quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Abandono escolar

Apache, Outubro de 2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

“A escola pública e o fordismo” - Luís Filipe Turgal

“A nova escola pública é hoje uma empresa gerida por muitos tecnocratas alinhados com a actual ordem política e equipada por operários que se desejam amanuenses servis e catequizados na alegada única ideologia vigente. A escola pública morreu, enquanto espaço democrático multifacetado (e idealista) de instrução científica e artística e de formação cívica - já o proclamei aqui algumas vezes. Foi abruptamente estilhaçada pelo maremoto das desconexas e demagógicas ordenações socratistas de 2008: novo estatuto do aluno, nova lei sobre o ensino especial, novo regulamento de avaliação de desempenho docente e novo modelo de gestão escolar. Foi desacreditada pela propaganda do Ministério e da ministra que a tutelam e caiu em desgraça junto da opinião pública. Foi tomada por demasiados candidatos a futuros directores escolares embevecidos pelos decálogos de José Sócrates e inebriados pelas cartilhas sobre as dinâmicas de gestão empresarial no mundo neoliberal - afinal, as mesmas cartilhas que agora puseram o mundo à beira do caos. Foi pervertida pela imposição, por parte do Ministério da Educação, de um sistema burocrático kafkiano que visa obrigar os professores a fabricarem um sucesso educativo ilusório. Foi adulterada por alguns professores pragmáticos ou desprovidos de consciência crítica, os quais exibem a sua diligente e refinada burocracia como arma de arremesso para camuflar as suas limitações científicas, pedagógicas e culturais. E, neste momento, quando estão a constituir-se nas escolas os conselhos gerais transitórios, está a ser vítima de um já previsível mas intolerável processo de politização (no sentido mais pejorativo da palavra). Tal processo é dirigido por forças que em muitos casos se mantiveram durante anos alheados dos grandes problemas das escolas, mas que na actual conjuntura encaram estas instituições (outrora) educativas como tribunas privilegiadas para servirem maquiavélicos interesses de poder pessoal e/ou de carácter político-partidário. A nova escola pública que está a emergir é uma farsa. Tornou-se um território deveras movediço, onde reina uma desmedida conflitualidade (e competitividade) social e política e uma grotesca e insuperável contradição entre os conceitos de “escola inclusiva” e de “pedagogia diferenciada”. Nesta instituição naufragaram, entretanto, num conspurcado lamaçal, os nobres ideais instrutivos e formativos. O prodigioso computador portátil “Magalhães”, ofertado em grande escala, numa operação de marketing à americana, a alunos do 1.º ciclo que cada vez sabem menos de Português ou Matemática e utilizam os computadores somente para simples divertimento, é, de resto, o mais recente exemplo do sentido irreal e burlesco das prioridades deste sistema educativo. A nova escola pública é hoje uma empresa gerida por muitos tecnocratas alinhados com a actual ordem política, e equipada por operários que se desejam amanuenses servis e catequizados na alegada única ideologia vigente (a qual - agora já todos o sabemos - se encontra manifestamente em crise de final de ciclo). A verdadeira função desta espécie de mal engendrada e desalmada linha de montagem é produzir, automaticamente, em massa, de forma acelerada, e a baixos custos, duvidosos produtos estandardizados. Esta nova escola é, afinal, um hino ao velho fordismo. O tal sistema aplicado por Henry Ford em 1908 que venerou o dinheiro como deus supremo do Homo sapiens sapiens e que projectou um mundo sublime, onde o Homem é castrado da sua capacidade cognitiva e coagido a demitir-se das suas quotidianas obrigações familiares bem como de outros cívicos desígnios sociais em nome do lucro desenfreado (de uns poucos), da sobrevivência, do consumismo e do hedonismo desregrados. Aquele sistema perfeito superiormente ironizado por Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) ou por Charlie Chaplin (Tempos Modernos), nos anos 30 do século XX, que está agora no epicentro de mais um superlativo “tsunami” económico e financeiro de consequências imprevisíveis para a humanidade; “tsunami” esse cujas causas são reincidentes e estão bem diagnosticadas. Enfim, aquele implacável sistema materialista mecanicista e “darwinista”, que hoje transcende o sector secundário para atingir muitos serviços do sector terciário, e cujo modo de vida o escritor americano de ascendência portuguesa John dos Passos também satirizou, numa obra datada dos mesmos anos 30 (O Grande Capital), com estas antológicas palavras: “quinze minutos para almoçar, três para ir à casa de banho; por toda a parte a aceleração taylorizada: baixar, ajustar o berbequim, acertar a porca, apertar o parafuso. Baixar-ajustar o berbequim-acertar a porca-apertar o parafuso, até que a última parcela de vida tenha sido aspirada pela produção e que os operários voltem à noite a casa, trémulos, lívidos e completamente extenuados.”
Luís Filipe Turgal – Professor do Ensino Superior

