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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

“Devem-me dinheiro”

“José Sócrates em 2001 prometeu que não ia aumentar os impostos. E aumentou. Deve-me dinheiro. António Mexia da EDP comprou uma sinecura para Manuel Pinho em Nova Iorque. Deve-me o dinheiro da sinecura de Pinho. E dos três milhões de bónus que recebeu. E da taxa da RTP na conta da luz. Deve-me a mim e a Francisco C. que perdeu este mês um dos quatro empregos de uma loja de ferragens na Ajuda onde eu ia e que fechou. E perderam-se quatro empregos. Por causa dos bónus de Mexia. E da sinecura de Pinho. E das taxas da RTP. Aníbal Cavaco Silva e a família devem-me dinheiro. Pelas acções da SLN que tiveram um lucro pago pelo BPN de 147,5 %. Num ano. Manuel Dias Loureiro deve-me dinheiro. Porque comprou por milhões coisas que desapareceram na SLN e o BPN pagou depois. E eu pago pelo BPN agora. Logo, eu pago as compras de Dias Loureiro. E pago pelos 147,5% das acções dos Silva. Cavaco Silva deve-me muito dinheiro. Por ter acabado com a minha frota pesqueira em Peniche e Sesimbra e Lagos e Tavira e Viana do Castelo. Antes, à noite, viam-se milhares de luzes de traineiras. Agora, no escuro, eu como a Pescanova que chega de Vigo. Por isso Cavaco deve-me mais robalos do que Godinho alguma vez deu a Vara. Deve-me por ter vendido a ponte que Salazar me deixou e que eu agora pago à Mota Engil. António Guterres deve-me dinheiro porque vendeu a EDP. E agora a EDP compra cursos em Nova Iorque para Manuel Pinho. E cobra a electricidade mais cara da Europa. Porque inclui a taxa da RTP para os ordenados e bónus da RTP. E para o bónus de Mexia. A PT deve-me dinheiro. Porque não paga impostos sobre tudo o que ganha. E eu pago. Eu e a D. Isabel que vive na Cova da Moura e limpa três escritórios pelo mínimo dos ordenados. E paga Impostos sobre tudo o que ganha. E ficou sem abonos de família. E a PT não paga os impostos que deve e tenta comprar a estação de TV que diz mal do Primeiro-ministro. Rui Pedro Soares da PT deve-me o dinheiro que usou para pagar a Figo o ménage com Sócrates nas eleições. E o que gastou a comprar a TVI. Mário Lino deve-me pelos lixos e robalos de Godinho. E pelo que pagou pelos estudos de aeroportos onde não se vai voar. E de comboios em que não se vai andar. E pelas pontes que projectou e que nunca ligarão nada. Teixeira dos Santos deve-me dinheiro porque em 2008 me disse que as contas do Estado estavam sãs. E estavam doentes. Muito. E não há cura para as contas deste Estado. Os jornalistas que têm casas da Câmara devem-me o dinheiro das rendas. E os arquitectos também. E os médicos e todos aqueles que deviam pagar rendas e prestações e vivem em casas da Câmara, devem-me dinheiro. Os que construíram dez estádios de futebol devem-me o custo de dez estádios de futebol. Os que não trabalham porque não querem e recebem subsídios porque querem, devem-me dinheiro. Devem-me tanto como os que não pagam renda de casa e deviam pagar. Jornalistas, médicos, economistas, advogados e arquitectos deviam ter vergonha na cara e pagar rendas de casa. Porque o resto do país paga. E eles não pagam. E não têm vergonha de me dever dinheiro. Nem eles nem Pedro Silva Pereira que deve dinheiro à natureza pela alteração da Zona de Protecção Especial de Alcochete. Porque o Freeport foi feito à custa de robalos e matou flamingos. E agora para pagar o que devem aos flamingos e ao país vão vendendo Portugal aos chineses. Mas eles não nos dão robalos suficientes apesar de nos termos esquecido de Tien Amen e da Birmânia e do Prémio Nobel e do Google censurado. Apesar de censurarmos, também, a manifestação da Amnistia, não nos dão robalos. Ensinam-nos a pescar dando-nos dinheiro a conta gotas para ir a uma loja chinesa comprar canas de pesca e isco de plástico e tentar a sorte com tainhas. À borda do Tejo. Mas pesca-se pouca tainha porque o Tejo vem sujo. De Alcochete. Por isso devem-me dinheiro. A mim e aos 600 mil que ficaram desempregados e aos 600 mil que ainda vão ficar sem trabalho. E à D. Isabel que vai a esta hora da noite ou do dia na limpeza de mais um escritório. Normalmente limpa três. E duas vezes por semana vai ao Banco Alimentar. E se está perto vai a um refeitório das Misericórdias. À Sexta come muito. Porque Sábado e Domingo estão fechados. E quando está doente vai para o centro de saúde às 4 da manhã. E limpa menos um escritório. E nessa altura ganha menos que o ordenado mínimo. Por isso devem-nos muito dinheiro. E não adianta contratar o Cobrador do Fraque. Eles não têm vergonha nenhuma. Vai ser preciso mais para pagarem. Muito mais. Já.”
Mário Crespo, na “Penthouse” de Dezembro

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Do “Magalhães” ao automóvel

“Em entrevista ao Jornal de Negócios, o antigo deputado socialista Henrique Neto afirmou que a direcção do PS "é uma máfia com experiência na maçonaria", que o Governo favorece a corrupção, que o primeiro-ministro está "no topo da pirâmide dos que dão cabo disto" e que é "um aldrabão" e "um vendedor de automóveis". Como é possível que tais declarações tenham beneficiado da mais completa impunidade? Confesso-me sobretudo chocado face à ausência de um protesto formal dos vendedores de automóveis.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias”

