segunda-feira, 20 de outubro de 2008

“Visão” turva

Maria de Lurdes Rodrigues deu mais uma entrevista como só ela é capaz. Desta vez foi a revista Visão que se encarregou da difusão das baboseiras. É impossível deixar sem resposta algumas das pérolas do “discurso” da senhorita.
"A escola (…) é para as pessoas se qualificarem."
Que credenciais apresenta a senhora para estar à frente do Ministério da Educação, se nem entende para que serve a escola? A escola não existe para passar certificados, senhora Ministra. A escola existe para ensinar. Talvez a palavra lhe não agrade. Compreende-se, o governo a que pertence está pejado de gente inculta que despreza o saber, ou pior, que detesta quem denota algum conhecimento. Mas como socióloga tinha a obrigação de saber que as sociedades do tipo ocidental foram construídas tendo por base o dito conhecimento. O objectivo da escola é a transmissão de conhecimentos, a certificação é uma consequência da aquisição destes e não um fim em si mesmo.
Instada a comentar a elevada carga horária dos alunos, pergunta ao jornalista: " Mas o que é que retirava? Retira o Inglês ou as línguas estrangeiras? A Matemática? O Português?"
Que esperteza saloia, senhora Ministra… É a senhora que exerce o cargo de Ministra da Educação e não o jornalista. Mas se quer sugestões para a melhoria da qualidade do ensino, porque não pergunta a quem está diariamente no terreno, os professores? Não pergunta porque sabe perfeitamente a resposta. Deram-lha inúmeras vezes nas reuniões que efectuou com os presidentes dos conselhos executivos. Sabe perfeitamente que as ACND's (Formação Cívica, Área de Projecto e Estudo Acompanhado) não acrescentam nada de significativo aos conhecimentos que as (outras) disciplinas transmitem. Sabe perfeitamente que o conteúdo das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) cabe facilmente noutra qualquer disciplina. Sabe perfeitamente que a Educação Visual, a Educação Tecnológica e a Oferta de Escola (na área artistica), podem ser transformadas numa única disciplina de Expressão Artística. E por saber que assim é, é que o não faz. É que a escola que preconiza é a escola dos meninos entretidos de manhã à noite, com muitos “debates” e “pesquisas” e, “negociações” de regras de comportamento e, “direito ao sucesso” (a triste expressão da senhora DREN que num país governado por gente íntegra dava direito a exoneração).
"Não é dramático que os alunos não tenham música ou desporto na escola".
É uma boa desculpa para o facto de haver em Portugal várias escolas, construídas há mais de 20 anos, que continuam a aguardar a construção de um pavilhão desportivo. Gosta tanto dos exemplos estrangeiros quando eles lhes convêm, que a desafio a apontar um país evoluído da União Europeia, que não releve a educação para o desporto. E vem depois, a senhora e outros que tais, mostrar-se preocupada com a obesidade infantil, fingindo que, por exemplo, a “ideia genial” das aulas de substituição foi obra de outro idiota qualquer.
"No passado era uma escola pública reduzida a mínimos absolutamente intoleráveis, uma escola que funcionava das nove à uma".
Esqueceu-se de dizer que as únicas escolas que funcionavam num horário “tão reduzido” eram as do 1º Ciclo (antigas escolas primárias) cujos alunos têm idades compreendidas (na generalidade) entre os 6 e os 10 anos. Lanço-lhe o mesmo desafio que acima: aponte países desenvolvidos onde crianças desta idade permaneçam mais tempo na escola. É que a senhora quer retirar às crianças o tempo para brincar porque a escola que defende é, na generalidade, uma brincadeira; quer retirar o tempo para as crianças estarem com os progenitores para que alguns patrões sem escrúpulos elaborem horários de trabalho incompatíveis com a vida familiar. A sociedade que idealiza é a dos senhores e dos escravos. A escola que preconiza é a da estupidificação, através de alunos que repetem o que ouvem sem qualquer capacidade de raciocínio e de crítica fundamentada.
"Felizmente, temos muitos professores que aceitam, querem e consideram que estas são formas de valorizar a escola."
A senhora socióloga, cuja missão no Ministério da Educação parece ser a da produção de estatísticas que deturpem a realidade, deveria apresentar números que concretizem o significado de “muitos professores”. É que por mais incompetente que se seja, ocupando um cargo de topo numa qualquer organização, há sempre gentinha disposta a lamber-nos as botas, ainda que a imundice as cubra. Só por incapacidade psíquica ou por pura malvadez é que a senhora não admite que, as políticas execráveis que a sua equipa tem implementado (ou mantido), constituem o mais sério problema que a escola pública portuguesa enfrenta.
Apache, Outubro de 2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

