quinta-feira, 1 de outubro de 2009

“Gato Fedorento” esmiúça a comunicação do Presidente da República

O vídeo abaixo, expressa a forma com o “Gato Fedorento” esmiuçou as declarações de Cavaco Silva, do passado dia 29 de Janeiro, no âmbito das alegadas escutas a “Belém”.

Apache, Outubro de 2009

terça-feira, 29 de setembro de 2009

"Abstenho-me do combate à abstenção"

“Os vídeos da Comissão Nacional de Eleições que pretendem convencer os jovens a votar são muito eficazes. O mais interessante é que não são eficazes a combater a abstenção, mas a transmitir aquilo que a CNE acha que é um jovem. Antes de mais nada, há que recordar que, se as pessoas são o antigo povo, os jovens são a antiga canalha. A canalha foi promovida a jovens, o povo foi despromovido a pessoas. Os partidos, que eram afáveis com o povo, são cerimoniosos com as pessoas. Mesmo correndo o risco de parecer a minha avó, vejo-me forçado a começar a próxima frase com a expressão "no meu tempo". No meu tempo (cá está), todos os cartazes e pichagens de parede tratavam o povo por tu. Até o CDS pedia, muito coloquialmente, "Vota CDS". Agora, até o PCP trata as pessoas com cerimónia, e não arrisca mais do que um educado "Vote PCP". O povo era da família - logo, tratava-se por tu, como fazem as famílias, com excepção das que residem em Cascais. O povo é só um, toda a gente sabe quem é. As pessoas são muitas, e os partidos não podem aspirar a conhecê-las todas. Daí não terem à-vontade para tratá-las por tu. Curiosamente, o mesmo não acontece com os chamados jovens. A política trata os jovens por tu, mas não por razões de familiaridade: um cãozito ou um gato não são tratados com reverência, e a CNE parece prezar os jovens como uma pessoa preza o seu animal de estimação: fazem umas habilidades giras, e às vezes parecem mesmo uma pessoa, mas continuam a ser um animal irracional. Os rapazes e raparigas que protagonizam os anúncios da CNE desempenham o papel de jovem na perfeição. Num dos vídeos, um jovem chega a uma boutique e, por não ter escolhido a roupa em tempo útil (aparentemente, no mundo deste jovem as pessoas têm um período específico para fazer a selecção da indumentária, passado o qual a escolha se torna irreversível), vê-se forçado a aceitar a escolha do alfaiate, que o obriga a trocar os andrajos que trazia por um fato e gravata. Ou seja, deixando o alfaiate escolher por ele, o miúdo ficou mais bem vestido. É possível que esta não seja a melhor forma de passar a mensagem "Não deixes que decidam por ti", o que me parece excelente. Pensando bem, a mensagem da CNE deteriora a democracia, na medida em que alerta as pessoas para o facto de os seus concidadãos não serem de fiar, e tomarem decisões que nos prejudicam. No entanto, o vídeo, na sua feliz incompetência, transmite a ideia contrária - que é, de facto, uma ideia admirável. Os partidos em que eu voto nunca ganharam uma eleição. Essa é, aliás, uma das razões pelas quais voto neles com tanto sossego. Significa isto que, mesmo tendo votado em todas as eleições, houve sempre alguém que decidiu por mim - o que é correctíssimo. Uma pessoa decidir o destino do país por nós, é ditadura; quando é a maioria que decide, isso chama-se democracia. Os outros sempre decidiram por mim, e ainda bem. Eu não quero carregar sozinho o fardo de decidir. Eu - e, sobretudo, Portugal - estamos muito melhor assim.”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” de 17 de Setembro
Contrariamente ao Ricardo, em tempos, votei no partido vencedor. Tinha aproximadamente a idade destes jovens do vídeo da CNE. Serviu-me de lição.
Apache, Setembro de 2009

domingo, 27 de setembro de 2009

Está muita gente doente, no meu país

“Numa ruela de má fama
Faz negócio um charlatão
Vende perfumes de lama
Anéis de ouro a um tostão
Enriquece o charlatão.”

“É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir.”

“Na ruela de má fama
O charlatão vive à larga,
Chegam-lhe toda a semana
Em camionetas de carga
Rezas doces, paga amarga.”

“Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar
A enganar o povo que acreditou.”

“Pergunto à gente que passa,
porque vai de olhos no chão?
Silêncio... é tudo o que tem
quem vive na servidão.”

“Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder.”

“Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.”