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Notícias do hospício

Num país onde o Governo enterrou, há (apenas) alguns meses, largos milhares de milhões de euros em dois bancos falidos (BPN e BPP); num país onde uma agência governamental (ANQ) gasta dezenas de milhões de euros a certificar com o 12.º ano, analfabetos funcionais; num país onde as escolas secundárias estão a ser dadas (sob o pretexto de precisarem de obras de recuperação) a uma empresa maioritariamente privada (a Parque Escolar), onde o Governo investiu alguns milhares de milhões de euros em obras, em vários casos desnecessárias; num país onde nos últimos anos largas dezenas de milhões de euros foram gastas a distribuir computadores portáteis, a crianças de seis anos que não sabem ler nem escrever; num país em que o Primeiro-Ministro gasta, anualmente, 63 mil euros em flores e mais de 220 mil euros em telemóvel; os dois principais partidos políticos concordam que o Governo roube (via Orçamento de Estado) entre 3,5 a 10% no vencimento dos funcionários públicos (que estão entre os mais mal pagos da União Europeia) e corte brutalmente as despesas (também elas das mais baixas da Europa) com o “estado social” (nomeadamente abonos de família) apesar de sermos um dos países europeus com maior percentagem de pobres. Este é o mesmo Governo que (com o beneplácito do maior partido da oposição) permite que os seus paus-mandados beneficiem de mordomias obscenas, em empresas de capitais públicos ou mistos (públicos/privados) como por exemplo (e muitos mais haveria): Ascenso Simões (administrador da ERSE) que aufere mais de 188 mil euros (anuais), além de carro de serviço; Filipe Baptista (administrador da ANACOM) que recebe mais de 198 mil euros (por ano) além de viatura de serviço; ou, o caso mais flagrante, Fernando Gomes (administrador da GALP) que leva (anualmente) para casa, 529 mil euros de vencimento, acrescidos de prémios, Planos de Poupança Reforma e subsídios de renda de casa e de deslocação. O problema deste país já não se limita à nudez do rei. O problema é que a corte é maioritariamente constituída por alucinados, liderados por verdadeiros inimputáveis.
Apache, Outubro de 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

As patuscadas dos ‘boys’ patuscos

«Uma coisa é a miséria, outra coisa é o miserabilismo. Durante uma semana, o "portal" governamental Base rivalizou em visitantes com as mais populares páginas eróticas. Obviamente, não foi por exibir os membros do Executivo em pelota. O que aparecia despido no Base eram os gastos das entidades públicas em eventos "oficiais", o tipo de informação que excita jornalistas, "bloggers" impertinentes, políticos da oposição e anónimos ressentidos. O sucesso do Base, entretanto rasurado a bem do pudor, é igualmente o reflexo do nosso provincianismo ou de uma "visão simplória", para usar a expressão de um vulto do governo regional dos Açores, que consumiu (o governo, não o vulto) 196 mil euros em festa com bar aberto numa discoteca de Lisboa. O facto de se encontrar na penúria não implica que o Estado desça à indignidade. Uma farra com bebidas a expensas de cada um não seria uma farra, mas uma manifestação de sovinice e uma vergonha. E o mesmo acontece com os restantes "excessos" que despertam os queixumes de certa plebe. A plebe considera excessivo que, por exemplo, a Autoridade Nacional de Comunicações invista 150 mil euros no seu 20.º aniversário, embora não explique como é possível cantar-se decentemente o Parabéns a Você sem convites requintados (12 mil euros), uma organização capaz (60 mil euros), um espaço decente (75 mil euros) e um vídeo encomendado às irreverentes Produções Fictícias (8 mil euros). A plebe também não explica como se realiza o importantíssimo espectáculo que consagrou as Maravilhas Naturais de Portugal por menos de 1,55 milhões de euros. Talvez o principal alvo da referida visão simplória tenha sido a celebração dos 160 anos da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos. Condenar uma instituição assim vetusta por, entre diversos e essenciais festejos (220 mil euros), se aliviar de meros 73 mil euros num repasto (fora deslocações e estadias dos comensais) é demagogia barata. Tão barata quanto o repasto, o qual, segundo li, juntou 900 pessoas. A aritmética básica prova que o jantar saiu pela ninharia de 81 euros e uns trocos por cabeça. E que, dividida pelos milhões de contribuintes que a DGCI delicadamente serve, a conta não pesou a ninguém. É tempo de dizer basta. Aos resmungos e às invejas, claro. Se começarmos a vasculhar o sector público e a questionar a legitimidade de simples patuscadas, acabaremos a questionar os aumentos de salários a gestores exímios, as nomeações repentinas de excelentes assessores e compinchas para cargos de chefia, o endividamento das esforçadas autarquias, as honradas empresas municipais, as frotas automóveis e até os 63 mil euros de arranjos florais de que o primeiro-ministro, compreensivelmente, não abdica. Por outras palavras, acabaremos a questionar a essência do Estado. É o velho problema da mudança de mentalidades. Não chega que os portugueses comuns aceitem um Orçamento de rigor unilateral e se sacrifiquem pelos seus representantes: é fundamental que, um belo dia, o façam com gosto ou, no jargão corrente, com sentido de responsabilidade. Quando esse dia vier, haverá motivo para comemorações e, suspeito, farta jantarada, com serviço de "catering", lista restrita e despesa não. O Estado somos todos, ainda que apenas alguns se divirtam.»
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias”

