sexta-feira, 26 de agosto de 2011

De erro em erro

«O dr. Passos Coelho jurou há um mês que o Governo não gozaria de férias para que, cito, "o essencial das decisões a aplicar possam ser aplicadas". Descontado o erro de concordância, resta o erro da previsão: o Governo entrou de férias. O dr. Passos Coelho anunciou as suas no Facebook, presumindo, talvez acertadamente, que os cidadãos não têm mais o que fazer do que brincar nas ditas redes sociais. O dr. Passos Coelho não se limitou ao anúncio, mas publicou no Facebook toda uma mensagem "oficial", intitulada "Uma pequena reflexão de Verão" e destinada às "Caras amigas e amigos".
Descontado o erro de concordância, resta o uso aparentemente aleatório de iniciais maiúsculas. O dr. Passos Coelho refere o "nosso Grande Desafio como nação e como povo" como se o "Grande Desafio" fosse uma entidade autónoma e reconhecida no notário, refere a "Sociedade Portuguesa" como se o conceito beneficiasse de estatuto formal e refere "que a instabilidade no sistema Financeiro Europeu e Americano são travões para um percurso já de si cheio de sacrifícios", como se de facto não soubesse escrever.
Descontado o erro de concordância, resta o tom simultaneamente épico e vazio da pequena reflexão. A pensar no Algarve, o Dr. Passos Coelho espraia-se por clichés grandiloquentes, desde "Este é o momento!" até "olhar o futuro com confiança e optimismo", passando por "somos um povo de vencedores que nos agigantamos perante as maiores adversidades".
Descontado o erro de concordância, resta a sensação de que tudo isto já havia sido dito e de que o oposto de tudo isto já havia sido feito. Inevitavelmente, o fervor nacionalista irrompe sempre que a nação rasteja: se olharmos o futuro, aquilo que vemos a agigantar-se é o desastre, destino que dificilmente será evitado por um primeiro-ministro débil na palavra e nas palavras. Para cúmulo, meia dúzia de semanas bastaram para que, à semelhança do velho, o novo poder tomasse cada dissidência à conta de manifestação anti-patriótica, pressuposto que, a ser respeitado, faria que ainda fôssemos castelhanos.»
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” de 11 de Agosto

terça-feira, 23 de agosto de 2011

“Um neoliberal é isto, Álvaro!” (2)

«HanusheK, economista da Educação por quem Nuno Crato tem grande apreço e trouxe recentemente a Portugal, foi dos primeiros a apontar a “falta de incentivos mercantis” (Journal of Human Resources, Junho de 1979) quando analisava a eficiência em Educação. Atente-se bem à semântica da expressão, não descuidada num académico com a responsabilidade dele. Mercantil é um adjectivo que se refere ao comércio, à mercancia, coisa bem afastada do objecto da Educação, suponho eu. Se tomarmos o vocábulo em sentido figurado, diz-se daqueles que perseguem só ganhos materiais, que são interesseiros e meros especuladores. A génese da avaliação do desempenho pode ser facilmente compreendida por quem a estude a partir da segunda metade do século passado, quando tomou relevância a preocupação política e económica de analisar em detalhe os custos de produção do serviço público de Educação. Por o ter feito, por a ter abordado na prática, em experiências e projectos de natureza educacional e empresarial, compreendo-a bem, rejeito-a como panaceia para a melhoria da qualidade da Educação e lamento que os professores e a sociedade em geral a aceitem como os crentes aceitam os dogmas, isto é, com reverência sacra. A avaliação do desempenho tornou-se um instrumento de uma concepção tecnocrática de gestão. A prática de modelos estereotipados para a realizar está estudada e reprovada pelo balanço dos resultados. Assim, a grande alteração que ficou por fazer foi desistir dela. O processo deveria ser indissociável da avaliação do desempenho de cada escola, depois de alterar radicalmente o modelo de gestão vigente. É estúpido avaliar com as mesmas referências e medidas o que é radicalmente diferente. É estúpido impor a todos o mesmo processo. É estúpido confundir a Educação com a actividade mercantil. Sei que incorro na fúria de muitos. Mas é o que penso e o que considero essencial. Tudo o mais é acessório, embora relevante, por ser tomado por essencial. Posto isto, vejamos, então, o acessório. Isenta-se da avaliação cerca de um terço dos docentes em exercício. Esperta malha. Calam-se muitos. Reduz-se o número de aulas a observar e, com isso, custos enormes e logística disforme. Pouco importa que se recupere, implicitamente, o conceito de professores titulares e que vá às urtigas o rigor do ministro e o que resta da coerência do seu discurso. Quotas viram percentis. Boa jogada! É mais erudito, ou não fora o ministro um mestre em Estatística e o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar um anterior defensor da avaliação de Maria de Lurdes Rodrigues. E neste ambiente em que todos começam a fazer de conta que não foram o que foram e não disseram o que disseram, faz de conta que as quotas desapareceram. Como reclamavam os sindicatos. Se assinarem rápido o papel, substituam “acordo”, de má memória, por um sinónimo. “Ajuste directo” ou “conúbio” seria perfeito e adequado aos tempos!» Se afastarem a espuma, encontram o mesmo disfarce ideológico, que visa condicionar a independência intelectual e profissional do exercício da docência: pela precarização da profissão (fala Crato de assistir os “novos” isentando os “velhos”, ignorando que muitos dos “novos” têm 10, 15 e até mais anos de exercício); pela proletarização da profissão; pela persistência da desconfiança militante na classe; pelo refinamento dos padrões de desempenho, como se professor fosse sapateiro (sem desprimor para com tal ofício). Também isto, Álvaro de Vancouver, o ajudará a saber o que é um neoliberal.
Santana Castilho, no “Público” de 17 de Agosto

domingo, 21 de agosto de 2011

“Um neoliberal é isto, Álvaro!” (1)

«1- O Álvaro, que veio do Canadá para pôr a economia do país na ordem, disse na Assembleia da República que não sabia o que era um neoliberal. Agostinho Lopes ensinou-o assim: “…É alguém que tem três axiomas com que justifica tudo: globalização, revolução científica e técnica e competitividade. É alguém que tem três mandamentos sagrados: privatizações, liberalização dos mercados e desregulamentação dos mecanismos de orientação económica. E tem um único instrumento como variável de ajustamento dos desequilíbrios: o preço do trabalho …”. A lição dada ao Álvaro, se complementada com a compulsão para aumentar impostos e taxas, faz uma bela síntese da actividade do Governo até agora. 2- O ministro das Finanças também precisa de uma lição que o esclareça sobre o que é uma conferência de imprensa. Convocada uma, que se supunha para anunciar os cortes na despesa, proibiu as perguntas e prendou-nos com mais aumentos, agora na electricidade e no gás. A subserviência à troika deixou à dita a missão soberana de, finalmente, esclarecer os indígenas sobre o desvio colossal, a solver com mais confiscos colossais. Aproveitando a inércia, Passos Coelho foi lesto no “Pontal”: preparem-se que vem aí muito mais e, por favor, não estrebuchem, porque o inferno espreita. Quanto ao corte na despesa, é esperar até Outubro. Antes, Passos tem que ultimar a oferta do BPN a Isabel dos Santos e companhia, resolver o bónus da TSU e escolher quem vai abocanhar a TAP, a RTP, os CTT, as Águas de Portugal e um naco da CGD, tudo a preço de saldo e em nome do inferno que espreita. 3- Para os que ainda tinham dúvidas, chegou a definitiva dissipação: a regulamentação da avaliação do desempenho dos professores, agora apresentada, é tão-só o “Simplex 3” do modelo de Maria de Lurdes Rodrigues, que sucede ao Simplex 2 de Isabel Alçada. Definitivamente, há uma nota que sobressai, por maior que seja a esperteza para a dissimular: continuar a política que privilegia a diminuição do preço do trabalho.»
Santana Castilho, no “Público” de 17 de Agosto

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Foi-se mais um moscardo mas o excremento, senhores…

