Estávamos no final do Verão de 2005, Lurdes Rodrigues e ‘sus muchachos’ haviam tomado posse poucos meses antes e iniciavam agora um ataque feroz aos professores. Um tal rapaz de caracóis que havia “perdido” o mandato de vereador na Câmara Municipal de Penamacor, por excesso de faltas injustificadas e que tendo sido eleito deputado à Assembleia da República (2002 e 2005), parece nunca lá ter posto os pés, queixava-se na comunicação social dos elevados níveis de absentismo docente, esquecendo-se (como convinha) de afirmar que os professores eram a classe profissional que menos faltava, entre a totalidade de funcionários públicos, em oposição aos deputados que há muito lideram a tabela.
Curiosamente, ou talvez não, foram novamente os absentistas que saíram ontem em socorro de dona Lurdes. O projecto apresentado pela bancada parlamentar do CDS-PP, de suspensão da avaliação docente, foi “chumbado” pelo plenário, por 101 votos contra 80, tendo-se registado ainda uma abstenção. Estavam portanto presentes no momento da votação, 182 dos 230 deputados (21% de faltas). A liderança dos absentistas coube ao PSD, partido onde 30 dos 75 deputados faltaram à votação. E teria bastado que 22 deles estivessem presentes para que o autismo de dona Lurdes levasse uma primeira vassourada.
Não é crível que os 40% de faltosos do PSD a tão mediática questão, tivesse sido coincidência. Se no PS não se registassem apenas 6 votos contra e uma abstenção, como aliás era espectável (não fosse o temor aos devaneios do “inginheiro”) pela enorme contestação interna às políticas do ME e teríamos certamente assistido a um espectáculo hilariante, de ver mais de metade dos deputados do PSD a fugirem do hemiciclo para impedirem a suspensão deste modelo de avaliação docente.
A estratégia política do PSD parece passar neste momento por deixar que Sócrates continue a segurar a sua ministra e sucumbam ambos, politicamente, nesta guerra contra os professores. Esquecem-se no entanto os senhores deputados social-democratas que estão a cometer o mesmo erro dos medíocres da 5 de Outubro; pressupondo que os professores têm memória curta, arriscam a que nas próximas eleições estes respondam condignamente àqueles que por acção ou omissão contribuem para a destruição da escola pública.
Apache, Dezembro de 2008