplácito do maior partido da oposição) permite que os seus paus-mandados beneficiem de mordomias obscenas, em empresas de capitais públicos ou mistos (públicos/privados) como por exemplo (e muitos mais haveria): Ascenso Simões (administrador da ERSE) que aufere mais de 188 mil euros (anuais), além de carro de serviço; Filipe Baptista (administrador da ANACOM) que recebe mais de 198 mil euros (por ano) além de viatura de serviço; ou, o caso mais flagrante, Fernando Gomes (administrador da GALP) que leva (anualmente) para casa, 529 mil euros de vencimento, acrescidos de prémios, Planos de Poupança Reforma e subsídios de renda de casa e de deslocação. O problema deste país já não se limita à nudez do rei. O problema é que a corte é maioritariamente constituída por alucinados, liderados por verdadeiros inimputáveis.
Apache, Outubro de 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

As patuscadas dos ‘boys’ patuscos

«Uma coisa é a miséria, outra coisa é o miserabilismo. Durante uma semana, o "portal" governamental Base rivalizou em visitantes com as mais populares páginas eróticas. Obviamente, não foi por exibir os membros do Executivo em pelota. O que aparecia despido no Base eram os gastos das entidades públicas em eventos "oficiais", o tipo de informação que excita jornalistas, "bloggers" impertinentes, políticos da oposição e anónimos ressentidos. O sucesso do Base, entretanto rasurado a bem do pudor, é igualmente o reflexo do nosso provincianismo ou de uma "visão simplória", para usar a expressão de um vulto do governo regional dos Açores, que consumiu (o governo, não o vulto) 196 mil euros em festa com bar aberto numa discoteca de Lisboa. O facto de se encontrar na penúria não implica que o Estado desça à indignidade. Uma farra com bebidas a expensas de cada um não seria uma farra, mas uma manifestação de sovinice e uma vergonha. E o mesmo acontece com os restantes "excessos" que despertam os queixumes de certa plebe. A plebe considera excessivo que, por exemplo, a Autoridade Nacional de Comunicações invista 150 mil euros no seu 20.º aniversário, embora não explique como é possível cantar-se decentemente o Parabéns a Você sem convites requintados (12 mil euros), uma organização capaz (60 mil euros), um espaço decente (75 mil euros) e um vídeo encomendado às irreverentes Produções Fictícias (8 mil euros). A plebe também não explica como se realiza o importantíssimo espectáculo que consagrou as Maravilhas Naturais de Portugal por menos de 1,55 milhões de euros. Talvez o principal alvo da referida visão simplória tenha sido a celebração dos 160 anos da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos. Condenar uma instituição assim vetusta por, entre diversos e essenciais festejos (220 mil euros), se aliviar de meros 73 mil euros num repasto (fora deslocações e estadias dos comensais) é demagogia barata. Tão barata quanto o repasto, o qual, segundo li, juntou 900 pessoas. A aritmética básica prova que o jantar saiu pela ninharia de 81 euros e uns trocos por cabeça. E que, dividida pelos milhões de contribuintes que a DGCI delicadamente serve, a conta não pesou a ninguém. É tempo de dizer basta. Aos resmungos e às invejas, claro. Se começarmos a vasculhar o sector público e a questionar a legitimidade de simples patuscadas, acabaremos a questionar os aumentos de salários a gestores exímios, as nomeações repentinas de excelentes assessores e compinchas para cargos de chefia, o endividamento das esforçadas autarquias, as honradas empresas municipais, as frotas automóveis e até os 63 mil euros de arranjos florais de que o primeiro-ministro, compreensivelmente, não abdica. Por outras palavras, acabaremos a questionar a essência do Estado. É o velho problema da mudança de mentalidades. Não chega que os portugueses comuns aceitem um Orçamento de rigor unilateral e se sacrifiquem pelos seus representantes: é fundamental que, um belo dia, o façam com gosto ou, no jargão corrente, com sentido de responsabilidade. Quando esse dia vier, haverá motivo para comemorações e, suspeito, farta jantarada, com serviço de "catering", lista restrita e despesa não. O Estado somos todos, ainda que apenas alguns se divirtam.»
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias”