OE para 2009 altera o decreto da avaliação de professores

Calma, não comecem já a rir, até porque lido todo o texto podem, eventualmente, não achar graça nenhuma.
De facto e, por mais idiota que isto vos pudesse parecer, a proposta de Orçamento do Estado para 2009, elaborada pelo Ministro das Finanças, pretende alterar o Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro, que estabelece as normas da avaliação docente.
No artigo 138º da proposta de orçamento pode ler-se:
“Alteração do Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro
1 - O artigo 12º do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, passa a ter a seguinte redacção:
«Artigo 12º
1 - [...].
2 - [...].
3 - [...].
4 - [...].
5 - [...].
6 - Às delegações previstas nos nºs 2 e 4 não se aplica o disposto no nº 2 do artigo 37º do Código do Procedimento Administrativo, sem prejuízo da possibilidade da sua afixação em local apropriado que possibilite a sua consulta pelos interessados.»
2 - A alteração prevista no número anterior produz efeitos desde a data de entrada em vigor do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, aplicando-se aos actos praticados desde essa data.”
Para quem não está a par da “trapalhada” que o OE pretende abafar, a questão era esta:
O Código do Procedimento Administrativo (CPA) obriga (através do nº 2 do artigo 37º) a que na administração central, a delegação de poderes, seja publicada em Diário da República (DR). Acontece que, na generalidade das escolas (e agrupamentos), a delegação de poderes dos 4 professores avaliadores (6, no caso dos agrupamentos verticais) noutros professores titulares, se fez apenas por redacção da mesma, em acta do Conselho Pedagógico.
Lurdes Rodrigues, atrapalhada com o atropelo legal deve ter pedido ajuda e, Teixeira dos Santos, qual Dom Quixote do século XXI (ao que tudo indica, não menos alucinado que o original) sai em defesa da sua volumosa, desculpem, queria dizer afectuosa, Dulcineia, criando esta excepção. Neste caso e, apenas neste caso, não se aplica o CPA, que isso dava muito trabalho, enchia páginas e páginas do DR e atrasava essa causa suprema que é a avaliação dos malandros, perdão, dos professores.
Mas D. Quixote, perdão de novo, o senhor ministro, inebriado pela avareza, digo, pela beleza, da sua Dulcineia perde a noção do tempo e, já perto do final do seu (e infelizmente nosso) orçamento dispara este artigo 153º:
“Entrada em vigor
A presente lei entra em vigor no dia 1 de Janeiro de 2009.”
Ora bem, saindo do mundo virtual dos Quixotes e Dulcineias do nosso governo, vamos aos factos…
1- Com esta proposta orçamental, o governo reconhece que neste momento, além do Presidente do Conselho Executivo, há apenas 4 avaliadores nas escolas (6 no caso dos agrupamentos verticais), pois os outros encontram-se numa situação ilegal, uma vez que as competências que lhes foram delegadas carecem de publicação em DR. É que a Lei, que terá efeitos retroactivos a Janeiro de 2008, só entra em vigor a 1 de Janeiro de 2009, portanto só a partir dessa data poderá ter retroactividade (partindo do pressuposto que juridicamente a retroactividade é possível nestes casos).
2- No meu modesto entendimento, este artigo 138º do OE é uma verdadeira pérola legislativa, repare-se na Constituição da República Portuguesa (CRP):
- No número 2 do artigo 56º: “Constituem direitos das associações sindicais: a) participar na elaboração da legislação do trabalho”;
- No número 1 do artigo 105º: “O Orçamento do Estado contém: a) a discriminação das receitas e despesas do Estado, incluindo as dos fundos e serviços autónomos; b) o orçamento da segurança social”.
Ora, no primeiro caso, não me parece que os sindicatos tenham sido ouvidos sobre esta alteração ao Decreto Regulamentar nº 2 de 2208, até porque o acordo de entendimento assinado entre o Ministério da Educação e a Plataforma de Sindicatos não prevê nenhuma alteração legislativa relacionada com a avaliação docente, neste ano lectivo. No segundo caso, talvez fosse melhor, o governo, rápida e disfarçadamente, acrescentar uma alínea c) ao artigo 105º da CRP, para que o OE possa conter alterações a todos os diplomas legais que estejam a criar embaraços a qualquer ministro e, se não for pedir muito, talvez uma alínea d) com uma ou duas receitas de arroz-doce.
Apache, Outubro de 2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Reguladores…

A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) propôs um aumento médio de 4,9% no preço da electricidade, para o próximo ano (2009). Ora, considerando a situação financeira complicada (para não dizer aflitiva) por que passam muitas famílias e também pequenas e médias empresas e, considerando que só no primeiro semestre deste ano, a EDP apresentou lucros de 703 milhões de euros (44 € e 70 cêntimos, por segundo), julgo ser pertinente a pergunta: Será que na ERSE regulam bem?
Apache, Outubro de 2008

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Novidades (ou não…) do “buraco do ozono”

[Gráfico da NASA – No eixo vertical temos a área onde a concentração de ozono é menor que 220 unidades Dobson e no eixo horizontal os meses do ano. A cinzento estão representadas as variações entre os anos de 1990 e 2001. A azul, o ano de 2003. A vermelho, o ano de 2007. Os pontos pretos correspondem a 2008 (ainda sem regressão linear)]

No início dos nos 80 com a colocação em órbita de vários satélites meteorológicos surgiram as primeiras imagens da menor concentração de ozono na estratosfera, junto ao Pólo Sul terrestre, fenómeno que ocorria entre os meses de Agosto e Dezembro. Rapidamente surgiram (alguns) ecologistas a atribuírem as culpas ao Homem, mais exactamente às suas emissões de Clorofluorcarbonetos (CFC’s), família de gases usados essencialmente em refrigeração e em aerossóis. Em 1987 foi assinado por quase todos os países, o Protocolo de Montreal que gradualmente reduziu as emissões destes gases. Quanto ao “buraco do ozono”, 21 anos após o protocolo, está na mesma, obviamente! São tramadas as estações do ano...