Na passada segunda-feira, o Secretário de Estado do Emprego, Pedro Silva Martins, e a Secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário, Isabel Leite, reuniram com o Presidente da Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), Luís Capucha, tendo-lhe comunicado que não seria renovada a sua comissão de serviço, não sendo, portanto, reconduzido no cargo. Recorde-se que a ANQ é a entidade responsável pelo Programa Novas Oportunidades (NO) e que no passado dia 16 de Maio (em plena campanha eleitoral) Pedro Passos Coelho se havia referido ao programa como sendo “uma mega produção que mais não fez do que estar a atribuir um crédito e uma credenciação à ignorância e isso não serve a ninguém”. Convém, a bem da qualidade do ensino, que todo o trabalho desenvolvido pela ANQ seja avaliado por uma entidade independente e que seja feita uma reforma profunda nas (NO). Como o Professor Paulo Guinote bem retratou, num texto que aqui repliquei [e do qual destaco este excerto: “a dupla (…) que eu designaria por Capucha-Lemos connection e que, fugindo à esfera mais restrita da tutela da Educação, conseguiu, com um pé dentro e outro fora do ME, criar um feudo com um poder imenso que se prepara para continuar, verdadeiramente, a revolucionar os percursos escolares dos portugueses, construindo sucesso a todo o custo, mesmo que seja cilindrando tudo o que se lhes oponha. (…) O que se está a passar é a contaminação completa do Ensino Secundário pelo espírito NO, depois do Básico ter sido modelado à imagem das teorias do direito ao sucesso que Lemos debitou desde o início dos anos 90, na altura a partir do Instituto de Inovação Educacional e que Capucha abraçou como sendo o mecanismo ideal para um teórico nivelamento social, que nega ser pela bitola baixa, que nenhum estudo comprova ter funcionado como fomentador de qualquer mobilidade socioprofissional. (…) Ambos querem transformar o sistema educativo público numa imensa rede de certificação, com 110% de sucesso garantido à nascença. Movendo-se numa pouco discreta sombra, num claro-escuro que não oculta a vaidade e presunção, a Capucha-Lemos connection constitui-se como o verdadeiro soviete revolucionário da Educação Nacional. Temei… porque esta é uma forma de terror educacional… ”] Luís Capucha (Presidente da ANQ) e Valter Lemos (primeiro, como Secretário de Estado da Educação, depois, com Secretário de Estado do Emprego, nos dois anteriores governos) construíram um tal monte de esterco que, uma vez posto a rolar, tudo tem conspurcado à sua passagem, pelo que, não basta (como parece ir acontecer com a Avaliação do Desempenho Docente) terem-se afastado os moscardos (em actos de mera substituição de boys em cargos nomeação política) impõem-se que se comecem (urgentemente) a remover os excrementos.
Apache, Agosto de 2011

sábado, 30 de julho de 2011

Escabeche

“Se eu mandasse, toda a gente era autarca uma vez na vida. Infelizmente, como os mandatos autárquicos chegam a durar 40 anos, nem toda a gente teria uma esperança de vida que lhe permitisse aguardar a sua vez. Mas parece-me evidente que a gestão de uma autarquia rejuvenesce. Aponto como exemplo Fernando Ruas, presidente não só da Câmara de Viseu como também da associação de municípios, e que, aos 62 anos, não tem ainda um único cabelo branco. Há qualquer coisa no trabalho autárquico que protege a saúde de quem o executa. Creio que é a absoluta ausência de preocupações. O autarca, em princípio, sabe que não há nada que o apanhe. Se fizer falcatruas, em princípio não é condenado. Mas, se for condenado, mais depressa é reeleito. Se for reeleito, não pode ir preso. Mas, se for preso, foge para o Brasil. O destino do autarca oscila entre o poder perpétuo e o turismo tropical. São ‘minimonarquias’ que podem ser interrompidas por ‘miniexílios’ dourados. Além disso, a actividade autárquica é isenta de stresse, como pôde voltar a constatar-se esta semana: todo o País está absorvido pelos problemas do desemprego, da crise da dívida, do décimo terceiro mês e da bancarrota, mas a Câmara Municipal do Fundão não deixa que essas pequenas preocupações a afectem, e tem tempo para tratar dos grandes assuntos. E decidiu processar a organização do concurso gastronómico 7 Maravilhas por uma infracção culinária. Ao que parece, a perdiz de escabeche, que a edilidade do Fundão garante ser originária de Alpedrinha, vai apresentar-se a concurso como se fosse - e peço ao leitor que contenha a revolta e a indignação - de Idanha-a-Nova. Assim que a Câmara do Fundão percebeu que ia ser espoliada da perdiz de escabeche entrou em acção e fez, aliás apropriadamente, um escabeche. De acordo com o Expresso, a Câmara ameaça "accionar todos os meios legais que se encontrem disponíveis e se afigurem necessários e pertinentes". Sossega-me saber que, de acordo com este comunicado, a Câmara não pretende accionar meios legais que não se encontrem disponíveis. Já não é mau. Mas a intenção de recorrer a todos os disponíveis faz antever uma batalha legal longa e violenta: quem tenha vagar para ir à procura, encontra, na legislação portuguesa, uma vastíssima gama de meios apropriados para a defesa das vítimas da deslocalização dos pratos de caça. O Código Civil dedica dois capítulos a este flagelo, e há uma subsecção que regulamenta em especial os escabeches. O perpetrador do crime que se cuide. O ‘desperdizamento’ da Câmara do Fundão não passará impune.”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” da passada quinta-feira

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Rússia deu vida ao monstro concebido no Japão, agora ambos querem matá-lo

Em finais de Maio passado, a Rússia, o Japão e o Canadá anunciaram que não participariam na segunda ronda de negociações para a “renovação” do Protocolo de Quito, tratado que surge na sequência da patética teoria do aquecimento global antropogénico (rebaptizado, à medida que as temperaturas médias globais baixavam e os cenários catastrofistas não ocorriam, de alterações climáticas antropogénicas) e que impunha reduções nas emissões de gases com alegado “efeito de estufa” limitando o desenvolvimento económico de muitos dos países signatários. Recordo que o Protocolo de Quioto (assim conhecido por ter sido naquela cidade japonesa que, após conclusão do texto, ficou aberto para assinaturas a 11 de Dezembro de 1997) foi ratificado a 15 de Março de 1999, entrando em vigor a 16 de Fevereiro de 2005, depois de a Rússia o ter ratificado em Novembro de 2004. O Protocolo, que os Estados Unidos nunca ratificaram (apesar do seu ex-vice-presidente Al Gore ter sido um dos seus mentores) carecia, para vigorar, de ser ratificado por países que, no seu conjunto representassem mais de 50% das emissões de “gases com efeito de estufa”, o que aconteceu, precisamente, com a ratificação da Rússia que elevou a quota dos signatários para 55%. Na sequência do escândalo conhecido por “climategate” e consequente desacreditação pública da algaraviada designada por “ciência climática”, as opiniões públicas de vários países (e muitos conselheiros políticos, económicos e científicos) começaram a questionar a utilidade do dito protocolo. As consequências disso estão agora à vista. Rússia, Japão e Canadá (aparentemente) vão ficar fora do “novo acordo” e os Estados Unidos anunciaram que não pretendem alterar a sua posição (permanecendo fora). Assim, a quota de emissões dos signatários do Protocolo cai de 55% para 20%. O golpe dado, no ridículo protocolo, foi de tal forma importante que o ‘verdinho’ Yvo de Boer, ex-secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, se viu obrigado a vir a público transmitir a mórbida notícia: “O espírito do Protocolo de Quioto desapareceu. O seu corpo tem vindo a ser, artificialmente, mantido vivo e alguns dos seus órgãos talvez possam vir a ser transplantados. Mas temos que admitir que o Protocolo de Quioto está morto.” Infelizmente, para a Ciência, teorias como a do “aquecimento global antropogénico”, ou a do “buraco do ozono causado pelos clorofluorcarbonetos” (de que resultou o Protocolo de Montreal), só para citar as mais populares (e lesivas do progresso económico e social da humanidade) continuam ainda vivas (apesar de moribundas). Se um dia estas “casinhas de palha” ruírem todas, o nome da Ciência fica em muito “maus lençóis”. Aguardemos os próximos episódios destas ficções.
Apache, Julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Um Programa em “politiquês” de e para “fraquinhos no discernimento”