domingo, 10 de outubro de 2010

A maravilha certificadora queima milhões em publicidade

Há sensivelmente um ano, tinha alertado para o facto de a Agência Nacional para a Qualificação (ANQ) criada para promover, coordenar e acompanhar a implementação do Programa Novas Oportunidades estar a gastar rios de dinheiro em publicidade. Agora, volvido mais um ano, e quando os governantes insistem em propagar a alegada crise e cortam a torto e a direito naquilo que na sua debilidade de discernimento são os privilégios da classe média, não é demais lembrar que em pouco mais de dois anos, a ANQ queimou mais de 13,6 milhões de euros (quase todos) em publicidade [Fonte: base de dados de ajustes directos] a uma iniciativa que pouco mais é que a passagem de certificados de competências a quem tem conhecimentos quase nulos na generalidade das matérias académicas.
Apache, Outubro de 2010

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dom Sócrates I – A pérfida

«Acompanhado de um séquito de subalternos e repórteres (nem sempre se distinguem), o senhor primeiro-ministro visitou uma feira chamada Portugal Tecnológico, no Parque das Nações. Visto tratar-se do Dia Europeu sem Carros, o senhor primeiro-ministro chegou de transporte público: "Gosto muito de andar de metro e comprei bilhete de ida e volta", esclareceu. Depois, deixou-se transportar até à feira propriamente dita num, cito os jornais, "minibus eléctrico autoguiado", um carrinho da ‘bem portuguesa’ Siemens, que, em jargão de engenharia, o senhor primeiro-ministro definiu como "um elevador que anda na horizontal". Após o senhor primeiro-ministro contactar com outras invenções assim assombrosas, um grupo de crianças juntou-se-lhe de forma espontânea. O senhor primeiro-ministro, a que as crianças se referiram por "senhor presidente" ("Sua Alteza" seria na mesma adequado), aproveitou para uma troca informal de ideias no complexo domínio da informática: "Não acham que o Magalhães trouxe benefícios às escolas?" As crianças responderam que sim. "Não acham que o Magalhães vos prepara para trabalharem com as novas tecnologias de informação no futuro?" As crianças responderam que sim. "Não acham que o Magalhães vos ajuda a aprender?" O senhor primeiro-ministro respondeu: "Pois, eu também acho." Por fim, o senhor primeiro-ministro fez um discurso no qual aludiu ao papel do Governo e da sua pessoa no nosso crescimento científico e tecnológico, sem se esquecer de notar, com modéstia, que duas escolas nacionais (uma de uma aldeia na Lousada, outra nos Açores) se viram seleccionadas para integrar a lista das mais avançadas do mundo, escolha a cargo da Microsoft, que distingue e apoia a utilização das tecnologias de informação e comunicação na educação, e que está restrita a estabelecimentos de ensino de apenas 114 países. Igualmente presente na feira, o ministro Vieira da Silva lançou a vital questão: "Se não estamos aqui a falar de economia e do futuro de Portugal, estamos a falar de quê?" Por mim, do que o dr. Vieira da Silva e o senhor primeiro-ministro quiserem, embora suspeite de que não queiram falar da avançadíssima escola de Lamego eleita pela Microsoft no ano passado e encerrada pelo Ministério da Educação neste. Nem do Tomás. O Tomás, agora revelado pelo Expresso, não mostrava queda para a matemática, óbice que o levou a desistir dos estudos sem concluir o "secundário". Em 2009, inscreveu-se num Centro de Novas Oportunidades, onde frequentou os "módulos" de Saberes Fundamentais (?) e Gestão. Em curtos meses, conseguiu a equivalência ao 12.º. Hoje, encontra-se no curso de Tradução da Universidade de Aveiro e foi, em todo o País, o aluno com a melhor nota de candidatura: 20 valores. Convém explicar que a "média" do Tomás no liceu não pesou nas contas, limitadas a um exame de Inglês. A partir daqui as explicações tornam-se menos fáceis. Porque é que milhares de crianças insistem em perder anos no ensino tradicional para obter o que as Novas Oportunidades lhes dariam num instante? Porque é que não se saltam as Novas Oportunidades e se distribuem doutoramentos aos recém-nascidos? Porque é que a epopeia de modernidade e crescimento para que o senhor primeiro-ministro nos convocou termina invariavelmente em rábula cómica, na educação e no resto? Porque é que a realidade teima em contrariar a propaganda que vai na cabeça de D. Sócrates I e, se os céus tiverem misericórdia de nós?»
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” do passado dia 23