“Entre a rua e o país
Vai o passo de um anão
Vai o rei que ninguém quis
Vai o tiro dum canhão
E o trono é do charlatão.”

“Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça,
há sempre alguém que semeia,
canções no vento que passa.”

“Mesmo na noite mais triste,
em tempo de servidão,
há sempre alguém que resiste,
há sempre alguém que diz não!”
Apache, Setembro de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

Dia de reflexão…

[A brasileira, Patrícia Andrade]
Apache, Setembro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (21 de Setembro)

Com a conversa mantida com líder do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, fecha-se o ciclo de entrevistas aos dirigentes dos cinco maiores partidos, nesta nova série do “Gato Fedorento”.

Apache, Setembro de 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O Poeta é um Fingidor

Explorada a ideia, daria certamente um interessante cartaz de campanha. Assim houvesse engenho e arte.

[Captura de tela do programa “Gato Fedorento – Esmiúça os sufrágios” (episódio 6, de 21 de Setembro de 2009)]

Apache, Setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ANQ – Por cada milhão queimado, um analfabeto certificado!

A Agência Nacional para a Qualificação (ANQ) foi criada para promover, coordenar e acompanhar a implementação do programa “Novas Oportunidades”. Em apenas um ano, a ANQ, Instituto Público tutelado pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e pelo Ministério da Educação, “torrou” mais de 8 milhões e 700 mil euros, em ajustes directos, a maior parte dos quais (cerca de sete milhões e meio), em acções de marketing e publicidade (tais como: criação de filmes publicitários; impressão de folhetos, produção de pastas, sacos etc.; concepção desenvolvimento e tradução do ‘site’; participação em eventos…). Note-se que a verba mencionada, não inclui (obviamente) os elevados gastos com: os vencimentos dos funcionários da agência; os formadores; as despesas de funcionamento, quer dos serviços centrais do instituto, quer dos Centros Novas Oportunidades; etc. A título de exemplo do esbanjamento incontrolado de dinheiros públicos, veja-se a encomenda ao ex-ministro da educação, Roberto Carneiro (da Universidade Católica), de uma avaliação externa do “Novas Oportunidades”, que custou 297 900 euros (60 mil contos). Quase simultaneamente a outro (encomendado à ESE de Coimbra) sobre o impacto do aumento das qualificações dos adultos no sucesso escolar das crianças, no valor de 199 500 euros (40 mil contos). [Para confirmar todas as verbas gastas pela ANQ em ajustes directos, basta entrar na base de dados dos ajustes directos, digitar o NIF da entidade adjudicante – 508208327 – e clicar em pesquisar.] Com a iniciativa, “Novas Oportunidades”, sem acrescentar conhecimentos significativos aos formados, o estado gasta anualmente largas centenas de milhões de euros, para passar certificados de habilitações, a quem, na generalidade, não possui conhecimentos ou competências que o justifiquem minimamente.
Apache, Setembro de 2009

domingo, 20 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (17 de Setembro)

Apesar da qualidade das entrevistas (finais) ter vindo a decair ao longo da semana, por questão de imparcialidade, deixo hoje a “conserva” mantida entre Ricardo Araújo Pereira e o dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã.

Apache, Setembro de 2009

sábado, 19 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (16 de Setembro)

E porque aqui pelo acampamento somos tão imparciais que até chateia, fica a entrevista ao líder do CDS-PP, Paulo Portas.

Apache, Setembro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Durão Barroso foi reeleito Presidente da Comissão Europeia

O português José Manuel Durão Barroso foi reeleito para mais um mandato de 5 anos à frente da comissão europeia. Diz-se por aí que isso é bom para Portugal e eu concordo. A esta altura estarão os mais críticos a pensar que Durão Barroso, no mandato que agora finda, pouco ou nada fez para defender os interesses de Portugal em Bruxelas, além de ser o idiota que denegriu a imagem do país naquela célebre cimeira dos Açores em vésperas do ataque americano ao Iraque (à época era Primeiro-Ministro). E gosta tanto de Portugal e da nossa língua que a sua página pessoal está traduzida em seis línguas (Inglês, Francês, Alemão, Espanhol, Italiano e Polaco) mas não na sua. De facto, estes argumentos são válidos e corroboram a minha opinião. A reeleição dele foi boa para Portugal, de outra forma não vejo grandes possibilidades de o manter tão longe do país, durante tanto tempo. P.S. A fotografia é uma oferta aos hipotéticos leitores. Imprimam, recortem e colem no açucareiro. Deve conseguir manter afastadas, as formigas.
Apache, Setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (15 de Setembro)

À semelhança de anteontem (com José Sócrates), deixo a entrevista de Ricardo Araújo Pereira à líder do PSD, Manuela Ferreira Leite.