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

"Como é possível a generalização da loucura?" - Santana Castilho

"Ao memorando de entendimento entre a plataforma sindical e o Ministério da Educação, assinado a 17 de Abril de 2008, sucedeu uma atmosfera beligerante latente e um clima de apaziguamento pelo terror. Entrou-se numa espécie de guerra fria, que tem garantido a paz entre ministério e sindicatos pelo preço da escravidão endémica dos professores. Ora equilíbrios conseguidos sobre desequilíbrios, ou entendimentos momentâneos sobre desentendimentos de toda a vida são coisas de engenharia social doentia, que só podem produzir desastre. A face visível desse desastre é o actual êxodo dos professores mais experientes. A invisível, ainda mais grave e comprometedora do futuro do país, é a imbecilização crescente dos alunos, sujeitos a lógicas de sucesso sem conhecimento e anestesiados por Magalhães a pataco. Em 2007 reformaram-se cerca de 3300 professores. Este ano já vamos em mais de 5000 e o ritmo parece estar a acelerar. É só ver as longas listas do Diário da República. Os testemunhos, chapados na imprensa, de docentes que aceitam penalizações gravosas de 30 e 40 por cento sobre pensões de reforma para toda a vida, ao mesmo tempo que reiteram o amor a uma profissão que, garantem, abraçaram por vocação e só abandonam por coacção, transformam um processo de reforma num processo de excomunhão. Um país maduro estaria hoje a reflectir aturadamente sobre o que Fernando Savater escreveu: “A primeira credencial requerida para se poder ensinar, formal ou informalmente e em qualquer tipo de sociedade, é ter-se vivido: a veterania é sempre uma graduação.” A vida dos professores nas escolas tem-se vindo a transformar num inferno. A missão dos professores, que é promover o saber e o bem colectivo, está hoje drasticamente prejudicada por uma burocracia louca e improdutiva, que os afoga em papéis e reuniões e os deixa sem tempo para ensinar. A carga e a natureza do trabalho a que se obrigam os professores são uma violentação e um retrocesso a tempos e a processos que a simples sensatez reprova liminarmente. Ocorre, então, a pergunta: como é possível a generalização da loucura? A resposta radica no uso do modelo publicitário (cortejo ridículo de 23 governantes para entregar o Magalhães e 35 páginas de publicidade paga e redigida sob forma de artigos são exemplos bem recentes) e das técnicas populistas. O Governo tem conduzido a sua campanha de subjugação dos professores repetindo até à exaustão os mesmos paradigmas falsos e os mesmos slogans facilmente memorizáveis pelos justiceiros dos “privilégios” dos docentes. As ideias (a escola a tempo inteiro, por exemplo) são tão elementares como as que promovem os produtos de uso generalizado (o Tide lava mais branco). Mas tal como os consumidores se tornam fiéis ao produto cujo slogan melhor memorizam, embora sabendo que a concorrência faz exactamente o mesmo, assim se têm cativado apoiantes com a solução de problemas imediatos, que nada têm a ver com o ensino. E a dissolução sociológica dos professores pela via populista tem procurado ainda, com êxito, identificar e premiar uma nova vaga de servidores menores - tiranetes deslumbrados ou adesivos - que responderam ao apelo e massacram agora os colegas, inflados com os pequenos poderes que o novo modelo de gestão das escolas lhes proporciona. A experiência mostrou-me que o problema do ensino é demasiado sério e vital para o abandonarmos ao livre arbítrio dos políticos. "Bolonha", a que este Governo aderiu, ou a flexibilização das formações, que este Governo promoveu através do escândalo das "novas oportunidades", não se afastam, nos objectivos, dos tempos da submissão ao evangelho marxista, ou seja, os interesses das crianças e dos jovens cedem ante a ideologia dominante e o resto só conta na medida em que seja eleitoralmente gratificante. Assim, contra a instauração de um regime de burocracia e terror, para salvaguardar a sanidade mental e intelectual dos professores, encaro o protesto e a resistência como um exercício a que ninguém tem actualmente o direito de se furtar."
Santana Castilho – Professor do Ensino Superior

