“A empresa Emaudio, dirigida na sombra pelo
Presidente Soares, arrancou pouco após a sua eleição e, segundo Rui Mateus em
Contos Proibidos, contava «com muitas dezenas de milhar de contos “oferecidos”
por Robert Maxwell (…), consideráveis verbas oriundas do “ex-MASP” e uma
importante contribuição de uma empresa próxima de Almeida Santos».
Ao nomear governador de Macau um homem da Emaudio,
Carlos Melancia, Soares permite juntar no território Administração Pública e
negócios privados.
Acena-se a Maxwell a entrega da estação pública de
TV local, com a promessa de fabulosas receitas publicitárias. Mas, face a
dificuldades técnicas, o inglês, tido por Mateus como «um dos grandes
vigaristas internacionais», recua.
O esquema vem a público, e Soares acusa os gestores
da Emaudio de lhe causarem perda de popularidade, anuncia-lhes alterações ao
projecto e exige a Mateus as acções de que é depositário e permitem controlar a
empresa.
O testa-de-ferro, fiel soarista, será cilindrado –
tal como há semanas sucedeu, noutro contexto, a Manuel Alegre.
Mas antes resiste, recusando devolver as acções e
emperrando a reformulação do negócio. E, quando uma empresa alemã reclama por
não ter contrapartida dos 250 mil euros pagos para obter um contrato na
construção do novo aeroporto de Macau, Mateus propõe o envio de um fax a
Melancia exigindo a devolução da verba.
O Governador cala-se. Almeida Santos leva a mensagem
a Soares, que também se cala.
Então, Mateus dá o documento a O Independente, daqui
nascendo o «escândalo do fax de Macau».
Em plena visita de Estado a Marrocos, ao saber que o
Ministério Público está a revistar a sede da Emaudio, o Presidente envia de
urgência a Lisboa Almeida Santos (membro da sua comitiva) para minimizar os
estragos. Mas o processo é inevitável.
Se Melancia acaba absolvido, Mateus e colegas são
condenados como corruptores.
Uma das revelações mais curiosas do seu livro é que
o suborno (sob o eufemismo de «dádiva política») não se destinou de facto a
Melancia, mas «à Emaudio ou a quem o Presidente da República decidisse». Quem,
afinal, deveria ser réu?”
(continua…)