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Olhando o PEC III

No passado dia 11 de Outubro, José Calçada, Presidente do Sindicato dos Inspectores da Educação e do Ensino, dirigia-se assim aos colegas: «O militar prussiano do século XIX Carl von Clausewitz, na sua famosa obra “Da guerra”, ensinou-nos que “a guerra é a continuação da política por outros meios” – permitindo-nos assim compreender que, de modo simétrico, a política pode ser a continuação de uma guerra por outros meios. É inevitavelmente esta terrível compreensão que acode à nossa inteligência e à nossa emoção no momento em que somos confrontados com as últimas medidas tomadas pelo Governo, integradas no chamado PEC III, configurando o mais violento ataque até agora desferido contra a Administração Pública. O roubo, a rapina, a espoliação exercida sobre todos nós, funcionários públicos, a prática do quero-posso-e-mando, à revelia do Estado de direito democrático ou da figura do Estado-enquanto-pessoa-de-bem, a violação dos princípios da segurança jurídica e da irredutibilidade/intangibilidade dos vencimentos, constitucionalmente garantidos – tudo isto se assume, objectivamente, como uma política enquadradora de uma guerra contra os funcionários. Em termos da redução salarial que nos é imposta, e que nos faz recuar para posições de há alguns anos atrás, a maioria dos Inspectores é brutalmente atingida com cortes de 8,65% – equivalentes a cerca de menos €300 (trezentos euros) por mês, num vencimento bruto de €3447 –, cortes que nem sequer se destinam a uma duração limitada no tempo, antes se assumem como permanentes, isto é, concretizam novos patamares salariais decididos unilateralmente, sem audição das organizações representativas dos trabalhadores, como obriga, na circunstância, a Constituição da República. Mas os cortes não se ficam por aqui… Numa área que é por inerência relevante na operacionalização do trabalho inspectivo, as ajudas de custo são reduzidas em 20% e os subsídios de transporte em 15% – e, sabendo como umas e outros se encontravam já em níveis insuportáveis para os Inspectores, os serviços acabarão por desaguar na indigência e na paralisia. Esta autêntica blitzkrieg nem o SIADAP poupa – o que constitui uma ironia, num processo pensado para poupar –, ficando suspensos prémios e progressões na carreira. As pensões de aposentação foram congeladas – e, desde já, os colegas que venham a aposentar-se no decurso da vigência destas medidas governamentais verão os valores das suas pensões severamente atingidos. Isto é: ninguém escapa, excepto aqueles para quem escorre o dinheiro que nos é espremido! Em termos de economia, as coisas funcionam como vasos comunicantes: quando o dinheiro é comprimido num lado, ele não desaparece, limita-se a escapar para algum outro lado. Trata-se do b-a-bá da economia, nenhum de nós precisa de fazedores de opinião para entendermos isto. A tese, que o Governo quer fazer passar, de que esta guerra à função pública é “inevitável” por “inexistência de alternativas” – é absolutamente falsa, quer económica, quer política, quer socialmente. Esta guerra é uma opção do governo, a favor de uns e contra outros. Há outras saídas para combater o défice do Estado, sem com isso sacrificar os que sempre são sacrificados, lutando contra o desemprego e promovendo o desenvolvimento do país. Não é preciso destruir os salários e as pensões, sendo que não é neles que se encontra a raiz da actual “crise”, nem foram eles que provocaram o défice orçamental de 15 mil milhões de euros (€15.000.000.000). Na verdade, em 1975, as remunerações, sem incluir as contribuições sociais, representavam 59% do PIB – ao passo que em 2009 representam apenas 34%! Hoje, estamos num país onde quase três milhões de pessoas vivem com menos de 10 euros por dia e cerca de 250.000 com menos de 5 euros; ou, de outro modo, 2.000.000 vivem abaixo do limiar da pobreza e outros 2.000.000 também aí se situariam se lhes fossem retirados os apoios sociais. No entanto, se olharmos para o-outro-lado-do-país, o Estado sabe que poderia arrecadar pelo menos mais €500.000.000 através da aplicação à banca e aos grandes grupos económicos de uma taxa efectiva de IRC de 25%; que poderia arrecadar pelo menos mais €135.000.000 através de um novo imposto sobre as transacções em bolsa; que, finalmente, deveria concretizar um imposto sobre as transferências financeiras para offshores e paraísos fiscais, cerca de €2.200.000.000, base 2009. Estaríamos a falar de um acréscimo da receita fiscal anual, global, no valor de €2.835.000.000. (Para já não falarmos na tributação dos que apostam na economia paralela e clandestina, a qual significará hoje um mínimo de 20% do PIB real). Isto, claro, se o Governo olhasse também para o-outro-lado-do-país – e não apenas para os funcionários públicos… Como claramente se demonstra, estas medidas do Governo, para além de injustas e socialmente desequilibradas, não são nem “inevitáveis”, nem consequência de “ausência de alternativa”. Por tudo isto – naturalmente que em conjunto com outras forças sindicais – vamos lutar contra elas, em todos os planos legal e constitucionalmente admissíveis. Desde já, fazendo aqui um apelo muito forte para a participação de todos nós, Inspectores, na Greve Geral convocada pela CGTP e pela UGT para o próximo dia 24 de Novembro. Não podemos ficar de braços cruzados ou em simples conversa-de-café. É preciso dizer “Não!”, é preciso dizer “Basta!” – é fundamental estarmos todos na Greve Geral! É como temos afirmado nos Fóruns do nosso Sindicato: “Quando se luta, nem sempre se ganha; quando não se luta, perde-se sempre”. Estas são, sem dúvida, lutas prolongadas, e são-no sempre que no presente, e pelo presente, não perdemos a perspectiva do futuro – e falamos de lutas que podem assumir muitas formas. O nosso Sindicato, por exemplo, está em contacto com outras forças sindicais, nomeadamente com o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público e com a FENPROF, com vista ao estudo da hipótese de impugnação judicial da Lei do Orçamento do Estado para 2011, caso ela venha a ser aprovada na Assembleia da República com os previstos cortes salariais para a Administração Pública. Uma coisa há que não podemos fazer, nem ninguém compreenderia que fizéssemos: ficarmos quietos.»

domingo, 10 de outubro de 2010

A maravilha certificadora queima milhões em publicidade

Há sensivelmente um ano, tinha alertado para o facto de a Agência Nacional para a Qualificação (ANQ) criada para promover, coordenar e acompanhar a implementação do Programa Novas Oportunidades estar a gastar rios de dinheiro em publicidade. Agora, volvido mais um ano, e quando os governantes insistem em propagar a alegada crise e cortam a torto e a direito naquilo que na sua debilidade de discernimento são os privilégios da classe média, não é demais lembrar que em pouco mais de dois anos, a ANQ queimou mais de 13,6 milhões de euros (quase todos) em publicidade [Fonte: base de dados de ajustes directos] a uma iniciativa que pouco mais é que a passagem de certificados de competências a quem tem conhecimentos quase nulos na generalidade das matérias académicas.
Apache, Outubro de 2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A importância de ser...