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

"A banca nacionalizou o governo" - Ricardo Araújo Pereira

"Quando, no passado domingo, o Ministério das Finanças anunciou que o Governo vai prestar uma garantia de 20 mil milhões de euros aos bancos até ao fim do ano, respirei de alívio. Em tempos de gravíssima crise mundial, devemos ajudar quem mais precisa. E se há alguém que precisa de ajuda são os banqueiros. De acordo com notícias de Agosto deste ano, Portugal foi o país da Zona Euro em que as margens de lucro dos bancos mais aumentaram desde o início da crise. Segundo notícias de Agosto de 2007, os lucros dos quatro maiores bancos privados atingiram 1,137 mil milhões de euros, só no primeiro semestre desse ano, o que representava um aumento de 23% relativamente aos lucros dos mesmos bancos em igual período do ano anterior. Como é que esta gente estava a conseguir fazer face à crise sem a ajuda do Estado é, para mim, um mistério. A partir de agora, porém, o Governo disponibiliza aos bancos dinheiro dos nossos impostos. Significa isto que eu, como contribuinte, sou fiador do banco que é meu credor. Financio o banco que me financia a mim. Não sei se o leitor está a conseguir captar toda a profundidade deste raciocínio. Eu consegui, mas tive de pensar muito e fiquei com dor de cabeça. Ou muito me engano ou o que se passa é o seguinte: os contribuintes emprestam o seu dinheiro aos bancos sem cobrar nada, e depois os bancos emprestam o mesmo dinheiro aos contribuintes, mas cobrando simpáticas taxas de juro. A troco de apenas algum dinheiro, os bancos emprestam-nos o nosso próprio dinheiro para que possamos fazer com ele o que quisermos. A nobreza desta atitude dos bancos deve ser sublinhada. Tendo em conta que, depois de anos de lucros colossais, a banca precisa de ajuda, há quem receie que os bancos voltem a não saber gerir este dinheiro garantido pelo Estado. Mas eu sei que as instituições bancárias aprenderam a sua lição e vão aplicar ajuizadamente a ajuda do Governo. Tenho a certeza de que os bancos vão usar pelo menos parte desse dinheiro para devolver aos clientes aqueles arredondamentos que foram fazendo indevidamente no crédito à habitação, por exemplo, e que ascendem a vários milhares de euros no final de cada empréstimo. Essa será, sem dúvida nenhuma, uma prioridade. Vivemos tempos difíceis, e julgo que todos, sem excepção, temos de dar as mãos. Por mim, dou as mãos aos bancos. Assim que eles tirarem as mãos do meu bolso, dou mesmo."
Ricardo Araújo Pereira

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

“Visão” turva

Maria de Lurdes Rodrigues deu mais uma entrevista como só ela é capaz. Desta vez foi a revista Visão que se encarregou da difusão das baboseiras. É impossível deixar sem resposta algumas das pérolas do “discurso” da senhorita.
"A escola (…) é para as pessoas se qualificarem."
Que credenciais apresenta a senhora para estar à frente do Ministério da Educação, se nem entende para que serve a escola? A escola não existe para passar certificados, senhora Ministra. A escola existe para ensinar. Talvez a palavra lhe não agrade. Compreende-se, o governo a que pertence está pejado de gente inculta que despreza o saber, ou pior, que detesta quem denota algum conhecimento. Mas como socióloga tinha a obrigação de saber que as sociedades do tipo ocidental foram construídas tendo por base o dito conhecimento. O objectivo da escola é a transmissão de conhecimentos, a certificação é uma consequência da aquisição destes e não um fim em si mesmo.
Instada a comentar a elevada carga horária dos alunos, pergunta ao jornalista: " Mas o que é que retirava? Retira o Inglês ou as línguas estrangeiras? A Matemática? O Português?"
Que esperteza saloia, senhora Ministra… É a senhora que exerce o cargo de Ministra da Educação e não o jornalista. Mas se quer sugestões para a melhoria da qualidade do ensino, porque não pergunta a quem está diariamente no terreno, os professores? Não pergunta porque sabe perfeitamente a resposta. Deram-lha inúmeras vezes nas reuniões que efectuou com os presidentes dos conselhos executivos. Sabe perfeitamente que as ACND's (Formação Cívica, Área de Projecto e Estudo Acompanhado) não acrescentam nada de significativo aos conhecimentos que as (outras) disciplinas transmitem. Sabe perfeitamente que o conteúdo das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) cabe facilmente noutra qualquer disciplina. Sabe perfeitamente que a Educação Visual, a Educação Tecnológica e a Oferta de Escola (na área artistica), podem ser transformadas numa única disciplina de Expressão Artística. E por saber que assim é, é que o não faz. É que a escola que preconiza é a escola dos meninos entretidos de manhã à noite, com muitos “debates” e “pesquisas” e, “negociações” de regras de comportamento e, “direito ao sucesso” (a triste expressão da senhora DREN que num país governado por gente íntegra dava direito a exoneração).
"Não é dramático que os alunos não tenham música ou desporto na escola".
É uma boa desculpa para o facto de haver em Portugal várias escolas, construídas há mais de 20 anos, que continuam a aguardar a construção de um pavilhão desportivo. Gosta tanto dos exemplos estrangeiros quando eles lhes convêm, que a desafio a apontar um país evoluído da União Europeia, que não releve a educação para o desporto. E vem depois, a senhora e outros que tais, mostrar-se preocupada com a obesidade infantil, fingindo que, por exemplo, a “ideia genial” das aulas de substituição foi obra de outro idiota qualquer.
"No passado era uma escola pública reduzida a mínimos absolutamente intoleráveis, uma escola que funcionava das nove à uma".
Esqueceu-se de dizer que as únicas escolas que funcionavam num horário “tão reduzido” eram as do 1º Ciclo (antigas escolas primárias) cujos alunos têm idades compreendidas (na generalidade) entre os 6 e os 10 anos. Lanço-lhe o mesmo desafio que acima: aponte países desenvolvidos onde crianças desta idade permaneçam mais tempo na escola. É que a senhora quer retirar às crianças o tempo para brincar porque a escola que defende é, na generalidade, uma brincadeira; quer retirar o tempo para as crianças estarem com os progenitores para que alguns patrões sem escrúpulos elaborem horários de trabalho incompatíveis com a vida familiar. A sociedade que idealiza é a dos senhores e dos escravos. A escola que preconiza é a da estupidificação, através de alunos que repetem o que ouvem sem qualquer capacidade de raciocínio e de crítica fundamentada.
"Felizmente, temos muitos professores que aceitam, querem e consideram que estas são formas de valorizar a escola."
A senhora socióloga, cuja missão no Ministério da Educação parece ser a da produção de estatísticas que deturpem a realidade, deveria apresentar números que concretizem o significado de “muitos professores”. É que por mais incompetente que se seja, ocupando um cargo de topo numa qualquer organização, há sempre gentinha disposta a lamber-nos as botas, ainda que a imundice as cubra. Só por incapacidade psíquica ou por pura malvadez é que a senhora não admite que, as políticas execráveis que a sua equipa tem implementado (ou mantido), constituem o mais sério problema que a escola pública portuguesa enfrenta.
Apache, Outubro de 2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