«Mesmo que já se tenham passado uns tempos sobre a respectiva divulgação, confesso ainda não ter opinião sobre as medidas incluídas no programa do Governo. Por enquanto, continuo abismado com o idioma em que as medidas foram escritas. É verdade que houve ligeiros progressos face ao programa do Governo anterior. É também verdade que, dado o analfabetismo terminal de que esse documento padecia, isso não significa muito. Assim por alto, temos o vocabulário encaracolado, inventado ou apenas ridículo. "Âmbito", se quisermos citar um exemplo clássico de parolice, aparece 30 vezes. "Ao nível" aparece 17 vezes. "Em termos de", 5 vezes. "Nomeadamente", 22 vezes. "De excelência", 5 vezes. "Optimizar" ou "optimização", 12 vezes. "Sustentabilidade", 34 vezes. "Implementar" ou "implementação" 34 vezes. "Contratualização", 7 vezes. "Agilizar", 9 vezes. "Reafectar", uma vez. A seguir, temos os indispensáveis estrangeirismos: "cluster" (10 menções), "outsourcing" (2), "start-ups" (1) e I&D (10). Nas frases, há as campeãs da redundância ("O valor incomensurável da dignidade da pessoa humana"), há conceitos herméticos ("atlas desportivo interactivo e actualizado"), há aspirações patetas ("Construir cadeias de valor de suporte ao tecido empresarial do cluster (a montante e a jusante)"), há trechos mancos ("E o Governo assume igualmente que esta dimensão de articulação entre áreas cujo inter-relacionamento é determinante o incremento da segurança estará sempre no centro das suas preocupações") e há sonhos hiperbólicos ("Eleger o ensino do português como âncora da política da diáspora"). A âncora é dispensável: a julgar pelas citações acima, já seria óptimo que, em lugar de o lançar ao fundo, alguém aprendesse português suficiente para passar nos pífios exames do liceu e, de caminho, redigir cento e tal páginas em língua de gente. Não é por nada, mas custa acreditar que sujeitos incapazes de alinhavar umas ideias conseguirão passar as ideias à prática e, como se impõe, reformar o país. Resta que a turbulência externa talvez torne o programa do Governo inconsequente e que a falta de vontade interna talvez mate o programa à nascença. Dos males, o menor.»
Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Segunda cavadela, segunda minhoca

No dia 2 de Abril passado (dois meses antes das eleições) o Vice-Presidente do PSD, Diogo Leite Campos, explicava, em entrevista ao “i” que o PSD, caso viesse a formar Governo, não aumentaria os impostos, acrescentando que a actual carga fiscal “é a maior de sempre em Portugal”, constituindo um “inadmissível disparate”. Confrontado pelos jornalistas com o facto do líder do seu partido, Pedro Passos Coelho, ter dito que, porque não conhecia a verdadeira situação das contas do país não poderia garantir que não aumentaria impostos, apenas afiançava que se tal acontecesse seriam impostos sobre o consumo e não sobre o rendimento, Diogo Campos disse que se tratava de um problema de comunicação. Em conferência de imprensa, dada na passada quinta-feira, Victor Gaspar, Ministro das Finanças do actual Governo, confirmou o que já antes havia sido anunciado. O Governo (liderado pelo PSD) vai mesmo aumentar os impostos (através da criação de uma “sobretaxa extraordinária, em sede de IRS” sobre o Subsídio de Natal) e esse aumento incide sobre o trabalho e não sobre o consumo. Constata-se assim que, tal como preconizava Diogo Leite Campos, o PSD tem mesmo um problema de comunicação, e grave, pois nem o seu Presidente nem o seu Vice-Presidente conseguiram comunicar devidamente (mesmo dizendo coisas diferentes) com os portugueses sobre o que realmente pretendiam fazer caso chegassem ao poder. Ou isso ou em vez de um grave problema de comunicação, o PSD tem mentirosos a mais e nesse caso será de perguntar (imitando certo personagem): Sócrates, em Portugal, quantos são, quantos são? Entretanto, Victor Gaspar, na mesma conferência de imprensa, anunciou igualmente que 65% dos agregados familiares não vão pagar o imposto extraordinário, que é mais ou menos o mesmo que dizer que 65% dos portugueses não vão pagar o novo imposto. Poder-se-ia pensar que os “isentos” são os mais desfavorecidos (até porque para o imposto não vai contribuir quem aufere, mensalmente, um vencimento igual ou inferior ao ordenado mínimo nacional) mas não é bem assim, quem habitualmente foge ao IRS continuará a fazê-lo e, portanto, a “sobretaxa” não se lhe aplica, e quem vive de rendimentos de capitais também não contribuirá. Além de não perceber porque é que um Governo que se diz “de direita” combate o défice por via do aumento da receita e não através da redução da despesa, também não percebo porque é que ninguém, neste Governo, percebeu que a melhor maneira de aumentar as receitas era através do aumento do IVA, primeiro porque Passos Coelho não tinha afastado (antes das eleições) a hipótese dum aumento de impostos sobre o consumo, depois porque esta é a única forma de todos contribuírem, já que rendimentos do trabalho nem todos têm mas consumir todos consomem e, provavelmente, (em valor) na proporção dos seus rendimentos.
Apache, Julho de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

"Este é o melhor governo das últimas três semanas"

“De um modo geral, as pessoas olham com desconfiança para os políticos e com alguma admiração para os comentadores políticos. Por outro lado, olham com alguma admiração para os futebolistas e com desconfiança para os comentadores de futebol. As pessoas, como sempre, estão erradas. Se alguma coisa distingue os comentadores de política dos de futebol é que os de futebol são melhores. A principal marca dessa superioridade é esta: os comentadores políticos recorrem muitas vezes a metáforas do mundo do futebol para explicar a política, mas os comentadores de futebol teriam justa repugnância em utilizar o jargão político para explicar uma coisa pura e bonita como é o futebol. Além disso, há nos comentadores de futebol uma humildade que os eleva. Jorge Baptista pode criticar Cristiano Ronaldo, mas não ousa acreditar que faria melhor do que ele no campo. Em contraponto, qualquer editor de política que ponha em causa as opções de determinado primeiro-ministro não esconde que, lá no fundo, acredita que seria um chefe de Governo mais competente. A ingenuidade dos comentadores de política, que contrasta com a frieza experiente dos comentadores de futebol, vem ao de cima em momentos como este. A formação de um novo Governo tem dividido as opiniões: certos comentadores crêem que há razões para ter esperança porque as escolhas de Passos Coelho foram boas, outros acham que não há motivo para festa porque as escolhas de Passos Coelho foram más. Uma vez mais, estão todos errados. Este Governo não vai fracassar apesar das boas escolhas ou por causa das más escolhas. Este Governo vai fracassar porque é um Governo. E, ainda por cima, é um Governo de Portugal. São logo duas circunstâncias funestas. No futebol, compreende-se mal que haja euforia antes do início do campeonato. Na política, não se compreende de todo que haja euforia antes do início de uma legislatura. Ao menos, no fim de um campeonato, haverá sempre um campeão. No fim de uma legislatura só tem havido ressentimento e desilusão. E, sendo o mesmo tipo de ressentimento, custa a perceber de que modo é que continua a gerar euforia. Dou um exemplo: neste momento, há comentadores que depositam grande esperança no novo Governo de coligação entre PSD e CDS. No entanto, da última vez que PSD e CDS se juntaram para governar, o eleitorado ficou tão satisfeito que, na primeira oportunidade que teve, deu uma maioria absoluta a José Sócrates. PSD e CDS foram tão maus que fizeram Sócrates parecer excelente. Depois, Sócrates foi tão mau que fez PSD e CDS parecerem salvadores. Há comentadores políticos que ainda caem nesta esparrela. Rui Santos nunca cairia. Claro que há dois ou três aspectos positivos no novo Governo. O primeiro é que o partido que venceu as eleições está em minoria no Governo. Em 12 ministros tem 5, contando com Passos Coelho. Pode ser uma inovação interessante. O segundo é que, com a nomeação para primeiro-ministro, Passos Coelho conseguiu finalmente obter um emprego sem ser numa empresa administrada por Ângelo Correia. Aqui está o que pode ser uma inspiração para os desempregados. Com tempo, esforço e sorte, podem arranjar um emprego sem cunhas. Basta que, quando concorrerem a determinado posto de trabalho, o outro candidato ao lugar seja José Sócrates.”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” da semana passada

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Primeira cavadela, primeira minhoca