«À saída do número cosmopolita que foi a conferência do nosso Primeiro na Universidade de Columbia, NY, sobre renováveis e variáveis, o ex-ministro Manuel Pinho, à saída da primeira fila, deu uma mini-entrevista à Lusa; foi reproduzida no "Público" e no "DN". Prefiro atribuir a pieguice e puerilidade da notícia a um subtexto irónico de jornalista de agência, caso contrário tratar-se-ia de jornalismo grotesco. Dá-nos conta de como "foi importante ser ministro cinco anos mas agora estou a adorar a minha vida em Nova Iorque". E continua por aí: o gabinete na Universidade de Columbia, onde é professor visitante, ou visiting professor em inglês técnico, tem uma óptima vista do oitavo andar sobre a zona norte de Manhattan. Os americanos são muito frugais nos hábitos e existe igualdade de tratamento social, ao contrário dos países da Europa do sul ("are you talking to me?"). Uma garrafa de vinho decente custa menos de 20 dólares. Levanta-se às 5 da matina para preparar as aulas. E teve a surpresa de ser convidado para ser docente do mestrado de renováveis pelo reitor da Universidade de Columbia, que lhe telefonou sem mais nem ontem no dia dos anos. Quer vir para NY? E foi. Uma vida adorável. Único problema: "Alguém tinha posto o seu telemóvel pessoal no silêncio e não encontrava uma forma de sair desta opção para pôr um toque bem audível no aparelho, numa altura em que já contabilizava seis chamadas não atendidas" (fim de citação). Como este país do sul da Europa não é constituído por parolos e como uma boa parte desses espertalhões também adorasse viver em NY, o ex-ministro Pinho recebeu uma carrada de comentários online: jocosos, odiosos e sérios com algumas verdades à mistura, devidamente noticiadas e que eu, como tantos parolos sulistas, não li. Juro que acreditei que o ex-ministro tinha mesmo sido convidado dada a sua proverbial esperteza em renováveis. E de renováveis também não percebo nada, pago-as, com o resto dos parolos, na factura da EDP. De resto, toda a gente acha que são muito boas para a saúde e o ambiente. O pior é que, curiosa de uns tantos comentários, fui pesquisar na Net, e pesquisando fui parar a uns blogues onde a discussão sobre renováveis e o seu custo me pareceu cientificamente descrita por gente que percebia do assunto; e onde fiquei a saber como é que o ex-ministro foi parar a NY. A EDP pagou. No "Jornal de Negócios online", uma notícia assinada por Helena Garrido deu-nos conta disso, a 13 de Agosto de 2010. A EDP fez uma doação de montante desconhecido à SIPA (School of International and Public Affairs) de Columbia, e criou um mestrado, um semestre em NY, uma cidade adorável, e um semestre no ISCTE em Lisboa, menos adorável, mas encantadora para estrangeiros e com vinho a menos de 20 dólares já que falamos nisso. Longe de mim comparar o meu desconhecimento do tema das renováveis com o know-how de Pinho nesta súbita especialidade sua, mas fiquei a saber, ao cabo de horas de pesquisa, que a factura desta nova forma de energia nos custa agora 700 milhões de euros. A ERSE, Entidade Reguladora Serviços Energéticos, descobriu uma coisa chamado défice tarifário, mais de 2000 milhões de euros, que tem de ser abatido em 2010 em 129 milhões de euros (notícia da TSF online). Neste défice tarifário, que ninguém sabe o que é exactamente, incluem-se os "custos das renováveis". E como vamos pagar o défice? Mais um euro nas nossas facturas em 2010; multiplicado por milhões é adorável. O preço do petróleo diminuiu e continuamos a pagar a electricidade cara. O consumo também diminuiu, adivinhem porquê: não há dinheiro dos parolos para pagar a fatura. A discussão fica interessante quando percebemos o logro das renováveis. Não como conceito mas modo de aplicação em Portugal. Descobri que a EDP Renováveis vende à EDP com lucro fabuloso e a EDP vende ao consumidor com mais lucro. Descobri que essa energia custa três a seis cêntimos a ser produzida e nós pagamos 17 cêntimos. Descobri que a EDP ultrapassou o máximo razoável de potência eólica instalada e que a exportação rendeu menos do que o custo; e descobri que o Sr. Primeiro-ministro, outro especialista de renováveis, instalou em S. Bento uma T. Urban, turbina eólica do INETI, que desde Novembro de 2007 teria produzido 8 Watt por hora, o que daria para alimentar uma lâmpada de poupança. Verdade ou mentira? A discussão é científica e mereceria ser investigada. Para sabermos quem são e o que são a chamada "máfia do vento" (promotores das eólicas, governantes, autarcas que recebem uma comissão) como lhes chama um ‘bloguer’ com formação na área e que é a favor das eólicas. Vou argumentar à Durão Barroso (não haverá aeroporto enquanto houver uma criança com fome): enquanto houver um velho que morra de frio no inverno, não deveria haver mestrados em NY nem Sócrates em inglês técnico. Temos de ter hábitos frugais. E cortar no vinho.»
Clara Ferreira Alves, na revista “Única” do “Expresso” do passado sábado

sábado, 31 de julho de 2010

O «subvivente»