OE para 2009 altera o decreto da avaliação de professores

Calma, não comecem já a rir, até porque lido todo o texto podem, eventualmente, não achar graça nenhuma.
De facto e, por mais idiota que isto vos pudesse parecer, a proposta de Orçamento do Estado para 2009, elaborada pelo Ministro das Finanças, pretende alterar o Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro, que estabelece as normas da avaliação docente.
No artigo 138º da proposta de orçamento pode ler-se:
“Alteração do Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro
1 - O artigo 12º do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, passa a ter a seguinte redacção:
«Artigo 12º
1 - [...].
2 - [...].
3 - [...].
4 - [...].
5 - [...].
6 - Às delegações previstas nos nºs 2 e 4 não se aplica o disposto no nº 2 do artigo 37º do Código do Procedimento Administrativo, sem prejuízo da possibilidade da sua afixação em local apropriado que possibilite a sua consulta pelos interessados.»
2 - A alteração prevista no número anterior produz efeitos desde a data de entrada em vigor do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, aplicando-se aos actos praticados desde essa data.”
Para quem não está a par da “trapalhada” que o OE pretende abafar, a questão era esta:
O Código do Procedimento Administrativo (CPA) obriga (através do nº 2 do artigo 37º) a que na administração central, a delegação de poderes, seja publicada em Diário da República (DR). Acontece que, na generalidade das escolas (e agrupamentos), a delegação de poderes dos 4 professores avaliadores (6, no caso dos agrupamentos verticais) noutros professores titulares, se fez apenas por redacção da mesma, em acta do Conselho Pedagógico.
Lurdes Rodrigues, atrapalhada com o atropelo legal deve ter pedido ajuda e, Teixeira dos Santos, qual Dom Quixote do século XXI (ao que tudo indica, não menos alucinado que o original) sai em defesa da sua volumosa, desculpem, queria dizer afectuosa, Dulcineia, criando esta excepção. Neste caso e, apenas neste caso, não se aplica o CPA, que isso dava muito trabalho, enchia páginas e páginas do DR e atrasava essa causa suprema que é a avaliação dos malandros, perdão, dos professores.
Mas D. Quixote, perdão de novo, o senhor ministro, inebriado pela avareza, digo, pela beleza, da sua Dulcineia perde a noção do tempo e, já perto do final do seu (e infelizmente nosso) orçamento dispara este artigo 153º:
“Entrada em vigor
A presente lei entra em vigor no dia 1 de Janeiro de 2009.”
Ora bem, saindo do mundo virtual dos Quixotes e Dulcineias do nosso governo, vamos aos factos…
1- Com esta proposta orçamental, o governo reconhece que neste momento, além do Presidente do Conselho Executivo, há apenas 4 avaliadores nas escolas (6 no caso dos agrupamentos verticais), pois os outros encontram-se numa situação ilegal, uma vez que as competências que lhes foram delegadas carecem de publicação em DR. É que a Lei, que terá efeitos retroactivos a Janeiro de 2008, só entra em vigor a 1 de Janeiro de 2009, portanto só a partir dessa data poderá ter retroactividade (partindo do pressuposto que juridicamente a retroactividade é possível nestes casos).
2- No meu modesto entendimento, este artigo 138º do OE é uma verdadeira pérola legislativa, repare-se na Constituição da República Portuguesa (CRP):
- No número 2 do artigo 56º: “Constituem direitos das associações sindicais: a) participar na elaboração da legislação do trabalho”;
- No número 1 do artigo 105º: “O Orçamento do Estado contém: a) a discriminação das receitas e despesas do Estado, incluindo as dos fundos e serviços autónomos; b) o orçamento da segurança social”.
Ora, no primeiro caso, não me parece que os sindicatos tenham sido ouvidos sobre esta alteração ao Decreto Regulamentar nº 2 de 2208, até porque o acordo de entendimento assinado entre o Ministério da Educação e a Plataforma de Sindicatos não prevê nenhuma alteração legislativa relacionada com a avaliação docente, neste ano lectivo. No segundo caso, talvez fosse melhor, o governo, rápida e disfarçadamente, acrescentar uma alínea c) ao artigo 105º da CRP, para que o OE possa conter alterações a todos os diplomas legais que estejam a criar embaraços a qualquer ministro e, se não for pedir muito, talvez uma alínea d) com uma ou duas receitas de arroz-doce.
Apache, Outubro de 2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Reguladores…