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Dom Cavacus…

Susana Salvador, do Diário de Notícias, andou a fazer contas ao custo de algumas chefias de estado e chegou a alguns valores interessantes: a casa real espanhola teve (em 2009) um orçamento anual de 8,9 milhões de euros; a casa real sueca custou (em 2006) 5,13 milhões de euros; a presidência da república portuguesa tem (para 2010) um orçamento de 20,7 milhões de euros. Consta que o Bolo-rei está muito caro, em Belém.
Apache, Junho de 2009

domingo, 16 de maio de 2010

A responsabilidade dos irresponsáveis

“Hoje, [refere-se ao passado dia 11 de Março] mais uma vez, o ministro Teixeira dos Santos ousou utilizar a palavra "responsabilidade" perante o Parlamento e em referência a um partido da oposição. Sem que ninguém se escandalizasse. Sem que ninguém o chamasse à ordem. Se Teixeira dos Santos falou em nome do Partido Socialista, enganou-se: os partidos da oposição não respondem perante o partido do governo, mas sim perante os eleitores. Como o partido do governo, de resto. Se falou em nome do governo, também se enganou: não é o Parlamento que é responsável perante o governo, mas sim o governo perante o Parlamento. É espantoso que um órgão de soberania declare expressamente, poucos dias depois de tomar posse, que se reserva o direito de violar a seu bel-prazer os termos do mandato que o Soberano lhe conferiu. É espantoso ouvi-lo declarar que não presta contas a quem as deve porque tem que as prestar a quem as não deve: à Comissão Europeia, ao FMI, ao BCE, aos mercados, às agências de notação financeira, ao diabo a quatro. É espantoso que peça responsabilidade à oposição no preciso momento em que ele próprio se declara irresponsável. É espantoso que um governo não entenda que ao descartar a sua responsabilidade perante os eleitores está a abdicar da legitimidade que estes lhe conferiram. É espantoso. É lamentável. É vergonhoso. E é, isto sim, irresponsabilidade a sério.”
José Luís Sarmento, do blogue “As minhas leituras”

sábado, 15 de maio de 2010

A recessão sou eu!

No “Expresso” de hoje lê-se que o “medo da recessão obrigou Sócrates a alterar acordo.” A notícia refere-se ao facto de Sócrates não ter aumentado o IRC às PME´s, pelo menos àquelas cuja facturação não exceda os dois milhões de euros por ano. O título da notícia não deixa, no entanto, de ser manhoso, isto porque dá a ideia de que as medidas agora tomadas pelo Governo, com a bênção do “fraquinho no discernimento” que lidera o PSD são necessárias para impedir a recessão, quando na realidade elas são fundamentais para manter viva a chama da recessão. Julgo que o título mais correcto seria: medo da perda de medo da recessão obrigou Sócrates a tomar medidas que conduzam a essa mesma recessão. Senão vejamos, a recessão caracteriza-se por uma: redução dos salários, redução do consumo, redução da produção, redução do crescimento económico. Ora, no último trimestre, o PIB, segundo números provisórios, divulgados esta semana pelo INE, subiu 1%, significando que a recessão técnica (dois trimestres seguidos de decréscimo do PIB) estava (para já) afastada. Ao aperceber-se disso, o Governo (com a cumplicidade do maior partido da oposição) decide aumentar o imposto sobre o trabalho (IRS) e sobre o consumo (IVA). Com menos dinheiro disponível para comprar e produtos mais caros, o consumo reduz-se e o excedente faz diminuir a produção. Considerando ainda o aumento do IRC, a tendência será a das empresas despedirem mais trabalhadores e o crescimento económico cair a pique. Em termos mitológicos estamos a assistir à criação artificial (por imposição legal) do papão recessão. Em termos práticos, apenas a mais uma tentativa de destruição da já débil economia nacional.
Apache, Maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