Apache, Outubro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Prémio de desempenho…

A AIG (American International Group), a maior seguradora do mundo, estava (ou fingiu que estava) à beira da falência. O governo norte-americano decidiu intervir e injectou na companhia a módica quantia de 85 mil milhões de dólares (62,6 mil milhões de euros, quase 36% do PIB português). Consumado o “empréstimo”, os executivos da AIG resolveram tirar uma semana de férias num dos mais caros empreendimento turísticos dos Estados Unidos, o St. Regis em Monarch Beach, na Califórnia, onde “torraram” 440 mil dólares (mais de 324 mil euros, 65 mil contos na antiga moeda). Só pode ter sido prémio de desempenho pela excelência da gestão.
Apache, Outubro de 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

Políticos, correctos mas charlatães

"Por uma variedade de razões, culturais, organizacionais e políticas, o progresso em ciência climática e a actual solução para os problemas científicos nesse campo estão a evoluir a um ritmo mais lento que aquele que seria possível. Nenhum destes factores é exclusivo da ciência climática mas a pesada influência dos políticos serviu para os ampliar e lhes juntar um rol de outros, tais como, a mudança de paradigma científico de uma dualidade entre teoria e observação, para uma enfatização da simulação em desfavor da observação. (…) Os políticos actuais controlam as instituições científicas de tal forma que obrigam os cientistas a alterar teorias e dados de observação de forma a acomodar posições politicamente correctas, excluindo qualquer crítica a essas posições."
Richard Lindzen, Doutorado em Física Atmosférica pela Universidade de Harvard é professor de Meteorologia do M.I.T [Tradução minha]

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

BCE baixou os juros! Os juros subiram! Porreiro, pá…

O Banco Central Europeu baixou ontem a taxa de juro de referência em meio ponto percentual, para os 3, 75%. Nos Estados Unidos, a Reserva Federal baixou também a taxa de juro de referência para 1,75%. O banco central inglês seguiu o mesmo caminho e baixou a taxa de referência no Reino Unido para os 4,5%. Apesar disso, os portugueses que contraíram empréstimos indexados à Euribor (onde se incluem a maioria dos créditos habitação) não vão ver as suas mensalidades reduzidas. A Euribor subiu a taxa de juro dos empréstimos a todos os prazos, excepto os efectuados a 11 meses e a um ano.

Porreiro, pá...

Apache, Outubro de 2008

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A isto chama-se “crise” ou roubo?

O preço médio do barril de petróleo em 2002 era de 66,61 €. Nesse ano, o preço médio do litro de gasolina 95 foi de 0,91 € e, o do gasóleo rodoviário de 0,67 €. Hoje, o petróleo cotava-se às 20:30 (hora de Lisboa) a 64,56 € (88,02 dólares) e nos postos da Galp, o litro da gasolina sem chumbo 95 custava 1,42 €, enquanto um litro de gasóleo se vendia a 1,29 €.
Apache, Outubro de 2008

sábado, 4 de outubro de 2008

A democracia (musculada) americana… Bush o herói dos democratas

O congresso americano aprovou ontem a versão reformulada do Plano Paulson de injecção de 700 mil milhões de dólares na economia, a maioria dos quais será gasta na aquisição por parte do Departamento do Tesouro, de “activos tóxicos” detidos por instituições financeiras em alegada situação económica difícil. O plano proposto pela administração Bush dividiu o partido republicano que votou o “Não” por escassa vantagem (108-91), porém insuficiente para deter a esmagadora maioria democrata no “Sim” (172-63). E eu que julgava que os democratas detestavam o Bush… Tentando explicar o inexplicável voto favorável ao plano, o congressista democrata Brad Sherman saiu em defesa da honra de alguns colegas de partido, afirmando que vários congressistas que haviam votado “Não” na passada segunda-feira (à primeira versão do plano) foram ameaçados de que caso a proposta voltasse a não ser aprovada, seria imposta a Lei Marcial. Aqui ficam as palavras de Brad Sherman…
Apache, Outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