“O eng. Sócrates considera demonstrado que não houve irregularidades no licenciamento ambiental do Freeport. Eu considero curiosa a forma como um instituto subsidiário do Ministério do Ambiente por ele chefiado recusou, em 1999 ou 2000, a construção de um cemitério municipal na zona que acabaria arrasada pelo outlet, dado que a construção "contrariava o espírito" (embora favorecesse os espíritos) da zona e "provocaria o aumento da densidade humana". O eng. Sócrates declara que as conclusões da Procuradoria-Geral no processo Freeport provam a "enormidade das calúnias" lançadas sobre a sua pessoa. Ou, digo eu, a razoabilidade das acusações lançadas sobre a Procuradoria-Geral, a qual, segundo os jornais, obstou a que os procuradores do Ministério Público sequer interrogassem o eng. Sócrates. O eng. Sócrates acha "extraordinário que ainda haja quem pretenda ver" na declaração dele "um exercício de vitimização artificial". Eu não acho. O eng. Sócrates espera que esta seja a última vez que fala no assunto. Embora sem convicção, eu também. Não é por o eng. Sócrates aguentar as sucessivas "cabalas" que teimam em manchar o seu excelentíssimo nome que se explica a respectiva sobrevivência política. Pelo contrário, ele sobrevive justamente à custa das "cabalas", cuja curiosa inconsequência judicial alimenta a aura de perseguido que tão bem explora. Da Independente ao Freeport, com passagem pela Cova da Beira, pelo apartamento lisboeta e pelos projectos da Guarda, a história dos mandatos do eng. Sócrates resume-se à história das trapalhadas que o perseguem. Infelizmente, as trapalhadas prejudicam a contemplação do resto, e o resto é a prodigiosa inaptidão do senhor primeiro-ministro para o cargo que ocupa. Sem as insinuações do Freeport e imbróglios afins e sem a "vitimização artificial" que se lhes seguiu, seriam flagrantes o desgraçado saldo político, económico e social destes cinco anos e meio e a horrífica factura deixada aos anos que virão. Assim, um número cada vez menor mas ainda significativo de cidadãos olha o eng. Sócrates e vê nele um resistente, o resistente à infâmia que finge ser e não o resistente à realidade que de facto é.”
Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias de ontem

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Taras e manias (3)

Ernâni Lopes, ex-ministro das finanças, acha que a solução para a crise que ele e os amigos ajudaram a forjar, passa por reduzir em 15 a 20% os ordenados da função pública. Esta é a mesma ave-rara que em 2005 defendeu a redução de um terço dos funcionários públicos, no 3º país com menos funcionários públicos da União Europeia. É curioso que pela cabecinha dos nossos actuais e antigos dirigentes políticos, a redução da despesa não passe por cortar nos brinquedos caros (e absolutamente desnecessários) dos governantes, como o TGV ou o Novo Aeroporto de Lisboa, não passe sequer por reduzir o número e os vencimentos obscenos dos “fraquinhos no discernimento” (Rui Pedro, Zeinal, Mexia e outros) que o Governo coloca à frente de empresas com capitais parcialmente públicos, sanguessugas maiores do regime. É igualmente curioso que não se lembre de reduzir as despesas do Estado fiscalizando quem parasita em torno dos subsídios sem deles ter efectiva necessidade; que não se lembrem de parar com os milhões esbanjados em fetiches como o Plano Tecnológico e as obras da Parque Escolar (em muitos casos, desnecessárias). É ainda curioso que (quase) ninguém se lembre de pôr fim aos subsídios escandalosos às energias (ditas) alternativas (como a solar, a eólica ou a maré-motriz) várias vezes mais caras que as energias convencionais e que sobrevivem apenas graças ao milhões que o Estado lá enterra. É em suma curioso que pela cabecinha dos sem-escrúpulos que nos conduziram à actual situação financeira não passe a redução do número de fogueiras de vaidades onde é imolado o dinheiro dos contribuintes, antes se perpetue a obsessão com os parcos vencimentos dos funcionários públicos. O povo costuma dizer que cada maluco tem a sua mania, mas as taras obsessivo-compulsivas e persecutórias de actuais e ex-governantes vem adquirindo contornos que cada vez se tornam menos suportáveis.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Taras e manias (2)

O jornal “i”, na sua edição de ontem, dava conta de uma polémica gerada em torno da aquisição, por parte de algumas escolas, de um “kit” a ser usado nas aulas de Educação Sexual.
“O assunto promete criar polémica, uma vez que o modelo pedagógico e o material educativo é, na maioria das escolas, fornecido pela Associação para o Planeamento da Família (APF). (…) Duarte Vilar, é o primeiro a assumir que o material didáctico da associação tem sido um dos principais recursos das escolas públicas e que, desde Setembro de 2009, foram vendidos mais de 1300 kits” Belo negócio para a APF. Estaremos perante mais uma JP Sá Couto?
“(…) Mais de 70% das escolas públicas já encomendaram ou estão a encomendar os kits de Educação Sexual à APF.” Onde terão arranjado o dinheiro para adquirir este lixo?
“Questões como as da masturbação (…) são respondidas através de exemplos práticos." Exemplos práticos? Com a Bruninha de Mirandela? Rasura-se já o comentário anterior.
“Duarte Villar reconhece que a APF tem sido a principal entidade formadora dos professores, em Portugal.” Cá está, as fotos para a Playboy integravam-se, provavelmente, no plano de formação da APF.
“(…) Mas esclarece que os conteúdos dos materiais didácticos e das acções de formação estão orientados «numa lógica de conhecimento científico e de diversidade moral». Julgamentos de valor não existem, esclarece o responsável; o que existe são valores promovidos na Constituição portuguesa, como a igualdade de direitos de homens e mulheres ou questões «consensuais» na sociedade portuguesa.” Ah… se há consenso e a ciência subscreve, ficamos muito mais descansados, Duarte Gore Villar.
Apache, Junho de 2010

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mais uma aventura… para a colecção

“No exacto dia em que se anunciaram "cortes" na educação em nome da austeridade e em que uma comissão de inquérito concluiu que as encomendas do Magalhães foram ilegalmente atribuídas à empresa que o embrulha e vende, a Dra. Isabel Alçada tirou as devidas ilações e agiu em conformidade: garantiu a encomenda de mais computadores à JP Sá Couto e prometeu o Magalhães aos alunos dos primeiros anos lectivos em Setembro próximo, no máximo. No dia seguinte, ainda procurei nos jornais um desmentido ou uma errata. Nada. A errata somos nós.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada sexta-feira

quinta-feira, 29 de abril de 2010

“Este país não é para corruptos”

