“As provas de avaliação sempre suscitaram a repulsa dos pedagogos “modernos”. O argumento era o de que semelhantes testes não reflectem o que os alunos realmente sabem. Os exames nacionais aplicados pelo corrente Ministério da Educação demonstram que os pedagogos “modernos” tinham razão: as notas aproximam-se da excelência e os alunos não sabem nada.
Isto sucede porque cada ano os exames se vão adequando ao QI de Forrest Gump. Por enquanto a subida nas respectivas médias só eleva as crianças indígenas a lugares honrosos nas tabelas comparativas internacionais. Mas quando o exame de Matemática do 12.º ano se resumir a pintar com guache o algarismo 8, não duvido que o topo das tabelas será nosso. Parece bom? Se calhar é bom. É certo que, aqui ou ali, duas dúzias de líricos protestam as quebras nos padrões de exigência e avisam que o Estado está a fabricar idiotas. E depois? Não compete ao Estado democrático formar génios: compete-lhe, como prometia a Declaração de Independência americana, criar condições para a felicidade das pessoas. E as pessoas, pelo menos no que toca ao ensino, estão felizes.
O ministério congratula-se com o brilharete estatístico. As crianças também andam contentes e, embora exibam dificuldades em se exprimir numa língua existente, surgem nos “telejornais” a considerar “bué da fácil” os testes de Português. E a CONFAP, uma coisa que diz confederar as associações de pais, aplaude, ressalvando que os exames ainda são um nadinha exigentes e que, em vez de se ocupar com trivialidades, a escola tem de investir na “componente de apoio à família”, leia-se armazenar por tempo indefinido os meninos que os progenitores não aturam.
A experiência própria junto dos pais (não confederados) que conheço, confirma a tendência. Com excepções, a maioria aceita com jovialidade que no final da “primária” (ignoro a designação actual), a descendência não consiga identificar o País num mapa ou demore meia hora a ler um rótulo de Nestum. Suponho que, no final do “secundário”, a descontracção face a estes ligeiros óbices permaneça igual. A única função que a generalidade dos pais exige à escola é a de ama-seca, capaz de lhe devolver os petizes ao fim do dia em perfeita saúde e, o que não custa, com um boletim escolar limpo de reprovações, castigos e demais maçadas. O pormenor de os cérebros dos petizes continuarem limpos de instrução não perturba milhões de envolvidos.
E porque deverá perturbar um punhado de observadores distantes? Numa perspectiva racional, de facto não há motivo para que a escola preste serviços não requisitados pela sociedade em que se insere. Se quase ninguém o deseja, o ensino tradicional perdeu a razão de ser, e por isso até estranhei ver o eng. Sócrates, na entrevista à SIC, todo orgulhoso por oferecer às crianças “competências informáticas” e fluência em Inglês. Logo a seguir, porém, lembrei-me que a informática corresponde aos joguinhos do Magalhães e que o Inglês é provavelmente técnico. A notável carreira do eng. Sócrates mostra que não é preciso muito mais.”
Alberto Gonçalves, na “Sábado” da passada quinta-feira (25/06/2009)