À deriva

“O primeiro-ministro anunciou no final de Conselho de Ministros de hoje as novas medidas para redução do défice do Estado, onde se cria uma taxa adicional de IRS de um a 1,5 por cento, e de IRC de 2,5 por cento, para as empresas com lucros acima de dois milhões de euros.” Não aumento os impostos. Aumento os impostos. Não aumento os impostos. Reduzo os impostos. Não aumento os impostos. Aumentos os impostos. Incoerente, eu? Não. Simplesmente um mentiroso, à deriva.
Apache, Maio de 2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Burros há muitos...

"Há tantos burros mandando em homens com inteligência, que as vezes fico pensando se a burrice será ciência." Ruy Barbosa

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O défice público ascende a 6,7% do PIB

O “Correio da Manhã”, do passado dia 22 de Setembro, anunciava que o défice público se situa "neste momento" em 8 712 milhões de euros (e agrava-se a cada dia que passa em 36 milhões de euros). Tal valor, corresponde a 6,7% do PIB. [Os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (Julho de 2008 a Junho de 2009) apontam o valor do Produto Interno Bruto Nacional para os 129,3 mil milhões de euros.] Não sei se se recordam, mas em 2005 (ano em que o senhor “inginheiro” chegou a Primeiro-Ministro) Bruxelas validou um défice nacional de 6% do PIB. Pelo que, 4 anos depois, após o fecho de escolas e maternidades, o congelamento de salários da função pública, o aumento de impostos e, vários outros mimos, sistematicamente justificados pela necessidade de combater o défice, o melhor que este governo conseguiu fazer foi agravá-lo em 0,7%. Vamos ter calma que eles talvez ainda consigam… fazer pior.
Apache, Outubro de 2009

domingo, 27 de setembro de 2009

Está muita gente doente, no meu país

“Numa ruela de má fama
Faz negócio um charlatão
Vende perfumes de lama
Anéis de ouro a um tostão
Enriquece o charlatão.”

“É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir.”

“Na ruela de má fama
O charlatão vive à larga,
Chegam-lhe toda a semana
Em camionetas de carga
Rezas doces, paga amarga.”

“Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar
A enganar o povo que acreditou.”

“Pergunto à gente que passa,
porque vai de olhos no chão?
Silêncio... é tudo o que tem
quem vive na servidão.”

“Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder.”

“Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.”

“Entre a rua e o país
Vai o passo de um anão
Vai o rei que ninguém quis
Vai o tiro dum canhão
E o trono é do charlatão.”

“Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça,
há sempre alguém que semeia,
canções no vento que passa.”

“Mesmo na noite mais triste,
em tempo de servidão,
há sempre alguém que resiste,
há sempre alguém que diz não!”
Apache, Setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ANQ – Por cada milhão queimado, um analfabeto certificado!

A Agência Nacional para a Qualificação (ANQ) foi criada para promover, coordenar e acompanhar a implementação do programa “Novas Oportunidades”. Em apenas um ano, a ANQ, Instituto Público tutelado pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e pelo Ministério da Educação, “torrou” mais de 8 milhões e 700 mil euros, em ajustes directos, a maior parte dos quais (cerca de sete milhões e meio), em acções de marketing e publicidade (tais como: criação de filmes publicitários; impressão de folhetos, produção de pastas, sacos etc.; concepção desenvolvimento e tradução do ‘site’; participação em eventos…). Note-se que a verba mencionada, não inclui (obviamente) os elevados gastos com: os vencimentos dos funcionários da agência; os formadores; as despesas de funcionamento, quer dos serviços centrais do instituto, quer dos Centros Novas Oportunidades; etc. A título de exemplo do esbanjamento incontrolado de dinheiros públicos, veja-se a encomenda ao ex-ministro da educação, Roberto Carneiro (da Universidade Católica), de uma avaliação externa do “Novas Oportunidades”, que custou 297 900 euros (60 mil contos). Quase simultaneamente a outro (encomendado à ESE de Coimbra) sobre o impacto do aumento das qualificações dos adultos no sucesso escolar das crianças, no valor de 199 500 euros (40 mil contos). [Para confirmar todas as verbas gastas pela ANQ em ajustes directos, basta entrar na base de dados dos ajustes directos, digitar o NIF da entidade adjudicante – 508208327 – e clicar em pesquisar.] Com a iniciativa, “Novas Oportunidades”, sem acrescentar conhecimentos significativos aos formados, o estado gasta anualmente largas centenas de milhões de euros, para passar certificados de habilitações, a quem, na generalidade, não possui conhecimentos ou competências que o justifiquem minimamente.
Apache, Setembro de 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Gente fina é outra coisa