Apache, Setembro de 2009

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Mais do mesmo

Um bom texto (que desta vez subscrevo) do José Costa e Silva (amiúde a milhas da minha linha de pensamento), do blogue “Lóbi do chá”. “Contra a monarquia instaurou-se uma república que vamos a ver e não passa de uma monarquia de partidos. Realizam-se eleições, é verdade, mas apenas para dar a ideia de que o povo escolhe alguma coisa. Na verdade, em vez do príncipe herdeiro há dois ou três militantes herdeiros, porque é do zimbório dos dois maiores partidos que sai o Rei – perdão, o Presidente. Aliás, constata-se que a República ocupa os palácios da Monarquia. Nem isso os republicanos conseguiram repudiar. O Presidente da República está comodamente instalado no Palácio de Belém a promulgar leis. Até a mais insignificante secretaria de Estado labuta nos antigos aposentos do primo do Rei. Mas se a República fosse república, os palácios, palacetes e palacinhos seriam do povo. Do povo e não dos seus chiques representantes, que vão muito melhor com aqueles edifícios envidraçados, modernos e inovadores como as cabeças dos políticos. E energeticamente eficientes como eles, até. Vem tudo isto a propósito dos dois pequenos partidos que apareceram contra os grandes partidos do poder, mas que são, afinal, iguais a eles, para além de serem iguais também entre si, o que é notável. Por exemplo, dizem que estão os dois ao centro. Consideram que há boas ideias à esquerda e boas ideias à direita. Boa ideia é a deles, porque pretendem ser o empadão que resulta da centrifugação dos tais partidos do poder. Lava-se muito bem o CDS, o PSD, o PS, a CDU e o Bloco, leva-se à Bimby e já está: um delicioso MEP, acompanhado por um suculento MMS. Lamentavelmente, porém, o empadão não está na moda e as travessas cheias de couves não sobrevivem na era do sushi. A mudança tem de começar fora do sistema, fora dos partidos (pequenos ou grandes) e fora do Parlamento. Quem quer reformar o país e a Constituição tem de mobilizar a sociedade, apelar à revolta serena e avançar para as ruas. Quem quer mudar alguma coisa tem de encher a fonte luminosa até que da lua se veja a vontade popular ditar as regras. Quem quer mudar alguma coisa não pode estar a lutar por um ou dois deputados, daqueles que ficam com a tensão baixa quando entram no hemiciclo e que atravessam a legislatura a sorrir para os lados. Não. A ambição de querer fazer diferente e melhor não está ao alcance daqueles cuja prioridade é imitar os outros.”
Apache, Setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (14 de Setembro)

Para quem não viu, deixo (do primeiro programa da nova série dos “Gato Fedorento”), a entrevista ao Primeiro-Ministro, José Sócrates.

Apache, Setembro de 2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Uma escola suíça