“Todos os portugueses sabem que, excepto pelas costas, não se diz mal dos amigos e conhecidos. Felizmente, devo ter uma costela estrangeira e não me sinto obrigado à regra. Quando o novo secretário de Estado da Cultura, pessoa inteligente e óptima companhia, se estreia na função a prometer que o Acordo Ortográfico (AO) será "implementado" em 2012 nos "documentos oficiais e nas escolas" dado ser "um caminho sem retorno", eu gostaria de lembrar ao Francisco José Viegas que caminhos sem retorno também eram, ou são, o TGV, o aeroporto de Alcochete, a bancarrota, a gripe suína e o declínio do Belenenses. O trabalho de um governante consiste, suponho, em tentar contrariar as desgraças ditas inevitáveis. Aceitá-las de braços caídos tende um bocadinho para o fácil e talvez não justifique o salário. Ainda por cima, às vezes sai mais caro, em esforço e em dinheiro, aceitar as desgraças ditas inevitáveis do que impedi-las. Na questão do AO, por exemplo, parece-me menos complicado deixar as coisas como estão do que proceder à inutilização de toneladas de papel e à revisão de gigabytes de informação "virtual" em nome de um compromisso pateta e de enigmática serventia. Vasco Graça Moura, aqui no DN, já aludiu ao prejuízo material que o AO implica, ao tornar obsoletos manuais escolares, dicionários e livros em geral. Se o objectivo do Governo eleito fosse torrar fortunas em disparates, a "implementação" do AO viria a calhar. Sucede que o momento é, ou assim nos garantem, de austeridade, por isso dói ver aumentos de impostos contrabalançados por desperdícios quantitativamente pequenos e simbolicamente desmesurados. Pior que tudo, além de tonto nos princípios e dispendioso nos meios, o AO é horroroso nos fins.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Carta aberta a Nuno Crato

“O senhor ministro, na tomada de posse, pediu "uns dias para aterrar". Inteiramente justo, se for sua intenção fazer a limpeza dos estábulos de Augias, dos detritos de seis anos de caos e incompetência no Ministério da Educação. Era também nossa intenção - nem só de luta vive o homem - aguardar calmamente as primeiras decisões da sua equipa. Porém, parece que alguns gabinetes do (agora seu) ministério acharam que era chegada a altura de redobrar de actividade. Foi o caso da Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação (DGRHE), que, precisamente na véspera da tomada de posse, decidiu bombardear as escolas com mais uma das suas célebres aplicações informáticas, no caso relativa à Avaliação do Desempenho Docente (ADD). O mais avisado teria sido - face ao compromisso de acabar com a actual ADD, assumido diversas vezes pelos partidos do actual governo, e em particular pelo PSD - que a DGRHE aguardasse as decisões do novo ministro. E (porque não?) aproveitasse a pausa para tentar compreender como foi possível que anteriores aplicações informáticas tivessem calculado para professores diferentes, mas com pontuações idênticas nos parâmetros de avaliação, Bons de 7 e Bons de 9. Sabia disto, professor Nuno Crato? Que terá motivado a impaciência deste organismo, co-autor de tantas das malfeitorias dos últimos anos, a começar pelo concurso de professores titulares? Dirão alguns que foi ditada pela necessidade de mostrar serviço, com medo de serem reenviados para as escolas. Cremos que não... Parece-nos mais uma tentativa de colocar a nova equipa perante factos consumados. Esperemos é que não seja uma forma pouco subtil de vincar que bem podem mudar os governos e os ministros, mas quem realmente define as políticas educativas não se encontra sujeito ao voto popular. Não conhecemos em pormenor as suas ideias para a avaliação dos professores, embora saibamos que defende que esta deve ser externa (precisamente o oposto da actual) e incidir no trabalho com os alunos (a actual mede acima de tudo o relacionamento interpessoal entre os docentes e os órgãos de gestão). No que respeita à avaliação dos alunos, assunto em relação ao qual conhecemos melhor as suas opiniões, tem dito repetidamente que lhe falta seriedade, que os exames actuais não são fiáveis e que, para poderem ser credíveis, deveria ser uma entidade independente a fazê-los, e não o próprio ministério, por estar ele próprio (interesse directo) a ser avaliado pelos exames que elabora. Não nos parece que necessite que lhe avivem a memória - o intenso debate que culminou na revogação parlamentar, se teve um grande mérito, foi revelar a natureza kafkiana (o adjectivo é de Passos Coelho) do modelo - sobre os motivos por que a ADD herdada do governo anterior carece em absoluto de fiabilidade, de credibilidade e de isenção. Que é tão pouco séria que foi sempre preocupação dos legisladores impedir que se divulgassem as classificações, dada a inexistência de qualquer relação entre estas e o mérito do avaliado. Se o processo não for travado, o que se vai ver nas escolas durante o próximo mês é o preenchimento atabalhoado de dezenas ou centenas de folhas (com fotos à mistura, de iniciativas mais ou menos folclóricas) contendo as chamadas evidências que (mesmo sendo genuínas) pouco ou nada terão a ver com o trabalho, os conhecimentos e a dedicação de cada professor à aprendizagem dos seus alunos. Sem exagero, o mais tosco e menos bem conseguido dos exames do ensino básico será cem vezes mais fiável que este modelo de avaliação de professores. Também não nos parece que o senhor ministro (nem ninguém) aceitasse um sistema de ingresso no ensino superior em que a classificação de acesso fosse atribuída... pelo delegado de turma. Pois bem, a distribuição de papéis entre avaliados e avaliadores na actual ADD traduz uma situação que é, em traços largos, precisamente idêntica a esta caricatura. Posto isto, o senhor ministro apenas tem dois caminhos à sua frente. Um deles é permitir que esta ADD seja finalizada e produza consequências irreversíveis na carreira e nos concursos de professores e outras, não menos perversas, no ambiente escolar, na motivação da classe docente e na promoção do mérito. O segundo, sem dúvida menos cómodo e que lhe trará alguns amargos de boca com os burocratas do seu pelouro, é cortar de vez com o passado e dar início a um novo tipo de relacionamento com os professores, pautado pela exigência, mas também pela confiança. Porque, e disso não temos a menor dúvida, a decisão que agora tomar sobre a ADD vai ser a verdadeira pedra-de-toque do seu futuro desempenho à frente do Ministério da Educação.”
Professores da Escola Secundária com 3.º ciclo de Henrique Medina, Esposende [no "i" de hoje]