"O Magalhães, o porco e o Sócrates (o outro)" - Santana Castilho

"Fornecer tecnologia sem cuidar da literacia que a permite utilizar é drasticamente pobre. Sobre o Magalhães (refiro-me ao computador português feito no estrangeiro) já se escreveram muitos e interessantes comentários, uns a favor e outros contra. Tudo visto, parece-me que resta uma generalizada (mas para mim preocupante) aceitação da medida. Ouviram-se escolas e professores sobre a iniciativa? Não, porque por elas pensa a ministra, para quem o Magalhães constitui «o instrumento principal da democratização do ensino»; ponderou-se o impacto que a tecnologia tem na melhoria do aproveitamento escolar dos jovens, analisando estudos disponíveis sobre a matéria, que concluíram pela sua irrelevância? Não, porque o coordenador do Plano Tecnológico já disse ao que vai: dois alunos por computador em 2010! Dou de barato não saber que critérios presidiram à escolha deste computador e não de outro, da Intel ou da empresa de Matosinhos, e simplesmente não engulo a fantasia da ausência de custos para o Estado. Mas o que acho verdadeiramente preocupante é a generalizada adesão ao culto duma modernização pacóvia, que tudo resume ao mero mercantilismo (e não utilitarismo, como muitos impropriamente referem o conceito que, enquanto teoria filosófica, é coisa bem diferente). A formação sólida, que constitui a missão da Escola e dos professores, deve assentar numa clara hierarquia de valores: primeiro o conhecimento puro, depois o instrumental. Mas o que se tem feito ultimamente é a secagem das actividades cognitivas, substituindo-as pelas meramente instrumentais. Foi assim que se trocaram clássicos da literatura por textos ditos pragmáticos (simples formulários, notícias jornalísticas ou mensagens publicitárias) e se preferiram as actividades conducentes à aquisição de 'competências' em detrimento das actividades de forte componente cognitiva. Foi assim que se enfraqueceu o ensino da Gramática, da Filosofia e da História e se reforçaram iniciativas híbridas ('área projecto' e 'estudo acompanhado'). Surpreendente? Não, se tivermos em vista que quem decide são tecnocratas deslumbrados pela tecnologia e convencidos que os 'pinchavelhos' são suficientes para educar o povo. Parece-me evidente que há mais gente satisfeita com este bodo de Magalhães a eito que gente insatisfeita e ciente, como eu, de que as crianças do ensino básico não vão aprender melhor a ler e a interpretar o que lerem por causa dos computadores; ou de que não aprenderão mais cedo e melhor a Matemática fundamental por via do Magalhães; ou de que não se iniciarão precocemente na actividade de pensar e perceber o que as rodeia, por via do portátil. E é aí que reside o problema: fornecer tecnologia sem cuidar da literacia que a permite utilizar é drasticamente pobre. O impacto da componente cognitiva do ensino só pode ser comparado com o da sua vertente instrumental por quem conhece as duas e tem do exercício profissional uma autoridade que os tecnocratas desprezam. O tecnocrata é por norma e por formação pouco sólida um fanático da tecnologia, que com ela se satisfaz e nem sequer aprende com a natureza efémera de tantos projectos tecnológicos (lembram-se do ensino assistido por computador, do Minerva, do Nónio, das Cidades Digitais e do endereço electrónico para cada português, entre outros?). Stuart Mill referiu-se assim a esta questão fundamental do pensamento e da natureza humana: «É indiscutível que o ser cujas capacidades de prazer são baixas tem uma maior possibilidade de vê-las inteiramente satisfeitas; e um ser superiormente dotado sentirá sempre que qualquer felicidade que possa procurar é imperfeita. (...) É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um idiota satisfeito. E se o idiota ou o porco têm opinião diferente, é porque apenas conhecem o seu lado da questão. A outra parte da comparação conhece ambos os lados...»"
Santana Castilho - Professor do Ensino Superior

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O adivinho…

A página ‘Ecosfera’ da edição on-line do ‘Público’ cita declarações à ‘Lusa’ de um alegado especialista em ‘alterações climáticas’, Filipe Duarte Santos, que afirma que: “Com o aumento da temperatura média, o que nós chamamos o tempo de Verão vai prolongar-se. Daqui a 50 anos, em vez de dois ou três meses de Verão, vamos ter cinco ou seis.” Não é a primeira vez que o Sr. Professor Filipe Duarte Santos vem à comunicação social debitar alarvidades sobre alterações climáticas, já no passado dia 8 de Junho, em entrevista ao programa ‘Câmara Clara’ da RTP2 o catedrático de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, se deu ao trabalho de repetir as baboseiras de Al Gore sem sequer se dignar corrigir os erros científicos cometidos pelo ‘artista’ americano no seu muito badalado documentário ‘uma verdade inconveniente’. É obvio que para a ciência o importante é discutir a mensagem e não o mensageiro, mas neste caso específico, dado o currículo académico do senhor Santos, quem o ouvir ou ler pode pensar que o que diz tem o mínimo de credibilidade. Daí que se torne importante esclarecer os incautos que o senhor professor de Física: sabe perfeitamente que na base da teoria do aquecimento global provocado pelas emissões humanas de dióxido de carbono está uma definição de efeito de estufa e um balanço energético da Terra que viola as Leis da Termodinâmica; sabe também que a capacidade de retenção de energia por parte do dióxido de carbono é insignificante face à da água, gás dezenas de vezes mais abundante na atmosfera terrestre, como o demonstram os nossos conhecimentos de ligação química. Mas o senhor professor sabe certamente mais… Sabe que da forma pouco credível como são recolhidas e “ajeitadas” as temperaturas, não há prova credível da existência de nenhum aquecimento global. Sabe também que a ciência não faz adivinhação e que prever o clima daqui a 50 anos com base nos modelos climáticos computorizados actuais (de que tanto gosta) é tão credível como a sina lida por uma cigana no Parque Eduardo VII. Ora, um professor (ainda para mais universitário) devia zelar em primeiro lugar pelo bom nome da ciência e só depois se preocupar em rechear a carteira, por isso, alguém deveria aconselhar o senhor professor a: das duas, uma, ou aproveita as dissertações públicas para divulgar ciência, ou deixa os seus múltiplos tachos académicos (que há gente honesta a precisar de trabalhar) e abre um consultório concorrente ao do Professor Karamba.
Apache, Outubro de 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Uma verdade muito inconveniente