“(…) Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa. O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal, quem tenta corromper a pessoa errada não é corrupto - é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente; ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for administrador. O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre título de suborno. O que se passou foi, no fundo, uma ilegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é acto que se pratique à balda, caso contrário o tribunal rejeita as pretensões do candidato. «Tenha paciência», dizem os juízes. «Tente outra vez. Isto não é corrupção que se apresente.»”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” de hoje

sábado, 24 de abril de 2010

O homem sem memória

Mário Soares, na coluna de opinião semanal no Diário de Notícias dá um empurrãozinho aos fantasistas climáticos. Escreve o ex-dirigente Socialista: “A natureza, nos diferentes lugares da Terra, tem-nos trazido, sucessivamente, tsunamis, ciclones, maremotos, inundações, ventos ciclópicos, tremores de terra e, agora, erupções de vulcões, na distante Islândia, que paralisaram os aeroportos da Europa do Norte, e não só. Um espectáculo triste e nunca visto.” Nunca visto? Suponho que Mário Soares queira dizer que nunca observou fenómenos climáticos nem geológicos ao vivo, apenas pela comunicação social. Quem diria, para alguém tão viajado. Ou será que se lhe apagou a memória e esqueceu os milhares e milhares de fenómenos deste tipo, que nos últimos dez mil anos ficaram tristemente gravados na história da humanidade. Prossegue: “Para aqueles que já vivem há mais de oito décadas, como eu, e nunca viveram nem tiveram conhecimento de nada semelhante…” Ah… estamos perante uma declaração de absoluta ignorância. Só em erupções vulcânicas há mais de 4 mil relatos históricos, alguns, tristemente célebres pelos milhares de vítimas que causaram. Continua: “A ganância dos homens é capaz de prosseguir, em defesa dos seus interesses imediatos, sem sequer afectar as suas boas consciências, se as tiverem...” Finalmente uma frase com senso. Isto, caso fosse dirigida àqueles que em busca do lucro fácil, não olham a meios para atingir os fins e inventaram, primeiro o “aquecimento global”, agora as “alterações climáticas”, para sacar aos mesmos de sempre mais alguns milhares de milhões em impostos e taxas que sustentem a sua ganância desmedida e que, com total falta de ética e de sentido humanitário, tentam por todos os meios impedir o desenvolvimento económico e o bem-estar da larga maioria dos seus semelhantes. Remata: “Acredito que, no próximo encontro internacional ecológico, a verdade científica seja reposta e as grandes potências sejam obrigadas a respeitar as regras que visam limitar radicalmente o aquecimento global.” Saberá Soares que limitar radicalmente o aquecimento global é das coisas mais fáceis deste mundo, bastando para tanto, despedir os aldrabões da Unidade de Pesquisa Climática da Universidade de East Anglia e do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, e dissolver o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas? Sem falsificadores de dados de temperatura e inventores de teorias estapafúrdias que violem as leis científicas e não têm cabimento no mundo real, não há “aquecimento global”. Simples, não?
Apache, Abril de 2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Retrato (rápido) do país

“Nos últimos dias sucederam-se peças altamente perturbadoras sobre a situação da nossa Justiça ao mais alto nível, com a comunicação social a demonstrar que o PGR terá contornado o rigor dos factos numa ida ao Parlamento e amanhã um jornal a assinalar coincidências demasiado graves para nos sentirmos a viver num país onde reste um pingo de seriedade no mundo da política, economia e justiça, tudo assim com letra pequena. Ver alguém colocado numa empresa com a dimensão da PT, cujo currículo se resume a criar uma ferramenta de propaganda para a ascensão do Grande Líder, refugiar-se em declarações aos deputados numa cadeia de comando para justificar as suas acções e alegar factos desmentidos poucas horas depois, ao mesmo tempo que uma deputada chic observa tudo com ar entediado, ocupando-se com qualquer coisa (não percebi se seria telemóvel ou caixa de pó de arroz) para desanuviar o seu evidente desinteresse pelo que se passava diante de si, deixa-me uma sensação de enorme repulsa pelo estado a que tudo isto vai chegando, numa espiral que parece não ter forma de acabar. Eu sei que é redundante fazer este tipo de discurso pessimista, decadentista, mas é impossível observar isto e não sentir algo de profundamente visceral, no pior dos sentidos. Uma sensação de claustrofobia perante as teias e os cordelinhos que tudo tentam controlar. Ver o ponto a que chegou o desplante de arrivistas que ascenderam na base do mais descarado clientelismo, aparentemente com uma sensação de impunidade que só pode ter nascido da certeza de protecção superior. Eu sei também que esta não passa de uma variação do discurso que analistas e opinadores como Pacheco Pereira ou Vasco Pulido Valente desenvolvem há muito tempo. Mas é quase impossível não ver isto tudo deste modo turvo. E não nos sentirmos diariamente ofendidos na nossa (mesmo que escassa) inteligência. Há tempos alguém me dizia que eu não sou esperto, que o mundo e as vantagens estão do lado dos espertos. O contexto era outro, mas aplica-se que nem uma luva ao que observamos por estes dias. Um estado de calamidade que não se decreta para não pagar reembolsos a turistas, aparelhistas de segunda linha a controlar negócios de milhões, isaltinos a quererem aparecer como moralizadores do estado, pequenos-almoços negociados para patego consumir. Ainda há horas alguém me escrevia que eu pareço emocional ou mentalmente perturbado. Não me choquei. É verdade. Estou sinceramente perturbado com tudo isto, por ser exactamente como eu sempre soube que era, depois de o ter imaginado e vislumbrado muito antes. Porque, como em várias outras coisas, eu nem queria ter razão e ver provadas as minhas mais negras teorias. Não há um polvo, mas vários polvos, de que sentimos, por vezes apenas de passagem, os tentáculos. Vários polvos em disputa. Pela supremacia num mar em que pretendem tudo agarrar ou, se alguém resiste, asfixiar. Portugal não está amordaçado. Portugal não está sem liberdade de expressão. E, de certa forma, tudo o que se está a passar o demonstra. Mas Portugal está gravemente doente e chega a ser extraordinário como ainda resiste. A disputa pelo que resta açambarcar até 2013 está ao rubro. É disso que se trata. Há um par de semanas, alguém – com um olhar preocupado e parcialmente externo – me perguntava se isto tem salvação e quem pode ainda salvar Portugal, pois está por um fio. Respondi que sinceramente não sei, pois não consigo ver quase nenhum recanto que não esteja salpicado por lama. A lama que cuidadosamente, ao longo de anos, houve o cuidado de depositar em vários pontos, antes de ligar a ventilação e a espalhar por todo o lado, na forma de favores, cheques, posições, contratos, acordos, cumplicidades, e tudo aquilo que todos sabemos, da micro-escala do pequeno feudo à macro-escala dos negócios orçamentais de grande porte. E nós, a grande maioria limita-se a observar em estado de crescente entorpecimento, com exaltações cívicas pontuais que nem sequer muitos percebem ser instrumentalizadas exactamente para servirem de escape passageiro para as frustrações e tudo manterem na mesma. Discutindo a percentagem acrescida da nova penalização para as aposentações antecipadas. Enquanto outros se lambuzam. Isto está mesmo – de novo – uma imensa choldra.”
Paulo Guinote, autor do blogue “A educação do meu umbigo”