«Klingnau é uma cidadezinha no Norte da Suíça. As escolas locais estão integradas num espaço verde, junto ao rio Aare, a poucos quilómetros da confluência deste com o Reno, que marca a fronteira com a Alemanha. Atravessada a zona onde se situam os campos de jogos e os edifícios mais antigos, e transposta uma ponte pedonal sobre um ribeiro, chega-se ao edifício principal - uma construção moderna, ampla e confortável. O rés-do-chão consiste numa zona ampla e num conjunto de gabinetes e salas de trabalho para o reitor e para os professores. À entrada estão os cabides e os suportes para os alunos deixarem os agasalhos e os sapatos. Mais ao fundo, uma mesa de bilhar, outra de pingue-pongue e alguns sofás. O facto de os alunos andarem obrigatoriamente descalços ou de chinelos de pano tem várias consequências positivas: para começar não estragam o revestimento do chão, que é caro e de boa qualidade; em segundo lugar, é mais difícil andarem aos pontapés às coisas ou uns aos outros; em terceiro lugar, é-lhes mais difícil, sobretudo no Inverno, abandonar sub-repticiamente as instalações da escola; e finalmente faz com que se sintam mais "em casa". Aos professores é dada mais latitude, mas a tendência é para não usarem na escola o mesmo calçado que usam na rua. E nunca vi, nem nesta escola, nem noutras, uma professora de saltos altos. Por trás do edifício, e prolongando-se até à margem do rio, há uma zona verde pertencente à escola. Entre esta zona e os espaços verdes que pertencem à cidade não há solução de continuidade: das janelas das salas de aula é frequente ver pessoas a passear os cães ou famílias a andar de bicicleta. Subindo do rés-do-chão para o andar onde se situam as salas de aula, passa-se pela sala de informática. Nesta escola dá-se o caso de os computadores serem todos da Apple, como noutra seriam de outra marca: assim o decidiu a escola, autonomamente. Na Suíça não há Ministério da Educação nem qualquer outra entidade central que negoceie os equipamentos com as empresas da sua preferência. Ao longo do corredor está uma representação à escala do Sistema Solar: num dos topos, um segmento de círculo, pintado a amarelo a toda a altura duma parede, representa o Sol; esferas suspensas do tecto representam os nove planetas. Na parede do corredor, uma vitrina com espécimes embalsamados de animais exóticos: escorpiões, tarântulas, aves de rapina. Cada sala tem a sua biblioteca de referência, organizada de acordo com as necessidades do professor responsável e dos alunos que lá têm aulas. Nas estantes ao fundo estão os manuais escolares dos alunos, que não são comprados pelas famílias nem dados pela escola: são emprestados no princípio de cada ano lectivo e devolvidos no fim, havendo lugar a pagamento apenas no caso de não se encontrarem em bom estado. Na minha havia, além disto, um retroprojector, um conjunto completo de mapas que se podiam fazer descer do tecto por meio dum mecanismo eléctrico: mapas políticos e físicos da Suíça, dos continentes europeu, americano, africano e asiático, e dos oceanos Índico e Pacífico. Nas paredes, uma fotografia de satélite do cantão de Aargau e dois posters com os peixes e as aves autóctones da região. À hora em que eu começava as minhas aulas - 15:30 ou 16:30, 13:00 às quartas - a escola já está deserta de professores, com excepção de algum que ainda por lá esteja a preparar o trabalho do dia seguinte. Mas não está deserta de alunos: todos têm acesso ao ginásio e aos campos de jogos, supervisionados apenas pelo “Hauswart” (porteiro ou administrador, traduzindo por grosso; mas a palavra em português não reflecte a importância desta personagem, cuja autoridade quase se iguala à do reitor). Alguns alunos mais velhos têm acesso sem supervisão a outras partes da escola, à sua responsabilidade e dos seus pais. O currículo inclui poucas disciplinas. Como língua materna, estuda-se o alemão-padrão, que é o da Alemanha. Os alunos chamam-lhe “Schrifttütsch”, ou "alemão escrito", por oposição ao “Schwytzertütch”, ou "alemão suíço", que é a língua que eles falam em casa. No ensino da língua materna é ainda frequente o recurso a cópias, ditados e redacções, e isto até ao equivalente do nosso 9º ano. Surpreendentemente, o francês e o italiano, que são as duas outras línguas oficiais da Suíça, raramente fazem parte do currículo por mais que um ano ou dois. O ensino do inglês inclui aqueles métodos tradicionais que em Portugal são “verboten”: gramática normativa, cadernos de significados, traduções, ditados e retroversões. Não há, obviamente, nada que se pareça com a disciplina de Técnicas de Informação e Comunicação de que os governantes portugueses tanto se orgulham. Não é que os suíços não reconheçam a importância de capacidades instrumentais como a que esta disciplina pretende desenvolver; é que entendem que estas capacidades se transmitem melhor no âmbito de disciplinas que são fins em si mesmas, como a língua materna e a matemática, e em resposta às necessidades específicas que surgem no trabalho com estas matérias. Com uma carga lectiva e curricular muito mais leve do que a que se verifica em Portugal, é possível ter turmas mais pequenas sem recrutar um número excessivo de professores. Além disso, na Suíça não há Ministério da Educação nem nenhuma outra estrutura central que ocupe milhares de "professores de gabinete", como os que em Portugal não dão aulas mas contam para a estatística. A ausência desta estrutura leva a que não haja uma teoria pedagógica oficial imposta a todas as escolas. O efeito de normalização deve-se a um consenso generalizado entre pais, professores e comunidades locais que resulta em escolas razoavelmente semelhantes entre si, e bastante mais "conservadoras" do que aquelas a que estamos habituados. Mas o contrário também se verifica: um pequeno número de escolas suíças segue teorias pedagógicas de vanguarda, algumas delas tão extremas que, comparado com elas, o "eduquês" parece prudente e conservador. Uma vez vieram ter comigo os pais de um aluno que tinha graves problemas de aprendizagem. Estavam a pensar pô-lo numa escola “Waldorf” (doutrina pedagógica baseada nas teorias antroposóficas de Rudolf Steiner). Apesar do meu extremo cepticismo em relação à antroposofia, não os desencorajei - e a verdade é que o miúdo começou a aprender melhor. Isto não me converteu à antroposofia, longe disso - mas ensinou-me que qualquer pedagogia funciona se a expectativa do aluno, dos pais e dos professores for que ela funcione. E talvez nenhuma funcione na falta desta expectativa. Se assim for, então nenhuma pedagogia oficial pode funcionar - porque as pessoas têm expectativas diferentes. E consequentemente os Ministros da Educação são como as traduções: mesmo quando são bons, são maus.»
José Luís Sarmento, no blogue “As minhas leituras