“Há um grupo de cientistas que inventam as paranóias mais inacreditáveis, e falam delas com «voz grossa» dando a entender que quem não os acompanha é porque é intelectualmente limitado; e assim, a pouco e pouco, a ciência tem vindo a tornar-se pura ficção, vale-nos a tecnologia que vai empurrando esta nave enquanto a ciência se transforma em circo que entretém o ‘povão’.”
Alf, num comentário no ‘post’ intitulado “Passeios no tempo”, no blogue “Outra Física” (imperdível para quem gosta de astrofísica) de que é autor.
Apache, Setembro de 2008

domingo, 28 de setembro de 2008

A propósito de democracia…

"Os dois maiores obstáculos à implementação da democracia nos Estados Unidos são: primeiro, a ilusão generalizada entre os pobres, de que temos uma, e segundo, o terror crónico entre os ricos de que alguma vez tenhamos uma". [Tradução minha] A frase data do longínquo ano de 1941 e pertence ao editor Edward Dowling mas é de uma actualidade e universalidade, desesperantes.
Apache, Setembro de 2008

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Morrer da cura

“A person went to a doctor who diagnosed a potentially fatal disease.The doctor prescribed a course of treatment that was claimed to halt the disease and restore good health. Unfortunately the treatment was too much for the person, who died a slow and excruciating death. Many years later a post-mortem was carried out on the patient. It was discovered that the disease was non-existent and the person was very healthy. It was the course of treatment that killed him!
(Sound familiar? Just substitute person for economie; doctor for climate scientist; disease for anthropogenic global warming; and treatment for eliminate CO2 emissions.)"
[William Kininmonth, climatologista, ex-colaborador do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas e da Organização Meteorológica Mundial]
Apache, Setembro de 2008

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Magalhães: Velhos do Restelo ou alternativas ao Choque Tecnológico? (2)

(continuação…)
“O Sr. acredita que a incorporação destas tecnologias na educação é um processo irreversível?”
“Não existe nada irreversível nas actividades humanas. Isso depende de nós mesmos. Infelizmente, se a ignorância continuar, a tendência será essa. Será cada vez mais difícil encontrar escolas que não usem computadores na educação. Provavelmente só sobrarão as escolas ‘Waldorf’. No meu artigo contra o projecto ‘Um Laptop por Criança’, eu menciono alguns estudos estatísticos que mostram que, quanto mais as crianças e jovens usam o computador, pior é o seu rendimento escolar. Menciono também um artigo que saiu no jornal ‘The New York Times’ que mostra que cinco escolas nos EUA acabaram com o programa que permitia a cada aluno ter um computador, pois ficou claro que isso prejudica o rendimento escolar, não traz benefícios e o custo é altíssimo. Assim, tenho ainda alguma esperança de que a razão e o bom senso acabem por prevalecer e escolas e pais acabem ou reduzam o uso de computadores por crianças e adolescentes.”
“Muitos educadores defendem o uso dos computadores pelas crianças alegando que as máquinas estão cada vez mais presentes na sociedade e fazem parte do quotidiano dos alunos, além de facilitar o acesso à informação. O que é que o Sr. acha disto?”
“A necessidade de crianças usarem o computador porque ele faz parte da nossa sociedade é uma falácia completa. Nesse caso, as crianças deveriam conduzir um automóvel, logo que os pezinhos conseguissem chegar aos pedais e não deveria haver restrições ao consumo de bebidas alcoólicas pelos jovens pois ambos fazem parte da sociedade. É necessário examinar sempre a questão da maturidade. Como o computador não provoca danos físicos como os automóveis e as bebidas alcoólicas, acha-se que o computador é inócuo. Este é um grande erro, pois o desastre que ele provoca é mental, portanto, de certo modo, muitíssimo pior. Estamos a condenar as crianças a serem adultos antes do tempo, com pensamentos frios e rígidos, por exemplo. Além disso, por é que as crianças devem ter acesso à informação? Como em tudo na educação, há idade adequada para isso. Qualquer psicólogo sabe que a aceleração do desenvolvimento das crianças, seja ela física ou mental, é prejudicial. É um paradoxo que se tentem proteger as crianças contra agressões físicas e psicológicas e não se perceba que os meios electrónicos violam a natureza das crianças e dos jovens, formatando-os nas suas capacidades de pensar, sentir e querer. Há tempo para as crianças entrarem em contacto com o mundo dos adultos. Da mesma forma que não vamos para o altar de fraldas, também chegará o tempo em que o jovem terá maturidade suficiente para enfrentar as atrocidades do mundo. E terá muito mais energia para as enfrentar se a sua infância tiver sido poupada. Assim, o acesso à informação por crianças e adolescentes só deveria acontecer naquilo que é adequado para a sua maturidade. Repito que não é necessário que uma criança use um computador ou a Internet, pelo contrário, eles são prejudiciais; mas se algum pai achar que o seu filho deve usá-los, é absolutamente necessário que fique ao lado da criança para que ela não aceda a informação imprópria para a sua idade e não fique horas sentada em frente à máquina, com consequências graves para a sua saúde física.”
“O que é que o Sr. recomenda às crianças e adolescentes em vez do uso do computador?”
“Isso depende da idade. Em crianças até aos 9 anos, o essencial é o incentivo à imaginação e à fantasia - exactamente o contrário do que fazem os aparelhos com tela. Contar histórias, mostrar figuras em livros infantis, jogar à bola, correr e saltar, usar brinquedos toscos de madeira e bonecas de pano, etc. Por falar em livros, infelizmente existem muito poucos livros infantis, entre nós, realmente artísticos e interessantes; em geral as figuras são caricatas, mostrando um mundo distorcido, povoado de monstros. Isto mostra como se perdeu totalmente a intuição do que é apropriado para as crianças e deveria ser suficiente para se desconfiar profundamente de todas estas novidades pedagógicas "modernaças", principalmente as que propõem o uso sistemático de meios electrónicos na educação. Recomendo fortemente a visita a uma ‘Escola Waldorf’ para ver como pode ser um ensino profundamente impregnado de arte e com o mínimo recurso às tecnologias electrónicas. Em particular, visite-se qualquer jardim-de-infância ‘Waldorf’ para se ter uma ideia do que é um ambiente carinhoso, acolhedor, artístico, que faz com que qualquer pessoa queira voltar a ser criança novamente. Note-se como nele não há absolutamente nenhum ensino formal, como apreender a ler ou fazer contas. Há tempo para isso, idealmente aos 6 ou 7 anos de idade. A propósito, nenhuma Escola ‘Waldorf’ digna desse nome usa computadores na educação antes do ensino secundário. Note-se também que, nestas escolas, não existe a geração do «copia-e-cola»."
Apache, Setembro de 2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Magalhães: Velhos do Restelo ou alternativas ao Choque Tecnológico?