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Quero uma licenciatura em marketing pelo instituto português da coisa!

“Eu não sei quem é esse tal Rui Pedro Soares, o boy sem cv que aos 32 anos foi alçado a administrador-executivo da PT pelo Estado, a ganhar escandalosamente mais num ano do que o meu marido ganhou em toda a vida, ao longo de 40 anos como servidor do Estado nos mais altos escalões. Socialista encartado, dizem. Será, nunca dei por ele, que eu saiba nunca sequer me cruzei com ele. Fraquinho no descernimento [julgo que pretendia escrever discernimento, uma vez que, numa versão anterior do texto escreveu “atrasado mental” onde se lê agora “fraquinho no descernimento”] é, de certeza. Porque se não quis encalacrar os socialistas, foi exactamente isso que logrou ao accionar uma providência cautelar para impedir a saída do jornal SOL com mais escutas das suas ruminações telefónicas, justamente numa semana em que os socialistas procuraram desmentir quem clamava contra a falta de liberdade da imprensa. E se investiu para abafar o jornal, a criatura também não percebeu que, ao contrário, projectava ainda mais longe a radiação solar. Com bóis [numa primeira versão do texto, em vez da palavra “bóis” estava escrito “ruminantes”] destes, para que servem ao PS os boys?”
Ana Gomes, Eurodeputada socialista, ontem, no blogue “Causa Nossa
Para quem não está a par da “estória”, Rui Pedro Barroso Soares é o licenciado em Gestão de Marketing pelo Instituto Português de Administração de Marketing e ex-candidato à liderança da Juventude Socialista, que desde 2006, por proposta da Caixa Geral de Depósitos e do Banco Espírito Santo, exerce o cargo de administrador executivo da ‘holding’ do Grupo PT, auferindo o módico salário de 1373 contos por dia (2,5 milhões de euros por ano). Rui Pedro, um dos envolvidos nas escutas do processo “Face Oculta” tentou, através de uma providência cautelar (aceite pelo tribunal) impedir que a edição de hoje do “Sol” publicasse escutas envolvendo o seu nome, tendo mesmo, ao que consta, solicitado ao tribunal que fossem apreendidos todos os exemplares do jornal.
Apache, Fevereiro de 2009

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Fecha-te Sésamo

A figura acima mostra a evolução do número de estações meteorológicas que fornecem informações para a GHCN (Global Historical Climatological Network), a base de dados usada pelo GISS da NASA para calcular a média das temperaturas do planeta. É curioso constatarmos que, quando o número de estações meteorológicas usadas nos cálculos, começou a diminuir, o que ocorreu a partir do final da década de 70, a média das temperaturas do planeta começou a subir. Sugiro aos manipuladores estatísticos da NASA que continuem a afastar gradualmente dos cálculos todas as estações meteorológicas, à excepção das situadas nos desertos e destas excluam os valores obtidos entre o pôr e o nascer do Sol. Conseguirão então a prova “irrefutável” do aquecimento global.
Apache, Janeiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Rabo escondido com o gato de fora

Há pouco mais de um mês, o ministro do ambiente indiano, numa declaração à comunicação social, disse que as afirmações do IPCC (Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas) de que os glaciares dos Himalaias iriam desaparecer em 2035 estavam erradas e que a “saúde” destes glaciares é excelente. As declarações caíram que nem uma bomba na comunidade internacional, principalmente por terem sido proferidas por um governante indiano, o país do Presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, que se apressou a chamar arrogante ao ministro. A polémica causada pelas declarações contrárias de Pachauri e do Ministro do Ambiente alimentaram, nos dias seguintes, a comunicação social (principalmente a indiana e a inglesa) de notícias de estranhas ligações entre várias organizações que lucram significativamente com o alarmismo lançado diariamente pelo IPCC. Nada de especial novidade se o próprio Pachauri não fosse destacado membro de algumas dessa organizações; expondo-se assim um poderoso conflito de interesses entre as suas funções de liderança do IPCC e os negócios pessoais. No capítulo 10 do texto final do Grupo de Trabalho II, do 4º relatório do IPCC (publicado em 2007) lê-se que “os glaciares dos Himalaias estão a derreter mais depressa que quaisquer outros pelo mundo e, se persistir a actual tendência é extremamente provável que eles desapareçam no ano de 2035, ou talvez antes, se continuar a actual taxa de aquecimento da Terra.” Alguém razoavelmente ingénuo, poderia pensar que estas declarações (de um organismo que, sendo essencialmente político, é publicitado pela comunicação social, como científico) têm por base, um estudo científico revisto pelos pares. Puro engano. Estas declarações foram feitas numa entrevista publicada em 2005 na revista “The New Scientist”, por um funcionário da empresa indiana TERI (The Energy Research Institute) de que Pachauri também é presidente. O dito funcionário citava a página oficial da WWF (World Wide Fund for Nature) a Organização Não-Governamental (ONG) ambientalista que o Príncipe Filipe (marido da Rainha Isabel II, de Inglaterra) criou em 1961 (à época com o nome World Wildelife Fund). Acontece que (tal como é habitual) a natureza não tem colaborado, nem com os patetas da WWF nem com os “artistas” do IPCC e não há qualquer evidência científica de que os gelos dos Himalaias tenham sofrido, nos últimos anos, redução mensurável. Pressionada pela comunicação social, a WWF divulgou, na passada sexta-feira, um comunicado onde reconhece que, apesar das boas intenções, o texto que publicou em 2005 não tem qualquer fundamento e lamenta a confusão que entretanto (por causa dele) ocorreu. Só que, para Pachauiri, as más notícias não ficaram por aqui, é que, com toda esta agitação, ficou-se a saber que a empresa que lidera (a TERI) conseguiu obter da União Europeia (devido às citadas afirmações contidas no relatório do IPCC) 10 milhões de euros para investigar o alegado possível desaparecimento do gelo dos Himalaias. Nada de novo, aqui, debaixo do Sol. As negociatas “escuras” em volta do aquecimento global antropogénico (perdão, das alterações climáticas) seguem dentro de momentos…
Texto corrigido: Por lapso meu, foi referido no texto que a ONU subsidiou a empresa presidida por Pachauri (a TERI) em 10 milhões de euros. De facto, esse financiamento proveio da União Europeia. O texto foi corrigido (e hiperligado a um dos sitíos da Internet que o comprovam) às 19:30 de 27 de Janeiro de 2010.
Apache, Janeiro de 2010