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Foi há oito anos…

Em Londres são 21 horas e 54 minutos de dia 11 de Setembro de 2001. O canal BBC News 24 anuncia que em Nova Iorque, o edifício “Salomon Brothers”, mais conhecido por WTC 7”, colapsou [1º vídeo]. Três minutos depois (21 horas e 57 minutos em Londres, 16:57 em Nova Iorque), a BBC World [2º vídeo], repete a notícia, primeiro através do pivô de serviço e mais tarde em nota de rodapé. Ilustrando a peça, liga (em directo) à sua correspondente em Nova Iorque, Jane Staneley, que confirma a derrocada, apesar de, atrás, ao fundo, por cima do seu ombro esquerdo (portanto à direita na imagem) se ver o WTC 7 em pé e aparentemente sem danos significativos. [é o edifício mais alto, em forma de paralelepípedo] Cerca das 17 horas e vinte minutos locais, (22:20 em Londres) o edifício “Salomon Brothers” implode. Dois canais televisivos do mesmo grupo (BBC) “adivinharam” com mais de 20 minutos de antecedência, a queda de um edifício (sem danos visíveis significativos) a cerca de 100 metros das torres principais (alegadamente atingidas por aviões comerciais). Tamanha certeza da BBC só se justifica (em minha opinião) por informação oficial da demolição controlada do WTC 7 (o edifício onde funcionavam, entre outros, o comando de crise do presidente da câmara nova-iorquina, os serviços de finanças (IRS) e vários serviços secretos (entre eles, a CIA)). A demolição controlada de um edifício destas dimensões é uma tarefa que demora alguns dias a preparar. Na versão oficial, o WTC 7, cuja estrutura era de aço, ruiu devido a fogos incontrolados no seu interior, tal como aconteceu às “Torres Gémeas”. Foram até hoje, os únicos três edifícios (com esturra de aço) a ruir na sequência de fogos (neste caso pouco significativos) e também as únicas derrocadas (alegadamente não controladas) onde a resistência do ar não se fez sentir.

[BBC News 24 anuncia colapso do WTC 7, 26 minutos antes de tal acontecer] [BBC World anuncia colapso do WTC 7 , 23 minutos antes de tal acontecer, enquanto (simultaneamente) mostra imagens em directo do edifício, sem danos aparentes significativos]

Apache, Setembro de 2009

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Há jornalistas e jornalistas… (obviamente!)

Em texto anterior, tinha criticado o silêncio cúmplice da Ordem dos Médicos, que contrariamente aos seus homólogos espanhóis, permitem que governantes e comunicação social propaguem um alarmismo absolutamente injustificável em torno do vírus H1N1 (agora, vulgarmente designado de gripe A). Também a ausência de espírito crítico (nesta como noutras matérias) por parte da generalidade da comunicação social, tem sido por mim lamentada. É, por isso, de elementar justiça, destacar a excelente reportagem que a TVI apresentou no “Jornal Nacional” do passado dia 7, que levanta parte do véu alarmista que esconde importantes interesses económicos. Valorize-se também as declarações (honestas, ainda que muito defensivas) do Dr. Fernando Maltês, Director do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Curry Cabral. Já agora, aproveito para agradecer ao Diogo, do blogue “Um homem das cidades” o ‘post’ que permitiu o surripio deste vídeo.

Apache, Setembro de 2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Gelo inconveniente… Custava-lhe alguma coisa colaborar na propaganda?