Valdemar Setzer, professor no Departamento de Ciência da Computação da Universidade de São Paulo, uma das vozes mais críticas da utilização de computadores por crianças, deu no passado mês de Junho uma polémica entrevista que transcrevo com a devida “tradução” para o português europeu.
"Quais são os seus principais argumentos contra o uso de computadores na educação?"
"Eu uso um argumento que talvez seja único, pois provavelmente mais ninguém o usa: o computador força um tipo de pensamento matemático, lógico-simbólico, que não é próprio para as crianças ou mesmo para os adolescentes. O computador também força uma linguagem formal, estrita. É uma máquina que trabalha com causa e efeito matemáticos, isto é, se a máquina está num certo estado, dando-se um comando ou accionando-se um ícone ocorre sempre o mesmo efeito. Isto não existe noutras máquinas e muito menos nas actividades humanas, principalmente nas relações sociais. Esse tipo de pensamento e linguagem, forçados pelo computador, não é próprio para crianças. Além disso, mais ou menos até aos oito anos de idade as crianças não distinguem fantasia e realidade.O computador e a internet exigem muita maturidade e autocontrole. Eles representam um ambiente totalmente fora do contexto cultural e de maturidade da criança. Ela teria que ter um discernimento de adulto para distinguir o que é próprio ou impróprio para a sua idade e cultura. A internet, quando usada na educação, representa uma educação libertária, onde a criança faz o que quer. Sou totalmente contra este tipo de educação, pois as crianças e adolescentes precisam de ser orientados. Em termos de internet, existe um enorme perigo para crianças e adolescentes, como foi mostrado por Gregory Smith no seu livro, "Como Proteger os seus Filhos na Internet" , que está a ser traduzido pela Editora Novo Conceito para o qual dei um parecer favorável e fiz um resumo, disponível no meu site. Nesse livro, ele mostra como as crianças e os adolescentes são extremamente ingénuos (ainda bem, senão seriam adultos!) e revelam dados pessoais em blogues, chats, e-mails etc. chegando a conversar com desconhecidos. Isto mostra a necessidade de uma certa maturidade para usar a internet. Não é, em absoluto, necessário que uma criança ou adolescente use a Internet. Afinal, nenhum adulto que hoje tenha mais de quarenta anos usou computador ou internet quando criança ou adolescente e, hoje, não tem dificuldades em usá-los. No entanto, se algum pai acha que os filhos devem usar internet, deve estar permanentemente ao lado da criança ou adolescente. Computador e internet são coisas sérias e não brinquedos. Penso que só por volta dos 17 anos é que um jovem começa a perceber que o computador e a internet podem ser instrumentos de trabalho sérios e úteis. Esta é, na minha opinião, a idade ideal para que os jovens comecem a usar a internet e o computador. Infelizmente, esta sugestão é considerada bastante utópica por parte de pais e professores, por falta de conhecimento ou pela abdicação da responsabilidade de educar."
"O que é que o Sr. achou do estudo realizado na Unicamp que aponta a queda no rendimento escolar dos alunos que usam os computadores para realizar as tarefas escolares?"
"O estudo da Unicamp confirmou um outro anterior feito no Instituto de Pesquisas Económicas da Comunidade Europeia, utilizando os mesmos dados (Saeb de 2001). Só que no da Unicamp foi feita uma análise multivariada, separando-se os alunos em classes socioeconómicas, mas no global os resultados foram os mesmos: quanto mais os alunos usam o computador, pior é o rendimento escolar. Estes e outros estudos comprovam as minhas deduções, que tinham sido puramente conceituais. Em geral, supõe-se que uma das causas do abaixamento do rendimento escolar seja a perda de tempo no uso do computador em vez da dedicação a tarefas escolares. Claro que esse é um factor importante, mas eu vou muito mais longe, pois analiso a influência do computador sobre a mente das crianças e jovens, em particular, sobre o pensamento. Por exemplo, qualquer aparelho com tela prejudica a imaginação, pois quando se vê uma foto, ou pior, um filme ou animação, não há nada mais a ser imaginado. Compare-se com a leitura de um romance onde tudo tem que ser imaginado, isto é, no segundo caso incentiva-se e treina-se a imaginação. Os desastres provocados por estes aparelhos levou um neurologista alemão, Manfred Spitzer, a escrever um livro cujo título é "Cuidado, Tela!", onde ele mostra que todos os aparelhos com tela produzem enormes prejuízos para crianças e jovens, desde um aumento de peso pela passividade física que estes aparelhos impõem até vários problemas psicológicos, como o aumento da agressividade, passando por muitos outros efeitos." (continua…)
Apache, Setembro de 2008