sábado, 9 de janeiro de 2010

O casamento gay… Perdão, o acordo de princípios…

O Ministério da Educação e os principais sindicatos de professores assinaram na madrugada passada, ao fim de catorze horas de reunião (sim, leram bem, 14 horas; e querem-nos convencer que não estão loucos) um acordo de 12 páginas a que deram o nome pomposo de “Acordo de princípios”. Esclareço já hipotéticos leitores que pensam que vou escrever um longo texto, que não será assim. Há aquele velho ditado que diz que, quanto mais se mexe em resíduos sólidos orgânicos mais estes libertam hidrocarbonetos aromáticos voláteis de odor intenso, portanto não remexerei muito. Apenas alguns tópicos, breves: O actual Estatuto da Carreira Docente vedava o acesso aos 3 escalões mais altos da carreira a dois terços dos docentes, por via de quotas administrativas. O acordo agora assinado prevê duas restrições à progressão, uma limita a 50% dos candidatos avaliados com a classificação de “bom”, após completarem o tempo de serviço necessário, bem como a respectiva formação, a passagem, em cada ano, do 4º para o 5º escalão, a outra, limita a 33% dos candidatos que preencham idênticos requisitos, a passagem do 6º para o 7º escalão. Isto, até 2013, a partir daí logo se verá, talvez valha tudo, incluindo arrancar olhos; Na segunda metade de 2002, com oito anos de serviço, avaliados com a menção de “satisfaz” (a equivalente ao actual “bom”) atingi o então 5º escalão de uma carreira com 10 (faltando-me 18 anos (se todos fossem avaliados com “satisfaz” para atingir o topo da carreira, o que aconteceria ao fim de 26 anos), hoje, passados quase 7 anos e meio (avaliados com “satisfaz” e “bom”) estou (e ao que parece, por via deste acordo assim deveria permanecer) no segundo escalão de uma carreira que continua com 10 escalões (mantendo o mesmo índice de vencimento que em 2002) e na perspectiva de, se obter sempre “bom” na avaliação de desempenho, realizar as formações necessárias, e ter muita sorte com as vagas, poder atingir o topo da carreira daqui a 26 anos (ou seja, com mais de 41 de serviço). Se as coisas não correrem muito bem no que respeita a vagas, mesmo que sempre classificado com “bom”, o topo da carreira poderá ter de esperar até aos 47 ou 48 anos de serviço; Entretanto, por via do novo acordo, a avaliação de desempenho vai ficar mais ou menos como até aqui, o professor enfia umas tretas quaisquer num dossier (perdão, portefólio), ou então compra um no mercado negro, realiza umas acções de formação em “eduquês” ou “magalhanês”, entrega um relatório crítico a dizer que fez isto aquilo e mais aqueloutro e que é excelente, um colega eventualmente tão competente como ele, ou talvez não, vai assistir a duas aulas por ano e larga uns “bitaites” mal amanhados sobre elas e já está. Uma avaliação que distingue o mérito e premeia os excelentes (5% determinados pelos iluminados) e os muito bons (25%), em detrimento dessa corja de inúteis que são apenas bons, aos quais o Governo (e pelos vistos) os sindicatos recusarão sempre um ordenado digno e equivalente aos dos outros licenciados empregados pelo Estado. É preciso poupar dinheiro para enterrar no BPN, no BPP, no TGV, no novo aeroporto em muitas auto-estradas novas e no mais que as taras de cada ilustre rosa, laranja, azul ou vermelho assim determinar, em vez de andar a gastá-lo nesse inúteis preguiçosos e bem pagos que constituem a classe docente (não dirigente sindical). Basicamente, o que tínhamos, em termos de progressão na carreira e avaliação era muito mau, mas não faz mal, finalmente os nossos governantes, uma vez mais com a conivência dos nossos representantes acordaram algo pior. É todo um mundo novo que desfila perante os nossos olhos e ouvidos incrédulos. O que se conclui duma análise detalhada deste demencial “acordo de princípios” é que Governo e sindicatos subscritores concordam em mandar para o lixo os mais elementares princípios de um estado de direito democrático, tais como os da justiça, da igualdade, da proporcionalidade, da boa-fé da administração, etc. Mas como eu disse que não remexia muito, antes que feda demais, vou ficar por aqui. Oito de Janeiro fica para a história como o dia em que os gays acordaram um casamento de princípios.
Apache, Janeiro de 2009

sábado, 26 de dezembro de 2009

"O Palhaço"

"O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Porto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem. O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada. Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver. O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar. E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples. Ou nós, ou o palhaço."
Mário Crespo, no “Jornal de Notícias” do passado dia 14