sábado, 25 de junho de 2011

E contra factos…

A 14 de Abril de 2010, o professor de Economia, Álvaro Santos Pereira, escrevia assim, no seu blogue “Desmitos”: “Nos últimos dias, a "campanha" eleitoral tem sido constituída por um rol de "factos" que só servem para distrair os(as) portugueses(as) daquilo que realmente é essencial. E o que é essencial são os factos. E os factos são indesmentíveis. Não há argumentos que resistam aos arrasadores factos que este governo nos lega. E para quem não sabe, e como demonstro no meu novo livro, os factos que realmente interessam são os seguintes: 1) Na última década, Portugal teve o pior crescimento económico dos últimos 90 anos; 2) Temos a pior dívida pública (em % do PIB) dos últimos 160 anos. A dívida pública este ano vai rondar os 100% do PIB; 3) Esta dívida pública histórica não inclui as dívidas das empresas públicas (mais 25% do PIB nacional); 4) Esta dívida pública sem precedentes não inclui os 60 mil milhões de euros das PPPs (35% do PIB adicionais), que foram utilizadas pelos nossos governantes para fazer obra (auto-estradas, hospitais, etc.) enquanto se adiava o seu pagamento para os próximos governos e as gerações futuras. As escolas também foram construídas a crédito; 5) Temos a pior taxa de desemprego dos últimos 90 anos (desde que há registos). Em 2005, a taxa de desemprego era de 6,6%. Em 2011, a taxa de desemprego chegou aos 11,1% e continua a aumentar; 6) Temos 620 mil desempregados, dos quais mais de 300 mil estão desempregados há mais de 12 meses; 7) Temos a maior dívida externa dos últimos 120 anos; 8) A nossa dívida externa bruta é quase 8 vezes maior do que as nossas exportações; 9) Estamos no top 10 dos países mais endividados do mundo em praticamente todos os indicadores possíveis; 10) A nossa dívida externa bruta em 1995 era inferior a 40% do PIB. Hoje é de 230% do PIB; 11) A nossa dívida externa líquida em 1995 era de 10% do PIB. Hoje é de quase 110% do PIB; 12) As dívidas das famílias são cerca de 100% do PIB e 135% do rendimento disponível; 13) As dívidas das empresas são equivalentes a 150% do PIB; 14) Cerca de 50% de todo endividamento nacional deve-se, directa ou indirectamente, ao nosso Estado; 15) Temos a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos; 16) Temos a segunda maior fuga de cérebros de toda a OCDE; 17) Temos a pior taxa de poupança dos últimos 50 anos; 18) Nos últimos 10 anos, tivemos défices da balança corrente que rondaram entre os 8% e os 10% do PIB; 19) Há 1,6 milhões de casos pendentes nos tribunais civis. Em 1995, havia 630 mil. Portugal é ainda um dos países que mais gasta com os tribunais por habitante na Europa; 20) Temos a terceira pior taxa de abandono escolar de toda a OCDE (só melhor do que o México e a Turquia); 21) Temos um Estado desproporcionado para o nosso país, um Estado cujo peso já ultrapassa os 50% do PIB; 22) As entidades e organismos públicos contam-se aos milhares. Há 349 Institutos Públicos, 87 Direcções Regionais, 68 Direcções-Gerais, 25 Estruturas de Missões, 100 Estruturas Atípicas, 10 Entidades Administrativas Independentes, 2 Forças de Segurança, 8 entidades e sub-entidades das Forças Armadas, 3 Entidades Empresariais regionais, 6 Gabinetes, 1 Gabinete do Primeiro Ministro, 16 Gabinetes de Ministros, 38 Gabinetes de Secretários de Estado, 15 Gabinetes dos Secretários Regionais, 2 Gabinetes do Presidente Regional, 2 Gabinetes da Vice-Presidência dos Governos Regionais, 18 Governos Civis, 2 Áreas Metropolitanas, 9 Inspecções Regionais, 16 Inspecções-Gerais, 31 Órgãos Consultivos, 350 Órgãos Independentes (tribunais e afins), 17 Secretarias-Gerais, 17 Serviços de Apoio, 2 Gabinetes dos Representantes da República nas regiões autónomas, e ainda 308 Câmaras Municipais, 4260 Juntas de Freguesias. Há ainda as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, e as Comunidades Inter-Municipais. Nos últimos anos, nada foi feito para cortar neste Estado omnipresente e despesista, mas já se cortaram salários, já se subiram impostos, já se reduziram pensões e já se impuseram vários pacotes de austeridade aos portugueses. O Estado tem ficado imune à austeridade. Isto não é política. São factos. Factos que andámos a negar durante anos até chegarmos a esta lamentável situação. (…)” Hoje, Álvaro Santos Pereira é Ministro da Economia e do Emprego, do XIX Governo Constitucional e, dele os portugueses esperam pacientemente (ainda que a paciência não seja um recurso ilimitado) que comece a “enterrar o estrume” que os anteriores governantes deixaram por aí. Sob pena de (ao não o fazer) correr o risco de ver a “E. coli” desvalorizar-lhe os apregoados “tomates”.
Apache, Junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

“Mais palpites sobre o Governo”

«Mal se conheceu a composição do novo Governo, resmas de comentadores e "politólogos" (?) precipitaram-se rumo às televisões para distribuir, presume-se que de borla, palpites sobre a matéria. A certa altura, a coisa lembrou um concurso de "misses", no qual o jornalista de serviço lançava o nome de um ministro e os jurados, desculpem, os comentadores presentes avaliavam, com base no conhecimento de causa ou na fezada, os respectivos méritos. A competência técnica era a prova em vestido de noite. O peso político equivalia à prova em fato de banho, e foi naturalmente aqui que as críticas se espevitaram. Ao que percebi, a maioria dos comentadores concede prioridade ao referido peso político, no pressuposto de que uma vida dedicada à carreira partidária habilita melhor um sujeito a mandar nos semelhantes. Já a parte técnica, ou "tecnocrática", é olhada de viés: numa curiosa inclinação que explica a nossa História recente e não só, a "inteligência" pátria não gosta de quem sabe fazer contas. Eu, por acaso ou mania, gosto. Prefiro governantes movidos por uma racionalidade comezinha e séria a governantes repletos de "visões", "missões" e "desígnios", típicas camuflagens da inépcia ou da fraude. Assim, arrisco-me a expandir a imensa lista de conjecturas e digo que me parecem bem entregues as pastas das Finanças e da Economia. Parece-me razoavelmente entregue a pasta da Saúde. Parece-me uma bênção, eventualmente tardia, que, por uma vez, a pasta da Educação tenha ido parar ao mais público e lúcido adversário do estado comatoso e entre comas a que a dita desceu. Quatro nomeações decentes (ou óptimas), quatro "independentes". No lado oposto, vejo com certa reserva a opção para a Justiça, menos pelas capacidades profissionais de Paula Teixeira Pinto do que pelas imediatas manifestações de simpatia do bastonário da Ordem dos Advogados e desse vulto inclassificável chamado Boaventura de (não esquecer o "de") Sousa Santos. E suspeito que a designação de um "orgânico" da estirpe de Miguel Relvas para liderar a reforma administrativa é indício de que não se pretende reformar administração nenhuma. Porém, mesmo que se estenda o benefício da dúvida ao Executivo inteiro e se acredite que ali há vontade de cumprir as imposições decretadas pela 'troika', seria absurdo considerar que tal disposição representa meio caminho andado. No máximo, é um décimo, talvez um centésimo do caminho. Será também preciso aliar à vontade o talento. E acrescentar ao talento uma eficácia literalmente extraordinária. E ignorar os sindicatos, as corporações, os lóbis, a "rua" e a genética resistência do português médio à mudança. E transformar este caldo de improdutividade num país susceptível de atrair o investimento exterior. E etc. Do que depende do Governo, a tarefa é dificílima. Do que não depende do Governo, mas da tragédia grega, da paciência alemã e da sorte em geral, a tarefa parece impossível. Resta-nos esperar, embora de pé: sentados chegámos a isto.»
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias”

sábado, 18 de junho de 2011

Novas figuras ou os figurões habituais?

Ficou ontem (parcialmente) conhecido o elenco do novo Governo que, numa análise muito superficial, apresenta dois aspectos positivos: várias caras novas, quer em termos de experiência governativa quer em termos de idade, e uma certa tendência para “fugir um pouco do centro”. Gente nova tem, provavelmente, vontade de fazer e como pior que o que antes foi feito é quase impossível, agrada-me que (neste momento) se tente fazer; a probabilidade de sair algo (ainda que minimamente) melhor deixa uma réstia de esperança ao país. Uma tendência para divergir de um “centrão” incompetente e acima de tudo decadente, também me agrada. Contrariamente à maioria que parece preocupar-se (ainda e sempre) com questiúnculas ideológicas é-me (no estado em que nos encontramos, quase) indiferente que se vire à direita ou à esquerda desde que se procure a saída deste imenso pântano onde de momento estamos atolados, e não apenas por culpa dos dois últimos governos do sr. 'inginheiro', pois os seus antecessores pouco (ou nada) de positivo conseguiram. Ao olhar para as “novas” figuras (e alguns “velhos figurões”) que nos foram ontem apresentadas sou tentado a depositar alguma esperança nos independentes (pessoas que pelos currículos que possuem, me parecem meritórias) e na “menina” do CDS (a quem saiu a fava do Ambiente) que tão bem esteve em alguns debates televisivos. Não tenho ilusões nenhumas relativamente a Paulo Portas ou a Miguel Relvas mas era quase inevitável que Passos Coelho cedesse a alguns “homens do(s) aparelho(s) partidário(s)”. Aguardemos calmamente a lista de Secretários de Estado para manter acesa uma ténue “luz ao fundo do túnel” ou, como dizem os brasileiros, “cair na real”. Especificamente quanto ao Ministro da Educação, só dois nomes se perfilavam, à partida, capazes de atirar uma “pedrada no charco”: Santana Castilho e Nuno Crato. Foi este último o escolhido de Passos Coelho. Neste texto com pouco mais de dois anos expressei a minha opinião sobre Nuno Crato, mantenho integralmente o que aí escrevi. Discordo do Nuno Crato em matéria de avaliação de professores, acho que acredita demasiado nas virtudes de possíveis avaliadores externos, parece esquecer-se que o cancro “eduquês” já tem metástases, tanto na IGE como em inúmeras universidades (além das escolas superiores de educação, já a necessitarem de cuidados paliativos). Estou convencido que, para muitos professores nos quais me incluo, se Nuno Crato conseguir alterar um terço de tudo quanto criticou publicamente no Ministério da Educação da era socrática, será o melhor Ministro da Educação dos últimos 20 anos (no mínimo). Esperamos para saber quais são os nomes dos Secretários de Estado para sabermos se vai haver equipa capaz de, em vez de declarar guerra aos professores (como fez Maria de Lurdes Rodrigues) optar por varrer o lixo que há longos anos infesta (quase até ao tecto) os “longos” corredores do Ministério. Reservo no entanto algum pessimismo: não sei se há aterro sanitário que comporte tanto lixo e coragem política para consistentemente ir varrendo. P.S. Declaração de interesses: não votei PSD nem CDS.
Apache, Junho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