[A imagem (obtida com dados fornecidos por satélite) mostra o mapa da Gronelândia, correspondendo as zonas amarelas e laranjas a locais onde a quantidade de gelo tem vindo a diminuir e as zonas azuis aos locais onde tem vindo a aumentar. (As zonas assinaladas a branco são aquelas onde não se detectaram alterações na altura do gelo.)]
Embora se verifique algum derretimento de gelo junto à costa, nos últimos anos do século passado, devido à fraca intensidade dos Anticiclones Móveis Polares (que agora se tornaram de novo mais intensos), tal como havia acontecido no período quente das décadas de 30 a 50, na generalidade do território da Gronelândia, a neve e o gelo têm vindo a aumentar continuamente. Um estudo realizado por, Ola Johannessen, Kirill Khvorostovsky, Martin Miles e Leonid Bobylev, publicado na “ Science” de 11 de Novembro de 2005 concluiu que em média, o gelo que cobre a quase totalidade da ilha tem vindo a aumentar continuamente 5,4 cm por ano (margem de erro ± 0,2 cm).
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[Perito Moreno, um dos maiores glaciares do mundo, com 30 quilómetros de comprimento e quase 200 quilómetros quadrados de área]
O glaciar “Perito Moreno” na Argentina cresce constantemente desde que começou a ser observado, há mais de um século, apesar de espalhar pelo lago gelado da base, icebergues do tamanho de prédios. A imagem do “Perito Moreno” despejando enormes blocos de gelo no “Lago Argentino” ficou famosa no documentário de Al Gore, “Uma Verdade Inconveniente” e foi usada para dar a ideia de que o glaciar está a derreter, quando na realidade se tem verificado um significativo crescimento do mesmo. As derrocadas de gelo (dizem, um dos espectáculos mais belos da natureza, que muitos consideram a oitava maravilha do mundo) acontecem porque o glaciar barra as águas do “Rio Braço” que ao acumularem-se, atingindo uma altura de cerca de 30 metros, exercem sobre o icebergue enormes forças de pressão que acabam por provocar a derrocada de gigantescas estruturas de gelo.
Apache, Setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Legislativas 2009 - Primeira Sondagem

“Não sei quem vai ganhar a velhacagem «eleiçoeira» que se avizinha. Não sei e, para ser franco, não me interessa. Mas sei, de certeza, quem vai perder. É o do costume: o país. Portugal, chamaram-lhe em tempos. Mais um prego no caixão e mais um certame de vermes. Entre o Pinóquio e a Bruxa, o diabo não escolhe: patrocina.”
Dragão, do blogue “Dragoscópio”

domingo, 6 de setembro de 2009

Gripe A: a epidemia do medo

“Está-se a criar um alarme e uma angústia exagerada em torno da gripe A, diz o Conselho Geral de Colégios Médicos de Espanha (OMC), citado pelo jornal “El País”. O seu presidente, Juan José Rodríguez Sendín, foi mesmo mais longe e, numa conferência de imprensa, disse que a Espanha está imersa numa epidemia de medo provocada por uma doença fantasma. O presidente da OMC não descarta a hipótese de existirem interesses económicos e políticos por trás da pandemia, porque o ênfase que se colocou numa doença tão comum como a gripe não se deve a razões sanitárias. Diz o médico que “10 a 12% dos espanhóis são hipocondríacos” e em Espanha, a fantasia e a novela são muito comuns. Afirmou também que os dados disponíveis mostram que o H1N1 se tem revelado menos severo, causando menos e mais leves complicações e uma taxa de mortalidade muito inferior à da gripe sazonal. A OMC havia já referido que em todo o Hemisfério Sul, ao fim de 4 meses de contabilização e, a menos de um mês do final do Inverno, o H1N1 fez 1 796 mortos, quando, só em Espanha, a gripe mata entre 1 500 a 3 000 pessoas por ano. Curiosamente, em Portugal, onde a propaganda em torno do H1N1 não é menor, a Ordem dos Médicos permanece muda e queda à verborreia ‘ad nauseam’ de dois dos seus membros (a pediatra, Ana Jorge e o médico interno, Francisco George), ou será que sou eu que tenho andado distraído?
Apache, Setembro de 2009

sábado, 5 de setembro de 2009

Novela à portuguesa – Jornal Nacional de sexta

Diz o “Expresso” que foi este vídeo de promoção ao “Jornal Nacional” que desagradou à administração da “Média Capital” e levou ao afastamento de Manuela Moura Guedes.