O jornalista João Cristóvão Baptista escreve no “24 Horas” que o Primeiro-Ministro passou duas semanas de férias numa suíte do hotel de luxo ”Insotel Punta Prima”, na ilha espanhola de Menorca (Arquipélago das Baleares), acompanhado dos filhos e de um segurança, depois de em Junho após a derrota nas “Europeias” ter descansado uns dias no “Sheraton Pine Cliffs”, em Albufeira. Ao que consta, a suíte onde Sócrates ficou alojado, custa a módica quantia de 990 euros por noite (em regime de meia-pensão). Preço a condizer com um dos pratos preferidos do governante luso, uma caldeirada de lagosta do restaurante “Jagardo”, a 100 euros a dose. O ponto interessante desta história é tentarmos perceber como é que alguém que ganha pouco mais de 5500 euros ilíquidos (não considerando as despesas de representação), consegue gastar mais de 15 mil (mais de 4 meses de ordenado líquido), numas férias de 15 dias.
Apache, Agosto de 2009

sábado, 11 de abril de 2009

Transparências... (2)

Mais uma dose de ajustes directos à portuguesa… 5-02-2009; Adjudicante – Direcção-Geral de Infra-Estruturas e Equipamentos; Adjudicado – Companhia Portuguesa de Computadores, Informática e Sistemas SA; Objecto – Renovação do licenciamento de software Microsoft; Montante – 9 986 794,93 euros. Quase dois milhões de contos em software? E o índio sou eu?... 27-11-2008; Adjudicante – Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação; Adjudicado – Apoio XXI, Lda; Objecto – Tradução de documento técnico e tradução consecutiva em acções de formação do Magalhães; Montante – 25 300 euros. Sendo o Magalhães um computador português (Sócrates dixit) esta tradução foi para a língua falada pela Margarida Moreira? 18-12-2008; Adjudicante – Câmara Municipal de Amarante; Adjudicado – Figueras Portugal; Objecto – 126 cadeiras; Montante – 61 903,80 euros. 18-12-2008; Adjudicante – Câmara Municipal de Amarante; Adjudicado – Figueras Portugal; Objecto – 126 cadeiras; Montante – 61 903,80 euros. Não. Não creio que seja engano. Quando os tipos da Câmara de Amarante se aperceberam que as cadeiras custavam a módica quantia de 491 euros e 30 cêntimos cada, correram a comprar mais 126, não fosse a promoção acabar. 31-10-2008; Adjudicante – Águas do Douro e Paiva; Adjudicado – Sumo Publicidade Lda; Objecto – Campanha de sensibilização para o consumo humano de água da torneira; Montante – 199 900 euros. Curioso como uma empresa chamada “Sumo” pode lucrar quando alguém mete água.
Uma empresa pública gasta 40 mil contos em publicidade a água da torneira, não tardará outra, a esbanjar em campanhas de gestão sustentada de recursos hídricos. Pagar-se-á alguma coisa para mandar estes tipos dar banho ao cão?
E já que se fala em publicidade, na paixão do menino Manuel Pinho, o “Allgarve”, só o “Turismo de Portugal IP” gastou em menos de um mês 375 300€, de um total de mais de 4 milhões 250 mil euros, gastos, em pouco mais de seis meses, por aquele instituto público, em ajustes directos.
Apache, Abril de 2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Transparências...