A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) propôs um aumento médio de 4,9% no preço da electricidade, para o próximo ano (2009). Ora, considerando a situação financeira complicada (para não dizer aflitiva) por que passam muitas famílias e também pequenas e médias empresas e, considerando que só no primeiro semestre deste ano, a EDP apresentou lucros de 703 milhões de euros (44 € e 70 cêntimos, por segundo), julgo ser pertinente a pergunta: Será que na ERSE regulam bem?
Apache, Outubro de 2008

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Novidades (ou não…) do “buraco do ozono”

[Gráfico da NASA – No eixo vertical temos a área onde a concentração de ozono é menor que 220 unidades Dobson e no eixo horizontal os meses do ano. A cinzento estão representadas as variações entre os anos de 1990 e 2001. A azul, o ano de 2003. A vermelho, o ano de 2007. Os pontos pretos correspondem a 2008 (ainda sem regressão linear)]

No início dos nos 80 com a colocação em órbita de vários satélites meteorológicos surgiram as primeiras imagens da menor concentração de ozono na estratosfera, junto ao Pólo Sul terrestre, fenómeno que ocorria entre os meses de Agosto e Dezembro. Rapidamente surgiram (alguns) ecologistas a atribuírem as culpas ao Homem, mais exactamente às suas emissões de Clorofluorcarbonetos (CFC’s), família de gases usados essencialmente em refrigeração e em aerossóis. Em 1987 foi assinado por quase todos os países, o Protocolo de Montreal que gradualmente reduziu as emissões destes gases. Quanto ao “buraco do ozono”, 21 anos após o protocolo, está na mesma, obviamente! São tramadas as estações do ano...

Apache, Outubro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Prémio de desempenho…

A AIG (American International Group), a maior seguradora do mundo, estava (ou fingiu que estava) à beira da falência. O governo norte-americano decidiu intervir e injectou na companhia a módica quantia de 85 mil milhões de dólares (62,6 mil milhões de euros, quase 36% do PIB português). Consumado o “empréstimo”, os executivos da AIG resolveram tirar uma semana de férias num dos mais caros empreendimento turísticos dos Estados Unidos, o St. Regis em Monarch Beach, na Califórnia, onde “torraram” 440 mil dólares (mais de 324 mil euros, 65 mil contos na antiga moeda). Só pode ter sido prémio de desempenho pela excelência da gestão.
Apache, Outubro de 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

Políticos, correctos mas charlatães

"Por uma variedade de razões, culturais, organizacionais e políticas, o progresso em ciência climática e a actual solução para os problemas científicos nesse campo estão a evoluir a um ritmo mais lento que aquele que seria possível. Nenhum destes factores é exclusivo da ciência climática mas a pesada influência dos políticos serviu para os ampliar e lhes juntar um rol de outros, tais como, a mudança de paradigma científico de uma dualidade entre teoria e observação, para uma enfatização da simulação em desfavor da observação. (…) Os políticos actuais controlam as instituições científicas de tal forma que obrigam os cientistas a alterar teorias e dados de observação de forma a acomodar posições politicamente correctas, excluindo qualquer crítica a essas posições."
Richard Lindzen, Doutorado em Física Atmosférica pela Universidade de Harvard é professor de Meteorologia do M.I.T [Tradução minha]

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

BCE baixou os juros! Os juros subiram! Porreiro, pá…

O Banco Central Europeu baixou ontem a taxa de juro de referência em meio ponto percentual, para os 3, 75%. Nos Estados Unidos, a Reserva Federal baixou também a taxa de juro de referência para 1,75%. O banco central inglês seguiu o mesmo caminho e baixou a taxa de referência no Reino Unido para os 4,5%. Apesar disso, os portugueses que contraíram empréstimos indexados à Euribor (onde se incluem a maioria dos créditos habitação) não vão ver as suas mensalidades reduzidas. A Euribor subiu a taxa de juro dos empréstimos a todos os prazos, excepto os efectuados a 11 meses e a um ano.

Porreiro, pá...

Apache, Outubro de 2008

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A isto chama-se “crise” ou roubo?