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O culto da mediocridade

Na sequência do comentário do Diogo no ‘post’ abaixo (cuja leitura é fundamental para o entendimento deste), que como referi, é uma adaptação minha de um texto recebido por e-mail; e a propósito das declarações alucinadas feitas hoje pela dona Maria de Lurdes, decidi insistir no tema. Antes porém, um esclarecimento… O autor do blogue não se identifica com nenhum dos partidos políticos existentes (lamento se goro expectativas), o que obviamente não o impede de pontualmente ter posições coincidentes com algum (ou alguns) deles. O texto publicado ontem é na sua essência uma crítica à mensagem implícita no novo Estatuto do Aluno (Lei nº 3/2008 de 18 de Janeiro) que a dona Lurdes apresentou como necessário para aligeirar a carga burocrática dos procedimentos conducentes à punição disciplinar de um aluno, que existia (segundo ela) no antigo estatuto; mas afinal, a única grande novidade que apresenta é a penalização dos professores pelas faltas dos alunos, sobretudo se estas forem injustificadas e os alunos estiverem fora da escolaridade obrigatória. Na anterior Lei, sempre que um aluno, fora da escolaridade obrigatória, excedia o limite de faltas injustificadas, estava automaticamente excluído. Agora, quando o aluno ultrapassa esse limite, o professor tem de lhe elaborar uma prova e, se o aluno obtiver aproveitamento na dita, as faltas dadas até aí deixam de contar. Se o aluno não obtiver aproveitamento na prova, mesmo que as faltas sejam injustificadas, o Conselho de Turma pondera a justificação ou não das mesmas (não há engano, é mesmo isto que está escrito no artigo 22º) e pondera ainda se o aluno deve ou não ser submetido a um plano de recuperação (com possibilidade de aulas de apoio) e a posterior sujeição a uma nova prova, podendo ainda, eventualmente excluir o aluno por faltas, o que não convém porque vai estragar a avaliação dos professores desse Conselho de Turma, uma vez que a classificação dos docentes (na sua avaliação) depende do sucesso dos seus alunos. É esta cultura do laxismo, da irresponsabilidade e da impunidade, na escola dos coitadinhos, que não posso deixar de criticar. Quanto aos dois milhões de pobres, também já me referi a eles em ‘post’ anterior. Muitos deles são trabalhadores por conta de outrem que laboram no duro 40 e mais horas por semana e são pagos miseravelmente. Uma percentagem igualmente significativa, são reformadas que depois de uma vida de trabalho árduo auferem pensões de miséria, que muitas vezes nem chegam para pagar as despesas de saúde. O rendimento Social de Inserção pago à custa dos nossos impostos é muitas vezes atribuído a famílias numerosas de gente de pele morena, Mercedes (ou BMW) à porta da casinha atribuída pela câmara (também à nossa custa) que passeia impunemente pela rua de caçadeira na mão, finge vender roupa contrafeita nos mercados de levante mas de facto enche os bolsos em negócios de metais amarelos adquiridos sem recibo nem vontade do vendedor, pós brancos de cheiro característico e armas de caça grossa. Que matriculam os filhos na escola para terem direito ao dito Rendimento (que algumas vezes excede os 750 euros) mas estes raramente lá põem os pés. São vários, os que à luz da teoria do coitadinho protegem estes parasitas da sociedade. É esta imagem de impunidade que o novo estatuto quer incutir nos adolescentes. O tal direito ao sucesso de que falava a ex-sindicalista que lidera a DREN e que hoje foi reforçado pela senhora da 5 de Outubro quando afirmou que o objectivo é chegar a 100% de sucesso no 9º ano, nos próximos anos. Um dia destes, ainda havemos de ver o ‘Inginheiro’ que provavelmente não completou o liceu, ou um seu herdeiro político, a distribuir diplomas de mestrado à saída das maternidades. Sublinho de novo, a todos os que querem propagar, por força de Lei, a sua própria mediocridade: P*** que os pariu.
Apache, Setembro de 2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O problema não é dele…