Agora, a moda é bisbilhotar o ‘site’ “Transparência na Administração Pública”, local onde se enumeram todos os ajustes directos dos organismos do Estado. Entre tantas transparências, como é habitual, há sempre uma ou outra, interessante… 11-12-2008; Adjudicante – Estado Maior do Exército; Adjudicado – Lovinil Lda; Objecto – Reparações Gerais na cozinha do Hospital Militar Principal; Montante – 149 790 euros. Depois de concluída uma obra de 30 mil contos, na cozinha, espero que a sopinha do rancho melhore consideravelmente. 30-12-2008; Adjudicante – Câmara Municipal de Vila do Bispo; Adjudicado – Augusto Sobral Cid; Objecto – Execução de uma obra escultórica alusiva ao Infante Dom Henrique; Montante – 121 800 euros. 31-12-2008; Adjudicante – Câmara Municipal de Vila do Bispo; Adjudicado – Augusto Sobral Cid; Objecto – Execução de uma obra escultórica alusiva ao Infante Dom Henrique; Montante – 121 800 euros. O Infante Dom Henrique tinha um irmão gémeo? 26-01-2009; Adjudicante – Câmara Municipal da Amadora; Adjudicado – Engitetra, Construções Lda; Objecto – Construção da sede da Associação dos Amigos da Damaia; Montante – 119 767, 39 euros. 09-03-2009; Adjudicante – Câmara Municipal da Amadora; Adjudicado – Engitetra, Construções Lda; Objecto – Construção da sede da Associação dos Amigos da Damaia; Montante – 119 767, 39 euros. Gosto de saber que a Damaia tem tantos amigos. A ideia destas associações deve ter sido dos (sacanas) dos Infantes… 27-11-008; Adjudicante – Secretaria Regional do Plano e Finanças (Madeira); Adjudicado – Christie Manson e Woods Ltd; Objecto – Arrematação da obra de arte “The Honourable East India Company´s ship Dunira passing Funchal Bay on the Island of Madeira” da autoria do pintor inglês Thomas ButtersWorth datado de 1830; Montante – 80 584, 77 euros. 19-02-209; Adjudicante – Direcção Geral das Artes; Adjudicado – Associação Zé dos Bois; Objecto – Produção da obra a apresentar na inauguração da 53ª Bienal de Veneza; Montante – 80 000 euros. Hum… Estou com os tipos das finanças, por mais quinhentos e tal euros prefiro o pintor inglês do século XIX, por um lado, a obra do tipo tem um título que, só por si, vale a diferença e, por outro lado, “Zé dos Bois”… não sei… P.S. Quando for grande quero ir trabalhar para a “Vortal – Comércio Electrónico, Consultadoria e Multimédia SA”, empresa que em 7 meses vendeu ao Estado plataformas electrónicas de contratação para o sector público, no valor de mais de um milhão de euros.
(continua...)
Apache, Abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

"Obamanias"

O recentemente eleito, presidente norte-americano, Barack Obama, deslocou-se a Londres, na passada terça-feira, para participar na reunião do G20 (o grupo dos vinte países mais industrializados do mundo). Com Obama viajaram mais de 700 elementos do seu ‘staff’ (entre as quais se contavam mais de 200 guarda-costas, vários médicos, enfermeiros e cozinheiros), o “Air Force One” (o Boeing 747-200B presidencial que o conduziu desde os E.U.A ao aeroporto londrino de Stansted), dez helicópteros que escoltaram o “Marine One” (num total de 11 Sikorsky VH-3D, um dos quais transportou o presidente entre o aeroporto e o centro da cidade) e a limusine presidencial, “A Besta” [a maioria dos homens faz questão que o seu automóvel se identifique consigo] que o levou ao local da reunião. Tantas promessa de mudança, mas em termos de taras, nada de novo na Casa Branca.
Apache, Abril de 2009

quarta-feira, 11 de março de 2009

A crise a que a crise chegou (3)