O preço médio do barril de petróleo em 2002 era de 66,61 €. Nesse ano, o preço médio do litro de gasolina 95 foi de 0,91 € e, o do gasóleo rodoviário de 0,67 €. Hoje, o petróleo cotava-se às 20:30 (hora de Lisboa) a 64,56 € (88,02 dólares) e nos postos da Galp, o litro da gasolina sem chumbo 95 custava 1,42 €, enquanto um litro de gasóleo se vendia a 1,29 €.
Apache, Outubro de 2008

sábado, 4 de outubro de 2008

A democracia (musculada) americana… Bush o herói dos democratas

O congresso americano aprovou ontem a versão reformulada do Plano Paulson de injecção de 700 mil milhões de dólares na economia, a maioria dos quais será gasta na aquisição por parte do Departamento do Tesouro, de “activos tóxicos” detidos por instituições financeiras em alegada situação económica difícil. O plano proposto pela administração Bush dividiu o partido republicano que votou o “Não” por escassa vantagem (108-91), porém insuficiente para deter a esmagadora maioria democrata no “Sim” (172-63). E eu que julgava que os democratas detestavam o Bush… Tentando explicar o inexplicável voto favorável ao plano, o congressista democrata Brad Sherman saiu em defesa da honra de alguns colegas de partido, afirmando que vários congressistas que haviam votado “Não” na passada segunda-feira (à primeira versão do plano) foram ameaçados de que caso a proposta voltasse a não ser aprovada, seria imposta a Lei Marcial. Aqui ficam as palavras de Brad Sherman…
Apache, Outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

"O Magalhães, o porco e o Sócrates (o outro)" - Santana Castilho

"Fornecer tecnologia sem cuidar da literacia que a permite utilizar é drasticamente pobre. Sobre o Magalhães (refiro-me ao computador português feito no estrangeiro) já se escreveram muitos e interessantes comentários, uns a favor e outros contra. Tudo visto, parece-me que resta uma generalizada (mas para mim preocupante) aceitação da medida. Ouviram-se escolas e professores sobre a iniciativa? Não, porque por elas pensa a ministra, para quem o Magalhães constitui «o instrumento principal da democratização do ensino»; ponderou-se o impacto que a tecnologia tem na melhoria do aproveitamento escolar dos jovens, analisando estudos disponíveis sobre a matéria, que concluíram pela sua irrelevância? Não, porque o coordenador do Plano Tecnológico já disse ao que vai: dois alunos por computador em 2010! Dou de barato não saber que critérios presidiram à escolha deste computador e não de outro, da Intel ou da empresa de Matosinhos, e simplesmente não engulo a fantasia da ausência de custos para o Estado. Mas o que acho verdadeiramente preocupante é a generalizada adesão ao culto duma modernização pacóvia, que tudo resume ao mero mercantilismo (e não utilitarismo, como muitos impropriamente referem o conceito que, enquanto teoria filosófica, é coisa bem diferente). A formação sólida, que constitui a missão da Escola e dos professores, deve assentar numa clara hierarquia de valores: primeiro o conhecimento puro, depois o instrumental. Mas o que se tem feito ultimamente é a secagem das actividades cognitivas, substituindo-as pelas meramente instrumentais. Foi assim que se trocaram clássicos da literatura por textos ditos pragmáticos (simples formulários, notícias jornalísticas ou mensagens publicitárias) e se preferiram as actividades conducentes à aquisição de 'competências' em detrimento das actividades de forte componente cognitiva. Foi assim que se enfraqueceu o ensino da Gramática, da Filosofia e da História e se reforçaram iniciativas híbridas ('área projecto' e 'estudo acompanhado'). Surpreendente? Não, se tivermos em vista que quem decide são tecnocratas deslumbrados pela tecnologia e convencidos que os 'pinchavelhos' são suficientes para educar o povo. Parece-me evidente que há mais gente satisfeita com este bodo de Magalhães a eito que gente insatisfeita e ciente, como eu, de que as crianças do ensino básico não vão aprender melhor a ler e a interpretar o que lerem por causa dos computadores; ou de que não aprenderão mais cedo e melhor a Matemática fundamental por via do Magalhães; ou de que não se iniciarão precocemente na actividade de pensar e perceber o que as rodeia, por via do portátil. E é aí que reside o problema: fornecer tecnologia sem cuidar da literacia que a permite utilizar é drasticamente pobre. O impacto da componente cognitiva do ensino só pode ser comparado com o da sua vertente instrumental por quem conhece as duas e tem do exercício profissional uma autoridade que os tecnocratas desprezam. O tecnocrata é por norma e por formação pouco sólida um fanático da tecnologia, que com ela se satisfaz e nem sequer aprende com a natureza efémera de tantos projectos tecnológicos (lembram-se do ensino assistido por computador, do Minerva, do Nónio, das Cidades Digitais e do endereço electrónico para cada português, entre outros?). Stuart Mill referiu-se assim a esta questão fundamental do pensamento e da natureza humana: «É indiscutível que o ser cujas capacidades de prazer são baixas tem uma maior possibilidade de vê-las inteiramente satisfeitas; e um ser superiormente dotado sentirá sempre que qualquer felicidade que possa procurar é imperfeita. (...) É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um idiota satisfeito. E se o idiota ou o porco têm opinião diferente, é porque apenas conhecem o seu lado da questão. A outra parte da comparação conhece ambos os lados...»"
Santana Castilho - Professor do Ensino Superior