O Estatuto do Aluno concede-lhe o direito de não reprovar por faltas. Se faltar, o problema não é dele... A escola é que terá de lhe facultar apoio e resolver o problema. Tendo atingido o fim da escolaridade sem saber ler nem escrever e mesmo sem ter posto os pés nas aulas, o certificado das suas fantásticas habilitações concede-lhe o direito de ter um emprego. Se por acaso faltar ao emprego como faltava às aulas, o problema não é dele. O patrão, se precisa mesmo do empregado vai ter que resolver a questão.
Se, por um impensável absurdo, for despedido, o problema não é dele. O estatuto de desempregado concede-lhe o direito de ter um subsídio de desemprego.
Se, na vigência do subsídio, faltar às entrevistas ou recusar novo emprego,o problema não é dele. As suas competências, arduamente adquiridas, concedem-lhe o direito de escolher um emprego compatível com a especificidade da sua complexa individualidade. O problema é do Instituto do Emprego, obrigado a arranjar-lhe ocupação condizente ou a engrossar as listas de desempregados.
Se, por possuir um carácter de tal excepcionalidade não for, de todo, possível arranjar-lhe emprego à altura, o problema não é dele, que o estatuto de cidadão concede-lhe o direito ao Rendimento Social de Inserção, que constituirá uma renda perpétua, pois tão distinto cidadão tem direito a uma vida digna. Este, constitui uma renda paga pelos portugueses e não, como devia ser, pelos autores desta celerada lei, fautora da indisciplina, do laxismo, do não te rales, da irresponsabilidade mais absoluta.
Por uma vez, evocando o direito à indignação: P*** que os pariu!…
[Adaptado de um texto recebido por e-mail, de autor desconhecido]
Apache, Setembro de 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

"É preciso topete" - Santana Castilho

"Para os portugueses que conhecem a realidade das escolas e do sistema de ensino, comentar as últimas afirmações de José Sócrates é pura perda de tempo. A credibilidade do que diz não vai além da da publicidade enganosa. Mas junto dos menos esclarecidos, que infelizmente constituem a maioria, é dever cívico não as deixar passar em branco.
É preciso topete para falar do maior investimento de sempre nas escolas portuguesas, quando as verbas consignadas à Educação, em cada um dos três orçamentos de Estado da responsabilidade deste governo, decresceram sempre até atingir, no orçamento de 2008, o valor mais baixo dos últimos sete anos, quer em termos absolutos, quer em percentagem do PIB.
É preciso topete para, não contente com tal demagogia, ainda se gabar de um programa que vai obrigar qualquer governo, até 2015 - note-se bem, 2015 -, a executar orçamentos de Estado sucessivos segundo a cartilha que ele agora definiu. Onde chegou o absolutismo! Qualquer governo e ministro da educação futuros terão a vida armadilhada pela enxurrada caótica de legislação que será preciso corrigir. Mas destacar o armadilhamento das decisões dos que virão é obra dum despudor inimaginável.
É preciso topete para dizer que os que manifestam opinião contrária ao Grande Delfim ofendem os professores, os alunos e as famílias.
É preciso topete para dizer que os críticos não sabem explicar por que razão as reprovações caíram ao longo dos últimos três anos. Onde tem andado Sócrates, que não lê, não ouve, nem vê o que, de todos os quadrantes, tem formado um consenso notório? O milagre da drástica diminuição das reprovações deve-se a uma despudorada manipulação estatística, da responsabilidade do Governo.
Há dias e a esse propósito, questionado por Mário Crespo na SIC Notícias, o ministro Santos Silva foi de uma candura comovente. Disse ele não compreender os críticos de um facto evidenciado por dados fornecidos pela estatística, que é uma ciência. Como cientista social, não ignora que a natureza dos indicadores e o uso que deles se faz condiciona fortemente os resultados a que, a coberto da estatística, se pode chegar. Como professor universitário, sabe que o objecto da Ciência é a procura da verdade e que na história desse percurso abundam exemplos de enormes mistificações e desonestidades feitas em seu nome. Como político, não ignora a convicção de Maquiavel, segundo a qual a Política não conhece a Moral. Porque não aproveitou a ocasião para separar bem as águas? Por que não resistiu a dar ele próprio um belo exemplo de manipulação grosseira? Santos Silva denegriu uma sociedade científica, de cujo nome se não recordava, por ter dado um parecer favorável sobre um exame que, depois… (estupefacção do ministro)… viria a criticar fortemente, pelo seu “facilitismo”. Falava da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), a quem o Ministério da Educação pediu um parecer sobre a eventual existência de erros científicos no exame de Matemática do 9º ano. À SPM não foi pedido parecer sobre a adequação pedagógica do exame nem sobre o correspondente grau de dificuldade. A SPM já separou as águas publicamente. É preciso topete para teimar em misturá-las!O milagre da drástica diminuição das reprovações deve–se: a um estatuto do aluno que incentiva a indisciplina e desvaloriza o trabalho (os alunos podem passar sem pôr os pés nas aulas); a um estatuto do professor que baniu a palavra ensino e grudou a carreira dos docentes a resultados que dependem de muitas variáveis que eles não podem controlar; a uma autêntica avalanche normativa (há quem tenha contado 37 comandos diários) que soterrou as escolas em burocracia que o talento de Franz Kafka não imaginaria; a um perverso processo administrativo que dificulta de tal modo o chumbo que o mais inteligente é nem começar; a exames indigentes, a que só falta trazer as soluções, de patas para o ar, no final do enunciado; a uma confusão assassina sobre o que significa sucesso escolar (notas fabricadas versus conhecimento efectivamente acrescentado)."
Santana Castilho, Professor do Ensino Superior