No passado dia 30 de Janeiro, a Chevron anunciou que os lucros de 2008 foram 28% mais elevados que em 2007, ascendendo a 23,93 mil milhões de dólares. No mesmo dia a holandesa Shell, no balanço de 2008, apresentava lucros de 31,37 mil milhões de dólares, a que corresponde um aumento de 14% face ao ano transacto. Ainda nesse dia, a Exxon Mobil apresentava também o seu relatório e contas, referente a 2008, declarando que batera o seu próprio recorde de empresa mais lucrativa do mundo, com ganhos líquidos de 45,22 mil milhões de dólares (11,4% acima de 2007). A 3 de Fevereiro coube à BP apresentar as contas de 2008. Do relatório anual destacam-se dois factos: o primeiro, o aumento de 39% nos lucros, que ascenderam a 25,59 mil milhões de dólares; o segundo, o despedimento (em 2008) de 3 mil trabalhadores, que justificam com a crise económica global, prevendo que em 2009 sejam obrigados a despedir (pelo menos) mais 5 mil funcionários. Em conjunto, estas 4 empresas lucraram, à taxa de hoje, 98,63 mil milhões de euros. A crise segue dentro de momentos, numa televisão perto de si.
Apache, Março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

A crise a que a crise chegou (2)

Porque o prometido é devido, aqui ficam os nomes de duas empresas afectadas pela crise petrolífera, económica, ambiental, internacional, etc. e tal... Foram quebras colossais nos preços do petróleo, investimentos hercúleos em energias renováveis para salvação do planeta e muitas mais tormentas. Não fosse a excelência dos seus gestores e hoje lamentaríamos os resultados. No entanto, há por aí umas más-línguas a dizer que estes lucros se devem à monopolização do mercado, à especulação de preços, aos subsídios do governo, etc. Ok, o preço do petróleo, em euros, atingiu mínimos históricos e os combustíveis em Portugal (na sua quase totalidade produzidos nas refinarias da Galp) permanecem dos mais altos da Europa mas é para as pessoas dosearem o consumo reduzindo as emissões de dióxido de carbono. Sim, a EDP pagou 18,9% de IRS em vez dos 25% do comum mortal, mas foi um incentivo ao investimento em energias alternativas. Pois, é verdade que eles cobraram a electricidade 16,4% acima da média europeia e o gás 41,2% acima, mas reafirmo que há que pensar na salvação do planeta e desincentivar o consumo excessivo. Claro que o número de trabalhadores foi reduzido, dos 13 097 (em 2007) passou-se para 12 245 (em 2008), mas isso deveu-se ao facto de se ter optado por dar a estes trabalhadores a possibilidade de procurarem um emprego mais bem remunerado noutra empresa, que os gestores da EDP querem o melhor para os seus funcionários. Deixemo-nos de maledicências e orgulhemo-nos então, destas duas empresas do sector energético que tanto nos honram com estes lucros (conjuntos) simpáticos, de quase 3 mil euros por minuto.
Apache, Março de 2009

sábado, 7 de março de 2009

A crise a que a crise chegou

A crise parece ser como o Sol, quando nasce é para todos, mas só alguns apanham escaldões. A tabela abaixo mostra os lucros (no ano transacto) dos cinco maiores bancos portugueses. À excepção do Santander Totta, cujos lucros aumentaram ligeiramente (1,5%) face a 2007, todos os outros viram os seus ganhos cair significativamente comparativamente ao ano anterior. No seu conjunto, as quedas ascendem a 40%. Contudo, não vale a pena ficarem com esse ar sisudo e triste, amanhã coloco aqui os nomes de duas empresas portuguesas (ou quase) que conseguiram resultados melhores que no ano anterior. Quanto à banca, não se preocupem muito, pois pode, se necessitar, socorrer-se das garantias do estado para superar estas dificuldades, evidenciadas pelos lucros miserabilistas destas cinco instituições de crédito, que em 2008 não foram além dos cinquenta e quatro euros e oitenta e sete cêntimos… por segundo!

Apache, Março de 2009