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O adivinho…

A página ‘Ecosfera’ da edição on-line do ‘Público’ cita declarações à ‘Lusa’ de um alegado especialista em ‘alterações climáticas’, Filipe Duarte Santos, que afirma que: “Com o aumento da temperatura média, o que nós chamamos o tempo de Verão vai prolongar-se. Daqui a 50 anos, em vez de dois ou três meses de Verão, vamos ter cinco ou seis.” Não é a primeira vez que o Sr. Professor Filipe Duarte Santos vem à comunicação social debitar alarvidades sobre alterações climáticas, já no passado dia 8 de Junho, em entrevista ao programa ‘Câmara Clara’ da RTP2 o catedrático de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, se deu ao trabalho de repetir as baboseiras de Al Gore sem sequer se dignar corrigir os erros científicos cometidos pelo ‘artista’ americano no seu muito badalado documentário ‘uma verdade inconveniente’. É obvio que para a ciência o importante é discutir a mensagem e não o mensageiro, mas neste caso específico, dado o currículo académico do senhor Santos, quem o ouvir ou ler pode pensar que o que diz tem o mínimo de credibilidade. Daí que se torne importante esclarecer os incautos que o senhor professor de Física: sabe perfeitamente que na base da teoria do aquecimento global provocado pelas emissões humanas de dióxido de carbono está uma definição de efeito de estufa e um balanço energético da Terra que viola as Leis da Termodinâmica; sabe também que a capacidade de retenção de energia por parte do dióxido de carbono é insignificante face à da água, gás dezenas de vezes mais abundante na atmosfera terrestre, como o demonstram os nossos conhecimentos de ligação química. Mas o senhor professor sabe certamente mais… Sabe que da forma pouco credível como são recolhidas e “ajeitadas” as temperaturas, não há prova credível da existência de nenhum aquecimento global. Sabe também que a ciência não faz adivinhação e que prever o clima daqui a 50 anos com base nos modelos climáticos computorizados actuais (de que tanto gosta) é tão credível como a sina lida por uma cigana no Parque Eduardo VII. Ora, um professor (ainda para mais universitário) devia zelar em primeiro lugar pelo bom nome da ciência e só depois se preocupar em rechear a carteira, por isso, alguém deveria aconselhar o senhor professor a: das duas, uma, ou aproveita as dissertações públicas para divulgar ciência, ou deixa os seus múltiplos tachos académicos (que há gente honesta a precisar de trabalhar) e abre um consultório concorrente ao do Professor Karamba.
Apache, Outubro de 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Uma verdade muito inconveniente

“Há um grupo de cientistas que inventam as paranóias mais inacreditáveis, e falam delas com «voz grossa» dando a entender que quem não os acompanha é porque é intelectualmente limitado; e assim, a pouco e pouco, a ciência tem vindo a tornar-se pura ficção, vale-nos a tecnologia que vai empurrando esta nave enquanto a ciência se transforma em circo que entretém o ‘povão’.”
Alf, num comentário no ‘post’ intitulado “Passeios no tempo”, no blogue “Outra Física” (imperdível para quem gosta de astrofísica) de que é autor.
Apache, Setembro de 2008

domingo, 28 de setembro de 2008

A propósito de democracia…

"Os dois maiores obstáculos à implementação da democracia nos Estados Unidos são: primeiro, a ilusão generalizada entre os pobres, de que temos uma, e segundo, o terror crónico entre os ricos de que alguma vez tenhamos uma". [Tradução minha] A frase data do longínquo ano de 1941 e pertence ao editor Edward Dowling mas é de uma actualidade e universalidade, desesperantes.
Apache, Setembro de 2008

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Morrer da cura

“A person went to a doctor who diagnosed a potentially fatal disease.The doctor prescribed a course of treatment that was claimed to halt the disease and restore good health. Unfortunately the treatment was too much for the person, who died a slow and excruciating death. Many years later a post-mortem was carried out on the patient. It was discovered that the disease was non-existent and the person was very healthy. It was the course of treatment that killed him!
(Sound familiar? Just substitute person for economie; doctor for climate scientist; disease for anthropogenic global warming; and treatment for eliminate CO2 emissions.)"
[William Kininmonth, climatologista, ex-colaborador do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas e da Organização Meteorológica Mundial]
Apache, Setembro de 2008

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Magalhães: Velhos do Restelo ou alternativas ao Choque Tecnológico? (2)