As Nuvens de Aristófanes

“Deve ser a isto que os especialistas chamam a admirável intemporalidade dos clássicos. Uma peça de Aristófanes, escrita há uns 25 séculos, parece um decalque da actual vida portuguesa. Como é óbvio, trata-se de uma comédia. Claro que esta feliz coincidência pode dever-se menos à habilidade de Aristófanes para se manter actual e mais à habilidade de Portugal para se manter atrasado. Mas, seja o talento do retratista ou do retratado, não deixa de ser notável. Na peça ‘Nuvens’, um homem chamado Estrepsíades está cheio de dívidas e cercado por credores. Resolve então recorrer a Sócrates. O objectivo é aprender a argumentar com o famoso filósofo e, através de falácias, demonstrar aos credores que uma dívida não é, na verdade, uma dívida. Em Aristófanes, Sócrates é um charlatão. Excepto na opinião de um pequeno grupo de apaniguados, é um troca-tintas. Um impostor. Um pequeno bandido, digamos. Este é, talvez, o ponto em que a peça se afasta mais da nossa realidade - declaração que faço imbuído do mais profundo amor à verdade e também para evitar processos judiciais. Mas, tirando esta discrepância flagrante e grotesca, tudo na história faz lembrar o Portugal do século XXI. Estrepsíades representa os portugueses (especialmente aqueles portugueses, ainda não especificados, que se endividaram em 78 mil milhões de euros), os credores são os credores, e Sócrates é Sócrates. O facto de a peça decorrer na Grécia - que é, neste momento, o país mais parecido com Portugal - também ajuda. Todos os que acreditam nas capacidades proféticas da literatura devem, no entanto, desiludir-se. Não será a peça de Aristófanes a mostrar-nos o futuro. Como toda a gente que aposta em Sócrates para lhe resolver o problema das dívidas, Estrepsíades tem um grande dissabor, e fica ainda pior do que estava. Infelizmente, a peça acaba exactamente nesse ponto. Vemos Estrepsíades vingar-se de Sócrates, é verdade. Mas o que acontece à vida de Estrepsíades depois de castigar Sócrates? Não sabemos. Aristófanes não diz. Talvez porque, como todas as comédias, a peça tenta ocupar-se apenas das coisas que dão vontade de rir. Quando a tragédia a sério começa, cai o pano.”
Ricardo Araújo Pereira, hoje, na ‘Visão’

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Aquecimento Global de férias, na neve

Nevar em Mauna Kea, no Havai, quinze dias antes do início do Verão é algo que muitos considerarão vulgar, afinal, Mauna Kea (a maior montanha do mundo, se medida desde a base, no fundo do Oceano Pacífico, até ao topo) ergue-se mais de 4200 metros acima do nível médio das águas do mar e nem a proximidade do Kilauea a “vomitar” quantidades colossais de CO2, nem a aproximação do Verão impedem a queda tranquila da neve, na Montanha Branca tropical. Nevar em Snowdon Mountain, a maior montanha do País de Gales, cujo cume atinge mais de mil metros de altura, não sendo frequente também não se pode considerar um fenómeno invulgar, mesmo que ocorra a 10 de Junho. Já ver nevar no Outono (Hemisfério Sul), na segunda semana de Junho, no deserto da Namíbia, “sobre” o Trópico de Capricórnio, é algo tão invulgar que é (quase) possível ouvir o “silêncio ensurdecedor” dos ‘eco-qualquer-coisa’ a bradar – “Aquecimento Global”.
Apache, Junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

“Educação: um pacto de silêncio?”

“A campanha eleitoral foi praticamente omissa no respeitante à Educação. Não falaram dela (nem dos problemas, muitos, de que actualmente enferma) os líderes dos vários partidos concorrentes, não os questionaram sobre o assunto os vários jornalistas e entrevistadores, remeteram-se ao silêncio os comentadores de serviço. Como se entre todos houvesse um qualquer obscuro pacto de silêncio. Como se, na governação de um país que se afunda, a Educação fosse um campo menor. Não falaram dela porque não lhes interessa. Uma massa acrítica e formatada no molde do eduquês é uma papa mole, que não critica nem pensa nem intervém, não incomoda os poderes instalados. Não falaram dela apesar - ou por causa de - a saberem um barril de pólvora, pronto a explodir. Calaram a Educação, porque ela, tanto ou mais que o pelouro das finanças, exigiria, de quem se demitiu, um 'mea culpa' inequívoco, pelo desnorte político que imperou e pela convulsão social provocada, e, de quem agora vai tomar as rédeas do país, uma consciência clara do muito que há a remediar, inclusive a nível do esbanjamento sem critério dos dinheiros públicos: vide a Parque Escolar e os seus megalómanos 'mega-agrupamentos', mais a panóplia de gadgets tecnológicos imprestáveis que no reinado de José Sócrates inundaram as escolas - enquanto outras se fechavam sem contemplações por esse país fora, desertificando ainda mais um interior que a cada dia se empobrece e inviabiliza; enquanto um sem número de professores ficava no desemprego, as turmas enormes, ingovernáveis, as carreiras há anos congeladas e os salários diminuídos. A Educação tem de ser encarada como um imperioso investimento nesse futuro que prometem, principalmente no sentido de dotar as gerações (presente, futura), dos mecanismos sem os quais este país não sairá nunca do lodo onde se atolou: conhecimentos sólidos, cultura de empenhamento e trabalho sério, responsabilização colectiva, civilidade, respeito, capacidade crítica, humanismo. O futuro primeiro-ministro de Portugal não pode repetir os erros do passado, tanto mais que se reclama como 'mudança'. E tem de ter uma consciência muito clara do que está mal, e remediá-lo, encontrar soluções. Que podem passar por deitar tudo abaixo e começar do zero, com vontade política e a coragem que se impõe. Uma casa reconstruída sobre os alicerces podres de anos e anos de dislates não pode ter outro destino senão ruir. E não podemos dar-nos ao luxo de permitir que isso aconteça. Há que não perder de vista que nunca, como nos dois últimos governos do partido dito socialista, a escola pública foi tão intencionalmente aviltada, os seus agentes educativos tão maltratados. À frente do ministério da Educação tivemos recentemente os espécimes mais tristes de que há memória: uma mulher sádica e descompensada, de um desrespeito, um autoritarismo e uma incompetência assassinos; outra, uma tontinha seguidista, ignorante e ridícula, tão criminosa como a sua antecessora. Durante o primado de Mª de Lurdes Rodrigues, tivemos, é certo, uma oposição parlamentar invulgarmente crítica a praticamente todas as políticas educativas de um governo incapaz, de uma ministra e um primeiro-ministro arrogantes, autistas e incompetentes. Vimos surgirem Movimentos espontâneos de professores, independentes dos sindicatos. Lemos da revolta diária em blogues e em jornais. Vimos as maiores manifestações de professores de que há memória. Tudo, com consequências zero, ou quase. Já com Isabel Alçada vimos ainda, num acto sem precedentes, toda a oposição parlamentar votar contra um modelo de ADD execrável e inexequível. Vimos - acontecimento histórico! - o PSD juntar-se ao PCP na apresentação de um texto revogatório do referido modelo de avaliação de professores. E vimos Cavaco Silva prestar vassalagem a Mª de Lurdes Rodrigues e José Sócrates, inviabilizando o fim do que tem sido o maior factor de desestabilização das escolas, do desgaste dos professores e do respectivo, pernicioso efeito na qualidade do serviço que prestam aos alunos. Mais do que deputados críticos e conscientes, a Educação precisa de políticas lúcidas, sérias, pensadas. E precisa de quem as queira e saiba implementar.”
Transcrição parcial de um texto de Ana Lima

sábado, 4 de junho de 2011

Dia de reflexão (3)

Tal como os políticos, a brasileira Tabatha Fher gosta de nos dar música. Tal como com os políticos, há sempre alguém que não se importa.
Merecerá reflexão?
Apache, Junho de 2011

terça-feira, 31 de maio de 2011

As fraudes científicas na moda, vistas do Brasil (11)

