O actual Ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, é (como
muitos certamente saberão) uma das pessoas (talvez a par de Maria Filomena
Mónica) que nas últimas décadas mais tem pensado, baseado sobretudo em
experiência pessoal, a educação lusa, nomeadamente os métodos de ensino e os
resultados alcançados. Não obstante os muitos livros publicados
(maioritariamente na área da divulgação científica), Crato atingiu popularidade e
notoriedade, sobretudo entre a classe docente, com o seu livro, “O eduquês em discurso
directo – Uma crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista” (na sequência do
livro de Filomena Mónica, “Filhos de Rousseau”) que constitui uma crítica pertinente
e fundamentada à nebulosa ideologia que tomou de assalto a escola pública,
sobretudo a partir da reforma introduzida no início da década de 70 (do século
passado) pelo ministro Veiga Simão. No livro, Crato ataca frontalmente a
doutrina vigente, nomeadamente a pedagogia do laxismo e da irresponsabilidade, ridicularizando
um certo lixo discursivo, tão actual, como o “aprender a aprender”, o “ensino
centrado no aluno”, a “aprendizagem em contexto”, etc.
Com a tomada de posse do actual Governo, que apresentava
Nuno Crato à frente do (enorme) Ministério da Educação e Ciência, muitos
professores aguardaram esperançosamente que uma profunda reforma educativa
fosse encetada (na linha do que o (agora) ministro defendeu publicamente) devolvendo
à Escola Pública, a qualidade e a dignidade que várias décadas de socialismo
haviam destruído.
Crato (ex-maoísta) começou lenta e timidamente aquilo que
para muitos seria a “longa marcha” pela restituição dos valores perdidos.
Reforçou os tempos lectivos de disciplinas nucleares (Matemática e Português);
reduziu aos primeiros ciclos (e às ofertas de escola) a tralha das áreas curriculares
não disciplinares (como a Área de Projecto e a Formação Cívica); introduziu
(ainda que timidamente) Exames Nacionais no 4.º e no 6.º ano; permitiu o
regresso (se as escolas assim entenderem) às aulas de 45 ou 50 minutos de duração;
encerrou (ainda que após injustificados prolongamentos de prazos) os Centros Novas
Oportunidades.
Mas, passados os primeiros meses de “estado de graça”,
percebeu-se que muito do que se esperava (de acordo com a opinião publicamente
manifestada) do Ministro, tardava em concretizar-se. A última versão do
Estatuto do Aluno deixa muito a desejar quanto à prometida devolução da
autoridade ao professor; a extensão dos exames nacionais de 9.º ano a mais
disciplinas continua uma miragem (e no corrente ano lectivo, o IAVE (sucessor
do GAVE) acabou com os Testes Intermédios a várias disciplinas alegando
desinteresse das escolas na sua aplicação); uma redução significativa da carga
horária dos alunos (receosamente iniciada) continua por aplicar; o Ensino
Vocacional avança ao ritmo do movimento das placas tectónicas; e a, tão
mediatizada, Prova de Avaliação de Conhecimentos e Competências para docentes
contratados é, agora, mera inspiração do anedotário nacional.
(continua)
Apache, Dezembro de 2013