(continuação…)
“O Sr. acredita que a incorporação destas tecnologias na educação é um processo irreversível?”
“Não existe nada irreversível nas actividades humanas. Isso depende de nós mesmos. Infelizmente, se a ignorância continuar, a tendência será essa. Será cada vez mais difícil encontrar escolas que não usem computadores na educação. Provavelmente só sobrarão as escolas ‘Waldorf’. No meu artigo contra o projecto ‘Um Laptop por Criança’, eu menciono alguns estudos estatísticos que mostram que, quanto mais as crianças e jovens usam o computador, pior é o seu rendimento escolar. Menciono também um artigo que saiu no jornal ‘The New York Times’ que mostra que cinco escolas nos EUA acabaram com o programa que permitia a cada aluno ter um computador, pois ficou claro que isso prejudica o rendimento escolar, não traz benefícios e o custo é altíssimo. Assim, tenho ainda alguma esperança de que a razão e o bom senso acabem por prevalecer e escolas e pais acabem ou reduzam o uso de computadores por crianças e adolescentes.”
“Muitos educadores defendem o uso dos computadores pelas crianças alegando que as máquinas estão cada vez mais presentes na sociedade e fazem parte do quotidiano dos alunos, além de facilitar o acesso à informação. O que é que o Sr. acha disto?”
“A necessidade de crianças usarem o computador porque ele faz parte da nossa sociedade é uma falácia completa. Nesse caso, as crianças deveriam conduzir um automóvel, logo que os pezinhos conseguissem chegar aos pedais e não deveria haver restrições ao consumo de bebidas alcoólicas pelos jovens pois ambos fazem parte da sociedade. É necessário examinar sempre a questão da maturidade. Como o computador não provoca danos físicos como os automóveis e as bebidas alcoólicas, acha-se que o computador é inócuo. Este é um grande erro, pois o desastre que ele provoca é mental, portanto, de certo modo, muitíssimo pior. Estamos a condenar as crianças a serem adultos antes do tempo, com pensamentos frios e rígidos, por exemplo. Além disso, por é que as crianças devem ter acesso à informação? Como em tudo na educação, há idade adequada para isso. Qualquer psicólogo sabe que a aceleração do desenvolvimento das crianças, seja ela física ou mental, é prejudicial. É um paradoxo que se tentem proteger as crianças contra agressões físicas e psicológicas e não se perceba que os meios electrónicos violam a natureza das crianças e dos jovens, formatando-os nas suas capacidades de pensar, sentir e querer. Há tempo para as crianças entrarem em contacto com o mundo dos adultos. Da mesma forma que não vamos para o altar de fraldas, também chegará o tempo em que o jovem terá maturidade suficiente para enfrentar as atrocidades do mundo. E terá muito mais energia para as enfrentar se a sua infância tiver sido poupada. Assim, o acesso à informação por crianças e adolescentes só deveria acontecer naquilo que é adequado para a sua maturidade. Repito que não é necessário que uma criança use um computador ou a Internet, pelo contrário, eles são prejudiciais; mas se algum pai achar que o seu filho deve usá-los, é absolutamente necessário que fique ao lado da criança para que ela não aceda a informação imprópria para a sua idade e não fique horas sentada em frente à máquina, com consequências graves para a sua saúde física.”
“O que é que o Sr. recomenda às crianças e adolescentes em vez do uso do computador?”
“Isso depende da idade. Em crianças até aos 9 anos, o essencial é o incentivo à imaginação e à fantasia - exactamente o contrário do que fazem os aparelhos com tela. Contar histórias, mostrar figuras em livros infantis, jogar à bola, correr e saltar, usar brinquedos toscos de madeira e bonecas de pano, etc. Por falar em livros, infelizmente existem muito poucos livros infantis, entre nós, realmente artísticos e interessantes; em geral as figuras são caricatas, mostrando um mundo distorcido, povoado de monstros. Isto mostra como se perdeu totalmente a intuição do que é apropriado para as crianças e deveria ser suficiente para se desconfiar profundamente de todas estas novidades pedagógicas "modernaças", principalmente as que propõem o uso sistemático de meios electrónicos na educação. Recomendo fortemente a visita a uma ‘Escola Waldorf’ para ver como pode ser um ensino profundamente impregnado de arte e com o mínimo recurso às tecnologias electrónicas. Em particular, visite-se qualquer jardim-de-infância ‘Waldorf’ para se ter uma ideia do que é um ambiente carinhoso, acolhedor, artístico, que faz com que qualquer pessoa queira voltar a ser criança novamente. Note-se como nele não há absolutamente nenhum ensino formal, como apreender a ler ou fazer contas. Há tempo para isso, idealmente aos 6 ou 7 anos de idade. A propósito, nenhuma Escola ‘Waldorf’ digna desse nome usa computadores na educação antes do ensino secundário. Note-se também que, nestas escolas, não existe a geração do «copia-e-cola»."
Apache, Setembro de 2008