Entretanto, em entrevista ao “Diário de Notícias”, a jornalista aproveitava para (como é seu estilo) "escaqueirar a louça". Deixo um resumo… "Gostava de ter José Sócrates como seu espectador? Ah, mas ele só pode ser meu espectador. Está sempre a par do jornal. É óbvio que é meu espectador. (…) Este Jornal Nacional de hoje é uma espécie de arranque da «rentrée». É o Pontal das televisões... (…) Espero, como é óbvio, que as pessoas dêem alguma atenção ao jornal, mas foi muito empolado este meu regresso. Isso despertou alguma curiosidade, claro. (…) Sei que sou incómoda. Recebi tantos telefonemas de jornalistas nas últimas semanas, que nem consigo contar. E muitos deles perguntavam-me: "Então, já lhe disseram que não vai para o ar?" Achei surpreendente porque era como a pescada: antes de ser já o era [risos]. Toda a gente partiu do princípio de que eu estaria fora do ar. E a Manuela nunca partiu desse princípio? Eu? Não. Não mesmo? No actual contexto político, no contexto desta empresa, no contexto da sua relação com esta administração, não temeu que isso pudesse acontecer? Não tenho dúvidas de que há muita gente que gostaria que eu e que aquele jornal não fosse para o ar... (…) Cá dentro, na TVI, também? [longa pausa] Na TVI? Só se fosse alguém muito estúpido. Como você sabe, o meu jornal faz grandes audiências, esta televisão é uma televisão comercial que vive de audiências e daquilo que elas geram, portanto... (…) Acha que não gostam de si? [Pausa] Não sei. Que incomodo, sei que incomodo. Ao longo da minha carreira tenho tido provas disso. Sejam de direita, sejam de esquerda. Acho engraçado que só se fale do Sócrates, mas o Jornal Nacional tem sido o único a dar dados relevantes de investigação do caso Portucale. São processos escondidos, coisas vergonhosas. Eu já apanhei Bloco Central, Cavacos, Guterres, Durões, Santanas. Ninguém gosta de ser alvo deste tipo de notícias. Mas quando estão no poder têm mais responsabilidades. E há uma coisa importante: eu percebia a contestação se tivéssemos cometido erros. Mas não cometemos um único erro. Não há um único desmentido das notícias que fizemos. (…) Há quem diga que com a saída de Moniz a administração livrou-se de uma pedra no sapato. A Manuela é a outra pedra no sapato? Não sei, pergunte-lhes a eles. (…) Sente-se um alvo a abater? Sinto, claro que sinto. Pelas pessoas que eu incomodo. O primeiro-ministro é o mais óbvio, não vale comentar mais. As coisas que ele disse sobre mim são tão claras, que é claro que ele me quereria abater. Entre aspas, naturalmente [pausa]. Entre aspas [fala mais alto e olha para o gravador, como que a confirmar que ficou bem gravado]. Mas não teme que a saída do director-geral a fragilize a si e a deixe mais isolada na TVI? Tudo depende de quem estiver a liderar a informação da TVI. Nesse campo, para já, não parece haver novidade. João Maia Abreu é o director de informação. Sim, o João continua e tem exactamente o mesmo entendimento do que eu. O Jornal Nacional de 6.ª tem uma linha editorial que assenta muito na investigação. E isso vai continuar a ser feito. (...) Como é que convive com as críticas da classe jornalística, que tem sido demolidora para si? Não tenho grande apreço pela classe jornalística actualmente. É muito má. Sente que é melhor do que a generalidade dos jornalistas? Sinto que sou mais séria. Perdoem-me a imodéstia. Mas sabe que a classe jornalística que a critica diz de si, precisamente o contrário, que é pouco séria... [pausa] Aquilo que é idiota na classe jornalística que me critica é que só se preocupa com o que é acessório. "Os trejeitos, porque ela faz opinião, porque um jornalista não deve ir para ali confundir opinião com jornalismo" [enquanto enumera as críticas que lhe fazem, faz uma voz de falsete]. As mesmas pessoas, em seguida, fazem os maiores fretes possíveis aos políticos, deixam para trás as coisas que são importantes, são capazes de estender o microfone sem os confrontar com o que quer que seja. Têm medo. São cobardes. Cobardes até à última. Porque no fundo, no fundinho, o que eles queriam ser era Luíses Bernardos, Damiões [ambos assessores de imprensa]. Andarem ali