Para finalizar, o Mídia@Mais deixou espaço aberto às considerações finais que os entrevistados entenderam fazer. [A branco estão complementos meus] Daniela de Souza Onça: “Gostaria de deixar uma mensagem a todos os leitores: percam o medo de serem rotulados de nazis, destruidores do meio ambiente ou vendidos aos magnatas do petróleo. Quem nada contra a maré está simplesmente a defender a Ciência da influência dos alarmistas oportunistas e carreiristas. São eles que recebem fundos de governos, de empresas e de ONG para mentir, amedrontando a população com problemas que não existem. Precisamos de retomar a dimensão crítica da nossa Ciência e desincentivar esta apologia do consenso disfarçada de comprometimento com as gerações futuras, em que ela se está a converter. Acredito que esta retoma só será possível através de minuciosas investigações sobre o real estado das pesquisas sobre as alterações climáticas, os mecanismos de criação de alegados consensos, os interesses estruturais que reprimem a produção e divulgação de pesquisas independentes e descomprometidas dos interesses instalados e, acima de tudo, através da perda do medo por parte dos cientistas do clima. A hipótese do aquecimento global é um castelo de cartas muito fácil de demolir, e não há qualquer motivo racional para os defensores da verdadeira ciência climática cruzarem os braços.” Geraldo Luís Lino: “A histeria sobre o aquecimento global representa o elemento mais avançado da ideologia ambientalista, com todos os seus exageros e radicalismos que ultrapassam em muito quaisquer requisitos racionais de protecção do ambiente e acabam por funcionar como um enorme obstáculo ao desenvolvimento pleno da humanidade como um todo. O corolário desse discurso irracional, nem sempre percebido, é a sugestão de que não há condições de que todos os habitantes da Terra possam desfrutar dos níveis de bem-estar já atingidos pelos países industrializados, supostamente, pela falta de recursos naturais e a incapacidade de tolerância do meio ambiente. Esta ideia é, não só cientificamente falaciosa, mas também moralmente inaceitável. O problema das desigualdades de progresso e bem-estar, tanto entre os países como dentro deles, não se deve a limitações físicas, mas a deficiências éticas e políticas. Se houvesse vontade política, em menos de duas gerações seria possível conceder a cada habitante deste planeta um nível de vida equivalente ao de um europeu médio, sem prejudicar as perspectivas das gerações futuras ou submeter o ambiente a pressões intoleráveis. Evidentemente, os radicais e os desinformados dirão que isso é um delírio, mas esta é exactamente a essência do discurso ambientalista - que, na verdade, não passa de uma actualização mal disfarçada do velho malthusianismo. É por isso que é tão importante a desmistificação deste cenário catastrofista sobre as alterações climáticas, desmistificação que já está em marcha, embora ela não vá produzir efeitos de um momento para o outro. Assim sendo, só posso saudar iniciativas como a do Mídia@Mais em proporcionar este fórum de discussões sobre um tema de tamanha relevância para a actualidade.” Luiz Carlos Molion:Um ponto que não foi abordado e que é crucial para as próximas gerações é o facto de estas teses dogmáticas, como a destruição da camada de ozono ou o aquecimento global provocados pelo homem, já estarem nos livros do ensino básico [e em Portugal, os do ensino secundário também, pasme-se, os de Ciências incluídos]. O Ministério da Educação não fiscaliza, na realidade permite, que tais assuntos venham a fazer parte do conteúdo dos livros de Ciências. A maioria dos professores, por sua vez, não tem conhecimentos suficientes para criticar o conteúdo relativo a estas matérias e simplesmente repetem o que foi colocado nos manuais pelos autores. Crianças do 4º e 5º anos [em Portugal, todos os alunos até ao 12.º ano] estão a ter uma visão completamente distorcida da realidade e passam por uma verdadeira lavagem cerebral em pleno século XXI, semelhante à imposta pela Inquisição na Idade Média. Esses livros de texto deveriam conter apenas factos científicos comprovados e não hipóteses sem nenhuma sustentação científica. A minha pergunta é qual será a credibilidade da Ciência e do Ensino, na área da Meteorologia e da Climatologia, quando, num futuro próximo, os então jovens, com 25 ou 30 anos de idade, perceberem que foram enganados, ludibriados? Sim, porque todos os indicadores climáticos apontam para um arrefecimento nos próximos 20 anos. E neste período não será difícil explicar porque é que o homem e sua emissão de dióxido de carbono não controlam o clima global. Mas manter-se-á difícil explicar a histeria da urgência climática que tomou conta do mundo no final do Sec. XX e início do Sec. XXI.” Ricardo Augusto Felício: “Acredito que estamos a observar e a vivenciar uma nova fronteira, uma zona cinzenta que nos remete para os mais profundos abismos de uma nova era das trevas, fruto de um forçado retrocesso tecnológico, económico e social. Cientistas sérios sofrem pressões políticas que querem criar uma nova sociedade e uma nova cultura de quotidiano. Estas imposições aplicam-se às pessoas que já vivem no século XXI (como costumo dizer, as que comem, vestem-se e dormem numa casa). Ao mesmo tempo, forçará as pessoas que ainda vivem na ‘Idade Média’ (sem acesso a energia barata), ou algumas na ‘Idade da Pedra’, a ficarem naquele tipo de vida, e são cerca de 80% da população do mundo. Por outras palavras, a pseudociência, as ONG e os políticos estão a condenar a Humanidade a um esquema corrupto e injusto de escravidão e de pobreza eterna. Consolidar dispositivos como aquele em que quotas de emissões de gases se transformam em títulos negociáveis no ‘mercado da fumaça’, mostram bem o carácter destes grupos. No caso do Brasil, vejo uma enorme falta de patriotismo desta gente. Eles estão a vender o nosso país e o futuro do nosso povo sem nenhum embaraço e ninguém entende ou ninguém parece disponível para fazer algo. Pelo contrário, eles trabalham com a maior eficiência para o Establishment, sem nenhum pudor. E o que mais assusta é ver que o brasileiro acha isso óptimo, pois vai ajudar a ‘causa’. Vai ‘salvar’ o planeta! Só não sabem que quem precisa de ser salvo somos nós mesmos. Não esperemos que seja o planeta a preocupar-se connosco. Nestes termos, e muito em breve, nós iremos perder a soberania nacional sobre a Amazónia e toda a sua gama de recursos naturais em função da discussão das ‘queimadas’ e pela ‘causa ambiental’. Já que o Brasil não consegue tratar desse problema, a ONU vai tratar! Nos Estados Unidos já foram publicados livros com a Amazónia (brasileira) descrita como ‘território internacional’. E o que mais assusta é que nós brasileiros vamos acabar por concordar com isto.”

domingo, 29 de maio de 2011

As fraudes científicas na moda, vistas do Brasil (10)