com as pastinhas deles. Babam-se com os políticos. Babam-se com os Sócrates deste país. Há gente dessa na televisão? Na televisão, nos jornais. Claro que há. Em todos os órgãos de comunicação. Babam-se. E passam-se, para não dizer outra palavra mais grotesca, quando um político lhes liga. "Que bom, ligaram-me. Que importante que eu sou" [e volta a fazer voz de falsete]. E aquela ligação telefónica passa a ser um veículo para o político e não para o jornalista. Você acha normal que o primeiro-ministro apresente uma iniciativa cinco vezes e que nenhum jornalista tenha a coragem de dizer que ele já apresentou aquilo cinco vezes? Nada. Porque essa gente é incapaz de perguntar, é incapaz de pensar. Sindicato dos Jornalistas, ERC, opinion makers... Estão todos errados quando criticam a sua forma de fazer jornalismo? Sindicato dos Jornalistas? Você sabe como foi a decisão do sindicato sobre as críticas que me fizeram? Vá lá ver se não houve votos vencidos. E veja se eles divulgaram os votos vencidos. Veja o currículo daquela gente que faz aquele programa de imprensa, ou lá o que é aquela porcaria na RTP2 [Clube dos Jornalistas]. [gargalhada sonora]. Veja o currículo daquela gente. Eram todos daquele jornal do PCP, não era o Avante!. Ai, como é que aquilo se chamava? O Diário. Isso! [gargalhada] O currículo deles é esse. Passaram pelo Diário. Ah, e claro, pelo Notícias da Amadora. É o currículo daqueles pobres sem eira nem beira. E o Sindicato dos Jornalistas a mesma coisa. É sempre a mesma coisa. Depois têm uns tachos, estão lá durante décadas e nunca fizeram a ponta de um corno na vida. E acham-se no direito de fazer críticas. A ERC também a criticou... A ERC? A Estrela Serrano? Aquela pérola do jornalismo! Que escreveu aquelas normas básicas para os jornalistas [gargalhada]. Por amor de Deus, andamos a brincar! Mas se a Manuela opina no seu noticiário, essas pessoas, todas essas pessoas que citou, também têm o direito de o fazer... Eu não dou opinião. O que eu digo são coisas do senso comum. Mas é suposto um pivô de telejornal fazer eco do senso comum, ser o repositório do que ouve na rua? Os meus pivôs [textos de ligação entre peças] não são iguais aos dos outros. Sim, isso eu sei. Mas acha que é legítimo terminar um pivô com a expressão "pois!" e os olhos arregalados ou dizer "é sempre a mesma história"? Eu não digo "é sempre a mesma história". Tento contextualizar a informação. Procuro que o meu pivô tenha mais informação, recordando coisas que já aconteceram, procuro relacionar as coisas. E admito que possa ter lá um bocadinho do que eu penso. E isso é legítimo? Claro que é. Normalmente, de um pivô de telejornal espera-se... ... espera-se o quê? Que seja uma alforreca? Que seja idiota? Que seja um autómato? Não, que seja imparcial, equidistante, ponderado... Então metam lá uma boneca insuflável. Acho uma graça... E depois a ERC vem dizer que não ouvimos todas as partes. Isso é de uma desonestidade a toda a prova. A ERC sabe muito bem que não há um único membro do Governo que fale connosco. Toda a gente critica o facto de eu dizer "pois!" ou de arregalar os olhos, mas ninguém comenta a brejeirice dos meus coleguinhas, do piscar de olhos às gajas. Ou aqueles sorrisos depois de uma gaja boa aparecer na televisão. Só falta babarem-se. Essa coisa muito macho, muito de homem. (…) Está ou não está a fazer campanha contra o Governo de José Sócrates? Claro que não. O Governo diz que sim. Diz, diz. O Governo diz muita coisa. (…) Tem limites? [surpreendida] Se tenho limites? Claro que tenho limites. Eu faço os textos com o Vítor Bandarra. Rimo-nos imenso. E muitas vezes temos de pôr um travão em algumas coisas. Mas não nega que gosta de uma boa polémica. Sócrates, Sousa Tavares, Marinho Pinto, José Alberto Carvalho, Judite de Sousa... Porque as pessoas não estão habituadas. Fala aí do Sócrates. Porquê? Não tenho qualquer polémica com o Sócrates. Eu nunca o entrevistei. Ele não deixa. Gostava? Claro. Mas não era como aquelas que lhe fazem. Já alguma vez o primeiro-ministro aceitou ser entrevistado sobre o tema da justiça? Não. Isso, eles não lhe perguntam. (...)

Apache, Setembro de 2009