Segue-se uma pergunta (diferente) a cada um dos entrevistados (também por ordem alfabética)... M@M pergunta à Daniela de Souza Onça: “As suas actividades académicas e profissionais, permitem-lhe o contacto directo com jovens que ainda aspiram ao ingresso nas universidades brasileiras. Desse contacto, é-lhe possível fazer uma avaliação da qualidade da informação, sobre o clima, que circula entre esses jovens?” “A informação que eles trazem para a sala de aula é 100% proveniente da comunicação social, com a sua costumeira superficialidade, alarmismo e polarização. No entanto, noto entre eles algo ainda mais perigoso: todos eles sabem que estão encarregados de ‘salvar o planeta’ mas, curiosamente, um número considerável não sabe quem é o Al Gore ou o que é o IPCC. A informação deles é extremamente difusa, como se neles tivesse sedimentado um novo senso comum, que nem sequer precisa de ser discutido ou receber mais informações, mesmo as provenientes dos alarmistas. ‘O planeta estar a aquecer devido às emissões humanas de dióxido de carbono’ é algo, para eles, tão óbvio como ‘o céu ser azul’ ou ‘a água molhar’. Mas, por incrível que pareça, um número não desprezível deles (talvez uns 20%) fica muito satisfeito com as aulas em que desmascaro a farsa, usando conceitos bastante rudimentares de Geografia, Física e Química, e tranquilizam-se quando percebem que o mundo não vai acabar e que deixam de constituir mais uma massa amorfa, útil à manobra de políticos e empresários! Por isso, ainda tenho esperança que um pouco mais de esclarecimento às pessoas possa retardar ou mesmo evitar os projectos ilegítimos agora em curso.” M@M pergunta ao Geraldo Luís Lino: “No seu livro ‘A fraude do aquecimento global’ há uma breve, mas muito interessante, referência à ‘ciência da noosfera’. Seria possível explicar isto?" “O conceito de ‘noosfera’, ou esfera da razão, foi desenvolvido a partir da década de 1920, pelo grande cientista russo Vladimir Vernadski, iniciador da Biogeoquímica como disciplina científica voltada para o entendimento dos fluxos energéticos, os ciclos dos elementos químicos e as transformações que ocorrem nas interacções entre os seres vivos e o meio físico. Para ele, partindo do conceito da biosfera, a esfera da vida, a ‘noosfera’ representa o estado mais avançado do processo evolutivo, com o qual a humanidade passa a actuar como uma ‘nova força geológica’ na transformação do meio físico-biológico no qual se insere. Vale a pena sublinhar que estas transformações são vistas como consequências naturais da presença humana no planeta, em vez de intervenções eminentemente deletérias, como propõem os adeptos de uma visão idílica da natureza e do ambiente. Infelizmente, o trabalho de Vernadski sofreu grandes limitações políticas durante o regime soviético e, mesmo depois do fim da URSS, ainda é pouco conhecido fora da Rússia e da Ucrânia, sobretudo, pela escassez de traduções para as línguas ocidentais. Nem em inglês existem muitos trabalhos dele publicados e, em português não há nenhum. Mas, aos poucos, este cientista começa a receber a importância que lhe é devida. A expressão ‘ciência da noosfera’ tem sido proposta para qualificar a actualização e o desenvolvimento das linhas de estudos propostas por Vernadski para identificar e quantificar as interacções entre a humanidade civilizada e o meio em que vive. Pela minha parte, estou convencido que se trata do caminho certo para que, futuramente, possamos tratar essas interacções de uma forma verdadeiramente científica, em lugar da orientação eminentemente ideológica que prevalece hoje. Por isso, também espero ver brevemente edições dele, em português.” M@M pergunta ao Luiz Carlos Molion: “Na sua longa e notável carreira, houve certamente oportunidade de observar o comportamento de, pelo menos, duas gerações de cientistas brasileiros. Houve alguma melhoria na qualidade dos nossos cientistas ou, pelo contrário, houve um decréscimo na qualidade intelectual geral ou mesmo da qualidade moral desses cientistas?” “Há 40 anos que me dedico aos estudos do clima. Ao longo destes anos, lutámos para dotar o Brasil das condições que tem hoje e que o colocam em destaque na área da Meteorologia e da Climatologia, ao mesmo nível dos países desenvolvidos. Procuramos transmitir aos nossos seguidores, através das nossas aulas e palestras, a integridade e a ética científicas e a autenticidade e veracidade na publicação dos resultados científicos obtidos, deixando clara a metodologia para que tais resultados possam ser replicados. Sim, houve, sem dúvida, grande progresso nesta área da Ciência e na qualidade intelectual dos nossos profissionais, em relativamente pouco tempo! Porém, tal como noutros países, em particular a Inglaterra e os EUA, agora em foco no caso do AGA, existem cientistas brasileiros que procuram aproveitar-se da situação em benefício próprio, relegando para segundo plano os princípios básicos que regem a Ciência e o comportamento dos cientistas na comunidade e na sociedade.” M@M pergunta ao Ricardo Augusto Felício: “Desde o início das actividades do M@M que nos preocupamos com o tema geral do ambientalismo e para isso, através de traduções e de artigos dos nossos colunistas, recorremos a fontes estrangeiras, nomeadamente americanas, australianas e britânicas. Foi muito grata a nossa surpresa ao verificar a existência de grupos como o ‘FakeClimate’. Quais são as perspectivas e planos deste grupo de pesquisadores e cientistas brasileiros no âmbito académico, especificamente na climatologia?” “A ideia do ‘FakeClimate’ era justamente unificar a visão de todos os cientistas brasileiros, das mais variadas áreas, que se sentiam incomodados com a falácia do AGA e com os seus desenvolvimentos. Desta maneira, um pequeno grupo de pesquisadores de Meteorologia, Geografia e Climatologia (aqui incluídas tanto a visão da Meteorologia como a da Climatologia Geográfica) juntaram-se para coleccionar artigos nacionais e internacionais, além de escrever e publicar artigos na nossa língua. Uma vez estabelecido, o grupo foi crescendo, com participação de engenheiros ambientais, professores, oceanógrafos, ambientalistas (ou seja, aqueles que, de facto, entendem as relações escalares). Vale a pena destacar que o grupo não recebe financiamento de nenhuma instituição, pública ou privada. Mantemos contacto efectivo com diversos pesquisadores internacionais, trocando com eles informações, literatura e trabalhos. Não temos ideologias políticas ou religiosas e não servimos a ninguém. Os trabalhos são realizados à custa de grande esforço, com recursos tirados da venda da nossa força de trabalho individual. A muito custo, conseguimos publicá-los em revistas, jornais e eventos científicos (mas muitas vezes são simplesmente recusados, com o argumento de não serem científicos!). Enquanto os pseudocientistas recebem somas fabulosas de dinheiro para ‘comprovar’ a existência do ‘aquecimento global’ de origem antropogénica através dos seus modelos climáticos irreais, nós, para juntar R$270,00 para manter a nossa página na Internet por mais dois anos no ar tivemos que fazer uma vaquinha entre os voluntários do grupo. Por outras palavras, com muita massa cinzenta e quase nenhuns recursos, escrevemos trabalhos de pesquisa sérios e eficientes na área de Climatologia Geográfica e de outras ciências afins, bem como mantemos publicados os artigos dos pesquisadores cépticos do Brasil e do exterior, sem nenhum ónus para estes. Temos diversos planos de pesquisa já em andamento e outros ainda em fase de preparação. Alguns vão ter de ficar na gaveta por falta de recursos financeiros para a compra de material de pesquisa. Mas parece-me importante deixar bem claro, para os leitores desta entrevista, que não há evidência nenhuma de que os gases com ‘efeito de estufa’ produzidos pelos humanos façam a temperatura do planeta subir! Os alarmistas sabem disso e por isso vão inventando disparates para dizer que essas evidências existem. Imagens de frentes de glaciares a desabar, mortes de ursos polares, descoloração de uma ou outra barreira de coral e falso alagamento de ilhas do Pacífico não são evidências de ‘aquecimento global’, muito menos de eles serem causados por actividades humanas. Se fosse assim, não continuariam a gastar bilhões de dólares nas ilhotas do Dubai! Além disso, é lastimável ver qualquer evento meteorológico extremo propagandeado como evidência de que o AGA existe. Eventos meteorológicos extremos sempre existiram e fazem parte dos ciclos de variabilidade natural do clima. O que acontece actualmente é que aprendemos a monitorizá-los. A meu ver, e de um modo geral, a Ciência acabou. Tornei-me céptico diante de tudo o que vejo, leio e ouço. Cada vez que vejo investigadores fortemente comprometidos com interesses comerciais e políticos, não vejo como é possível acreditar nos seus resultados. Esta patifaria é, obviamente, propositada. Quando as populações do mundo acordarem para o facto de que a ‘ciência’ tem manipulado tanta coisa em benefício de alguns grupos, elas nunca mais acreditarão nos seus resultados e o desfecho disto é que cairemos numa nova idade das trevas. Desde os anos noventa que se nota uma corrida desenfreada rumo à mais completa irracionalidade. Penso que devemos tentar salvar as ilhas de Ciência que ainda restam. Para concluir, desafiamos os alarmistas (internacionais e nacionais) como o Carlos Nobre, por exemplo a demonstrarem a existência do AGA sem o uso dos seus modelos computorizados viciados. Ficará evidenciada a falácia, pois o AGA só existir no mundo da fantasia dos modelos climáticos que criaram para o comprovar! Estes modelos estão astronomicamente errados e só servem para tentar manter uma parte da ciência meteorológica ainda viva: a dos modelos computorizados. Esta ciência tem-se mostrado ineficiente e pouco evoluiu. Há 40 anos ela prognosticava o tempo com razoável certeza de dois dias, hoje faz-se mais ou menos o mesmo para sete dias, mas só se acerta se nenhum factor, não previsto nos modelos, não interferir nos processos. Como é possível prevermos com estes modelos o clima daqui a 100 anos? Só pode ser piada construímos uma nova sociedade em cima de resultados de modelos computorizados aldrabados e que nada representam."
Apache, Maio de 2011